sábado, 16 de maio de 2009

Adivinhe quem vem para o café-da-manhã: Abimael Silva

Abimael Silva, um sábado depois de Augusto Lula? As más línguas vão falar em arrumadinho, esquema, coisa e tal – aliás, samba esquema noise, já que os dois venceram as última eleições da Samba, Sociedade dos Amigos do Beco da Lama etc. Mas as más línguas a isso servem, então, maravilha.
Silva aparece – pela segunda vez neste café-da-manhã (a primeira em julho do ano passado num texto sobre “A arte de comer caranguejo”) – por razão mais-que-justa: morreu Helmut, como parte da City soube, e Abimael era sua sombra, ou ele, a sombra de Abimael. Tipo: Dom Quixote e Sancho Pança, embora os dois sejam magros feito a lança do Quijote. Helmut, a propósito, era magro, e estava quase sempre nas brenhas do Sebo da Avenida Rio Branco, entre espirais de tabaco e loiras geladas.
Mas aí acontece o inusitado, como era de se esperar quando o assunto é Abimael e Helmut: o editor-sebista fica de mandar seu texto em arquivo digital – o que é uma façanha, já que só escreve batucando em sua máquina portátil. Os dias passam, as horas passam, os minutos aproximam-se do deadline. E nada.
Oswaldo Ribeiro, codinome Ørf, envia a primeira página datilografada do texto de Abimael em formato jpg. Via email. E nada de chegar a segunda. Terá sido Helmut que abortou o envio? Vai saber.
Ah! e a foto de Helmut foi surrupiada do blog de Hugo Macedo (www.fotohugo.blogspot.com), com autorização de Abimael (!).
Ouçam, pois, com atenção, e tirem suas conclusões de como termina o relato sobre Helmut:

QUANDO UM AMIGO PARTE
Quando um amigo parte para o país das sombras fica aquela melancolia e o velho filme mental, sem cortes em todas as cenas.
Tudo isso é para dizer que José Helmut Cândido, o ex-carteiro de Câmara Cascudo, um potiguar que lia Nietzsche em alemão, fez a última viagem no primeiro sábado de maio, deixando saudades e histórias maravilhosas.
Helmut amava cigarro, cinema, Nelson Gonçalves, boêmia e fotografia. Se orgulhava ao dizer que fumava seis carteiras diariamente, sabia tudo de cinema, conhecia quase todas as interpretações de Nelson e o Brasil de ponta a ponta.
Detestava cachorro, menino, velho e assovio. Não dividia fotografia. Quem quisesse que tirasse com fulano, sicrano ou beltrano, mas a dele era só ele, caso contrário não tinha fotografia.
Velho funcionário dos Correios leu todos os filósofos. Há poucos anos viajou de ônibus para o Rio de Janeiro com a roupa do corpo e vinte reais no bolso: ainda chegou com um e cinqüenta para comprar a última carteira de cigarros. Namorou Francisca, ex-empregada de Cascudo, e freqüentou a zona da Rua São Pedro até o ano passado.
Foi um William Burroughs, um beatnik sem ter conhecido Kerouac, Bukowski e companhia. Era um velho que gostava de viajar!
Quando lancei seu segundo livro, “O carteiro de Cascudinho”, deixei vinte exemplares na livraria Siciliano, esperando uma boa venda, que nunca aconteceu. Depois de quinze dias sem vender nada, Helmut disse que iria levar os livros, que tinha onde vender mais rápido. Foi aquela confusão, mas ele acabou levando metade dos livros. Só Helmut para fazer essas coisas.
Helmut foi Bartleby, o Escriturário, que conheci. Era quem mandava e desmandava no Sebo Vermelho. Diariamente me esperava na porta, mais fiel que o melhor felino. Não dá para esquecer o dia em que ele quis ser funcionário do Sebo:
– Abimael, como você vive saindo para resolver coisas na rua, me contrate para ser seu gerente. Eu sou barato, o salário é 300,00 mas você só precisa me pagar 150,00. Agora, eu só aceito ser o gerente.
Eu dei aquela gargalhada e ele disse que falava sério. Eu falei:
– Helmut, não dá por dois motivos: primeiro, você já quer começar sendo gerente, depois, a próxima promoção é dono!
[...] [Abimael Silva]



PROSA
“Não era eu mesmo, nunca fora aquele sujeito com sua felicidade sinNegritoistra, sua estranha bravura.”
John Fante
Pergunte ao pó
VERSO
“morreu quem sou, mas quem não fui existe”
Miguel Cirilo
“tendência”

sexta-feira, 15 de maio de 2009

O amor nos tempos da ditadura

“Ser noivo é ser ditoso.”
O sobrescrito ouve as palavras da boca de Cassiano Arruda Câmara, não sem alguma surpresa. Ainda mais porque no entorno da frase circulam histórias apaixonadas sobre cartas de amor de um noivo para a sua noiva e vice-versa. O autor das cartas, o noivo, era Cassiano. A noiva, sua mulher até os dias de hoje, Nilma Arruda.
Me desdigo da surpresa. Convivi com o jornalista e publicitário anos atrás e testemunho o afeto que se encerra por trás daquele peito varonil – a voz tonitruante e o pigarro subseqüente sempre amoleciam quando falava com a esposa ao telefone. Os brutos também amam.
Amor de quarenta anos.
Corria o ano de meia-nove, um após a promulgação do AI-5. E, em um 16 de maio como o dia de amanhã, Cassiano, então editor-chefe da Tribuna do Norte, e Agnelo Alves, então prefeito de Natal e diretor do jornal, eram presos. Por conta de uma nota até hoje misteriosa e que os militares entenderam como uma afronta ao regime.
Da prisão, claro, restava ao preso escrever cartas. Que Dona Nilma guarda até hoje. Este ano, revendo a correspondência, o jornalista tem a idéia de uma plaquete, para consumo familiar.
Mas o ano presente é o de 2009, que entra para a história do jornalismo potyguar como o ano do decesso de O Poti e o fim do Diário de Natal, ao menos como mais ou menos sempre foi há décadas. E a história se repete em ao menos um ponto: a TN não noticiou a prisão de Cassiano, em meia-nove; o DN não noticiou a saída de Cassiano e sua coluna Roda Viva, neste zero-nove.
“Página virada”, resume o jornalista, esquecendo o noivo apaixonado e reincorporando o pragmatismo seco que sempre o caracterizou. E acrescenta um clássico “Foi bom enquanto durou” – não à toa o chavão freqüentemente associado às relações conjugais. Mas depois de 39 anos, primeiro datilografando, e depois digitando, uma média de cinco laudas diárias, não se vira simplesmente a página.
Fazer o quê? Continuar a escrever, claro. A correspondência dos noivos vira pano de fundo para um relato documentado da sua prisão, em livro a ser lançado no próximo 4 de julho (pela editora Flor do Sal), em data não casual: foi o dia da sua liberdade.
E início de um novo período que se encerrou dia desses, com a demissão inusitada. Os dias de cárcere, sob a luz dos anos, foram enxergados como de transição – daí o título, “Hotel de trânsito”, mesmo local, na Base Aérea, dos quase 50 dias como prisioneiro do regime.
Segundo o autor, o livro servirá, também, para desmitificar o sentido épico e heróico das prisões de então: “Foi preso apenas um cara apaixonado.”
*
BOLA
Coincidentemente, outro demitido do Diário – e interino de Cassiano – lança livro novo na praça. Melhor dizer, em campo: “A cabeça do futebol” tem organização de Carlos Magno Araújo, pois, e Gustavo de Castro e Samarone Lima, e reúne um time, com o perdão do chavão, de craques: pra começar, e assumir o nosso complexo de vira-latas, o espanhol Enrique Vila-Matas. Mais: Daniel Piza. Não se impressionaram? Xico Sá. E Juca Kfouri e Rubens Lemos Filho e Moacy Cirne. Bom, o mais perna-de-pau deles faz gol de bicicleta.
Vai ser lançado em várias capitais destes Tristes Trópicos, mas pelas ribeyras do Putigy a data programada é 26 de junho.
CONTO
“Conto: porque conto” (ou será “Conto: por que conto”?) – enfim, mais um título de Públio José nas paradas de sucesso: vinte contos entre a ficção e as memórias de infância. Pra daqui a pouco, aguardem.
HINOS & DOBRADOS
Esta semana rolou homenagem a Augusto Severo, na praça homônima, dentro do calendário de atividades idealizado pela Fundação Zé Augusto, para dar vida às praças e logradouros da cidade, explicando por que diabos têm o nome que têm.
Como o sobrescrito não viu notícia em canto algum – o que não significa que não tenha aparecido – assuntei Dona Mary Land Brito, da FZA. Que me disse que o evento (107 anos da morte de Severo) reuniu cerca de 120 alunos, mais os descendentes Augusto Maranhão e Berta Severo.
Houve um minuto de silêncio. A estudantada depositou flores no busto e todos cantaram o hino de Augusto Severo. A Banda Curumim, da Rua do Motor, tocou hinos e dobrados em memória do ilustre inventor.
ÁGUA ARDENTE
O professor Vicente Serejo ilustra hoje o auditório do Sebrae falando sobre a mardita (benedita) pinga. Prévia da “Festa da Cachaça e Comida de Boteco” – que segue amanhã no Forró do Jerimum, em Parnamirim Fields, com o maior garçon de todos, Mr. Reginaldo Rossi.
NIGHT FEVER
Aliás, páreo duro amanhã – além de Rossi, tem Os Poetas Elétricos (Nalva Melo Café Salão), Vander Lee (TAM), e a primeira noite do MPBeco (Cidade Alta).
INTERINA
Desfeito o mistério: a partir de segunda assume o posto Sheyla Azevedo, que lhes fará muito melhor companhia, garanto.



PROSA
“Nós podíamos pôr quase tudo em comum exatamente porque a princípio não tínhamos quase nada.”
André Gorz
Carta a D.
VERSO
“Que no peito dos desafinados
Também bate um coração”
Tom Jobim e Newton Mendonça
“Desafinado”

quinta-feira, 14 de maio de 2009

Ora, ostras

Luiz Gonzaga Cortez anda na contramão – e envia email saudando o trabalho de Agaciel Maia em prol da cultura potyguar:

“Uma das piores coisas do mundo é ficar no ostracismo. Quando o homem está bem de vida, com dinheiro no bolso e no banco, é tudo bom, fácil e rico, além de muitos amigos, babões, cortejadores, bajuladores de vários matizes. Quando a pessoa está debaixo, espinafrado, sob tiroteio, os amigos desaparecem. Isso é comum na sociedade moderna-consumista, seja capitalista ou socialista. Ambas estão em decadência. Mas, deixa isso prá lá, pois quero falar de outra coisa. Coisa? Que coisa? Não me refiro a “coisa” que alguns poucos leitores estão pensando. Não, me refiro ao potiguar Agaciel Maia, de Jardim de Piranhas, que foi derrubado na Direção Geral do Senado Federal. Há pouco tempo, ele foi comentado, elogiado, ilustrado, feixes de luzes foram lançados sobre ele. Não se lembram? Pois foi, ele lançou um livro sobre o senador Dinarte Mariz, numa dessas Bienais do Livro, em Natal. Hoje, maio de 2009, ninguém tece um comentário elogioso.
“Pois é, meu caro. Mas eu quero fazer um elogio. Agaciel Maia, que não conheço, nunca vi e não falei com ele ao (ou no?) telefone, merece elogios, pois, se não foi um mecenas, ajudou a cultura brasileira. Para muitos intelectuais do Rio Grande do Norte, ele propiciou o acesso a muitas obras esgotadas da nossa História, tais como os volumes da Coleção ‘O Brasil Visto por Estrangeiros’, ‘Biblioteca Básica Brasileira’, ‘Coleção Ambiental’ e muitos outros exemplares editados pela Gráfica do Senado Federal, desde 1997. O ‘Código de Águas’ (Brasília, 2003) é imprescindível para se informar sobre tudo que se refere ao meio ambiente do Brasil e que muitos ecologistas não conhecem.
“Agaciel Maia, na qualidade de Diretor Geral do Senado Federal, fez convênio com o Instituto Histórico e Geográfico do RN, dirigido por Enélio de Lima Petrovich, propiciando o acesso dos seus sócios a importantes obras da historiografia brasileira. É verdade. Eu tenho cartões ‘com os cumprimentos de Agaciel da Silva Maia – Diretor-Geral’. Repito: eu não conheço o sr. Agaciel, mas eu considero um homem de valor intelectual e que contribuiu para a cultura brasileira. Um das obras editadas sob a batuta de Maia é ‘O Brasil Holandês sob o Conde João Maurício de Nassau’ (Vol. 43, 429 páginas, Brasília, 2005), de Gaspar Barléu . Uma obra necessária para quem se interessa pela verdadeira história dos primórdios do Brasil que, segundo o filosofo Francisco Martins de Souza, nunca foi colônia de Portugal, mas uma província ultramarina.”
[Luiz Gonzaga Cortez]
*
NEGÓCIO DE MINAS
O deputado Fernando Mineiro comprou ontem o Morro do Careca pela bagatela de R$ 22 milhões – de mentira, claro: foi durante uma performance que abriu o VIII Encontro Nacional e I Encontro Internacional com o Pensamento de Milton Santos.
Mas foi logo adiantando a brincadeira: “Comprei pra preservar.” Nenhuma estrela do PT no alto da careca, deputado? “Só a presidente Dilma Rousseff, quando da inauguração da área de preservação ambiental”, adiantou o comprador – que também é das Geraes, como a mãe do PAC.
SABOR NACIONAL
Currais Novos, Extremoz, Lagoa Nova, Mossoró, Natal, Parelhas, Parnamirim, Pipa e Tibau do Sul são os arraiais deste Ryo Grande que participam do “Encontro Brasil Sabor”, promoção da Abrasel, Associação dos Bares e Restaurantes, durante todo este mês de maio.
O festival – gastronômico, claro – é nacional, movimentando cerca de dois mil restaurantes (50 nestas ribeyras e sertões).
BRASA, MORA
A Harabello Turismo já começou a vender as mesas para o show de 50 anos do Rei Roberto. Vai ser apenas no dia 4, mês vindouro, mas é bom se ligar: 3133.4141.
Para quem não tem 200 contos pra comprar um tamborete na mesa premium, ou 150 para a mesa vip, ou R$ 112,50 para a mesa “comum” (os valores foram divididos por quatro), resta gastar R$ 60 e ir em meio aos plebeus (venda de ingressos individuais na Sol Bixoux, Midway).
CRISIS
Tem edital em banda de lata pela City – Funcarte, Zé Augusto, blábláblá. Até a Fapern tem um, para “artistas tecnológicos”. Procurem as respectivas instituições.
NA CÂMARA
Hoje, especialmente hoje, a Cultura abunda na Câmara Municipal desta Capital: às 10h da madrugada tem audiência pública para discutir políticas de incentivo à dita cuja – a proposição não é de Julinha Arruda, que pena, mas de Ney Lopes, júnior.
E, às 18h, hora da Ave Maria, rola sessão solene em comemoração às quatro décadas de carreira do cantor e compositor Fernando Luiz, autor do hit “Garotinha” (e pai da garotona Fernanda Tavares).
CORLEONE
Uma alma caningada me informou errado os parabéns ao ilustre jornalista Carlão de Souza: não era ontem, mas amanhã. A justificativa é que ontem foi o de Abimael do Sebo Encarnado e as comemorações costumam se amalgamar.
INTERINA
A partir de segunda próxima a coluna vai ter uma interina durante ao menos 15 dias. Só pra ficar no suspense o nome eu revelo amanhã.



PROSA
“O Grande Irmão está observando você.”
George Orwell
1984
VERSO
“Pessoa que irmãos não tenha
Como é desajudada!”
Anônimo
Livro dos cantares

quarta-feira, 13 de maio de 2009

De um tudo




TUDO MAJESTIC
Estreou na madrugada de sexta última um dos oito projetos de intervenção artística sobre o tema memória urbana, propostos pela Fundação Capitania das Artes.
Onde? Vizinhanças da Prefeitura, onde funcionou, há sete, oito décadas, o mais-que-famoso Café Majestic, centro irradiador da cultura potyguar e que recebeu em suas mesas Mário de Andrade e Manuel Bandeira, entre outros.
A tríade Afonso Martins-Flávio Freitas-Marcellus Bob grafitou um mural onde sobressai a santíssima trindade Mário de Andrade-Jorge Fernandes-Câmara Cascudo. E que, através de foto, ilustra e lustra esta coluna.
TUDO CALMA
Enquanto isso, dois dias antes da madrugada-majestic, foi lançado em Sampa (no MAM) o documentário “Temporal – The Art of Stephan Doitschinoff”, acompanhado do livro “Calma – The Art of Stephan Doitschinoff”, fruto do retiro do artista em Lençóis, Bahia, onde grafitou dezenas de casas e alguns túmulos do cemitério da cidade.
“Calma” é como o rapaz – que é brasileiro, sim, apesar do nome – adotou pintando nas ruas antes de ser adotado pelas galerias de arte do mundo.
TUDO CONTRA
Amanhã a coluna publica artigo de Luiz Gonzaga Cortez na contramão do noticiário contra o Agaciel Maia – começa assim: “Uma das piores coisas do mundo é ficar no ostracismo. Quando o homem está bem de vida, com dinheiro no bolso e no banco, é tudo bom, fácil e rico, além de muitos amigos, babões, cortejadores, bajuladores de vários matizes.”
Agaciel, claro, não está tão só. Nem há de.
TUDO CANA
As cachaças Extrema (Pureza), Gabi (Parnamirim), Gota Serena (Parnamirim), Maria Boa (Goianinha), Mucambo (Goianinha) e Papary (Nísia Floresta), participam da “Festa da Cachaça e Comida de Boteco”, próximo sábado, 16, no Forró do Jerimum, em Parnamirim Fields.
Reginaldo Rossi é a grande pedida da noite.
TUDO ELÉTRICO
Mesmo sábado em que Os Poetas Elétricos se ligam nas tomadas e na ambientação do Nalva Melo Café Salão, sempre na companhia de Gabriel Souto e Júlio Castro.
TUDO LEE
Mesmo sábado em que Vander Lee aporta pela primeira vez na City, fazendo show no TAM.
TUDO BECO
Mesmo sábado em que acontece a primeira noite do MPBeco – que vem com uma novidade: um concurso fotográfico sobre o evento deste ano. O prêmio vale R$ 1 mil.
TUDO BURRO
“Como a maioria gosta, o burro sou eu.” – de Geraldo Batista, sobre a unanimidade em torno da obra de Saint-Exupéry e Paulo Coelho.
Mais, brada o Batista, sobre a coluna de segunda: “Não gosto de imoralidades do tipo senador, deputado federal, estadual e vereador, desonestos. Essas mulheres de Stupakoff são a coisa mais ingênua do mundo.”
TUDO SIMPLES
Batista também lembra quando Virgílio Moretzon levou Lygia Fagundes Telles à sua casa: “Achei-a muito simples, almoçou conosco e deu um livro autografado para meus filhos.”
Que coisa! – ainda bem que por aqui pelo Ryo Grande não tem dessas simplicidades, não, espécie entre os escribas e intelectuais.
TUDO BEM
Esqueçam a crise mundial, as más línguas, as crises conjugais, as intempéries: o Lual do Bem, realizado sábado passado, “foi mágico e limpou o éter planetário”, informa Flávio Rezende – que, não, não contou com a ajuda da deusa da limpeza.
TUDO ELEITO
O professor Otávio Augusto de Araújo Tavares e a educadora Ísis Brandão de Araújo Guerra são, respectivamente, os novos presidente e vice-presidente do Conselho Estadual de Educação – eleitos.
TUDO ARTE
Dentro da programação da mostra temática “Sétima Arte e Artes Plásticas” tem exibição hoje do filme de Mick Davis, “Modigliani”, safra 2004. No auditório do Colégio Ciências Aplicadas, telão de 12 metros.
TUDO FILME
Hoje tem exibição dos filmes “Junod” (19h) e “Hóspedes da noite” (21h) dentro do Ciclo de Debate sobre África Contemporânea. O local parece um código secreto, mas chegando ao Campus da UFRN vocês acham: auditório B do NAPP, CCHLA.
TUDO M...
Hoje tem Audiência Pública na Assembléia (9h30) para discutir a sujeira no Putigy, rio grande que enfeita a nossa Capital, recebendo, em contrapartida, uma ruma de – vocês sabem bem o quê.
TUDO AMIGO
Hoje Carlos de Souza, poeta, jornalista, escritor, boêmio, e, claro, amigo, completa meio século de existência – longa vida ao rei!




PROSA
“Que fiz de mim? Nada.”
Fernando Pessoa
Livro do desassossego
VERSO
“Tudo é apenas parte de um todo estupendo”
Alexander Pope
“Ensaio sobre o homem”

terça-feira, 12 de maio de 2009

Chame o ladrão!

Dona Carminha é uma das figuras que mais gosto no Jornal de Hoje. E não é apenas porque ela é quem faz os pagamentos no fim do mês. É porque ela sorri, com a boca e com os olhos. E a gente sempre conversa umas besteiras que desanuviam a alma, cada vez que apareço em sua sala.
Pois, hoje, Dona Carminha, decidi escrever pra senhora. É que, se a polícia aparecer na redação me procurando, não se assuste nem se alarme – aliás: lhe autorizo a informar endereço, telefone, CPF, o que danado mais eles precisarem. Não precisa nem me defender – desde já me declaro culpado. E, não, não se ofereça para acompanhá-los no camburão: eu mesmo faço questão de ir ao seu encontro.
Mas, calma, Dona Carminha, não precisa fazer essa cara de “o-que-é-que-esse-menino-fez?”. Eu explico: É que domingo passado fui almoçar com a família no Iate Clube desta brava cidade ribeyrinha, margens do Putigy, e, simplesmente, saí sem pagar a conta. Isso mesmo, repito, para a senhora e para quem mais possa ter achado estranha a confissão: domingo passado fui almoçar com a família no Iate Clube e saí sem pagar a conta.
Mais: saí com um sorriso nos lábios e uma sensação de revanche besta no peito. Doido pra ser chamado à atenção antes de entrar no carro estacionado, doido para que a barreira da guarita não se levantasse e o porteiro me abordasse com a acusação do calote em riste.
Invés, nada. Eram quatro horas da tarde, Dona Carminha, e eu caminhei até o carro sem que ninguém me interrompesse (não, não precisei sair correndo). E a cancela se levantou célere quando o carro se aproximou (desconfio, até, que o porteiro me saudou sorrindo).
Mas, repare no detalhe temporal do parágrafo anterior, Dona Carminha: quatro horas da tarde! O ponteiro pequeno no 4 e o grande no 12. Não seria nada demais, se eu não tivesse chegado ao club antes das 13h, com mesa reservada dias antes e a reserva confirmada, por telefone, horas antes, também.
Dona Carminha, nem lhe conto – aliás, lhe conto sim, senão como a senhora vai entender o meu crime? –, mas, ao chegarmos, a mesa reservada não mais existia. Quer dizer, existia, mas estava ocupada. E o club tomado por uma horda de filhos e mães e alguns filhos da mãe.
Vou tentar resumir o cronograma, Dona Carminha: por volta das 14h conseguimos uma mesa. Às 14h15 chegaram os pratos. E os garfos. E as facas. E os copos. O que nos deu algumas falsas esperanças. Vãs: passava das 14h30 e ainda não tínhamos bebido um gole d’água, uma soda limonada, um suco de umbu. Os garçons apareciam no salão a cada 15 minutos, no mínimo. Mas, coitados, não podiam nos dar muita atenção. Eram apenas quatro. Às 15h23 a comida ainda não tinha sido servida – isso porque tínhamos feito os pedidos antes das 14h, quando ainda esperávamos nova mesa. Em algum instante, entre as 15h30 e as 15h45, chegaram. Nem adiantar dizer que o peixe estava frio etc. – e que comemos com fome mas sem prazer. O pior é que, perto das quatro da tarde eu ainda não sabia se um dos pratos pedidos (o mais banal, o mais despretensioso, a clássica dupla filé-fritas) tinha sido ordenado na cozinha.
Ah, Dona Carminha, a senhora é mãe e sabe que a gente deve evitar aborrecimentos a quem nos colocou no mundo, ainda que num mundo de aborrecimentos. Daí que, esperei minha mãe e seus mais de 80 anos saírem, para começar a me aborrecer de verdade: procurei um garçom e nada.
Daí que, prevendo uma espera de horas para pedir a conta e mais outras para que ela chegasse e acrescentando outras tantas para esperar o troco, tomei a decisão de ir, simplesmente, embora. E pagar depois.
Pois então, Dona Carminha, se a polícia aparecer aí, pode confirmar a indicação do suspeito: foi esse sujeito mesmo que saiu sem pagar.
Mas, não se esqueça de acrescentar: foi quase a única satisfação que teve naquele dia.
*
FAR NIENTE
Anne Marjorie estreou ontem, na SimTV (canal 17), seu programa “Vida Boa”, de olho no público preferencialmente feminino – o que não impede que alguns varões assistam.
LIVRE
Laurita Arruda Câmara Patriota estreou pontualmente à meia-noite de sábado, ou primeiro minuto de domingo, seu blog no sítio da Tribuna. Manteve o mesmo nome do blog de estréia (antes ancorado no sítio do Diário) e a intenção de priorizar “a informação isenta”. Na transposição, perdeu dois sobrenomes.
JH
Mandando a isenção pras cucuias, o sobrescrito só pode elogiar – porque está muito bom, mesmo – a programação visual do novo sítio deste matutino, que derna a semana passada divide a mesma página com o vespertino. Confiram em www.jornaldehoje.com.br.
POTY
Já o “novo” Diário de Natal renasceu, feito fênix sobre as cinzas do defunto O Poti, com a velha confusão visual entre conteúdo e anúncios – domingo último, das 84 páginas, apenas 14 não apresentavam publicidade alguma.
ÁFRICA
Hoje tem exibição do filme “Ngwenya, o crocodilo”, documentário sobre o artista plástico e pintor moçambicano Malangatana Ngwenya Valente – com a presença da diretora Isabel Noronha: é o segundo dia do Ciclo de Debate sobre África Contemporânea, que debate temas atuais entre Brasil e Moçambique. No Auditório da Biblioteca Zila Mamede, 19 h.



PROSA
“O que foi, isso é o que há de ser; e o que se fez, isso se fará; de modo que nada há de novo debaixo do sol.”
Eclesiastes
VERSO
“Ousarei com a vela ao vento
e uma outra vela acesa dentro de mim.”
Iracema Macedo
“Vela”

segunda-feira, 11 de maio de 2009

Stupakoff




Ninguém vai se chatear com a foto da coluna de hoje. Numa cidade (num país) onde as mulheres se confundem às melancias pela protuberância das nádegas, onde crianças dançam a boquinha da garrafa, onde se ouvem canções que afirmam e reafirmam a opção preferencial pela raparigagem, pelo beber-cair-e-levantar, que mal há em três mulheres lindas, simples, anônimas, tomarem banho de sol peladas à beira de um mar onde as duas ilhotas ao longe comungam com seus montes de vênus?
Mal nenhum.
A não ser, claro, o fato de serem anônimas.
Reparem bem na foto: duas sorriem, a terceira, misteriosa, não revela nem mesmo a direção do olhar. A mais próxima de nós tem os olhos fechados. Disse algo e achou esse algo engraçado. Ou foi a segunda quem falou. Não. Ela, a do meio, parece mais estar prestando atenção às palavras que a outra falou, o sol na cara alegrando os dentes. Sol pálido, de inverno, insinua a paisagem e o preto & branco da imagem.
Reparem, também, na marca de biquíni da que está de costas, mostrando – não exibindo – uma bunda bem normal no país das hipérboles calipígias: a marca, suficientemente branca, revela que seu biquíni não é dos menores. Não que a moça não pudesse usar um fio-dental, pela caridade!, mas a marca mostra que não é uma nudista contumaz, mas alguém que aproveitou o solzinho acolhedor para reexperimentar a sensação de voltar ao mundo. Como veio. Viemos.
De quem é a foto? De Otto Stupakoff. Morto final do mês passado e que o sobrescrito nunca mais tinha ouvido falar derna que em 2005, mais ou menos, a CartaCapital publicou uma bela matéria sobre seu retorno ao Brazil – salvo engano assinada por Maurício Stycer.
Stupakoff viveu uma dessas vidas de cinema: se mandou pros States bem novo ainda, e fotografou um mundão de gente, celebridades, inclusive. Clicou Nixon com a filha, um juveníssimo Jack Nicholson, um obcecado Truman Capote. E milhares, centenas, dezenas de modelos, especialmente sua mulher, uma miss universo made in sweden.
Voltou pro Brazil pobre, disse. Meio amargo, talvez. Não lembro os detalhes da matéria e é difícil localizar a edição entre as pilhas de revistas que se amontoam pelo apartamento. Pouco importa. Era o retrato de um homem envelhecido, cansado, que freqüentou as páginas e os ambientes da Vogue, da Harper’s Bazaar, Elle, Life. Alguém que chegou ao Everest e ainda não tinha se acostumado aos ares da planície.
*
FOTOFORMA
Segue até junho a exposição “Geraldo de Barros, Modulação de Mundos”, no Sesc Pinheiros, Sampa, claro.
Geraldo de Barros (1923-1998) era também fotógrafo, mas, ao contrário de Stupakoff, mais afeito a experimentalismos – na época ainda dos negativos, manipulava-os, explorando novas formas através de sua justaposição, o que lhe garante um lugar de relevo entre os pioneiros da fotografia abstrata abaixo da linha do Equador.
LYGIA
A notícia é de ontem, antontem, trasantontem, mas não custa repetir: a Companhia das Letras anunciou a reedição das obras completas de Lygia Fagundes Telles, revisadas e reembaladas em projeto gráfico que deve agradar a quem compra o livro pela capa – com a vantagem, aqui, do conteúdo inigualável. E acessível a gregos, baianos e potyguares.
ENFERMARIA
Começa hoje, no Praiamar Hotel, o VI Encontro de Enfermagem, realização da UnP, sob o tema “A Enfermagem valorizando a vida”. Sem nenhum duplo sentido, as enfermeiras são bem legais.
FEIRA MODERNA
Lívio Oliveira tem blog novo na rede mundial de computadores: www.oteoremadafeira.blogspot.com – espaço onde avisa: “aqui os verdadeiros amigos terão uma acolhida poética”. Quem avisa, pois.
FEIRA NOTURNA
Enquanto isso Sheyla Azevedo anda sumida do seu www.bichoesquisito.blogspot.com – a última postagem tem duas semanas: “Há dias em que anoitecemos antes da hora do almoço. Segunda-feira é um dia bem propício para isso.”
SENSACIONALISTA
“Depois de uma passagem por Cancun, a gripe suína desembarcou ontem no Aeroporco do Galeão e chegou ao Brasil. Ela acabou sendo assaltada em Copacabana por um grupo de pivetes. ‘Quando eu disse que viria para cá me avisaram: não vai porque é lá que a porca torce o rabo’, disse.” – essa é o início de uma das muitas matérias que divertem o internauta em www.sensacionalista.com.br, o sítio de Nelito Fernandes, que se intitula “editor-chefe, dono, repórter e office-boy”.
SENSACIONALISTA II
O acúmulo de funções parece ser a solução para a crise dos jornais impressos – daí que o mote de O Sensacionalista é “um jornal que não serve nem para limpar a bunda – porque é online”.
SENSACIONALISTA III
De lambuja, o resto da matéria suína:
“Mais tarde, já relaxada, a epidemia almoçou na churrascaria Porcão, na Barra da Tijuca. No próximo domingo ela vai ao jogo do Palmeiras e disse que deve ficar por aqui até o Carnaval. A gripe entrou no clima sensual e é namoradeira: em um só dia, já arrumou quatro casos.
A superstar só perdeu o bom humor quando um gaiato pegou uma moedinha e tentou colocar em seu cofrinho.”




PROSA
“Em certa idade, olhamos as jovens que passam sem interesse prático, sem aspirar a pular sobre elas.”
Joseph Brodsky
Marca-d’água
VERSO
“E esta tarde tanta que me cobre
e este sol se pondo onde me dispo”
Iracema Macedo
“A louca do porto”

sábado, 9 de maio de 2009

Adivinhe quem vem para o café-da-manhã: Augusto Lula

O novo presidente da Samba (Sociedade dos Amigos do Beco da Lama e Adjacências), Augusto Luís, ou Augusto Lula, esteve há alguns dias no Cacho Dourado, restaurante lisboeta que já apareceu por esta coluna em texto de Manoel Onofre Jr. (confiram edição de 28 de fevereiro último).
Pois, Onofre Jr. contava que Luís Carlos Guimarães e Nei Leandro de Castro quando iam a Lisboa sempre arrumavam um jeito de tomar vinho num restaurante da Rua Eça de Queiroz, chamado Cacho Dourado. Isso, suponho, num tempo em que Nei ainda não tinha entabulado sua tese sobre o “vino della casa”, servido em jarra e tal. Outro papo, outra história.
O fato é que o nosso autêntico presidente Lula das ribeyras do Putigy e da lama do beco, que não é ruim da cabeça nem doente do pé, claro que, também ele, em destino madrilenho, arrumou seu jeito de escalar estrategicamente Lisboa e o Cacho Dourado da Rua Eça de Queiroz, antes de reencontrar Angeles Laporta, chilena-espanhola que já viveu por aqui e co-fotografou “As quatro margens do rio” com Don Giovanni Sérgio Hackradt. (Danielle Brito, inclusive, gravou voz e rosto de Laporta para sua série de vídeos “Memorex” – mas isso tudo são outros papos, outras histórias.)
Voltando para o Cacho e Augusto Lula diante do Cacho, foi lá que – ATENÇÃO, interrompemos a frase para alertar que o que vem a seguir é um “spoiler”, ou seja, antecipa algo que o texto só revelará no final, ou nem mesmo revelará. Então, prosseguimos: ... e foi lá que Lula sentiu a ausência de um outro Lula, o Lula Guimarães, da palavra salgada, do dia colorido, da fuga pontual, das traições bem-intencionadas. E reencarnou, ele mesmo, um pouco do homem de paletó cor de goiaba, “no morrer de cada dia” do poema “Canção urbana” – de quem Pedro Nava sentiu-se irmanado, à beira do “icto cerebral, a angina-pectoris, o edema agudo de pulmão e a asma cardíaca”. O poema vocês podem procurar nos livros de Luís Carlos Guimarães. O texto de Lula você só lê aqui:


ADIVINHE QUEM NÃO VEIO PARA O PEQUENO ALMOÇO
Depois de umas ginjas e cervejas nas Portas de Santo Antão e ainda em busca do pequeno almoço, pegamos um táxi e falamos: Cacho Dourado, Rua Eça de Queiroz. O motorista não lembra da cervejaria marisqueria, mas sabe onde é a rua, beleza. O xis da questão é que o referido fica depois do cotovelo da rua, praticamente onde ela acaba. Bato uma chapa logo ao bater a porta do carro. Vazio o restaurante, mais ou menos 12 horas. Danielle, de cara, olha logo as “”sapateiras (que nada mais são dos que os nossos guajás, sendo que imeeensos, no dizer de Danielle). Eu, meio enfadado, peço uma garrafa de vinho nacional. Pedimos marisco e começamos a entornar o vinho. Os brancos e azuis das mesas impecavelmente postas. Os pernis pendurados. Os garçons num entra e sai como se estivessem esperando um grande acontecimento. Quem sabe ele apareceria? pergunto. De repente, começa um abrir e fechar de porta deixando entrar um vento frio e o ambiente fica lotado. É um local freqüentado pelos portugueses, quase nenhum turista. Danielle pede as pernas da sapateira, e eu, fico olhando para a porta se abrindo e fechando, e ele não aparece. De repente, o que me chama a atenção é um homem sozinho numa mesa, nos seus cinqüenta anos bem morridos, a entornar seu chope silenciosamente. Quem sabe quando ele vai cruzar a ponte de safena? Fico vendo o tempo passar, esperando Godot. Amanhã vou estar com Angeles, quem sabe ele resolve aparecer. Por fim, ainda roubo um garfo para comer as patas dos guajás em Natal e sou flagrado no aeroporto com destino a Madrid. A moça da segurança diz que é para comer escargot e libera a arma mortal que a minha barba de muçulmano denuncia. Afinal, ela, ao revistar nossas malas, viu sabonetes do Brasil, castanhas de caju, doce de leite e rapadura, e ficou se deliciando com os mimos que nossa amiga iria receber. Mas o receio de chegar num aeroporto estrangeiro com um objeto cortante, me fez abandonar a bela manipuladora de pernas de sapateira antes de tomar o avião. Na Puerta Del Sol, pergunto a Angeles Laporta: adivinhe quem não veio para o pequeno almoço no Cacho Dourado? [Augusto Lula]



PROSA
“Comamos e bebamos, porque amanhã morreremos.”
Isaías
O livro do profeta...
VERSO
“e nem sabe que a esperança
é não ter morrido hoje,
mas estar vivo amanhã.”
Luís Carlos Guimarães
“Dom Quixote do mar”

sexta-feira, 8 de maio de 2009

Que mara, mara, mara, maravilha, ê

Sei não.
Hoje tem espetáculo. No Cirquinho de Pirangi. Litoral sul potyguar.
Olha o currículo das apresentações que aconteceram no tal Cirquinho, derna 1994: Arreio de Ouro, Cavalo de Pau, Felipão e Forró Moral, Ferro na Boneca, Forró da Pegação, Garota Safada, Mastruz com Leite, Sacode, Sacudido e Sirano & Sirino.
Os nomes dizem tudo. E algo mais.
Como criar decentemente os filhos desta e nesta terra, meu deus?
Mas, pois, indiferente às minhas lamúrias, vamos aos fatos, que a coluna é dita “Cultural”: o Cirquinho reabre hoje. Para um “Festival do Whisky”. Segundo o release, “a grande atração da festa” é uma promoção onde, comprando um litro de uísque no Cirquinho, o segundo litro sai “grátis”. É o tal do uísque dobrado. Como dobrada também há de ficar a vista depois de entornada a segunda garrafa.
As bandas Chicabana e Forró dos Play’s animam. Devem animar um bocado. Olha os títulos dos hits da primeira: “O Gostosão”, “Problemática”, “Mara” e “Raparigueiro todo”. A última tem versos educativos: “Eu gosto de putaria/ e gosto de raparigar/ Só chego em casa tarde/ depois de encher a cara no bar”.
O gostosão brada, aos quatro ventos, pra quem quiser ouvir: “Vou te levar pra cama/ Vou te deixar toda nua/ Vou te morder, vou te lamber/ Você vai ficar tesuda”. Eu ouvi isso num domingão de sol na praia, coisa de um ano atrás, e nunca esqueci. Uma menininha de uns cinco anos se requebrava na areia, a família entretida com a farofa e a montilla.
Tem outras, tem outras, outras canções – adianto só os títulos: “Lapada na rachada”, “Pegue na minha e balance”, “Rala a tcheca no chão”.
Que cantinho e violão que nada.
A bossa nova é raparigar.
Que mara.
Mas, nao se apoquentem: durante e após o “Festival do Whisky” os bafômetros, claro, devem fazer vista grossa. Ou nariz resfriado.
Afinal, é sexta-feira.
*
FRIDAY NIGHT
Tem “Sexta.Disco”, também, hoje, 22h, com o DJ Luis Couto e a banda Woodstock no Olimpo (não o monte, morada dos deuses, mas a casa de recepções da Hermes da Fonseca, Plano Palumbo).
Tem banda Camba, hoje, 22h, no Bar das Bandeiras, Ribeyra velha de guerra.
Tem Ney Matogrosso, hoje, cantando canções “Inclassificáveis”, onde mistura Cazuza com Itamar Assumpção e outros. Ingressos antecipados – olha só – na La Femme Lingerie (Midway Mall).
Mas, segurem a onda: amanhã tem Letto e banda e Rani e banda. Cada um na sua e por conta própria, mas a festa é a mesma: “Dia desses, como outro qualquer, na Ribeira...” – no Nalva Café, 21h, R$ 6.
RODA
Lídia Quaresma coordena as danças circulares que movimentam o Luau do Bem, da Casa, claro, do Bem. Amanhã, sábado, a partir das sete da noite, em Miami Beach, Areia Preta. Do Bem.
AI QUE MEDA!
O sítio da Prefeitura Municipal está com uma enquete onde pergunta o que o internauta achou dos “olhos” nas árvores (campanha Adote o Verde): a maioria se divide entre “uma ótima idéia” e “fiquei curioso”, mas uns 20% dizem que sentiram medo.
Eu entre estes últimos.
MONUMENTOS
Aliás, dentro de um tal programa de revitalização, a Prefeitura andou limpando o painel assinado por Dorian Gray Caldas na Praça das Mães (subida da Junqueyra Ayres).
Mas nada de ajeitar o Monumento à Amizade (imediações da Rua Cláudio Machado, Restaurante Duas Marias), do mesmo artista.
Faz uns 15 dias o sobrescrito viu uma turma estacionar próximo ao monumento, conversar daqui, apontar pracolá, pareciam que iam restaurar a Torre Eiffel, tão animados estavam.
Os dias passaram e nada.
Passaram mais um tanto e deram uma capinada no lugar. O mato ainda tá lá, amontoado. Tem um resto de entulho, também.
MONUMENTOS II
Woden Madruga foi outro que já andou reclamando, coisa de um mês ou mais atrás – mas não funcionou.
Um ano atrás, num 2 de maio, o sobrescrito reclamava o mesmo abandono de hoje. Um dia depois deram jeito no local. Raniere Barbosa, atualmente na Câmara, era secretário. Super-secretário.
A terra é redonda. E o monumento é à amizade – os negócios, claro, à parte.
MONUMENTOS III
Não é bem um monumento, mas um estacionamento: a idéia de se construir um edifício garagem em frente onde funciona a Secretaria Municipal de Tributação está levantando um coro de descontentes – graças a deus. Uma praça a mais na cidade, de preferência com árvores, nunca é demais, aliás.
Mas o melhor é que as críticas vêm acompanhadas de propostas concretas e viáveis. Vamos ao diálogo, pois.



PROSA
“Quando o olho não encontra a beleza – ou consolação –, ele ordena ao corpo que a crie, ou, se não for o caso, se ajusta para perceber virtude no feio.”
Joseph Brodsky
Marca-d’água
VERSO
“toda pedra
tem seu preço”
Iracema Macedo
“Arremedo”

quinta-feira, 7 de maio de 2009

Santa moda

O Brazil é um país estranho. Quando o punk surgiu, pegando, obviamente, o bonde atrasado, o paulista Antonio Bivar não apenas embarcou nele, mas foi o seu mais legítimo embaixador intelectual, além da marginalidade e dentro dela.
Escreveu, aliás, livrinho fundamental para se entender o movimento – “O que é punk” – numa coleçãozinha que a Brasiliense editava lá pelos idos da década de 80 e lá vai fumaça. O nome da coleção? Primeiros passos – farinha láctea, neston, cremogema, pra muitos de nós, sobreviventes.
Escreveu também um relato autobiográfico – “Verdes vales do fim do mundo” – onde narrava suas aventuras européias no início dos setenta. A editora era a gaúcha L&PM, que, junto com a Brasiliense, deitava e rolava – procurem nos sebos a Coleção Alma Beat, com Burroughs, Ferlinghetti, Ginsberg e, off course, Kerouac (ainda não falei? Bivar co-traduziu “On the Road”, com Peninha, aka Eduardo Bueno).
Pois, Bivar me reaparece nas páginas de uma revistinha, revistona, bem interessante, a Mag! (ainda mais depois que a Bravo!, a Piauí, e congêneres, ficaram pra lá de insossas). A Mag! é uma derivação da São Paulo Fashion Week, um negócio que imagino ser daqueles vultuosos, vultuosíssimos. Não à toa, a revista, quase 300 páginas, custa salgados R$ 18,90.
O número 13 é dedicado às crenças e descrenças, ou seja, superstições e costumes, incluindo religião e tal. Dividida nas seções “Sagração”, “Revelação”, “Visão” e “Profanação”, tem ensaios fotográficos (Roberta Dabdab, sobre o coração, sagrado, ou não; e Christian Cravo, sobre vodu haitiano), ensaios-reportagem (sobre culto ao corpo, fé na sorte, cientologia, gurus etc.) e, como não poderia deixar de ser, ensaio de moda.
Bivar aparece fazendo uma listinha que Moacy Cirne não pode deixar de dar uma conferida: “As dez santas mais elegantes”. Uau. A moda chegou ao Paraíso – mas, também, não é de hoje: o papa não usa óculos Prada e sapatos Valentino?
E quais são as dez mais? Pois: 1. Santa Clara, padroeira da televisão; 2. Santa Cecília, padroeira dos músicos; 3. Santa Rita de Cássia, santa dos impossíveis; 4. Santa Bárbara, dos arquitetos e construtores; 5. Santa Marta, das cozinheiras; 6. Santa Inês, protetora da pureza e da castidade; 7. Santa Joana D’Arc, padroeira da França (e, por extensão, de Carla Bruni, acrescento eu); 8. Santa Edwiges, protetora dos pobres e endividados; 9. Santa Bakhita, padroeira do Sudão; e, por fim, 10. Santa Maria Madalena, padroeira, dizem, da mãe solteira, dos cabeleireiros, estilistas, podólogos, perfumistas, manicures e prostitutas.
Quanto às “superstições e costumes”, citadas no quinto parágrafo, para decepção dos cascudófilos e cascudianos de plantão, a matéria sobre crendices e simpatias não cita uma só vez o nosso Bruxo da Junqueyra Ayres, mas um tal “Livro das crendices”, da PubliFolha. Aí me vem de dizer, contrito no altar do bairrismo: Santa Ignorância!
*
BOY SCOUT
Mesmo sendo pai de uma “scout”, o sobrescrito não se contém, e relembra a definição hilária e politicamente incorreta para os escoteiros, autor anônimo: “Um bando de meninos vestidos de idiotas comandados por um idiota vestido de menino”.
Claro que não é assim. Perdão antecipado a quem se sentir ofendido. Vou ali me ajoelhar no milho. Esqueçam e prestigiem o Dia Internacional do Escotismo, que será comemorado hoje, 18h, na Escola Doméstica. O poeta Henrique Castriciano foi escoteiro. Padre Penha, se não é o último boy scout, é o mais antigo neste Ryo Grande. E a governadora também vai se homenageada nas celebrações de hoje.
DESPLUGADO
Hoje tem Experiência Duo (ou Apyus acústico). Na Quinta Experimental do Budda Pub. Dez da noite. Oito paus a entrada.
TOCA RAUL
A clássica “Floresta marrom”, do Alcatéia Maldita, já está na rede, MySpace. Procurem. Ouçam. E, hoje, dêem um pulo no TCP, 21h. O nome do show diz algo: “Os donOtários das Capitanias Hereditárias”. Ingressos a cinco contos, apenas.
SSSS-SIM
“Meu sim”, música de Sueldo Soaress, rendeu um clipe que, claro, já está no YouTube. Procurem. Vejam. Ouçam. E comprem o CD “Trilhas”, na Livraria Universitária e na Poty Livros.
HELMUT
Oswaldo Ribeiro postou sua homenagem a Helmut no YouTube. Procurem. Vejam. Ouçam. E comprem um dos dois livros do falecido no Sebo Vermelho.
MANO, MINA
Aproveitem que Fialho parou de enviar emails-convite e dêem as caras logo mais à noite na livraria do Midway. O bonitão vai assinar “Mano Celo, o rapper natalense”. Pros mano, e pras mina, também.
MUSA
E pra quem gosta de Bossa Nova, o jornalista cearense radicado em Pernambuco Cássio Cavalcante lança hoje “Nara Leão, a musa dos trópicos”, na Poty Livros do Praia Shopping, 19h.
ALENTO
“Para nós, produtores de uma terra em que temos tantos talentos e tantos desalentos na difícil missão de produzir e mostrar essa nossa música além de nossas fronteiras, estar no Rival foi uma realidade mágica.” – Jomardo Jonas, produtor do Mada, em email a Zé Dias, marido e produtor de Khrystal.



PROSA
“Eu me interesso pela linguagem porque ela me fere ou me seduz.”
Roland Barthes
O prazer do texto
VERSO
“a carne
do papel
não sangra.”
Ada Lima
“Golpeia...”

quarta-feira, 6 de maio de 2009

Cativação

Diógenes da Cunha Lima há de me perdoar, mas não suporto aquela frase de Antoine de Saint-Exupéry – talvez a mais famosa do livro, preferido, uma época, pelas misses: “Tu te tornas eternamente responsável por aquilo que cativas.”
Tão insuportável quanto outra: “Foi o tempo que perdeste com tua rosa que fez tua rosa tão importante.”
Ou: “O essencial é invisível para os olhos.”
Coincidentemente ou não, todas elas estão no mesmo capítulo de “O pequeno príncipe”, o vigésimo-primeiro, quando o príncipe encontra a raposa debaixo de uma macieira, não acaso a árvore do amor – e da expulsão do Paraíso.
Ser eternamente responsável pelo que se cativa não é consolo, é maldição. É jogar pro lombo alheio um peso que ninguém pediu pra carregar.
Moçoilas enamoradas costumam repetir a frase até cansar – ou depois que os já cansados parceiros decidiram dar um tempo no relacionamento, em chantagem tardia.
Os mocinhos, portadores de cromossomos X e Y, não costumam repetir a frase, silentes que normalmente são, mas podem agir com a mesma intenção.
Casais costumam ser predadores vorazes um do outro.
É em nome do amor que se cometem as maiores tolices. E algumas atrocidades.
Cativar, aliás, vem de “captivo” – prisioneiro ou escravo. Foi depois do século 13 que adquiriu o sentido, também, de sedução. Tão intensa a ponto de encantar, ao mesmo tempo em que aprisiona. Prisão, escravidão, servidão, são algumas variações do termo. Cativar, cativo, cativeiro.
Mas é claro que “O pequeno príncipe” é muito mais que isso. Um grande livro.
Pois, aporta hoje nesta Capital o engenheiro francês François d´Agay, que vem a ser sobrinho do escritor Antoine. Vem a convite de Paulo Araújo, atual secretário adjunto de Comunicação da Prefeitura Municipal. Paulo bem lembrou: “Não podia haver melhor ocasião para darmos início às comemorações do ano da França no Brasil na nossa cidade”.
D´Agay senta-se à mesa com o poeta Diógenes da Cunha Lima, o escritor e aviador Pery Lamartine, o artista plástico e poeta Dorian Gray Caldas e o padre José Mário. Para um bate-papo sobre o tio famoso. Vai ser no auditório da Aliança Francesa, Square Pedro Velho, a partir das 18h.
Com certeza vai se retomar a velha discussão, eterna, infindável, irrespondível, se Exupéry esteve ou não esteve nesta Capital, na época em que voava pela América do Sul, no serviço aéreo postal.
*
AMOR MATA
Analba Brazão autografa sexta, 18h, Solar Bela Vista, “Nunca você sem mim” – com subtítulo explicativo: “Homicidas-suicidas nas relações afetivo-conjugais”.
ANTIOFÍDICO
“Um herói surgido da centenária arte natalense de falar mal dos outros.” – sobre o protagonista do novo livro de Carlos Fialho, numa série de anúncios veiculados na rede, promovendo o lançamento, amanhã na livraria do Midway.
Eterno jovem escriba e publicitário de quatro costados, o autor é ele, também, um herói.
CALCITRAN B12
“O jornalismo é a salvaguarda da sociedade. Quando ele é fraco, representa uma sociedade enfraquecida e manipulada.” – de Cláudio Gabriel, representante do Ministério Público do Trabalho, em audiência na CMN proposta por George Câmara. Segunda passada.
FEIRA
A turma da Feira do Livro de Mossoró anda estranhando a pouca procura por estandes da parte dos sebistas – mesmo com o desconto a que têm direito.
Em compensação, a Secretaria Estadual de Educação já fixou o valor para a compra de livros durante o evento: R$ 300 mil. Considerando um valor médio unitário de R$ 20, dá pra comprar ao menos 15 mil livros.
SCIENCE
Procura pouca, também, para o Edital 008/2009 do Programa de Difusão e Popularização da Ciência e Tecnologia do Estado do Rio Grande do Norte. A popularização da Ciência anda tão baixa que a Fapern prorrogou para o final do mês (sexta, 29) o prazo para as inscrições.
Francisco Lemos tem mais informações – ligue 3232.1725.
FOTOJORNALISMO
Ana Carmem, Brum, Daiane Nunes, Eduardo Barbosa, Gabriela Barbalho, Jannet Carruth, Lucas Haddad, Olena Arruda, Raquel Dantas, Ricelly Sousa, Taísa Cristina e Vanessa Trigueiro participaram do curso “Noções de fotojornalismo”, ministrado por João Maria Alves e Marcus Ottoni, e expõem o que aprenderam hoje, no restaurante Com Xin China, CCAB Sul, a partir das 18h.
DOGS
Rodrigo Cruz canta os sucessos da banda Mad Dogs, hoje, 20h, no Teatro de Cultura Popular Chico Daniel (TCP) da Fundação Zé Augusto (FZA). De grátis.
FALANDO SÉRIO
A coluna brinca – e espera não deixar de brincar – com a cantora Claudinha, mas solidariza-se com Davi Leitte, internado ontem com suspeita de meningite.



PROSA
“Gosto que levem a sério minhas desgraças.”
Saint-Exupéry
O pequeno príncipe
VERSO
“Tu gostas mais do mar do que de mim...
No entanto, o mar te engana e eu não te iludo...”
Palmyra Wanderley
“Ciúmes do mar”

terça-feira, 5 de maio de 2009

Nebulização

Na volta do fim-de-semana, dou de cara com a notícia (nenhuma abelhinha me contou, nem pintassilgo, nem borboleta, nem fonte privilegiada, pois que está em todos os sítios, dos mais sérios aos mais frívolos): “Claudia Leitte usa nebulizador”.
E pegue a foto da menina, toda assanhada (literalmente assanhada, não é metáfora para a sua clássica animação em riba do palco e sob as luzes da ribalta), os olhinhos fechados, o rímel e as sombras emprestando ares mais dramáticos à cena, quase por desfalecer.
Ai, crianças, que susto. Meu coração acompanhou, aos pulos, aos saltos, a comoção nacional.
Claudinha: assim você me mata, menina. Se cuide.
Olho com mais atenção a foto: numa mão ela ainda segura o microfone, na outra, se atraca com o nebulizador, como num caso de vida ou morte. Em ambas as mãos, luvas negras – como negra devia ser a noite, iluminada apenas pelo brilho de Claudinha, em show em Campo Grande, Guanabara, domingão.
Olho com mais atenção a foto, e, filosofo – olha, que danada: em tempo de morrer e ela ainda assim se recusa a largar o microfone. Não podia ser diferente, pra quem, nem bem foi mãe, e já encarou os palcos, entre uma amamentação e outra.
Aliás, nenhum problema: tão logo voltou pra casa (que a de Claudinha todos sabem ser o hotel do dia) ela já postou em seu blog: “Eu sempre uso nebulizador com soro, principalmente se tem poeira demais, como aconteceu hoje.”
O chato são os fotógrafos e sítios, sempre ávidos por uma má notícia. Quiseram logo insinuar que a moça tava doente. Que besteira! Ela nem é candidata à presidente!
Aliás, a explicação, claro, passava também pelo rebento, o Davizinho: “Coincidentemente, assim que acabei de cantar, saí bem rápido de cena porque precisava extrair o leitinho de Davi. Os seios ficam doloridos e é chato, mas não é nada demais.”
Muito chato, claro, isso dos seios ficarem doloridos. E o Davizinho precisa do leite da mamãe, que, domingo, celebrará seu primeiro dia como mamma (provavelmente em cima de um palco, duvidam? Ah, mas ela tem de pensar no leite da criança, querem o quê?).
Daí que, ainda assustado com o fatídico evento, não sobra nem espaço, aqui, para comentar as mortes de Helmut, figura folclórica do Beco da Lama e arredores, autor de dois livros na Coleção João Nicodemos de Lima (Sebo Vermelho), e de Augusto Boal, criador do Teatro do Oprimido. Duas mortes que se perderam nas névoas do nebulizador de Leitte, duas mortes que marcaram, longe do culto às celebridades, o primeiro fim-de-semana de maio.
*
CANÇÃO
Nem bem terminaram as inscrições, quinta última, do MpBeco, já estão abertas, esta semana, as inscrições para o Festival da Canção e da Cultura Potiguar, promoção da Assembléia Legislativa deste Ryo Grande.
Procure as Secretarias de Educação de Parnamirim, Macau, Nova Cruz e Pau dos Ferros, ou dê um pulo na AL, Praça Sete de Setembro.
LOVE
Quer acabar uma relação sem dizer uma só palavra? Convide a moça para assistir, na seqüência, “Ele não está tão a fim de você” e “Eu odeio o dia dos namorados” – se ela não entender, mande pintar o cabelo de preto.
MAMÁ
Quer levar mamãe pra Buenos Aires sem usar a cota parlamentar? Escreva uma frase com a palavra “jardim” e participe do concurso do Shopping Cidade Jardim. A feliz genitora do ganhador ainda leva um cheque de 500 pratas pra gastar nas butiques.
Agora, difícil vai ser convencer a nora a ficar em casa.
VOZES
Ainda dá tempo de embarcar para a Guanabara e assistir, hoje, no Teatro Rival, coração da Cinelândia, o show de Khrystal.
Daí, é só ficar mais um dia e assistir, no mesmo teatro, o show de Eliana Printes, de Manaus, Amazonas – dei uma espiada e escutada na net: vozeirão. Que nem muitas cantoras verdamarelas. Mas deu vontade de conhecer mais, especialmente quando ela canta “Se você fosse chuva/ Eu me deixava molhar de prazer/ Dançava na rua pra ter/ Minha roupa bem molhada/ Minha alma encharcada/ Se chovesse você.”
E ela ainda conta que, “quando criança costumava ouvir o vento passando pela copa das árvores e o som da chuva sobre as águas dos rios”.
TOUR
Depois de investir contra o fumo, a vereadora Júlia Arruda quer reunir o pessoal do turismo potyguar – de bugueiros a hoteleiros – para um debate sobre os males da lavoura, digo, da atividade. Hoje, na Câmara Municipal, 10h.
Vai ser bom – e se não tivesse chovido nesse feriadão estariam todos bronzeados.
(A propósito, que os demais edis da Câmara não se sintam enciumados com a presença recorrente de Júlia nesta página – ela se declarou não apenas “leitora assídua” mas também “fã da sua [minha] coluna”.)



PROSA
“Isso não significa que todo brilho nos desgoste, mas ao superficial e faiscante preferimos o profundo e sombrio.”
Junichiro Tanizaki
Em louvor da sombra
VERSO
“O teu piscar fale silêncio,
Lave à penumbra tua prata.”
William Blake
“À estrela vespertina”

segunda-feira, 4 de maio de 2009

Dias plásticos de artes visuais

Começa hoje as comemorações do Dia do Artista Plástico (que é 8 de maio, sexta), dentro da nova filosofia da Funcarte de estender ao máximo as programações festivas e culturais – ou seria o contrário?
Dentre as muitas atividades, festividades, celebrações e exposições, três me chamaram a atenção: a conversa pública entre Pedro Pereira e Jota Medeiros, hoje, 19h, no auditório da Capitania; a releitura de obras de Moura Rabello (1895-1979) por artistas contemporâneos; e a Feira de Artes Visuais, sábado, na Ribeyra, com obras de vários artistas vendidas a, no máximo, R$ 50.
Pedro Pereira e Jota Medeiros dispensariam apresentações se esse Arraial não tivesse crescido mais da conta nos últimos dez anos. Pereira andou sumido nos últimos anos, por questões de um AVC que tentou tirá-lo de circulação, coisa de sete anos atrás. Mas continua pintando e expondo e acreditando na vida e na alegria de viver. Se não me engano, há coisa de vinte anos já tirava onda chamando os artistas plásticos, inclusive ele, de plastificados – ou isso era invenção de Vlamir Cruz, seu parceiro em perfomances viscerais no grupo Cabeças Errantes. Jota Medeiros, paraibano de nascimento como Zila Mamede, está mais umbilicado na City do que qualquer papa-jerimum de quatro costados. Isso, derna que Jomard Muniz de Brito inventou de alcunhar a província dos reis de “Londres Nordestina” e muita gente acreditou mas não entendeu, na vera, o apelido.
Então, o encontro dos dois só pode de ser bom – mesmo que permaneçam calados a espiar a platéia.
A releitura (ou repintura) de Manoel de Moura Rabello, claro, é a conferir – desde que se consiga enxergar as obras nas traseiras de quatro ônibus que circularão pela cidade. Mas vale como lembrança de um dos primeiros pintores da cidade.
Já a tal feirinha (o diminutivo é da responsabilidade do sobrescrito), desconfio da estratégia do preço baixo para, suponho eu, conquistar novos clientes para o tão pouco difundido mercado de artes da capital. Se no dia-a-dia já se vê normalmente alguns nomes mais ou menos consagrados trocando quadros por quaisquer dois tões – ou um copo de cachaça, ou qualquer metáfora ou realidade pior –, que glória haverá, justo no seu dia, vender arte por míseros cinqüenta contos?
É uma dúvida.
Melhor seria, em se encontrando entre os leitores da coluna de hoje, alguma alma abonada e com o espírito do mecenato, sacar do talão de cheques e adquirir uma obra de – me arrisco a deixar muitas ausências, mas entendam apenas como exemplos – Aécio Emerenciano, Afonso Martins, Alexandre Gurgel, Assis Marinho, Dorian Gray, Falves Silva, Fernando Gurgel, Flávio Freitas, Ilkes, Isaías Ribeiro, Ítalo Trindade, Jean Sartief, José Frota, Marcelo Gandhi, Marcellus Bob, Max Pereira, e outros, muitos outros. Pelo preço que valem.
*
FARIAS
Robinson Farias (não confundir com o deputado, presidente e pai de Fábio) se apresenta hoje, 20h, no Praia Shopping, com o show “Clássicos do Forró”.
Amanhã, mesma hora e local, os “Clássicos” continuam, mas o forró abre alas para o samba com o grupo Prá Sambar.
ART&TEC
A Fapern avisa a abertura do edital “Arte tecnológica – apoio à produção e divulgação das Artes Visuais em novos suportes tecnológicos”. As inscrições terminam dia 20 deste mês. São cem mil pratas oferecidas pelo Governo do Estado.
HQ/MC
Bela a homenagem a Moacy Cirne, emprestando seu nome e sobrenome ao prêmio de Quadrinhos, uma das boas (até que enfim o sobrescrito solta um elogio) iniciativas da Fundação Zé Augusto, dentro da parceria PSB-PT.
São R$ 40 mil para os dez contemplados em diversas categorias e as inscrições já começaram e vão até 12 de junho.
CURTAS
Mas que injustiça com a FZA, meninos! Tem tanto edital que eu perco até as contas – o Prêmio William Cobbet, por exemplo, vai destinar R$ 20 mil para cada um dos curtas selecionados. Enquanto o Prêmio Cornélio Campina de Cultura Popular seleciona 25 projetos e cada um recebe R$ 6 mil.
Não é bom? É ótimo! Vão lá na Rua Jundiaí, 641, se informem.
CULT
Ministro da Cultura, Juca Ferreira lembrou recentemente que apenas 13% dos brasileiros freqüentam cinema e somente 5% deles (de nós, sorry) visitaram um museu alguma vez na vida.
Não seria bom saber quais os índices locais?



PROSA
“Tritura um imbecil numa argamassa com trigo, e mesmo assim a sua imbecilidade não será expelida.”
William Blake
Poesia e prosa...
VERSO
“Voltei-me então para um chiqueiro,
E me deitei entre os suínos.”
William Blake
“Vi uma capela...”

Adivinhe quem vem para o café-da-manhã: Clint Eastwood

[Cultura 020509 sábado]

Em um 30 de abril de vinte anos atrás, morria Sergio Leone, “o homem que reinventou o Oeste”, segundo muitos críticos de cinema. (Não apenas o faroeste, gênero cinematográfico, mas o Oeste, menos lugar geográfico e mais lugar mítico e épico no imaginário da cultura mundial.) Daí, que encontro, no jornal La Repubblica, um dia antes da efeméride, um texto simples, mas saboroso, do velho Eastwood, que protagonizou a famosa trilogia dos dólares, parceria inseparável entre diretor e ator, Sergio e Clint: “Por um punhado de dólares (1964), Por uns dólares a mais (1965), e Três homens em conflito (1966).
Depois, Leone faria ainda “Era uma vez no Oeste” e findaria sua carreira com o colossal “Era uma vez na América”, o primeiro na lista de filmes deste sobrescrito, que deixa, agora, alguém muito mais competente e interessante falar:


SERGIO E EU
Eu estava numa fase completamente diferente da minha vida quando desembarquei de um avião em Roma, com uma mala na mão e um roteiro na outra, para começar, dali a poucos dias, tudo aquilo que se transformaria no filme “Por um punhado de dólares”. Muita gente tinha tentado me alertar, aconselhando cautela, porque aquele roteiro há muito tempo estava circulando à procura de um ator. Mas eu não me importava. Eu gostava da idéia... Encontrei Sergio. Falava muito pouco inglês e eu não entendia uma palavra de italiano. Ele sabia dizer “Good morning” e eu “Buongiorno”.
Conseguimos uma intérprete e logo nos entendemos. A intérprete era uma senhora muito fascinante (Elena Dresser) que falava muitas línguas. Esteve num campo de concentração e depois do fim da guerra foi trabalhar para os americanos. A seguir, depois que os americanos partiram, trabalhou para a Constantine Films, os estúdios cinematográficos alemães que financiavam “Por um punhado de dólares” juntamente com a Jolly Films e uma outra empresa espanhola. Graças a ela, Leone e eu pudemos nos comunicar para aquele primeiro filme. No final das filmagens conseguimos até beber um copo de vinho trocando meia dúzia de palavras.Sergio Leone não era, então, um diretor que tinha muitos filmes no currículo. Tinha dirigido apenas “O colosso de Rodes”, mas tinha sido assistente de direção por alguns anos. Gozava de uma boa reputação, era considerado alguém cheio de fantasias por aqueles que o conheciam e por amigos em comum. Assim, eu disse: “Bem, vou e filmo”. Foi uma bela experiência. Gostei de todos os três filmes feitos com ele durante um período da minha vida no qual estava empenhado numa série de TV. Estava apenas no início da minha carreira e não sabia como andariam as coisas, nem quanto tempo durariam. Tinha muitas perguntas que ninguém sabia responder. No primeiro dia assisti o que eles tinham filmado em Madri. Eram cenas bem toscas porque havia apenas uma cópia em preto & branco e não era a película em sua versão final. Mas deu pra perceber como seriam as gravações... Fiquei boquiaberto com algumas coisas! Mas em geral lembro-me de ter pensado que Sergio Leone era Ok. Me diverti muito, foi uma experiência muito agradável. Os três filmes foram rodados na Espanha, perto de Almería, com exceção de algumas cenas de interiores gravadas, logo no início, em Cinecittà e em outro estúdio menor. Por sorte a série de telefilmes acabou justo em tempo de filmar com ele “Três homens em conflito”, o único dos três que pude participar sem o pesadelo daquela série que me ameaçava a cabeça como a espada de Dâmocles.
Mas depois daquele filme voltei pra casa, pensando que não podia fazer faroestes italianos para sempre. Dizia para mim mesmo: “Esta é apenas uma moda e mesmo se Sergio fosse ainda mais competente não pode durar muito tempo”. Eu queria fazer outras coisas, testar-me em outros gêneros de filme. Assim, recusei a oferta de “Era uma vez o Oeste”: tinha lido o roteiro e ele tinha me contado a história. Ele gostava muito de falar e fazer esboços. Só que, depois do sucesso comercial de “Três homens em conflito”, eu pensava que devia ir além. E aquele era o momento justo para isso. Presumo que com ele poderia ter feito ao menos outros dois filmes, mas era o momento de começar a fazer outra coisa. Assim, no restante da década de 60, fiz muitos filmes bem diversos entre si, como “Os guerreiros pilantras”, “Desafio das águias”, “O estranho que nós amamos”, “Os abutres têm fome”, e outros, até o início dos 70, quando dirigi “Perversa paixão”.
Faz tempo que não assisto nenhum deles, mas este último vale por todos os meus filmes. De vez em quando a TV exibe um deles, e entao o revejo por uns poucos minutos. Todos me perguntam o que me ensinou Sergio Leone e eu respondo que aprendi com todos, até com aqueles com quem nao trabalhei diretamente. Assistia seus filmes e absorvia suas idéias. No final das contas, você também observa a vida e aprende com ela, ou não? No final, termina se tendo uma opinião própria e se começa a desenvolver um estilo pessoal... Nunca mais vi Sergio até que nos encontramos novamente em Roma, durante o lançamento do meu filme “Bird”. [Clint Eastwood]



PROSA
“Este épico [‘Era uma vez na América’] é um compêndio de kitsch, mas kitsch estetizado por alguem que o adora e o vê como a poesia das massas.”
Pauline Kael
1001 noites...
VERSO
“leone flagra
sob a fumaça do spaguetti
um momento de inflexão na história dos eua”
Adriano de Sousa
“Era uma vez no Oeste”