domingo, 30 de novembro de 2008

Adivinhe quem vem para o café-da-manhã: Lúcia Helena Pereira

[Cultura 291108 sábado]

“Sou um poema inacabado”, revela Lúcia Helena Pereira em seu blog (www.outraseoutras.blogspot.com).
Lúcia Helena é também um furacão em construção.
Um tsunami de simpatia.
Alguém que sabe que o menor caminho entre dois pontos é uma reta.
O “poema inacabado” foi a primeira mulher deste Ryo Grande a presidir a AJEB, Associação de Jornalistas e Escritoras do Brasil. Ocupa a cadeira 11 da Academia Feminina de Letras, tendo como patronesse a sua avó paterna Magdalena Antunes – que dedicou para a então menina de 13 anos na primeira edição de “Oiteiro”: “À minha netinha Lúcia Helena, para quem as estrelas brilham no céu da sua alma, oferto o meu romance, escrito como se fosse uma vênia aos que me acompanharam na bela jornada, onde , genuflexa e agradecida, rendo minha homenagem ao passado e às paisagens que tanto encantamento me deram. Por conseguinte, um livro de reminiscências, de louvores e imensa saudade dos meus ancestrais e daqueles que me seguiram na trilha dourada do amor e nos caminhos das dores e belezas. Sua avó, Lhene (Magdalena).”
Com os olhos no presente, mas sem esquecer o passado, Lúcia Helena relembra a avó, a escritora.
DA MULHER PARA A MULHER
Quando a A.S. Livros procurou-me, através de Cícero, em 2001, com vistas à segunda edição do livro de vovó Magdalena, fiquei encantada. Afinal, o amado primo Nilo Pereira lutou muito por essa reedição, mas, em vão. O fato é que a menina do vale, a dama de olhos oceânicos, a sinhá-moça (sinhá-Lica) do Oiteiro, como que miraculosamente voltou! E voltou cheia do feitiço das lembranças fiéis.
Seu livro, numa tiragem de 3.500 exemplares, integrando a coleção Letras Potiguares, esgotou-se rapidamente. Eu recebi 50 livros, dos quais só me resta um exemplar, e Uruquinha (Denise Pereira Gaspar) comprou cerca de 300 ou 400 exemplares, os quais, em noite pré-natalina no Ocean Palace, ofereceu aos parentes e amigos.
Lembro-me do rebuliço desse livro, nos idos de 1956 a 1958 (os festejos anteriores e posteriores ao seu lançamento). No terraço da velha casa de vovó Madalena, na Hermes da Fonseca, nº 700, entravam e saíam os intelectuais amigos da sinhá-moça: Luís da Câmara Cascudo, Manoel Rodrigues de Melo, Américo de Oliveira Costa, o sobrinho Nilo Pereira (que vinha do Recife, uma vez ao mês, quando da organização do livro), Veríssimo de Melo e tantos outros cultores das Letras!
Vovó, em sua cadeira de rodas, com a paciência de uma santa, em vários momentos demonstrava suas emoções e víamos lágrimas brincando em seus olhos. Numa dessas reuniões ela pediu aos amigos: “Deus do Céu, vamos devagar com esse livro, eu já não tenho uma perna... do jeito que as coisas vão andando, perderei a outra”. E esbanjava um sorriso da alma.
Antes da noite de autógrafos, em 1958, no auditório da Fundação José Augusto (antiga Escola de jornalismo de Natal), vovó recebeu a visita da redatora-chefe da revista, “Da mulher para a mulher”, Sra. Maria Tereza.
Assisti essa cena, no velho terraço, com olhos de menina, olhos de amor e olhos de encantamento. Eu tinha 12 anos de idade e guardei essa entrevista em minha memória (eu tinha uma edição dessa revista...).
Uma das perguntas surgiu quando a jornalista Maria Tereza observou-lhe, no olhar, um intenso brilho para um dos galhos da mangueira secular, junto ao terraço, onde vovó escrevia e um lindo pássaro construíra seu ninho.
“E essa árvore, dona Madalena, tem alguma importância para seu livro?”
Vovó esboçou suave sorriso, respirou fundo e respondeu:
“As árvores, menina, também saem dos seus lugares e dão sombra e frutos. Nelas os pássaros constroem seus abrigos, formam sua ninhada e cantam as suas sinfonias.”
Madalena Antunes (25 de maio de 1880) faleceu com 79 anos (11 de junho de 1959), na sua casa querida da Hermes da Fonseca, onde realizou seu maior sonho: a publicação do seu livro de reminiscências. Era irmã de Etelvina Antunes de Lemos (poetisa), Juvenal Antunes de Oliveira (promotor de justiça, boêmio e poeta) e Ezequiel Antunes de Oliveira (capitão do exército e médico).
Era filha do tenente-coronel José Antunes de Oliveira e Joana Soares de Oliveira (proprietário e responsável pela construção do Solar dos Antunes – 1880).
Há muito que falar sobre os Antunes e Pereira. Família de escritores e belos poetas. Um exemplo, o primo Nilo Pereira (maior cronista literário do RN) e Ruy Antunes Pereira (pai de Uruquinha, Denise), que deixou, em suas epístolas, motivos sobrados para que Denise e eu organizássemos o seu livro “Mucuripe, o mundo encantado de Ruy Antunes Pereira”. Dele, bastaria essa imagem poética para a dimensão maior da poesia de sua alma: “Estarei sonhando? Este vale existe? E o verde é uma cor, um sentimento” (trecho de uma das cartas de tio Ruy para mim – a “sobrinha dileta”). [Lúcia Helena Pereira]


PROSA
“Escrever memórias é animar e prolongar nosso alter ego.”
Pedro Nava
Beira-mar
VERSO
“Velarei o que está vivo e precipita
e o que a dor já bem antes escutava.”
Iracema Macedo
“Vela”

sexta-feira, 28 de novembro de 2008

Rock é rock mesmo

Quem diria: a Assembléia Legislativa deste Ryo Grande viveu sua noite de rock’n’roll na última quarta-feira, recepcionando a turma do III Prêmio Rock Potiguar. Fico imaginando o que diria Cascudo do evento. Fico imaginando o que diria o Dr. Antônio José de Melo e Souza, aliás, Polycarpo Feitosa, nosso único político literato. E literário. E folclórico: não bebia, não fumava, tampouco jogava. Mas, não se preocupem: gostava muito de mulher. E como. Já falei sobre isso em outras colunas – e que os homossexuais não queiram me crucificar. Como, aliás, já fizeram com nossa conterrânea, Claudinha Leitte: em entrevista a uma drag queen (uma certa, ou um certo, Léo Aquilla), Claudinha foi dizer que não gostaria que Davi fosse gay. Davi é o futuro filho da nossa maior cantora (com o perdão de Robertinha Sá). Davi vem pro Carnatal. Na barriga da mãe, claro. Mas a partir de janeiro, provavelmente, fora dela. No colo. Quem sabe os novos vereadores não propõem a cidadania também pro filho da mãe? Quem sabe Davi não nasce antes do tempo, em pleno corredor da folia? Desde, claro, que tudo corra bem. Mas mamma Claudinha deve saber o que faz, em riba de um trio pra lá de elétrico, pulando, saracoteando, animando a plebe. A placenta da Claudinha deve ter isolamento acústico. Espero. Pro bem das orelhinhas do Davi. Mas, hoje, o sobrescrito tomou água de chocalho e não pára de escrevinhar, nem parágrafo concedi aos meus caros leitores – dois deles, com certeza, vão dizer de novo que consumi algo estragado. Parágrafo, pois:
Claudinha Leitte.
Pois, dizia eu, Claudinha foi responder ao tal Aquilla. E a resposta foi: “Não, não gostaria que Davi fosse homossexual” (os sítios de fofoca dão outra versão: “Adoro a comunidade gay, mas prefiro que meu filho seja macho”). Uau. De repente – não como nos versos, mas de repente, enfim – parte da comunidade gay subiu nas tamancas e ameaçou boicotar a cantora. Que, prontamente e irritadíssima, respondeu no seu blog:
“Queriam que eu fosse hipócrita para evitar o repúdio alheio? Vejamos, talvez eu devesse dizer que ‘sim’, ou devesse ter uma resposta preparada para cada circunstância parecida. Caso outro apresentador ‘seriíssimo’ me perguntasse sobre a questão, eu seria hipócrita e diria: Quero que meu filho seja gay. Isso evitaria um boicote e eu ficaria mais rica, não? Não me perguntaram se eu amaria meu filho ainda que ele fosse gay. Não. Me perguntaram em ‘tom Engraçado’, em clima de piada, se eu gostaria que meu filho fosse gay.”
Continua a moça, arretada:
“Vamos lá! Façam uma pesquisa sobre a minha vida, sobre a do meu marido. Sabem quantos amigos homossexuais nós temos? Perguntem a cada um deles se em algum momento os discriminamos. Volto a dizer que Jamais desrespeitei ou preconceituei qualquer ser humano. E defenderia os homossexuais caso fosse necessário, em função de serem iguais a mim. Somos todos humanos.”
Bom, chega de Claudinha Leitte, de Davi, de viadagem. Voltando para o Dr. Antônio e suas “idiossincrasias, restrições, antipatias” (palavras de Cascudo): o governador não gostava das danças modernas de antão. Nas festas do Palácio proibiu, vetou todas: ragtime, tango? Tsc-tsc. “Na festa de 19 de novembro de 1921”, a citação é de Cascudo, de novo, “o programa constava de valsas, pas-de-quatre e duas quadrilhas, marcadas em francês por Manuel Dantas”.
Daí que, quase um século depois, é bom saber que a Assembléia não discrimina mais a música “moderna”.
Não poderia ser diferente: o deputado Luiz Almir é seresteiro nato e confesso, e o deputado Leonardo Nogueira toca guitarra no grupo musical Os Tremendões.
*
MELHOR DE 5
A grande vencedora da noite de quarta, 26, pegando carona na 54ª Assembléia Cultural, foi a banda Seu Zé: levou cinco das quinze categorias premiadas – melhor banda de rock, melhor videoclipe, melhor CD, melhor vocalista de rock e melhor banda.
MELHOR DE 15
Hoje os Clowns de Shakespeare comemora 15 anos de muito barulho, teatro e agitação cultural. A comemoração vai ser no palco da Casa da Ribeira, às 20h, com uma apresentação do espetáculo “Muito barulho por quase nada”. Acompanha a encenação o lançamento de um libreto com depoimentos de 15 amigos do grupo.
15 + 1
Quando os jornalistas ouvem a palavra “cultura”, a Fundação Zé Augusto saca logo seu talão de cheques: termina hoje o prazo para quem quer disputar o Prêmio Rubens Lemos de Jornalismo Cultural. São cinco categorias, valendo R$ 3 mil cada, mais uma “café-com-leite”, para universitários, com premiação de R$ 1 mil.
Favor honrar o homenageado, inscrevendo e escrevendo coisas dignas do seu nome.
HOMEM DO POVO
Será inaugurada hoje a “Sala de Culturas Colaborativas Digitais Giovanni Sérgio”, iniciativa da Conexão Felipe Camarão, Zona Norte desta Capital. Às 15h30, no Largo da Cruz da Cabocla, Terreiro do Mestre Manoel Marinheiro.
Nunca na historia deste Ryo Grande, o fotógrafo esteve tão perto do povo.


PROSA
“A orquestra deu o sinal das danças, atacando com entusiasmo uma valsa ainda em moda.”
Polycarpo Feitosa
Gizinha
VERSO
“à noite solto da jaula
pumas
e paetês.”
Carito
“à noite solto...”

quinta-feira, 27 de novembro de 2008

Último ENE?

A pergunta não é de todo desprovida de senso, razão ou sentimento.
Chegamos ao terceiro Encontro Natalense de Escritores – e, sim, podemos nos orgulhar, sim, na primeira pessoa do plural: embora o Ene nem de longe tenha realmente envolvido de um modo intenso esta Capital e seus habitantes como efetivamente podia e deveria, é um evento que, hoje, mostra-se essencial, imprescindível, obrigatório. Não se pode, hoje, insisto, repito, pensar na Capital do Ryo Grande sem o seu Ene anual.
As palmas de praxe vão, claro, para quem idealizou e botou o bloco na rua – em especial o prefeito Carlos Eduardo Alves e o presidente da Funcart Dácio Galvão, além de toda uma equipe etc.
As vaias, idem – que de apupos também se constrói a tal cidadania.
Como as palmas e os tapinhas nas costas já têm mãos mais que suficientes para a entronização, vamos às segundas.
Uuuuuh, para o já citado no segundo parágrafo: o evento mobilizou uma ínfima parte da Capital. Seria querer demais que tivesse a mesma empolgação de um Carnatal? Seria, claro. Mas, que bom, querer demais. Existem saídas e demandas, por exemplo: onde estavam os alunos (e professores) da rede municipal de ensino nos anos passados? Só com sua presença poder-se-ia facilmente lotar a tenda armada no Largo da Rua Chile (esse ano, o evento se muda para a Praça Augusto Severo).
Aliás, só a existência deles justificaria um evento inteiro, pois, a eles dedicado. Ou, ao menos, uma programação específica dentro do evento maior.
Afinal, pra quem é feito o Ene? Pra meia dúzia de intelectuais da City? Ou pra turma da noite, doida pra assistir um showzinho grátis? É a mesma crítica que se faz à Brouhaha: belas edições, bons textos, mas distribuição incipiente. Pior: dificultosa. (Uma maravilha se comparada à eterna moribunda Preá – uuuuuh, pra Fundação também.)
Ou: os tais shows. Por que limitar para mil pessoas o que 10 mil poderiam assistir com maior prazer, conforto e vontade, e, com a mesma despesa dos cofres públicos? (Os números são ilustrativos, mas é o que aconteceu nas edições anteriores, e, parece, será corrigido este ano.)
A secretaria municipal de educação é apenas uma das secretarias que poderiam interagir melhor com a programação. A secretaria de turismo, por exemplo, poderia entrar com mais verbas para trazer autores mais – aspas – importantes, alguns internacionais, já que nos ufanamos de ser destino da Gringolândia – o que, óbvio, renderia dividendos e a tal publicidade grátis.
António Lobo Antunes, Zé Saramago (portugueses, com certeza), Jostein Gaarder (Noruega), Enrique Vila-Matas (Espanha), Alessandro Baricco (Itália), são alguns dos autores que poderiam ser convidados – cito de cabeça, pensando apenas nos países que mais turistas mandaram pra cá em outros carnavais.
No final, permanece a questão que intitula esta coluna. Que só a neo-prefeita-eleita poderá responder. Seria bom se ela fosse, ao menos um dia, uma tarde, quem sabe pra ouvir e ver o ex-titã Arnaldo Antunes. Aquele cujos versos de “Cultura” terminam assim: “O potrinho é o bezerro da égua/ A batalha é o começo da trégua/ Papagaio é um dragão miniatura/ Bactérias num meio é cultura”.
*
AUSÊNCIAS
Festival de ausências este ano: Zé Sarney não vem. Murilo Melo Filho parece que tá doente. Alex Nascimento nem chegou a ser convidado, pra poder, educadamente, recusar – embora seu nome tenha sido anunciado (autor “local” é assim mesmo: escala-se primeiro pra depois convidar, na certeza de que todos querem um lugar à mesa). Boatos (ou não) anunciam que Cony não vem... Como a turma responsável pela divulgação do Ene parece que estava de férias e só voltou ontem ao batente, espera-se o fim do evento pra saber quem realmente vai e foi.
ABRE ALAS
Chico Mattoso, Silvério Pessoa, Nicolas Behr e Carlos Fialho abrem as alas do Ene-zero-oito.
Mattoso foi editor da revista Ácaro e já escreveu novelas para a Globo. Pessoa venceu o prêmio TIM 2006 e é figurinha fácil em festivais europeus. Behr é da geração mimeógrafo e escreveu uns versinhos simpáticos (“ninguém me ama/ ninguém me quer// ninguém me chama/ nicolas behr”). E, por último, mas nem por isso menos importante, Fialho é um dos fundadores dos Jovens Escribas e teima em ser publicitário.
Pra ampliar os perfis dos quatro, compareçam, hoje, logo mais às quatro da tarde, ribeyras do Putigy.
ALAS
Na seqüência, mesas com Antônio Carlos Secchin, Arnaldo Antunes, Diógenes da Cunha Lima Murilo Melo Filho (?) e lançamento dos livros “Vozes e reflexões, anais do II Encontro Natalense de Escritores” (organizado por Moacy Cirne) e “Panorama da poesia norte-rio-grandense” (reedição do clássico de Rômulo Wanderley, safra 1965).
Ah! tem lançamento também de CD, no caso de Xexéu, cordelista e tal.
FECHA ALAS
Antunes, Arnaldo, e banda, detonam som na praça (Severo, Augusto), no incrível horário das 10h10 (da noite).


PROSA
“Os escritores mortos são muito melhores do que os vivos porque não escrevem mais.”
Millôr Fernandes
Millôr definitivo
VERSO
“Tem que dançar a dança que a nossa dor balança o chão da praça”
Fausto Nilo
“Chão da praça”

quarta-feira, 26 de novembro de 2008

Incompatibilidade de gênios e de horários

Que Caetano Veloso e Tom Zé são gênios me parece indiscutível. Ao menos para o sobrescrito e metade da torcida do Flamengo, um terço da torcida do ABC, um décimo da do Força e Luz.
(O Força e Luz entrou só pra eu me mostrar como sou antigo.)
(O América não entrou só pra ver se algum torcedor reclama.)
Semana passada escreveu Veloso em seu blog (detalhe: a 1h21 da madrugada, horário, assim, digamos, meio joãogilbertiano) sobre o último CD de Tom Zé, intitulado “Estudando a bossa”:
“Diferentemente de mim, de Gil, de Gal e da torcida do Bahia, Tom Zé nunca foi um bossanovista. Comentado o ‘Estudando o samba’ com David Byrne em Nova Iorque, logo que saiu a primeira coletânea de Tom Zé que ele fez, eu disse: ‘Muito da força desse disco vem de Tom Zé não ser da área do samba: ele não é do Recôncavo, tem sotaque do sertão, não é meio carioca como o povo de Salvador’”.
E tome elogios ao disco e ao compositor.
Dois dias depois, Zé escreveu sua resposta. Fez questão de enfatizar que não leu o comentário de Caetano em seu blog (www.obraemprogresso.com.br), mas porque “foi parar no orkut”:
“Não, Caetano. Não posso aceitar. Agora estou irremediavelmente desertado e não posso mais voltar para o colo do grupo baiano. Você sabe que seus braços são preciosos e irresistíveis, mas não posso ir comemorar neles este disco, nem com você.”
Já tinha visto, lido e/ou ouvido em algum lugar, o velho Tom Zé explicitando seu ressentimento com o conterrâneo por este, supostamente, não o ter ajudado no longo e vasto pasto, onde e quando Tom Zé pastoreava tão somente a magreza das vacas.
Dessa vez o negócio ficou mais concreto, sem precisar das intervenções dos Irmãos Campos.
Zé elenca uma lista de uma dúzia ou mais nomes, quase todos nem assim tão conhecidos, aliás, segundo o próprio Tom, todos “nada”, diante da grandeza e influência do baiano mais famoso e com muito mais “prestígio”.
Mas foram aqueles que fizeram algo por Tom, que lhe deram ou emprestaram “proteção e alento”, ao contrário do mano Caetano.
AQUELE ABRAÇO
João Araújo, por exemplo, pai de Cazuza, mandava dinheiro escondido. Os jornalistas Alberto Villas e Arthur Nestrovski (que estará nesta Capital, no Ene, esta semana) o acudiram e ajudaram a publicar livro. Outros, encararam madrugadas em estúdios para gravar seus discos, único horário disponível aos sem-dinheiro. Walter Durst quase perdeu o emprego na Globo, porque impôs o cantor como “assistente de baianidade” numa mini-série.
Os bicos eram tão ou mais esdrúxulos do que esse, de “personal baianês”: compôs histórias infantis para a Editora Abril; cantou em casamentos de filhas de amigos; e quase não apenas cantou música caipira, como também, quase, usou “um turbante branco com uma pedra no centro” para virar um mago adivinho.
“Cada trabalho desses significava vários meses de supermercado, pois em casa, o trabalho de Neusa no Sesi muitas vezes era o que se tinha e estávamos conversados”, resumiu Tom Zé, elogiando a ajuda da esposa e comparando sua própria narrativa àquelas de Charles Dickens sobre os miseráveis londrinos.
Caetano, claro, não deixou barato. Veio de tréplica, também ele fazendo questão de dizer que não leu, lê, o blog de Tom Zé (tomze.blog.uol.com.br):
“Já que me mostraram aqui o que Tom Zé escreveu no blog dele, publico no meu a resposta que mandei pra ele. Tom Zé sempre foi maravilhoso a seu modo. Tom Zé, eu não sou o grupo baiano. Eu sou eu. E você não precisa recusar um abraço meu para ser grato a quem o ajudou”, etc etc. Caetano conclui, achando que Tom Zé está “jogando para a platéia”, que adora quando alguém o hostiliza.
E, desta vez, escreveu em horário mais caetano e menos joãogilbertiano: 10h50 da noite.
(O horário da resposta de Tom Zé? Ah, puro tomzé: 4h51, hora dos galos cantarem e desvairarem a Paulicéia, os gregos, os baianos.)
*
BOAS & MUITAS
Ex-deputado (do Ryo Grande), ex-prefeito (de Macaíba), ex-presidente (da Fundação Zé Augusto) e atualmente conselheiro do Tribunal (de Contas), Valério Mesquita lança hoje na livraria do Midway a segunda edição do seu “Poucas e boas”. Sete da noite.
PAY PER VIEW
Na linha do “é dando que se recebe” a assessoria do camarote Donna Donna (tipo assim, uma espécie de Château de Versailles do Carnatal) envia email aos jornalistas às margens do Putigy: “Por favor, enviem, se possível, o clipping de todas as notas publicadas sobre nosso camarote pois estaremos privilegiando, de forma justa, os colunistas que nos prestigiaram.”
Já sei que eu não vou.
SANTEIRO
“Cenas do cotidiano refletidas no imaginário de Xico Santeiro” é a exposição que abre hoje no Museu de Cultura Popular Djalma Maranhão, 18h.
Fica aberta até o final do ano, das 9h às 16h (com horário prolongado, até às 21h, durante os três dias do Ene).


PROSA
“Costumo dizer que, se dependesse de mim, Elvis Presley e Marilyn Monroe nunca se teriam tornado estrelas.”
Caetano
Verdade tropical
VERSO
“Todo compositor brasileiro é um complexado.”
Tom Zé
“Complexo de épico”

terça-feira, 25 de novembro de 2008

As normais, as neuróticas, e as loucas de pedra e batom

Marquem na folhinha, anotem na agenda, sinalizem no calendário do celular: hoje é o Dia Internacional de Combate à Violência contra as Mulheres.
O que me faz lembrar o velho Nelson Rodrigues: “Evidentemente, quando eu digo que a mulher gosta de apanhar, eu não quero dizer apanhar a toda hora, a todo instante e de todo mundo. Ela gosta de apanhar do ser amado.”
A fala é de uma entrevista à jornalista Christina Autran, realizada na virada dos anos 60 pros 70 (e publicada ano passado pela Nova Fronteira num livrinho imperdível intitulado, pois, “’Por que a mulher gosta de apanhar’ e outras reportagens dos anos 1960 e 1970” – e que inclui mais 27 entrevistas, quase a metade com mulheres, entre as quais Clarice Lispector, Fernanda Montenegro e Helô Pinheiro, todas, imagino, sem pendor para apanhar e gostar de).
Christina era – e ainda é – uma jornalista competente: não haveria de bater boca com o mais que famoso colega e dramaturgo. Pergunta, pergunta, pergunta e deixa o entrevistado falar. (Não diz a ele, por exemplo, que muitas das perguntas que faz são frases de Jung; e é irônica na medida certa quando intercala perguntas e respostas com comentários: “Nelson nasceu no dia 23 de agosto de 1912. É Virgem. Isto é, seu signo é Virgem.”) O virginiano continua sua controversa tese:
“Mas é claro que, quando eu digo que a mulher gosta de apanhar, eu tô falando – isso é preciso repetir, especificar para evitar confusão –, eu me refiro não a todas as mulheres, somente às normais. Eu digo, e mais uma vez repito, que a neurótica reage.”
Pois.
Inspiradas no preconceito geral que ainda resiste quatro décadas depois de Autran entrevistar Rodrigues, uma turma de atrizes e ativistas feministas de Recife, Pernambuco, apropriou-se com ironia do lugar-comum que taxa de loucura qualquer atitude contracorrente: As Loucas de Pedra Lilás não atiram pedras – fazem performances na rua e “acreditam na força da arte para reverter os danos causados pela sociedade patriarcal, que gera homens possessivos e ciumentos capazes de matar suas companheiras”.
As Loucas de Pedra se exibem hoje, num cortejo que parte do Baldo por volta das três da tarde e chega na Praça André de Albuquerque lá pelas cinco e meia, ainda tempo de entrever o sol se pôr do outro lado do Putigy.
O cortejo faz parte da I Jornada de Contracultura Revirando as Estruturas da Violência, promovida pelo Coletivo Leila Diniz, ONG feminista, que recebeu para o evento apoio da Secretaria Especial de Políticas para as Mulheres.
Pra deixar os santos de casa realizarem também seus milagres, as Loucas de Pedra abrem alas e espaço para o grupo potiguar Facetas, Mutretas e Outras Histórias, que vão se amarrar ao antigo pelourinho da Praça André de Albuquerque.
O que bem pode ser uma alusão à música de Yoko Ono e John Lennon, “A mulher é o negro do mundo”. Não é, claro. Nem gosta de apanhar, muito menos.
Mas aprenderam que podem ser loucas o suficiente para, mesmo sãs, “normais” ou “neuróticas”, se assumirem como tal para alertar a população que bater ou matar mulheres em nome de um suposto “amor” é crime e dá cadeia.
*
ROSACHOQUE
Aliás, bem que a neo-prefeita-eleita desta Capital Espacial podia bater suas asinhas multicoloridas e desembarcar, hoje, na Baía da Guanabara: o 3º Congresso Mundial de Enfrentamento da Exploração Sexual de Crianças e Adolescentes segue até a próxima sexta, reunindo representantes de 150 países.
Afinal, a Borboleta já avoou pelo Sul Maravilha, vai pra Mossoró City, assistiu o jogo do ABC x Ponte Preta, foi à missa e tietou e foi tietada no show do Padre Fabio Melo: exploração sexual infanto-juvenil é problema e interesse direto deste Arraial e da “exuberante” indústria do turismo local.
EM NOME DO PAI
Laélio Ferreira animado com um verdadeiro achado: os originais de “Canção da montanha”, de Othoniel Menezes, seu pai, safra 1955.
Animado, mas ainda em dívida: quando saem as obras completas, Laélio? O tempo urge. E “Sertão de espinho e de flor” merece a mais bem cuidada das edições, capa dura, luxo, tal.
LETRAS & JAZZ
Começa quinta, 27, o Ene, Encontro Nacional de Escritores, ribeyras do Putigy.
Mesmo dia do JazzPorto, Festival Internacional de Jazz e Blues de Porto de Galinhas, no vizinho estado de Pernambuco.
Ambos, grátis.
EME
A moçada vai chiar com a presença de José “Maribondo de Fogo” Sarney – mas tem Arnaldo “Titã” Antunes pra contrabalançar, em prosa e música: é dele o primeiro dia de show.
Música, aliás, não falta nesta 3ª edição do Ene, que bem poderia ser Eme – encontro musical de escritores: tem Abel Silva (compositor), Arthur Nestroviski (crítico musical), Paula Morelenbaum (cantora), Roberto Menescal (músico), Zé Miguel Wisnik (músico) e Zuza Homem de Mello (musicólogo), distribuídos em várias mesas. Mais os nativos Carlos Piru (músico) e Zé Dias (produtor).
RÁDIO
Quer ouvir versos de poetas deste Ryo Grande? A Rádio Muderna (www.mudernage.com.br) convidou Tarcísio Gurgel, para recitar os poemas, e Manoca Barreto, para a trilha musical.


PROSA
“Nós nem sempre gostamos das pessoas que amamos: nem sempre temos essa escolha.”
Anne Enright
O encontro
VERSO
“Só uma coisa me entristece
O beijo de amor que não roubei”
Abel Silva
“Jura secreta”

segunda-feira, 24 de novembro de 2008

De bar em bar

Quero um bar onde beber minha solidão, um bar como nas telas de Edward Hooper, um bar como na noite estrelada de Vincent van Gogh, um bar sem endereço certo, numa rua sem saída, numa cidade distante, onde ninguém me conheça e saiba meu nome.
Quero que os clientes pensem, ao me ver entrar, que posso ser tudo, que tudo posso ser – traficante de armas, como Rimbaud, bebedor de absinto como Baudelaire, estripador como Jack.
Que me importa? Na solidão da penumbra de um bar, tudo posso, ser é o de menos, parecer é o que se apercebe.
Não quero todas as bebidas do mundo. Me basta um copo qualquer, muitas pedras de gelo, e uma garrafa de uísque ou bourbon. Ao copo basta a transparência – que insisto em saber o que tomo. Às pedras, basta que não tenham sido colhidas entre as neveiras geladas do coração daquela ingrata que, como na canção, me amava e me abandonou. Já à garrafa, que ao menos a mim seja concedida a primazia do lacre, a certeza do inteiro – estou farto de coisas pela metade, aos terços, aos quartos, quintos do inferno.
A propósito, quero um bar onde possa conversar com meus demônios sem que ninguém nos olhe torto, sem que ninguém se levante desconfiado de nossa presença exótica. Quero um bar onde os anjos caídos possam reparar suas asas sem que ninguém os denuncie, enxote, enxovalhe.
Não quero um bar de sorrisos fáceis, de cultura inútil, de cartões de crédito super-hiper-platinum-plus. Quero um bar, de preferência, sem o desfile de carros na porta, sem um guarda-costas na esquina, sem maître, chef, sem palavras em francês a não ser um “je t’aime moi non plus”, na voz de Jane Birkin ou Brigitte Bardot e de Serge Gainsbourg ou... Serge Gainsbourg mesmo, que o homem não tem rival. Um bar, dizia eu, sem talheres de prata, taças de cristal. Quero um bar sem guardanapos de linho, daqueles impecavelmente dobrados como esculturas tristes, um bar sem travertino nos banheiros – que ao menos a eles não lhes seja negada a sujeira dos nossos corpos. E bocas.
Quero um bar onde possa exercitar o silêncio e o esquecimento. Lembrar cansa. Lembrar pode ser terrível. Lembrar é tudo que resta para quem perdeu posse e pose, que uma coisa leva à outra feito o ovo e a galinha.
Quero um bar onde o homem barbado do balcão, cigarro amassado entre os dentes, repita numa voz tenebrosa entrecortada com uma risada idiota: “Se eu disser que foi o galo dizem que é mentira minha”. Ou qualquer coisa idiota assim.
Quero um bar de idiotas autênticos não uma cúpula de idiotas enrustidos camuflados em doses artificiais de testosterona e alcahol. Quero um bar onde a gente beba e se embriague de verdade, onde cadeiras voem, como nos melhores faroestes, onde garrafas sejam quebradas, como nos melhores filmes de gângster, onde homens e mulheres se beijem sem pudor. Como nas melhores histórias de amor.
Quero um bar de homens e mulheres em combustão, um bar de amantes enlouquecidos, um bar onde os ciúmes são derramados sem vergonha, a primeira dose para o santo protetor dos ciumentos, caso exista – e deve haver um, que de ciúmes vive o mundo e a fila de devotos cresce.
Mas, acima de tudo, quero um bar onde a música reine. Em radiolas de ficha, em grupo cigano, em trio de jazz, na voz rouca de um cantor de blues.
Ah, mas que sujeito amargo! – pensou você, doido, ou doida, pra me acompanhar nesse bar, onde, cada um de nós, ao beber individualmente nossa solitária solidão, terminaremos todos por nos fazer alegre companhia.
E, prometo, seremos os últimos a sair, ao raiar do sol de um novo dia.

*

AGRADECIMENTO
A coluna não tem nada a agradecer – mas o sobrescrito sim: a todas e todos que compareceram à Siciliano dia 19 passado, e, por que não, a quem também não compareceu e nem por isso se fez menos presente.

PROSA
“O que impede que nos matemos quando estamos loucos de embriaguez alcoólica é a idéia de que, uma vez mortos, não beberemos mais.”
Marguerite Duras
A vida material
VERSO
“Aqui é um lugar de desamor
Tempo de antes e tempo de após”
T. S. Eliot
“Burnt Norton”

domingo, 9 de novembro de 2008

Adivinhe quem vem para o café-da-manhã: Diógenes da Cunha Lima

Tão pouco a dizer sobre Diógenes da Cunha Lima que já não tenha sido dito. Talvez, aproveitando a deixa do seu texto, que tem muito do Quixote sob as vestes talares, acadêmicas e de poeta laureado da província. Porção, entre tantas admiráveis, admirável: a sua eterna conquista de amigos, grande latifundiário de emoções que é. Falta-lhe apenas tempo, para gozar dessa riqueza sem preço, sem castelo, sem coroa. Mas, tempo haverá, tempo haverá – e, no decorrer das horas, dos dias, ler Diógenes é sempre bom, simplesmente bom.

LAMPIÃO E O REI COROADO
A vastidão, diversidade, sutis revelações da alma humana tornam a obra de Shakespeare freqüente objeto de comparações.
Sanguinário, devasso, falso, enganador, violento, maldoso. Estas são algumas das qualidades que Malcoln atribui ao rei Macbeth, personagem da tragédia (1606?) de Shakespeare. Poderia ter falado também na sua psicose, inteligência, astúcia, crueldade.
Lampião, Virgulino Ferreira (1897-1938), teria todas essas qualidades reveladas a partir da sua opção pelo mal. Os dois têm a ambição por poder e fama.
Macbeth era um Capitão do Exército escocês. O outro requisitou a patente, sagrando-se Capitão na presença de Padre Cícero Romão. Lampião assinava Cap. Virgulino e fez gravar a expressão em seu anel e aliança de ouro. Ambos tinham fama de bons cavaleiros e eram extremamente supersticiosos. Macbeth incorporou a linguagem das feiticeiras pela qual não seria vencido – ninguém nascido de mulher poderia fazer mal a Macbeth. Invulnerável julgava-se Lampião, acreditando ter o “corpo fechado”. Em oração, Pedra Cristalina, Lampião recitava: “Salvo fui, salvo sou, salvo serei com a chave do sacrário eu me fecho”. Macbeth seria rei da Escócia (não o rei de paz que reinou entre 1040 e 1057), o monarca cruel da tragédia literária. Lampião, o rei do cangaço, foi monarca, móvel em veredas de sua geografia vinte vezes maior que a escocesa, os sertões de sete estados do Nordeste brasileiro.
Otacílio Batista Patriota fez poema, depois transformado em música, versejando: “Virgulino Ferreira, o Lampião/ bandoleiro das selvas nordestinas/ sem temer o perigo nem ruínas/ foi o Rei do Cangaço no Sertão”. E as façanhas desse rei crescem no imaginário popular.
Certamente, as dessemelhanças são profundas, mas coincidências existem. O mal é assemelhado.
Já muito se tem dito que a vida imita a arte. O que sinto é que há pontos de convergências entre as vidas, ficção e realidade, e até entre as mortes. Ambos foram decapitados. Com exibição das cabeças cortadas. Nenhum dos dois formou dinastia, teve descendência a reinar. As belas mulheres, Lady Macbeth e Maria Bonita, participaram das maldades, ainda que se relatem episódios em que a nordestina procurava abrandar o coração do seu régulo.
Ninguém tinha amor a Lampião, todos lhe tinham temor, obedeciam ao medo despertado. O nobre cavaleiro Angus fala sobre Macbeth: “Os que estão sob o seu comando movem-se por obediência, e não por amor”. Os dois usavam punhais e facilmente se viam punhais em seus sorrisos.
Poder-se-ia, ainda, acreditar que o chapéu de Lampião era a sua coroa. Assim consta do Regimento Policial Militar transcrito pelo magistral Frederico Pernambucano de Mello em “Guerreiros do sol”: “chapéu-de-couro, tipo sertanejo, ornado em alto relevo em suas abas, com seis signos de Salomão; barbicacho de couro, com 46 centímetros de comprimento e ornado em ambos os lados com cinqüenta e cinco (55) peças de ouro...”
Macbeth quis sempre ser famoso. Ouvi, menino, uma conversa de meu pai com um homem de quem se dizia ter sido do bando de Lampião. Ele negou, dizendo que não era do bando, pertencera a outro grupo, mas fora emprestado ao famoso Capitão. Depois de muita insistência do meu pai para saber de alguma característica maior de Virgulino, como, por exemplo, do que ele dizia com freqüência, ouvimos: “o Capitão sempre dizia, ‘eu quero é que ninguém nunca se esqueça de mim’”.
Nunca ninguém o esquecerá, ainda que a lembrança seja feita em canção, livros, revistas, filmes, estilização da roupa, ou até em publicidade moderna, além dos estudos de patologia social. [Diógenes da Cunha Lima]

PROSA
“Tudo era engrandecer eu minha ventura, por haver-ma dado o céu por senhora: enaltecia sua beleza, admirava-me de seu valor e inteligência.”
Cervantes
O engenhoso fidalgo...
VERSO
“Tarefa de prazer compensa a dor”
Shakespeare
Macbeth