quinta-feira, 5 de fevereiro de 2009

Natal devastada

Ômi, querem saber? Destruam logo tudo. Botem abaixo não apenas o Centro Administrativo e o Machadão e o Machadinho. Aproveitem e venham deitando por terra tudo que se levante a dois palmos do chão na direção do Atlântico. Uma turma vem pela Salgado Filho em direção à Hermes da Fonseca, outra vem pela Romualdo Galvão, uma terceira pela Prudente de Morais.
A que vem pela Romualdo há de vir mais ligeira, que agora a Prefeitura Butterfly acabou com o estacionamento ao longo do meio-fio, no que obrou muito bem – e o digo com todo louvor, respeito, seriedade e espírito cívico. Ali, vejamos, não tem muita coisa pra botar abaixo, não. Pra provar que falo sério e desprovido de outros interesses, podem começar pelo Villaggio di Roma, onde tenho até um apartamentozinho que pretendia deixar paras as meninas, mas, sacrifico a herança em nome do progresso. Na seqüência, derrubem as duas concessionárias de automóveis, um colégio que dizem ser da elite, e, lá pra frente, a clínica psiquiátrica do meu ex-professor Severino Lopes e a TV Tropical de Zé Agripino e Jânio Vidal.
Na Salgado Filho tem mais coisa boa de se derrubar: a começar por aquela caixa de biscoito rococó-moderno que é um templo evangélico ou coisa que o valha. Depois, a Fiern, onde, dizem, reina nossa brava indústria de pães, bolachas e pirulitos; pegando pelas esquerdas, o Portugal Center (que nos traz a duvidosa lembrança dos antigos colonizadores deste quinhão de terra), mais concessionárias de automóveis (ô terra pra se vender carro!), um supermercado, a Faculdade de Odontologia (já bastante deturpada, ofendida e vilipendiada por aquela grade horrorosa); e, quando a avenida se transforma na velha 15, o Bar do Expedicionário (pena, mas estão todos mortos ou quase) e, maravilha das maravilhas, o Midway Mall.
Não se esqueçam de derrubar este último com um monte de gente dentro, pra economizar no processo. A Etfrn, nem se fala, o Walfredo Gurgel – viva! acaba-se, enfim, um problemão medonho –, a Caern, o 16 RI, o Museu Câmara Cascudo, a Aabb, o escritório de Diógenes da Cunha Lima (desculpa Diógenes, é necessário), a Escola Doméstica, e por aí vai: o estádio Juvenal Lamartine, o edifício de nome mais bonito – o Étoile –, o mercado de Petrópolis, enfim, esses troços todos que só atravancam o progresso e os interesses de nossas bravas construtoras.
Quando chegarem na pancada do mar, nem se preocupem: já tá tudo caindo aos pedaços, mesmo, basta uma empurradinha pra depois do calçadão – já destruído.
Depois, é só virar os bulldozers na direção oposta ao epicentro, ou seja, Machadão-Machadinho-Centro Administrativo.
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DESOLAÇÃO
Deve de ter algo muito errado numa terra capaz de lotar não apenas um mas dois vôos charters para as Oropa, durante a Semana Santa, e não lotar o bravo Café-Salão de Nalva Melo, no velho Edifício Bila, uns dos primeiros da City, época em que se contavam nos dedos duma mão os arranha-céus potyguares (incluindo na conta o Forte dos Reis Magos, arranhando o horizonte de recifes, convidando para passeios ultramarinos).
Inda mais em noite como a de ant’ontem, quando eram duas as ocasiões festejadas: o lançamento de mais uma iluminura da Flor do Sal, e a reforma do próprio salão, pelas quatro mãos competentes de Nilberto Gomes e Manú Albuquerque.
REFORMA FLEX
Em se falando em salão, a reforma tem alguns destaques visuais: um móbile feminino de Flávio Freitas, e um mural cheio de possibilidades de Marcelus Bob.
Mais: parte do balcão é agora duplo – possibilitando tertúlias dos dois lados.
Já o banheiro – onde as coisas acontecem – tornou-se único.
Tudo muito assim, digamos, bicombustível.
PRATICIDADE
Em se falando do lançamento do livro de Theo G. Alves, “pequeno manual prático de coisas inúteis”, poucos e bons, como dizem as colunas chiques, fizeram-se presente. Quem não foi levou falta. E cumpre-se registrar a presença de um Facínora de boa estirpe e tradição, como nos melhores saloons do velho oeste. E, claro, a participação especial de Julinha Arruda, única representante da classe política papa-jerimum. (Arrume um altar, um santo, uma reza, que eles aparecem; lance um livro, um opúsculo, um panfleto, que eles somem.)
HERODES
É do pequeno grande manual os versos: “a cidade/ avança violentamente/ sobre nossas casas”. E estes: “a cidade/ devora casas e engole/ crianças em desaviso”.
SUNSHINE
O quase tradicional Pôr-do-Sol no Putigy (leia-se Iate Clube) tem hoje uma animação danada: a banda Antigos Carnavais faz seu último ensaio geral antes de sair às ruas amanhã – sem cordão de isolamento e sem hits comerciais. A partir das cinco da tarde.
FREE
Quem for rangar no Orla Sul (17 restaurantes na praça de alimentação) não paga mais pelo estacionamento – mas, atenção, só no período das 11h30 às 14h e o almoço não é grátis.



PROSA
“Queria encontrá-la como a deixei menino. Egoisticamente, queria a mesma cidade da minha infância.”
Manuel Bandeira
Crônicas da província...
VERSO
“Vou revelar-te o que é medo num punhado de pó.”
T. S. Eliot
“A terra desolada”

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