sexta-feira, 30 de janeiro de 2009

Da (in)utilidade (in)conveniente da barriga

Às vezes, muito raramente, me vem de fazer o que agora estou fazendo: apalpar minha barriga. Nossa senhora mãe do céu! Se a protuberância abdominal é sinal de prosperidade, estou rico e não sabia.
Barriga é um troço pra lá de esquisito. Devia ser como amígdala ou alguma dessas coisas que todos temos, mas que são pra lá de inúteis. Dentes de siso, também. O baço – ou me engano? Não, não, não é o baço: é o apêndice.
Enfim. Noutra metáfora, desta vez gramatical, o trema, agora declaradamente inútil. Alguém me perguntou, dia desses, se eu usava trema. Eu achei que usava, respondi na bucha: “Sim, claro.” Desconfio que estava mentindo: faz tempo que não escrevo textos longos usando caneta e papel. Vai tudo pro computador mesmo – e como o bicho já vem com um corretor ortográfico o trema se impõe e sobrepõe (principalmente sobre o “u”) sem pedir licença. Experimente digitar, por exemplo, “qüinqüênio”, sem acentuar nenhuma letra – de repente, como torradas numa torradeira, saltam dois tremas sobre os “us” mais um chapeuzinho sobre o “e”.
Enfim. (E essa mania de escrever “enfim”?) Enfim. Insisto. Mas eu falava de barriga, não qualquer barriga, mas da minha barriga. Coisinha chata é barriga. Principalmente quando evidente. Seja em homem, seja em mulher, embora pros primeiros aparentemente seja mais aceitável. Daí tantas mulheres sonhando com uma lipo.
Acho que depois dos vinte, a minha barriga deu o ar de sua desgraça e nunca mais sumiu. Enxerida, inconveniente, sempre querendo aparecer. Não é tão grande, nem tão próspera, por isso, nunca de verdade me incomodou (embora me incomode a falta de prosperidade). Aliás, houve um tempo em que sumiu. Sumiu mesmo, escafedeu-se. Deu até lugar praquelas marcas na altura da bacia, coisa que a gente só vê em surfista ou modelo fotográfico. Eu, lógico, fiquei todo animado. Guardo uma foto – só não sei onde – onde apareço de sunga, mais esbelto que um nadador profissional. Ou seja: minha barriga sarada não chega nem a ser um retrato na parede.
Dizem que os tais abdominais – um dos exercícios mais antigos que se tem notícia – nada resolvem. O lance é fechar a boca e tirar a bunda da cadeira. Cerveja, então, é palavra tabu. Feijoada? Vixi. Nem dá tempo de catucar um grãozinho preto entre os dentes e o abdômen já inflou feito balão de São João.
Mas, no final das contas, é simpática a tal da barriga. E nem de todo inútil: estou chegando ao fim da página, cumprindo com minha cota diária pra esta coluna, numa viagem em torno dela. E em torno, claro, do umbigo, que ainda faltam umas cinco ou seis linhas pra cruzar a linha de chegada e completar o resto com umas notinhas e duas citações, uma para o “Prosa” outra para o “Verso”.
Então, falemos do umbigo.
Troço esquisito, o umbigo. Barroquinha que serve apenas pra acumular sujeira e cutucar com o dedo. Tem uma modelo internacional que recentemente descobriu-se ser desprovida do umbigo. Tem sinônimo pra umbigo? Deve ter. Mas estou chegando lá, última linha, vamos deixar pra outro dia, quando, novamente, me vir, sem assunto, apalpando a barriga.
*
LINFA
Agora é oficial: os planos de saúde são obrigados a proporcionar a seus clientes o tratamento de drenagem linfática, desde que haja indicação terapêutica ou recomendação médica.
A decisão partiu do Tribunal Regional Federal de Sampa – mas, atenção: quando os motivos forem meramente estéticos a conta é da responsabilidade do paciente.
PÉ NA BOLA
O jornal italiano La Repubblica está com uma enquete em sua página na rede: “Em conseqüência da não-extradição de Cesare Battisti pelo governo brasileiro, os ministros La Russa e Meloni [Defesa e Juventude, respectivamente] propõem que a seleção italiana de futebol não jogue a partida Itália-Brasil programada para o 10 de fevereiro em Londres. Na sua opinião a) É justo não jogar contra o Brasil; b) Itália e Brasil devem jogar normalmente; c) Não sabe.
Até a tarde de ontem mais de 17 mil italianos tinham votado – 58% deles queriam o jogo, 41% não.
RAIOS
Amanhã a festa no Circo da Folia promete ir até o sol raiar: Exaltasamba e Cavaleiros do Forró encerram a temporada de verão Zero-Nove. Amém.
DA HORA
É em torno do relógio do Sesc os dois ensaios-gerais da Banda Antigos Carnavais, antes da saída oficial, dia 6 de fevereiro.
O primeiro deles hoje, 19h, com a participação do Maestro Rezende, ex-integrante da Banda de Ipanema e Cordão do Bola Preta.
Os jornalistas Leonardo Sodré e Elizabeth Venturini são o padrinho e a madrinha da banda.
ANIMAÇÃO DO FUXICO
Já as três madrinhas do tradicional bloco carnavalesco As Kengas serão escolhidas durante festa-feijoada, próximo domingo (1º de fevereiro) no estacionamento em frente ao Bardallos.
Com atrações musicais dos grupos Perfume de Gardênia e Nova Sensação e da cantora Khrystal.
O tema deste ano é “As Kengas no fuxico”.
Fashion, pois.



PROSA
“Deitado na palha, nu como vim ao mundo, eu conheci a paz”
Raduan Nassar
Lavoura arcaica
VERSO
“o zíper me desenvolve
um medo intenso às estrelas”
Diva Cunha
“golas me põem...”

quinta-feira, 29 de janeiro de 2009

Notas da terra dos comedores de camarões

BOSSTA
É hoje que Esso Alencar leva seu show “Instinto dissonante” para o ZenBar Café (próximo ao posto de Pium), com músicas do seu primeiro disco “Bossta Nova”.
Ano agitado para o músico: Esso foi selecionado para o Pixinguinha, deve lançar o segundo CD, e, na próxima quarta, 4 de fevereiro, se apresenta no TCP cantando músicas de Leno.
ROMANCE
Estréia hoje, 20h, no TCP da Fundação Zé Augusto, “O Romanceiro”, inspirado em Dona Militana, reunindo, teatro, música e dança, com direção de Véscio Lisboa, iluminação de Castelo Casado, trilha sonora e direção musical de Elnatan de Souza e coreografia de Ronaldo Damas.
De grátis.
GLOBAL
Estréia amanhã e segue sábado e domingo, sempre às 21h, no TAM, a peça “Enfim nós”, com os globais Regiane Alves e Bruno Mazzeo como protagonistas.
Como os dramaturgos são o próprio Bruno Mazzeo e Cláudio Torres Gonzaga – conhecidos por programas como A Diarista, Zorra Total e Sob Nova Direção – já é previsível o que se pode esperar.
POTI
A Camarones Orquestra Guitarrística se apresenta neste fim de mês pelo circuito dos centros culturais do BNB, durante a terceira edição do Festival Rock-Cordel: hoje em Sousa, amanhã em Juazeiro do Norte, e dia 31 em Fortaleza.
Apesar das três guitarras que emprestam fama ao grupo, a começar do nome (Dante Augusto, Henrique Geladeira e Rafael Brasil), nem só de guitarristas é feita a orquestra: o baterista Daniel Araújo e a baixista Ana Morena Tavares completam o quinteto, cujo objetivo – nos informa o release – “é fazer música divertida”. Na mistura um vale-tudo que inclui rock, ska, punk, reggae, e até temas de desenhos animados.
O grupo aproveita a viagem para ampliar o público, fazendo shows em Caicó e Mossoró.
SESSENTÕES
Termina amanhã as inscrições para os cursos da Universidade Aberta para a Terceira Idade – UnATI.
Arte em Pedraria, Canto Coral, Dança, Espanhol, Ginástica, Hidroginástica, Informática, Inglês, Oficina da Memória, Pintura em Porcelana e Vidro, Pintura em Tecido, Pintura em Tela, Teatro, Teclado e Terapias Expressivas são alguns dos cursos, todos ministrados nas unidades da UnP da Floriano Peixoto e Roberto Freire. Mais informações: 3215.1105 e 3216.8611.
VIDA DE ARTISTA
A Capitania das Artes anuncia que quem quiser expor trabalhos na Galeria de Artes da Funcarte pode se inscrever até o dia 13 de fevereiro no setor de Artes Visuais, das 9h às 13h e das 14h às 17h.
Liguem (3232.4948) ou passem um email (artesvisuaisfuncarte@yahoo.com.br).
VIDA DE ARTISTA II
Tempo que não acaba mais pra quem quiser se inscrever para a 8ª Feira da Música de Fortaleza (que acontece lá pro meio do ano, em agosto): os interessados têm até o dia 20 de março para o envio do material (um CD demo, contendo no mínimo três músicas, ficha técnica e um breve release).
Confiram em www.feiramusica.com.br.
JAMBALAIA
Mário Jambo, o juiz federal que penaliza os rapazes e as moças que transgridem a lei com a obrigatoriedade da leitura de livros, vai sair na próxima edição da revista Piauí. Em artigo assinado por Alex de Souza, editor do eletrônico Nominuto.
Com a ausência de Rodrigo Levino, o rebento de Carlão de Souza deve emplacar como correspondente da revista para estas ribeyras.
MISTÉRIOS
Luiz Gonzaga Cortez festeja a reedição do livro de Antônio Bento pela Fundação Zé Augusto – anunciada aqui nesta coluna – e lembra que foi o crítico de arte o responsável pela vinda de Mário de Andrade a este Ryo Grande: “No entanto, a versão oficial é que foi outro intelectual potiguar que trouxe Mário de Andrade ao RN. Há nova pesquisa na área que pode provar isso. Aguardemos.”
MISTÉRIOS II
Cortez conta, também, que foi à abertura da exposição da Fulbright no Museu Café Filho, sexta passada: “Compareceram uns 30 fotógrafos, mas nenhuma autoridade para cumprimentar o cônsul americano no Nordeste e os enviados da Fundação.”
E lembra que entre as fotos exibidas está uma, histórica, disparada por estas paragens durante a Segunda Guerra: o encontro dos presidentes Roosevelt e Vargas, na Rampa, 1943 – “O nome do motorista do jipe americano, que seria filho de um alto oficial da Marinha americana e que aparece sorrindo, nunca foi revelado, mas o engenheiro Milson Dantas, certa vez me disse que sabia, mas só revelaria se pagassem a ele. Dr. Milson Dantas é o inventor do Bripar. Estive com ele na sede da Fapern, em 2007. Não sei se mantém a mesma posição.”
PENSÃO
Desde 1978 dando aulas na Ufrn, como professor concursado, Vicente Serejo planeja aposentadoria para maio deste ano.
Uma ausência para o tão já combalido curso.
MUSA COM SAL
O primeiro livro que consolidará o acordo entre a Flor do Sal (deste Ryo Grande) e a Casa das Musas (de Brasília) será uma antologia de crônicas de Carlos Magno Araújo, editor do Diário de Natal.



PROSA
“Não podemos amar, filho. O amor é a mais carnal das ilusões. Amar é possuir, escuta.”
Fernando Pessoa
Livro do desassossego
VERSO
“Te esperarei com mafuás novenas cavalhadas comerei terra e direi coisas de uma ternura tão simples
Que tu desfalecerás”
Manuel Bandeira
“Estrela da manhã”

quarta-feira, 28 de janeiro de 2009

O marxismo tropical e as sementes de dunas

“O Brasil está repleto de florestas e todo tipo de plantas, flores e árvores exóticas. Mas até que o paisagista brasileiro Roberto Burle Marx viesse para domar e moldar a flora exuberante de seu país, seus conterrâneos tinham desdém por riquezas naturais que, freqüentemente de forma literal, floresciam em seus quintais.”
O texto acima foi escrito por Larry Rohter, jornalista americano, no The New York Times, semana que passou.
Rohter é aquele, então correspondente em solo verdamarelo, que escreveu que o nosso presidente Lula da Silva era chegado numa cerveja. Num uísque. Numa caninha. “Brazilian Leader's Tippling Becomes National Concern” – exagerou na edição de 9 de maio de 2004. Não importa a tradução/traição – “Hábito de bebericar do presidente vira preocupação nacional”, na tradução de uns, ou, “Gosto do dirigente brasileiro pela bebida torna-se preocupação nacional”, na traição de outros – deu uma confusão do Cão.
O americano acabou sem a renovação do seu visto e voltou pra terra que o pariu. Mas como o mundo é redondo, cruzou novamente a linha do Equador para o lançamento do seu livro, intitulado, pois, “Deu no New York Times”.
Imagino que, agora de férias, aproveitou para cobrir a pátria amada gentil.
Daí a matéria sobre exposição dedicada ao trabalho do paisagista. No Museu do Paço Imperial, Guanabara, até março deste ano, quando comemora-se o centenário do nascimento do nosso Marx, não o Karl, mas o Burle.
O que me faz sair ricocheteando os assuntos – Rohter-Cachaça-Marx – e pensar na mania que adquirimos de uns tempos pra cá de plantar grama em tudo que é rincão. O “nós”, sujeito oculto da frase anterior, somos nós mesmos, você, eu, potyguares de berço ou adoção.
Com o supersecretário Raniere Barbosa, hoje edil, o negócio atingiu as raias da perfeição aparente, em nível de administração municipal – isso nos canteiros onde circula os tais formadores de opinião. Raniere ainda botou umas luzinhas iluminando as plantas. Uma maravilha, seria, se fosse estendida a ação aos quatro pontos cardeais dentro dos limites da urbe.
ALVACENTAS
Mas, enfim, sempre me perguntei se todo esse verde rasteiro não era muito desproposital, numa cidade que se vangloria de ser a Cidade das Dunas, cantada e decantada por muita gente, a começar por Ferreira Itajubá, o primeiro a perceber que o Ryo Grande não era a França, o primeiro a enxergar a paisagem potiguar e a cantá-la em seus versos – “Natal é um vale branco entre coqueiros”, resumia em “Terra mater”, o branco referindo-se, claro, às nossas dunas.
Em 1975, Newton Navarro – o carinha que empresta seu nome àquela ponte – escrevia: “Do lado de lá, o dorso branco de praias e morros, manchas vermelho-azuis do casario irregular.”
Em 1929, Palmyra Wanderley citava as “dunas brancas que avisto ao longe” e os “montes claros, brancos demais”.
Mesma época em que Jorge Fernandes se trepava “nos morros de areia torrada de sol”.
Um século e tanto antes, em 1810, o português filho de ascendência inglesa Henry Koster viaja de Pernambuco ao Ryo Grande – de Goianinha a Natal a odisséia torna-se particularmente difícil: “As dunas mudam sempre de posição e forma. O vento violento levanta as areias em turbilhão, tornando a passagem perigosa para os viajantes. É areia muito fina, branca, e os nossos cavalos nela afundavam as pernas a cada passo.”
No mesmo século, mas lá pro seu final, em que Magdalena Antunes, fazendo a viagem ao contrário (ia estudar em Recife), comparava as dunas “alvacentas” que cercavam o Potengi com “pirâmides de sal”.
E por aí vai – quase todos, escritores e poetas, saudando as dunas (que Nei Leandro as quis vermelhas para celebrar a revolução).
Mas o que eu gosto mesmo é do bilhete de Oswaldo Lamartine, exilado no Rio de Janeiro, encaminhado a Vicente Serejo, em fevereiro de 1992: “Mande urgente semente de dunas que eu quero plantar no meu sítio.”
*
FLORES
Já há quase exatos 80 anos – em crônica de 7 de fevereiro de 1929 – Cascudo reclamava: “Natal é uma cidade sem flores.” Mas nem sempre tinha sido assim: “Lembro-me de Natal cheia de jardins. Uma quase obrigação de cultivar os palmos de terrinha que se estendiam depois do portão.”
Hoje, quede as casas? quede o portão? quede o jardim?
FACHO
É hoje, das 18h às 21h, no shopping Cidade Jardim, o lançamento do pré-carnaval do “movimento cultural” [sic] Aratu no Facho.
A festa acontece no sábado, 14 de fevereiro, em Barra de Tabatinga, e espera reunir 50 mil almas. O inferno na Terra, enfim.
LATINO
É hoje, também, que o extinto Salsa Bar (que recebeu até o metrossexual David Beckham) inaugura sua programação de caipifrutas e música latina para dançar, sempre às quartas, no Budda Pub, Ponta Negra.
VAPOR BARATO
“As pessoas apodrecendo nas ante-salas dos hospitais, a saúde em frangalhos e o Carnaval não pode estar a todo vapor” – de Cesar Revorêdo, no portal Nominuto.
Mas, vem cá: e quando foi diferente?



PROSA
“O tempo é regresso.”
Newton Navarro
Do outro lado do rio...
VERSO
“Existe além da sombra
o ter sido sombra”
Sanderson Negreiros
“As conversações”

terça-feira, 27 de janeiro de 2009

Uma nação de poetas

Eu poderia dizer que adoro poesia russa, mas estou mentindo: o que eu adoro mesmo são alguns livros editados no Brasil que trazem traduções de poetas russos ou pequenas biografias. O primeiro deles – e não por ordem de leitura temporal – “Poesia russa moderna”, de Augusto e Haroldo de Campos, mais Boris Schnaiderman. Corriam os anos 80 e as edições da Brasiliense faziam a cabeça de muita gente, de norte ao sul do Brasil, e neste Ryo Grande não poderia ser diferente.
Naquela época, a Brasiliense lançou Marcelo Rubens Paiva, lançou Jack Kerouac, lançou Leminski, lançou um monte de gente, destes Tristes Trópicos ou em traduções pioneiras – como o citado Kerouac de “On the road”. E lá ali pelos meados da década, vinte anos atrás, lançaria uma segunda edição da antologia russa, que tinha sido sintomaticamente lançada pela primeira vez em 68.
À época me restou impresso um poema de Khlébnikov – e vai-se saber por quê: “Quando morrem, os cavalos – respiram,/ Quando morrem, as ervas – secam,/ Quando morrem, os sóis – se apagam,/ Quando morrem, os homens – cantam.”
Mas o primeiro lido sobre o tema, na verdade, foi um livrinho de capa amarela, editado pela Paz e Terra, “Maiakóvski, vida e obra”, emprestado de dentro de casa quando ainda toda a família morava sob o mesmo teto e meu irmão mais velho se aventurava entre as hostes comunistas da velha Ufrn. Era uma maravilha: uma opção política permeada por poesia e poetas revolucionários que bebiam vodka e amavam muitas mulheres! Nenhum outro regime carregava em si tanto romantismo (ingênuo, hoje, vá lá) quanto o velho comunismo – e quanto mais velho e extinto for, mais será. Duvidê-o-dó, por exemplo, que das hordas Democratas dos dias que correm (falo do ex-PFL) saia alguma poesia, nem verso rasteiro, nem cordel de meia pataca.
“Maiakóvski, vida e obra”, de Fernando Peixoto, era um bom livro para conhecer um pouco do poeta, ícone dos seus conterrâneos e de uma poesia não apenas engajada. (Os dois versos mínimos de “Come ananás” resumindo a revolução: “Come ananás, mastiga perdiz./ Teu dia está prestes, burguês.”)
Daí para conhecer e deixar na cabeceira da cama o essencial “Maiakóvski – poemas”, dos já citados irmãos Campos e Schnaiderman, um pulo, salto, mergulho numa poesia. (E a lembrança, numa velha revista pop muito bem intitulada de Pipoca Moderna, duma entrevista de Arrigo Barnabé ilustrada com as fotos do músico folheando o belo livro da editora Perspectiva – na contracapa o vermelho e o negro do poema-anel “Liu bliú” (“amo”) e os versos “A poesia/ – toda –/ é uma viagem ao desconhecido.”)
Pois, agora, aparece nas prateleiras potyguares “Poesia soviética”, seleção, tradução e notas de Lauro Machado Coelho. Aparece com um atraso considerável, diga-se de passagem – tinha procurado o volume (656 páginas) há tempos, movido por um comentário de um blogueiro da Folha (salvo engano, Marcelo Coelho). A Poty não tinha, a Poty agora o tem (comprei o meu no início do mês, restaram uns três ou quatro exemplares).
A edição é de maio de 2007, a editora – Algol – para mim desconhecida. Abro o volume ao acaso – e onde quer que se abra o livro tem coisas belas a mostrar. Faço o teste, a página meia-nove exibe os versos finais de Stepán Shtchipatchóv: “O tempo sempre nos julga sem subterfúgios:/ fico pensando no que acontecerá,/ daqui a uns cem anos, quando,/ ao encontrarem nossa palavra,/ a expuserem à luz do dia.”
São 24 poetas soviéticos, apenas cinco deles mulheres – mas, com a força que naturalmente têm, parecem até mais, esse falar feminino, e revolucionário. Tomo por exemplo Olga Fiódorona Bierggolts (1910-1975): separada e casada novamente antes de completar vinte anos, teve duas filhas, mortas durante o período stalinista, que lhe provocou, também, um filho natimorto. Os versos de “Antes da separação” são de uma generosidade ímpar na sempre conflituosa relação conjugal:
“Antes de partir, deixo-te tudo:/ tudo o que há de melhor/ em cada ano transcorrido./ [...]/ Levo comigo todas as nossas lágrimas,/ todas as nossa privações,/ fracassos,/ perigos,/ todos os nossos desesperos,/ nossas decisões apressadas,/ [...]/ Adeus, querido. Amei-te com todas as forças./ E no momento da partilha, quero deixar-te rico.”
*
FUTURO
“É um bom país para as pessoas mais idosas que já viram muita coisa neste mundo e que agora desejam silêncio e o recolhimento em uma paisagem bonita e pacífica a fim de refletir sobre tudo o que viveram.” – de Stefan Zweig, em “Brasil, um país do futuro”.
O escritor austríaco acreditava que estes Tristes Trópicos podiam bem acolher estrangeiros aposentados. Uma idéia que foi resgatada nos últimos anos com a idéia do turismo de segunda residência (e não apenas para idosos).
Mas com a violência que ronda os alpendres o negócio vai, já foi ou irá, pras cucuias.
Zweig, aliás, interrompeu seu próprio futuro, ao suicidar-se em 1942.



PROSA
“A princípio, Stálin cortejou os artistas, chamando os escritores de ‘engenheiros da alma’.”
Lauro Machado Coelho
Poesia soviética
VERSO
“Sei, agora, que o amor mata,
não espera piedade, não compartilha o poder.”
Olga Bierggolts
“Nunca poupei...”

segunda-feira, 26 de janeiro de 2009

Um beijo que ousa dizer seu nome

Na verdade não é apenas um, mas dois beijos gay que estão por chegar nas telas dos cinemas. E, não, não são com atores desconhecidos, do circuito independente ou do cinema “cult” europeu. Sinal dos tempos, com um representante das muitas minorias, um negro (“afro-descendente”) na Casa Branca.
O primeiro beijo, bacio, beso, kiss, acontece entre Jim Carrey (“O Máscara”) e Ewan McGregor (“Trainspotting”).
O segundo, entre Sean Penn (“Sobre meninos e lobos”) e James Franco (o filho do Duende Verde nos três “Homem-Aranha”).
“Me sinto feliz por poder contribuir com a campanha pela legalização do casamento gay”, disse Jim Carrey, durante o Sundance Festival, na semana que passou – acreditando nos efeitos do filme.
Já Sean Penn não falou muita coisa. Os clássicos tablóides inventaram que sua mulher, a atriz Robin Wrigt Penn (“A lenda de Beowulf”) tinha ficado enciumada com algumas cenas entre o marido e Franco.
Penn já foi casado com Madonna e chegou a dar entrada no divórcio com Robin no final de 2007, mas o casal anulou o processo no ano passado.
Em lugar do ator quem está falando muito é o diretor, Gus Van Sant – “Para um heterossexual como Sean, não deve ter sido fácil”, afirmou Van Sant, que, como diretor, já abordou em muitos outros filmes a temática homossex.
Carrey faz o papel de um gay apaixonado pelo personagem de Ewan McGregor, em “I love you Philip Morris”. O filme – inspirado na história real de um policial texano que se apaixona por um preso – custou a bagatela de 14 milhões de dólares e exibe, pois, um beijo entre os dois atores.
Para o ator, a cena é um exemplo de evolução: “Assim como agora temos um presidente afro-americano, é normal que eu beije um homem”, disse Carrey.
Também o personagem de Penn é real – e mais-que-famoso: Harvey Milk (1930-1978) foi o primeiro político declaradamente homossexual da história política americana. Tão real que terminou assassinado.
A crítica, inclusive, tem sublinhado a importância do filme (“Milk”, como o sobrenome do político) ao contar mais um dos muitos homicídios políticos da história americana – de Abraham Lincoln a John Kennedy, passando por Martin Luther King e Malcolm X. Disse Van Sant: “Sim, fazer política no meu país é perigoso – especialmente se se é um pioneiro: a própria ação é vista como um desafio. Milk sabia disso, e esperava que o seu sacrifício, caso fosse assassinado, servisse a qualquer coisa. Já nos dias de hoje, se conhece melhor os perigos de ser líder e reformista, e por isso as medidas de segurança são muito mais eficazes”.
*
BIZARRE
Daí que, aproveitem para ver ou rever um dos melhores filmes de Van Sant, o imperdível “Garotos de programa” (1991), última aparição na telas da lenda cult River Phoenix – num triângulo amoroso com Keanu Reeves e Chiara Caselli.
LOVE
O clássico tema, aliás, retomado por estes dias pelo enfant terrible Rodrigo Levino – que, em Sampa, escreve uma peça teatral inspirada em ritos de passagem juvenis e permeada por ícones da cultura pop.
TRIANGLE
Tema triangular presente também em “Uma garota dividida em duas” (2007), de Claude Chabrol, lançado agora em DVD.
LIVROS
Entre os lançamentos literários para este janeiro, a coluna destaca “Pornografia”, do polonês Witold Gombrowicz (1904-1969), dono de um estilo original e único, elíptico e cheio de humor refinado.
Já para os inícios de fevereiro, Theo G. Alves programa seu “pequeno manual prático de coisas inúteis” para o terceiro dia do mês, no Nalva Melo Salão Café, Ribeyra.
CONTRA O RELÓGIO
A Fundação Zé Augusto se bole nestes últimos anos de Governo de Todos, provavelmente acossada pelo efeito municipal Dácio Galvão-Cesar Revorêdo: saiu um, entrou outro, mostrou serviço um, começa a mostrar serviço o outro, enquanto o prédio da Rua Jundiaí mergulhou numa solidão e ostracismos espantosos.
O presidente Crispiniano Neto, pois, se apóia numa série de novos projetos, entre eles parcerias com o DN Educação, para duas séries de fascículos: uma espécie de Atlas Cultural e outro sobre personalidades da cultura deste Ryo Grande.
E, no rastro do ano da França no Brasil (neste Zero-Nove), a reedição do livro de Antônio Bento, “Manet no Brasil”, que traz no subtítulo: “estudo comemorativo da passagem do centenário da visita do pintor ao Rio de Janeiro – 1849-1949”.
TIC-TAC
Resta saber se tempo haverá: há rumores que dão por certo o que antes parecia mero bruaá: o retorno de Dácio Galvão à gestão cultural – agora em chave estadual – para depois do carnaval. Tudo sob os augúrios e bênçãos de Dona Wilma.
EM TEMPO
Quem foi o gênio do marketing (ou do mal) que mandou, semana que passou, a neo-prefeita-eleita, literalmente, para o fundo do poço?



PROSA
“Talvez eu tenha sido escolhido para ensinar-lhe algo bem mais maravilhoso – o significado do sofrimento e toda a sua beleza.”
Oscar Wilde
De profundis
VERSO
“Expulso o noivo da cama e fico com a noiva,
Eu a aperto a noite inteira com minhas coxas e lábios.”
Walt Whitman
“Folhas de relva”

sábado, 24 de janeiro de 2009

Adivinhe quem vem para o café-da-manhã: Manoel Onofre Junior

Em 1979 o sobrescrito tinha 12 anos e os livros da editora Clima já rondavam as estantes da casa dos meus pais. À época um dos poucos que li e não esqueci foi “Breviário da Cidade do Natal”, de Manoel Onofre Junior, com capa e ilustrações internas com o traço inconfundível de Dorian Gray Caldas (inconfundível, também, a marca da editora, com o nome “Clima” sobre o mapa elefantóide deste Ryo Grande). Era um livrinho simpático, despretensioso, quase um pot-pourri de tudo o que de mais peculiar tem a nossa história. E findava com um “Guia sentimental da cidade”, escrito por Newton Navarro especialmente para o “Breviário”.
Infelizmente, nem o guia de Navarro nem as ilustrações de Dorian se repetem no “Guia da Cidade do Natal” (praticamente um “Breviário” em trajes novos ou renovados), que o Sebo Vermelho relança, hoje, entre as dez da manhã e o pingo do meio-dia na Poty Livros da Cidade Alta – a mesma Cidade Alta, aliás, que intitulava os versos de Newton Navarro: “Terno coração de pedra,/ mas,/ pedra de sentimento/, que de tanto amor/ em duro granito se tornou.”
O texto que segue é um dos que foi quase que completamente modificado em relação ao seu equivalente no “Breviário” – afinal, o original está completando três décadas neste Zero-Nove e, então, a cidade ainda não se assanhava tanto como hoje com construções verticais, que se contavam nos dedos: era a época da construção do Chácara e do Rio Mar, ambos na Deodoro (“dois mastodontes de concreto e vidro fumê”, nas palavras do autor, e que prenunciavam “a selva de pedra”, “o triste retrato na parede”).
(Embora, sim, outros aspectos não tenham mudado – em 79, Onofre escrevia: “Colunistas sociais costumam chamar Tirol e Petrópolis de ‘bairros elegantes’. Aí vive a fina flor da burguesia e, também, algumas pessoas que, simplesmente, querem morar bem. Bairros novos, sem caráter, esses.”)
Aproveitem, pois, o café-da-manhã com Manoel Onofre e sigam depois para a Poty:

DEVASTAÇÃO DO VERDE
Em visita a Natal, o escritor Mário de Andrade definiu a cidade com estas palavras:
“... é um encanto de cidadinha clara, moderna, cheia de ruas conhecidas encostadas na sombra de arvores formidáveis.”
Mário esteve aqui em 1928.
Hoje, decorridos 80 anos, a população multiplicou-se, as ruas encheram-se de veículos, espigões agridem a paisagem, mas a urbe ainda conserva um pouco daquela aparência bucólica.
É verdade que, das árvores formidáveis, restam apenas algumas na Rua Jundiaí e na Praça André de Albuquerque. Mas cajueiros, mangueiras e outras fruteiras resistem nos quintais, e quase sempre se cuida da arborização pública – acácias, jambeiros, etc.
Não há dúvidas: sob este aspecto, Natal é uma cidade privilegiada. E ainda tem o Parque das Dunas, a segunda maior floresta urbana do país.
Como bem dizia Mário de Andrade:
“É capital, se sente que é capital, o que firma bem a sensação de conforto praceano, tudo à mão, e ao mesmo tempo, tem ar de chacra, um descanso frutecente, bolido de ventos incansáveis.”
É isso aí.
Mas, não devemos ter ilusões quanto ao futuro, pois inexiste uma mentalidade coletiva de respeito ao meio ambiente.
Dia desses, em Ponta Negra, um ponto do Morro do Careca pegava fogo, mas somente duas ou três pessoas se incomodaram em tomar providências. As demais – dezenas, centenas – pareciam nem estar vendo aquilo. Negócio de apagar incêndio não era com elas. “Uns matos queimando, coisa sem importância...”
A mesma insensibilidade transparece no mau hábito, que o natalense tem, de jogar lixo e metralha em terrenos baldios.
Há anos, a Prefeitura mandou botar abaixo todos os pés de fícus da cidade. motivo: estavam empestados de lacerdinhas. Solução “genial”, em vez de se combater a praga de insetos.
A retirada de areia das dunas, para uso na construção civil, tem se constituído, também, numa ameaça – tão grande quanto a poluição do rio Potengi.
E que dizer de outra espécie de poluição – a predial, que asfixia a cidade?
Numerosos arranha-céus foram construídos, nos últimos anos, a maioria em Petrópolis, Tirol, Candelária e Ponta Negra. Esses mastodontes de concreto e vidro começam a proliferar em outros bairros da classe média. A paisagem vai ficando emparedada, e o clima cada vez mais quente. Inúmeros outros problemas decorrem desse crescimento vertical desenfreado, inclusive a contaminação do lençol freático. Ambientalistas e urbanistas sabem muito bem disso.
Infelizmente, tudo indica que aquela Natal, encanto de Mário de Andrade, dentro em breve será, como a Itabira de Drummond, apenas “um retrato na parede”. Doerá tanto como já doem estes versos de Ferreira Itajubá:
“Natal é um vale branco entre coqueiros:/ Logo que desce a luz das alvoradas,/ Vão barra afora as velas das jangadas,/ Crescem no rio as trovas dos barqueiros.” [Manoel Onofre Jr]



PROSA
“Manoel Onofre Jr., pesquisador munido de discreta tenacidade, é também exemplo que busquei seguir.”
Tarcísio Gurgel
Informação da literatura potiguar
VERSO
“Escrever para abrir o leque.
Eis minha meta.”
Marize Castro
“Escrever”

sexta-feira, 23 de janeiro de 2009

Uma noite no Catombo (e II)

Deixei meus leitores derna de ontem no banheiro do Bar de Pedrinho Catombo. Quero dizer, eu estava lá, não vocês. E, não, não pensem que foi a mijada mais longa da história – é que não cabia neste espaço tudo o que sucedeu naquela noite. Daí que continuo de onde parei, isso, no banheiro: onde eu pensava em como tudo aquilo lembrava a decrepitude exótica de Havana, Cuba. E que logo ali, quase que por trás daquelas paredes, estava o centro do poder municipal (e a pouquíssimos metros do Legislativo Estadual).
E eu fiquei pensando se um dia a neo-prefeita-eleita desceria do bolo-de-noiva-enfeitado que é o prédio da prefeitura e se arriscaria a uma cerveja no Bar de Pedro Catombo, seu vizinho. Ah, seria legal, sério, tenho certeza de que seria mui bem recebida, afinal, a moça é muito simpática às massas. Pensei tudo isso enquanto esvaziava a bexiga, que, claro, vazia ficou, e como batiam à porta espanei a poeira dos pensamentos e voltei para o asfalto da Rua São Tomé, quase esquina com a Ulisses Caldas.
Mas não por muito tempo: veio a chuva, num estrondo, como se fim do mundo fosse. E da chuva vieram, primeiro as biqueiras, grossas, fartas, cachoeiras do céu; depois, a enxurrada, arrastando sobre o asfalto um mundo de coisas, coisas do mundo. E as coisas do mundo eram líquidas e quem restou mudou-se para dentro do boteco.
Onde Isaque Galvão cantava. Não um choro, mas um samba. Ali, em meio aos tamboretes e mesas, o artista brilhava mais que num palco iluminado. Nunca vi um Isaque Galvão tão inspirado. Alguém se assombrou: “Parece até que ele tem um microfone na garganta!”
Verdade. A voz saía límpida, audível, emergia das ondas sonoras sem esforço, plainava sobre nós, como estrelas por trás das nuvens cor de chumbo. (Não preciso revelar quantas cervejas tomei, claro, mas o clima era por aí e pelo tom denunciado que dispensa o bafômetro.) E eu ainda imaginei que ele incorporaria um Ed Motta e começaria a cantar “Do you have other love?” – mas aí seria querer demais.
No entra-e-sai, Dona Damiana, da Escola de Samba Balanço do Morro, lembrou da homenagem a Fernando Luiz, o autor de “Garotinha” e pai da garotona Fernanda Tavares, para a Festa da Carne deste ano. As meninas queriam saber se Murilo Rosa apareceria. Não, não. Não apareceu, ontem, na quadra da escola, Rocas. Como também ainda não apareceu dinheiro da prefeitura para o carnaval deste ano, me confidenciou Damiana, baiana-potyguar.
No entra-e-sai, surge Zé Dias – “só pra prestigiar, Zizinho”, faz questão de dizer, botando lenha no mote “eu só acredito em evento cultural assim: ou com muito dinheiro ou sem dinheiro algum”. O choro do Catombo, claro, na segunda hipótese.
No final, ainda deu pra fazer um périplo Bardallos-Cervantes-Bella Napoli.
Vez por outra a capital do Ryo Grande é uma festa.
*
CHOROS
Em seu “Panorama da música popular brasileira na ‘Belle Époque’”, Ary Vasconcelos vai contra a idéia comum levantada por muitos (entre eles José Ramos Tinhorão) de que o chorinho era filho da melancolia: “Quer-me parecer, antes, que a palavra ‘choro’ nesta acepção, deriva de ‘choromeleiros’, corporação de músicos, e que teve atuação importante no período colonial brasileiro.”
Mas cita também Cascudo (infinitas vezes), para o qual choro vinha de “xolo”, bailes de negros nas fazendas – “por confusão com a parônima portuguesa, passou a dizer-se ‘xôro’, e, chegando à cidade, foi grafada choro, com ch.”
LÁGRIMAS
Pois, de choro verdadeiro trata o filme criado pela Base Propaganda para a Liga Contra o Câncer. Procurem no YouTube ou na página www.nosfazemosevoce.com.br.
Mas enquanto mais de 3,5 mil pessoas já tinha assistido o vídeo no YouTube, o número de pessoas que fizeram sua doação na página da Liga não chegava nem a meia centena.
Insensibilidade, veraneio ou crise?
A turma dos parrachos bem que podia rodar a sacolinha, entre um 12 anos e outro.
MARROM
Mais uma oportunidade para assistir a “Coisa de preto” da brown Khrystal. Hoje, Praia Shopping, 20h30.
CINE
Estréia hoje “Hannah sobe as escadas”. No Moviecom, 15h45. E “Austrália”, com Nicole Kidman, nas duas cadeias da cidade, vários horários.
ALANIS
Quem não puder embarcar para Recife ou Fortaleza, pode entrar no clima Alanis Morissette por estas ribeyras mesmo: amanhã a banda Electra mais os DJs Alex Myself e Iran fazem festa na boate Edifício Club, Rua Frei Miguelinho, Ribeira.
FAB FOUR
Amanhã tem Beatles Abbey Road, banda cover adivinhe de quem – no Vila Hall, Hotel Vila do Mar, Via Costeira. Para mais informações, liguem 3646.3292.
Segundo o release, os músicos “utilizam a única coleção completa de instrumentos musicais e amplificadores existentes no mundo”, o que inclui as guitarras usadas por John Lennon e George Harrison, três contrabaixos usados por Paul McCartney, e algumas das baterias usadas por Ringo Starr.
BOLACHAS
O Radiohead lança em abril 12 singles. Em vinil.



PROSA
“Chove? Não: chora. Chora na cidade como chove em seu coração.”
Alan Pauls
História do pranto
VERSO
“nenhum som me importa
afora o som do teu nome que eu adoro.”
Maiakóvski
“Lílitchka!”

quinta-feira, 22 de janeiro de 2009

Uma noite no Catombo (I)

O título aí em riba não tá muito correto, não – o certo seria “Uma noite em Catombo”, talvez. E o que danado é Catombo? O mesmo que “calombo”, “inchaço”. É. Mas também é o apelido de Pedro Faustino da Costa, Pedrinho Catombo, pois. Aliás, era. Pedrinho morreu em meados do último dezembro, antes do Natal.
Um ano atrás, em crônica de 19 de janeiro, eu anotava, lá pelas primeiras linhas: “Vlamir Cruz bateu asas em Ponta Negra e provocou terremotos nas quebradas mais altas da Cidade Alta: no Bar de Pedro Catombo, um dos quartéis-generais de Abimael Silva, só o que se falava era nas histórias de trancoso de ‘Paêbirú’, o disco de Lula Côrtes com José Ramalho.”
Pois. Passou-se um ano e pouco estive no Catombo, umas duas ou três vezes, máximo. Melhor assim: quando a gente volta, volta com gosto. E o gosto da noite de ant’ontem era de cerveja gelada. Acompanhada de choro, chorinho. Uma dissidência, dizem, do Buraco da Catita. Prefiro a versão – mais ingênua, talvez – de multiplicação. Crescei e multiplicai-vos, então, esses encontros espontâneos dos artistas e boêmios, longe do poder público.
Antes, passagem demorada na Confeitaria Atheneu, pra saborear a paçoca de Dona Silvia – não sei se a melhor ou uma das melhores da City, mas que a danada é boa, isso é. E a cerveja sempre gelada. E o orelhão na calçada que toca e Dona Silvia atende, com a mesma paciência e calma com que serve bebidas e tira-gostos.
Mas a turma que conhecer o bar de Pedrinho: um paulista radicado em Portugal, um norueguês e três amigas do peito. E lá vamos nós pra Rua São Tomé, que imagino ser aquele santo que tudo tinha que ver pra poder acreditar.
Mesmo sem ter visto, acreditem: o choro tava bom, a cerveja ainda mais gelada, o público não era o caos do Buraco da Catita, as notas de K-Ximbinho alegravam os corações e a bexiga exigia uma visita ao mictório, pois. E eu que até então nunca tinha entrado no banheiro do bar. Que não existe, quer dizer, existe, mas é no final do corredor de uma casa ao lado. Sem essa de masculino ou feminino, a igualdade dos gêneros é o que há. Enquanto esperava na fila – pequenininha, diga-se – me veio em mente um papo com o norueguês, que tinha visto minha camiseta do El Floridita, o mais-que-famoso bar de Havana, Cuba, freqüentado por Hemingway. Ele me dizia que era preciso ir à Ilha antes que o negócio degringolasse após a morte de Fidel. Daí que eu fiquei pensando que, na falta de pesos, dólares ou euros para ir a Cuba, uma visita ao Centro Histórico desta Capital Espacial já compensa a pobreza de quem não pode renovar o passaporte.
E pensei que logo ali, praticamente por trás daquelas paredes, estava a prefeitura municipal desta Cidade de Reis e Rainhas. E que nem todos pesavam mais de cem arrobas, e que nem todas eram núbeis impossibilitadas do casório – como é exigido aos candidatos a Rei e Rainha do carnaval multicultural.
Continuo amanhã, se deus quiser e o diabo permitir.
*
ESPERA(NÇA)
“Naquela esplanada onde já houve um mercado de escravos, o movimento de quem chegava para a festa da posse de Barack Obama começou quando ainda era noite e a temperatura estava a -7°C, suficiente para congelar a água das garrafinhas. Nada havia para fazer senão esperar várias horas. Mas aquela gente esperou séculos.” – Elio Gaspari, que sabe escrever e sobre o que escreve, resumindo em poucas palavras o significado do dia de ontem, na Folha de Sampa.
FULLBRIGHT
Começa hoje e vai até o 19 de fevereiro a exposição fotográfica “Impressões visuais”, promovida pela Fulbright Brasil, comissão para intercâmbio educacional entre os Estados Unidos e o Brasil, que comemora meio século nesta terra onde se plantando tudo dá.
São 126 fotos, em cor e p&b, 17 delas agraciadas com importantes prêmios, como o Pulitzer, Esso e World Press Photo.
FULLBRIGHT II
A mostra abre logo mais às 17h30, com uma visita guiada pelo seu curador, João Kulcsár.
No Museu Café Filho, Rua da Conceição, 601, Cidade Alta, de terça-feira a domingo, das 8 às 17 horas.
SUNDOWN
Galvão Filho informa que também ele faz parte do projeto “Pôr-do-sol no Potengi”, às terças, quartas e quintas, sempre das 17h às 19h, no Iate Clube desta Capital.
Um bom programa, recomendado por amigos insuspeitos, independente da presença anunciada das ditas “celebridades locais” (mais da metade, claro, políticos).
Pois, hoje é quinta. E o sol há de se pôr. Mesmo entre nuvens.
AU AU
Começou a turnê brasileira de Alanis Morissette. Ontem, em Manaus, a primeira de 11 cidades (as mais próximas deste Ryo Grande, Recife e Fortaleza). A cantora veio ao Brasil com seus dois chihuahuas e exigiu vinhos das uvas syrah, sangiovese, pinot noir e rioja, além de uma garrafa de tequila Don Julio Reposado e água mineral das marcas San Pellegrino e Evian.
Suponho que para ela, não para os cães.
AGULHA
Não vão faltar oportunidades para quem quiser assistir ao documentário “Valentino, o gênio da alta-costura: estréia hoje, 21h, na GNT, com reapresentações dias 23 (3h), 24 (7h e 20h), 26 (11h) e 27 (14h).



PROSA
“Chega um choro. Clarineta, violões, ganzá numa série deliciosa de sambas, maxixes, varsas de origem pura, eu na rede, tempo passando sem dizer nada.”
Mário de Andrade
O turista aprendiz
VERSO
“Num beijo triste eu percebi que a sua intenção era fatal”
Del Loro
“Sonoroso”

quarta-feira, 21 de janeiro de 2009

Babás, aias, amas

Ontem noticiei o novo blog da psicóloga Jemima Morais Veras – é de lá que extraio o que se segue:
“A dinâmica de trabalho de uma babá traduz o quanto é difícil sorrir quando se está triste, correr quando o cansaço toma conta do corpo, brincar quando a vida se encontra tão dura, colorir quando o mundo se mostra cinza, ser suave quando se carrega nas costas o peso de tantos problemas, ser compreensiva quando não compreendemos nem a nós mesmos, dar carinho quando estamos amargos, dar colo quando estamos inseguros e assustados, demonstrar organização quando nossa vida está confusa e tudo parece estar fora do lugar...”
Eita, que vidinha complicada a das babysitters, hein!? Duvi-de-o-dó que as madames pensem nisso quando tratam com as preceptoras de seus rebentos. Dúvida que vem provavelmente instigada pela visão recente de um filme, na TV a pagamento: “Diário de uma babá” (2007), com a bela Scarlett Johansson – recomendável, aliás, para todas as lulus do Arraial de Palumbo. E, como se trata de Johansson, recomendável, também, pros bolinhas: dona Scarlett, com aquele rostinho de quem acabou de sair do banho, encarna a babá que todo varão, dos oito aos oitenta, gostaria de ter.
“The nanny diaries”, título original, foi inspirado num besteseller escrito por duas babás americanas, que aproveitaram suas experiências na porção mais chique de New York City – Manhattan, claro – para tirar uma onda com suas ex-patroas.
Essa é a grande diferença do filme entre o porrilhão de congêneres que versam sobre o tema: enquanto a maioria não passa de comédias mais que leves que tratam de garotas que tomam conta das crianças apenas em determinados períodos do dia (o termo correto seria “babysitter”), este “Diário de uma babá” investe acidamente contra a alta classe novaiorquina (muito parecida, aliás, com a média classe potyguar) – ainda que preserve o tom de “filme bobinho”. Ou seja, a personagem de Scarlett não é uma babysitter, mas uma “nanny”, artigo literalmente de luxo no primeiro mundo, que dorme no emprego, acompanha o pimpolho pra lá e pra cá, e faz o papel da mãe psicologicamente ausente (uma perua entediada com a vida fútil e mais preocupada em manter um casamento que está indo pras cucuias).
Nannies ou babysitters são um dos temas preferidos de Hollywood, inclusive em versão macho man: em “Uma babá quase perfeita” (1993), Robin Williams se veste de mulher para poder ficar perto de seus filhos. Em “Operação babá” (2005), o truculento Vin Diesel não se traveste, mas disfarça seu corpo de fuzileiro naval para cuidar dos filhos de um cientista e proteger importantes segredos de estado. Uma década antes, o musculoso Schwarzenegger já se infiltrava como “Um tira no jardim de infância (1990), a fim de capturar um traficante de drogas. E Emma Thompson escondia sua beleza discreta em “Nanny McPhee, a babá encantada” (2005), num clima mais de conto de fadas, cuidando dos sete filhos de um pai viúvo.
Sem falar, claro, na “Supernanny”, uma espécie de Big Brother das babás, que pretende ensinar aos pais como domar suas ferinhas. Existe, inclusive, uma versão brasileira, exibida – onde mais? – no SBT (por aqui, TV Ponta Negra), com uma argentina fazendo o papel da nanny.
“O problema mais comum é que atualmente os pais não sabem assumir a autoridade. Isso realmente aperta o meu coração. As crianças não têm mais limites”, comentou a superbabá no sítio da emissora.
*
PONTEIROS
Pois: como a neo-prefeita-eleita – dizem as folhas, não eu – não consegue chegar no horário em nenhuma reunião, não seria de bom tom contratar uma supernanny para cuidar da moça?
BORBOLETÊS
Os neo-vereadores-eleitos, aliás, deveriam se inspirar em Virgínia Ferreira e desmascarar certas fantasias que antecedem o carnaval.
“Quimera”, “balão de ensaio”, “papel carbono”, “cortina de fumaça”, foram algumas expressões usadas pela ex-secretária de Planejamento para colar na nova administração – como faz falta uma Virgínia na Câmara!
QUASE
Em se falando em carnaval, a Funcarte inova: enviou email com o curioso título “Programação do Carnaval Multicultural 2009 quase fechada”. No corpo do email, a ordem dos fatores não altera o produto: “Parte da programação do Carnaval 2009, realizado pela Prefeitura através da Funcarte, já está fechada”.
Como assim, “quase”? “parte”?
É a pré-divulgação da pré-programação.
Um dia a gente chega lá.
LOST
“A borboleta me parece mais perdida que pitomba em boca de banguela.” – de um observador da cena local a algumas milhas de distância da City.
TIM
O sobrescrito sente-se, não ainda um imbecil a menos, mas, menos imbecil: a TIM resolveu resolver meu problema – contado em duas ocasiões neste espaço e criado pela própria empresa, aliás.
DAVI
Em momentos como esse eu gostaria de ser um daqueles jornalistas de antanho, sair da redação em disparada, entrar nas oficinas gráficas e berrar: “Parem as máquinas!”
Tudo isso porque nasceu Davi Leitte. Filho da Super-Claudinha, ora.



PROSA
“Quando minha mãe se casou, ela fez parte do dote, juntamente com alguns outros escravos.”
Magdalena Antunes
Oiteiro
VERSO
“Tão meninas e tão barrocas,
de graça muita, alegria pouca”
Myriam Coeli
“Variações para rondó”

terça-feira, 20 de janeiro de 2009

Triângulo de bermudas e de biquíni e sunga

Nestes tempos de veraneio nem tudo se resume às novas e potentes lanchas nos parrachos do horizonte azul-atlântico: o velho e indefectível cavaco chinês ainda vinga à beira dos alpendres, acompanhado pelo inseparável estribilho metálico e monótono do triângulo, peça musical sem novidades ou variações desde que o sobrescrito a ouviu pela primeira vez, quando ainda estava nos cueiros, o que prova como o troço é antigo.
A baqueta bate e volta nos três lados do triângulo, anunciando o produto e promovendo suas vendas. Não é preciso outro anúncio vocal.
Não me peçam que eu destrinche aqui as origens do cavaco chinês, nem enquanto maravilha pobre da culinária, tampouco em relação à denominação de origem. Por que cavaco? Por que chinês?
Cavaco é uma apara, lasca de madeira. Soa muito português de Portugal – mas não sei se por influência inconsciente, lembrança do nome daquele primeiro-ministro, Cavaco Silva, hoje presidente. O que é certo é que, antigamente, muito antigamente, Portugal tinha dominações lá pelos lados da Ásia, Macau a mais famosa.
Terá sido lá que nossos descobridores aprenderam a receita, levaram para o Reino e de lá a propagaram pelas outras colônias? Ou terá sido um chinesinho, clandestino numa nau portuguesa, a vender o produto em Lisboa? Ou, nada disso, não houve o atravessador português e foi um chinês que veio dar com os costados diretamente em Terra brasilis e por aqui andou vendendo seus cavacos?
Sei lá. O que sei é que o cavaco chinês tem o sabor imutável do passado transportado ao futuro sem grandes variações. O algodão doce, por exemplo, mudou, mudou bastante – e como mudou. Esses, que se comem nas festas de aniversário de hoje não têm o mesmo sabor daquele que comíamos na infância, quando o vendedor era um velhinho de idade indefinível empurrando sua carrocinha de madeira e folha de flandres e anunciando o produto com o requinte poético da metáfora: “Barba-de-papai-noel”.
O que sei – e que conste dos autos deste verão Zero-Nove – é que os vendedores ambulantes de cavaco chinês sobrevivem ainda nesta primeira década do século 21. Não são tantos, com certeza, quantos os vendedores do picolé de Caicó. Estes, uma peste, pois, enquanto os “cavaquistas” (ou “cavaqueiros”) apenas fazem triangular sua música, os picolezeiros caicoenses anunciam seu produto em alto-falantes artesanais em alto e péssimo som. No início soava engraçado ouvi-los dizer “calma, calma, não precisa empurrar” – como se a procura pelo sorvete fosse tão grande que se formavam filas caóticas diante do carrinho (de fibra de vidro). Daí que, quando íamos procurar nossa dose de frio, víamos o carrinho sem viv’alma ao redor.
Dia desses, o sobrescrito ouviu pela primeira vez a quebra de uma tradição: o som metálico-triangular era o mesmo de sempre, mas, quando a vibração se interrompeu, a vendedora proclamou, como se necessário fosse: “Cavaco chinês! Cavaco chinês!”.
No final das contas, hoje, talvez seja realmente necessário o pregão – ou para disputar o mercado equanimente com outras guloseimas, ou, quem sabe, para explicar às novas gerações o que danado é aquele tengo-telengo-tengo.
*
SEM FRONTEIRAS
Repito aqui, agora e hoje, o que disse há 12 dias: ou sou um imbecil ou um imbecil – como qualquer cliente TIM. Há 15 dias aguardo uma resposta da empresa, e ontem tentei ligar para o asterisco-um-quatro-quatro cinco vezes. A TIM é uma multinacional com milhões de clientes no Brasil e no mundo – o que prova que a imbecilidade não tem, definitivamente, fronteiras.
VERSOS
Cefas Carvalho anuncia para hoje a premiação dos poetas vencedores do 4º Concurso de Poesia Zila Mamede – em primeiríssimo lugar, Wescley Gama, em segundo Elizabeth Rose, e Adélia Danielli em terceiro.
Na Siciliano do Natal Shopping, a partir das 19h. “Quem gostar de letras e encontros poéticos, não pode perder”, avisa Carvalho, que estreou blog na rede: www.cefascarvalhojornalista.blogspot.com.
PSICOBLOG
Também com blog novo, a psicóloga Jemima Morais Veras – onde pode-se ler, entre outras coisas, alguns conselhos modernos aos pais. Confiram em www.jemimaveras.blogspot.com.
JOTABLOG
Já J. Gomes pergunta e responde: “Quer fazer um aposentado feliz, é simples. Acesse e divulgue este humilde endereço eletrônico, www.jgomesabc.zip.net. Ficarei extremamente feliz. Dá aos pobres é emprestar a Deus.”
LEI-TURA
É hoje que representantes do Instituto de Desenvolvimento da Educação (IDE) se reúnem com o professor Elias Nunes, secretário municipal de Educação desta Capital, a quem entregarão o texto da Lei de número 9.169, que dispõe sobre a “Criação da Política Estadual de Promoção da Leitura Literária nas Escolas Públicas do Estado do Rio Grande do Norte”.
O IDE é uma ONG que busca o fortalecimento da escola pública, tornando-a capaz de oferecer uma educação básica de qualidade social para seus estudantes.



PROSA
“O fato de existir um futuro neste país torna o ambiente mais despreocupado e cada indivíduo menos aflito e excitado.”
Stefan Zweig
Brasil um país do futuro
VERSO
“Concedi aos meus pulmões todos os sons, exceto o urro”
Iósif Bródski
“24 de maio...”

segunda-feira, 19 de janeiro de 2009

Do sábio caminho à burrice no meio do caminho

ORÁCULO
Roberto Otsu lança hoje, Midway Mall, 19h, “O caminho sábio”, tradução comentada do “Tao-Te-Ching”, de Lao-Tsé, escrito no século VI a.C.
São 81 aforismos mais um baralho ilustrado que serve como consulta oracular.
Pelo currículo, Otsu parece caminhar além do ramerrame da auto-ajuda: graduado em Comunicação Social e em Arte-Educação, estuda a sabedoria chinesa há mais de três décadas, com especial interesse no “I Ching”.
PRESERVAÇÃO
Começa hoje e segue até o 29 deste janeiro o projeto “Escola do Patrimônio”, a cargo da Fapern e do Igetur – Instituto de Formação e Gestão em Turismo deste Ryo Grande, que vez em quando tem alguma sorte.
Mais de um cento de professores de História, Língua Portuguesa, Língua Inglesa, Cultura do RN, História do RN e Artes, de escolas públicas e privadas, de ensino médio e superior, se inscreveram.
O objetivo é definir posturas preservacionistas e de valorização dos sítios culturais, minimizando a ação de vândalos, os roubos e as depredações ignorantes. O curso acontece no Instituto Kennedy e tem entre os professores a competência de nomes como Paulo Heider, Vicente Vitoriano, Helder Macedo e Simone da Invenção.
PESCA
O artista plástico, escultor e empresário Taciano Arruda volta às suas origens natalinas, mais especificamente à Cirolândia: mudou, de malas, cuias e plainas, a sua Tac Art da Bernardo Vieira pra Rua Tuiuti, onde foi menino (ali pelo começo, quase em frente à Unicred,).
E comemora o fim da restauração que ele mesmo providenciou em sua escultura “A ida e a volta”, homenagem aos pescadores de Pirangi do Sul, há anos fincada naquela praia.
Escultura, aliás, ponto turístico dos visitantes, que sempre se fazem fotografar diante das formas coloridas.
Q.I.
Diálogo entre amigos, no Messenger:
“– ... e por aqui a competência não sobrevive à falta de indicação.”
“– Pior: a incompetência sobrevive graças à indicação.”
COPIA&COLA
Diálogo, aliás, que poderia ser reproduzido na série “Control C control V”, da Microsoft, com exibição na famigerada rede-mundial-de-computadores. Os episódios são inspirados em diálogos do Msn enviados pelos próprios usuários. O programa já está em seu terceiro capítulo, com patrocínio publicitário de grandes empresas.
AXÉ
“Vivíamos os tempos de panelas, guetos, indicações, nepotismo e muita corrupção. Pelos corredores dos órgãos públicos responsáveis pela cultura o que se via e sentia eram medo, rabos presos e silêncio.” – calma, calma, todos tranqüilos: a frase não é de ninguém deste Ryo Grande, mas de um artista baiano, na CartaCapital desta semana.
Por aqui, como se sabe, ainda não se pode conjugar, tranquilamente, o verbo no passado.
VIDEARTE
Termina amanhã as inscrições para a mostra de vídeo arte da Fundação Capitania das Artes dentro da programação do Prospecta 2009 – que acontece nesta Capital Espacial, de 20 a 23 deste mês estivo.
Mais informações, programação completa e a ficha de inscrição podem ser obtidas na página www.prospecta2009.blogspot.com.
Paulistas ligados à performance, intervenção urbana e políticas públicas – como Daniela Labra, Flávia Vivacqua e Eduardo Verderame (do Coletivo Eia, Experiência Imersiva Ambiental) – vêem a Natal para debater com os nativos daqui ou aqui radicados – entre eles Civone Medeiros, Henrique José, Jefferson Alves, João Natal e Zé Frota.
Antes dos debates, serão exibidos os vídeos da mostra, das 18h às 21h.
À tarde, no Museu de Cultura Popular Djalma Maranhão, Praça Augusto Severo, Ribeyra, rolam oficinas – de performance, intervenção urbana e fotografia, pois.
ICEBERG
Por baixo da briga de foice político-eleitoreira que já começa a se desenhar no horizonte deste Ryo Grande – idos de 2010 – entre governadoráveis e senadoráveis, outro rabisco se anuncia: as equipes do famigerado marketing (que tudo pode, tudo sabe, tudo vê, tudo anuncia) já começam a ser montadas. Até lá muitas águas rolarão, na esteira do aquecimento, não global, mas eleitoral.
CAJU INSOSSO
“Toda uma população não pode ficar adorando uma árvore que nem indiano adora vacas.” – de Geraldo Batista, que se diz meu “leitor fiel”, sobre crônica da semana passada. Batista lembra que o cajueiro de Pirangi é já o maior do mundo, podendo, pois, ser podado, “para crescer para cima e não para os lados”.
No mesmo tom de revolta, Luiz Carlos Nogueira critica governantes e autoridades policiais que, segundo ele – e eu também – “não estão nem aí para a bagunça que reina em Pirangi” (que não se resume aos galhos do maior-do-mundo).
“O que falta para solucionar esse problema, é um político de coragem e vergonha”, lembra seu Luiz.
E eu lembro a todos que o coitado do cajueiro não pode virar nem vaca indiana nem bode expiatório: é uma árvore, Reino Vegetal se aprendi bem nas aulas de Ciências, e, portanto, não fala, não berra, não geme, nem pensa – nem tampouco pode se podar a si próprio.
(Ainda: lá pras bandas dos conjuntos Ponta Negra e Alagamar, por exemplo, o problema se repete – e não existe por ali nem caju nem cajuada.)



PROSA
“Não me dói senão ter-me doído.”
Fernando Pessoa
Livro do desassossego
VERSO
“Por que então, como outrora, a linguagem
não se encurta aos limites do soneto?”
Novella Matvêieva
“Invejo o tempo...”

sábado, 17 de janeiro de 2009

Adivinhe quem vem para o café-da-manhã: Normando Bezerra

Aí vem o sobrescrito aqui neste espaço, onde costuma ser tão crítico com o alheio, e, vez por outra, troca alhos por bugalhos. Uma das últimas foi citar o Rei Roberto Carlos (e o príncipe Erasmo) em “Sua estupidez” (que ninguém me ouça que a prefiro na voz de Ná Ozzetti). Lá pras tantas a canção diz “Não dê ouvidos à maldade alheia e creia/ Sua estupidez não lhe deixa ver que eu te amo”.
Pois, eu coloquei alguns “motivos” em lugar de “ouvidos” – e Sigmund há de explicar.
Enquanto isso me escreve José Normando Bezerra, elogiando a citação, mas também me corrigindo, claro. O erro era tão visível que não precisou nem se apresentar como presidente do fã-clube “Além do horizonte”, desta Capital.
Ora, um presidente de fã-clube do Rei é lógico que tinha que ser convidado para este breakfast. Com vocês, pois, o “pauferrense, geógrafo, professor, ariano, serpente no horóscopo chinês, romântico, saudosista, católico-espírita, esotérico” – como ele mesmo se apresenta –, José Normando Bezerra (além de fundador de um bocado de agremiações: da torcida organizada do Alecrim FC – FERA, Fieis Esmeraldinos Radicais –, do Partido Verde do RN, da Confraria “1968 – o ano que vivi”, do bloco de carnaval Cheiro de Alecrim, em parceria com o amigo Edmar Viana, e, por último mas nem por isso menos importante, do fã-clube de Roberto Carlos, em Natal).
Paixões que o levaram a batizar as filhas como Mircela (“Alecrim” invertido) e Roberta (adivinhem em homenagem a quem).
O REI E AS MULHERES
Nos anos 90 li uma entrevista de uma colega de trabalho na qual ela afirmava que nunca assistiu a um show do cantor Roberto Carlos e que não tinha nenhuma vontade de assistir. Eu, que já participei de cinqüenta e cinco shows do Rei, pensei com meus botões:
– Puxa vida, um homem não gostar de Roberto Carlos até entende-se, mas uma mulher é difícil entender pelos motivos que agora passo para o leitor.
Roberto Carlos compôs e gravou ,em 1972, “Você é linda”, a mais bela homenagem que uma gestante já recebeu: “Você veio sorrindo não sei bem de onde/ Um jeito tão puro de quem no futuro espera/ O sorriso de alguém// Seu vestido sem curvas seu sonho guardando/ Eu fico pensando no dia que o sonho vier/ Sua vida enfeitar// Não sei quem você é nem de onde você vem/ Só sei que você é tão linda esperando neném/ Esperando neném”
Neste mesmo disco ele homenageia as negras na música “Negra”: “Ela é quente, quente, quente, como um dia de verão/ Como o sol que eu peço tanto/ Que me faça igual a ela/ Pra que eu viva junto dela/ Pra que eu tenha a mesma cor// Ah! Quem dera eu esquecer/ Da minha cor tão branca/ E me perder, nessa ilusão tão pura/ Nessa ilusão tão meiga, nessa ilusão tão negra”
Na década de 70 presenteou a cantora Gal Costa com o clássico “Meu nome é Gal”.
Em 1992 valorizou as baixinhas na canção “Mulher pequena”. No ano seguinte homenageou as gordinhas na música “Coisa bonita”: “Coisa bonita, coisa gostosa, quem foi que disse que tem/ Que ser magra pra ser formosa?”
Em 1995 foi a vez das usuárias de óculos. Em 1996 depois de muitos anos que o cantor Miltinho tinha gravado uma música para as mulheres de 30 anos, Roberto Carlos fez uma para as de 40: “Não quero saber/ Da sua vida, sua história/ Nem do seu passado/ Mulher de 40/ Eu só quero ser/ O seu namorado”.
Anteriormente o Rei já tinha homenageado as tias, as prostitutas, as psicanalistas, as meninas, as primeiras-damas, amantes, ciganas, mães, madrastas, amigas, cheirosas, namoradas, símbolos sexuais, senhoras, atrizes, e – a principal delas, a mais importante de todas – Nossa Senhora.
Algumas tiveram seus nomes em suas canções: Amapola, Rosa, Consuelo, Deusa, Maria, Laura, Zuzi, Linda, Candinha, Ana, Malena, Inês, Lili, Amélia, Lígia.
É por essas e outras que entendo que as mulheres deveriam ser gratas ao Rei e concordarem com a cantora Rita Lee quando ela diz que Roberto Carlos é um Boeing em terra de Teco-Teco. [José Normando Bezerra]



PROSA
“Era uma consideração da força mitológica da figura de Roberto Carlos, de sua significação como vislumbre do inconsciente nacional”
Caetano Veloso
Verdade tropical
VERSO
“Só ando sozinho
E no meu caminho o tempo é cada vez menor”
Roberto e Erasmo
“As curvas da estrada...”

sexta-feira, 16 de janeiro de 2009

O conduto musculomembranoso e outras notas

Publicitários antenadinhos (redundância) deste Ryo Grande já devem saber o que se anuncia aqui, em terceira, quarta mão, pois que li na internet, fonte do jornalismo local que só tem dinheiro mesmo pra pagar a conta do provedor e olhe lá. Mas isso é outro papo – o de hoje é o que segue.
Esta semana tem rebuliço na TV: a marca Lactacyd (GlaxoSmithKline) lança vídeo comercial intitulado “Protect yourself” (proteja você mesma), filmado da perspectiva de uma... vagina. Isso mesmo: v-a-g-i-n-a.
Ou seja, um filme tipo “b...”, mesmo. E o bê aqui não é de bunda, enfim.
Não se assustem. Vai passar na TV e tudo mais (verdade que a campanha será exibida somente na Holanda e na Bélgica ao longo deste ano, países de tradição, digamos assim, mais liberal quanto aos costumes).
O Lactacyd – pesco do sítio do fabricante – é “uma emulsão suave recomendada para a higiene íntima a partir da puberdade”. Mas bom mesmo é a defesa publicitária de quem elaborou a peça: “A ideia é mostrar os perigos a que a vagina está submetida diariamente e que o Lactacyd ajudaria a prevenir.”
Já quanto aos muitos perigos que oferece o “conduto musculomembranoso” (definição do Houaiss), não existe remédio.
O que me faz lembrar da maravilhosa antologia “Uns fesceninos”, organizada por Oswaldo Lamartine ali pelos inícios dos 70. O livro foi recentemente reeditado pela Capitania das Artes, ainda no tempo de Dácio Galvão. Lá pela página 37 o leitor encontra o “Bicho venenoso”, que começa assim: “Tatu mora no buraco./ Guaxinim, beira de praia,/ Bicho que mata homem/ Mora debaixo de saia.”
E segue, pícaro, moleque.
Quem me contou a história foi Vicente Serejo: os versos eram de um militar que, pateticamente, solicitou ao antologista que tirasse seu nome do livro, que não ficaria bem à sua condição de homem de armas etc. Lamartine não contou conversar: pegou grande parte da edição, ainda em suas mãos, e com um estilete tirou fora a página com o nome do covarde, riscando o nome também da “Tábua”, que era como chamou o índice dos fesceninos.
*
TRADIÇÃO
Não é qualquer uma que pode se candidatar à Rainha do Carnaval de Natal: entre outras obrigações burocráticas, aquelas de não ser casada e de “não ter nenhum compromisso que venha a comprometer o seu reinado”.
Já o Rei Momo não pode pesar menos de 100 quilos.
SHOPPING
No Orla Sul, hoje, tem o Toca Trio às 18h e André Leli às 19h. Chegue um pouquinho antes e confira as mulheres-borboletas da exposição de Dona Miriam de Sousa e a natureza das irmãs Rocha, Miriam e Lúcia.
FOLKLORE
Depois de lançar “O saci de duas pernas” nesta Capital, Djair Galvão Freire lança o livro hoje, 19h, na Agência de Desenvolvimento Sustentável do Seridó – ADESE – em Caicó City.
Como não poderia deixar de ser, o livro está sendo um sucesso nas ribeyras do Putigy (também, com tanta caipora, curupira, cuca, lobisomem e mula-sem-cabeça, só faltava mesmo um saci com duas pernas – e dizem que os há com mais de duas).
BIMBALHAM...
Festa no Bardallos. Aniversário. Quatro aninhos. Amanhã. Tem exposição coletiva em homenagem a Diniz Grilo com artistas de várias décadas: Nazário (década de 60), Arruda Sales e Gilson Nascimento (70), Carlos Sérgio Borges, Fernando Gurgel e Marcelus Bob (80), Fábio Eduardo, Fernando Galvão, Franklin Serrão e Valderedo (90).
... OS SINOS
Na hora da Ave Maria tem show coletivo com os convidados Donizeti Lima, Edja Alves, Geraldinho Carvalho, Iggor Dantas, Isaque Galvão, Rodolfo Amaral e Romildo Soares.
Às 20h30 sobe no palco a Balalaika Brega Band, e, às 22h, o black Neguedmundo.
Não deixe para amanhã (R$ 10) a senhas antecipadas que você pode comprar hoje (R$ 5).
O Bardallos fica na Rua Gonçalves Ledo, 678, Centro Histórico e Histérico desta Capital Verde.
MUÍDOS
Amanhã tem Forró do Muído e Banda Eva. No Circo da Folia, Pirangi do Norte, a partir das oito da noite (com ampla movimentação de cambistas e compradores parando seus automóveis em fila dupla, tripla, quádrupla etc – pra Polícia e o Detran não dizerem que não sabiam).
MATUTAGEM
Amanhã, no Forró do Pote, 21h, o matuto Jessier Quirino volta a atacar com seus causos num recital de mais de hora de risadas.
O bom é que a abertura fica por conta de Zé Hilton e Jubileu. Pra reservar uma mesa e quatro tamboretes: 3081.3163.
APPLE
Já neste domingo, 18, 17h, a Companhia Manacá de Teatro abre a temporada Zero-Nove de teatro infantil no Alberto Maranhão, Ribeyras do Putigy. O espetáculo da vez é “Branca de Neve e os sete anões”, que todo mundo sabe ser a história da mocinha, lindinha, fofinha, branquinha, com uma madrasta ruim feito o Cão que decide matá-la, primeiro contratando um capanga, depois com uma maçã envenenada.



PROSA
“No folhear da história universal das letras, esbarramos em passagens eróticas escritas nas suas mais diferentes idades pelos mais diferentes povos.”
Oswaldo Lamartine
Uns fesceninos
VERSO
“um pássaro palpita
em minha mão”
Diva Cunha
“um pássaro...”

quinta-feira, 15 de janeiro de 2009

Maior do mundo

Leio nas folhas, virtuais e de papel, que o Cajueiro de Pirangi é a saúva do trânsito deste Ryo Grande, bandas do litoral sul. Tipo: ou Pirangi acaba com o cajueiro ou o cajueiro acaba com Pirangi. Ou, como o pedreiro da canção: mesmo sem morrer, ele está lá, na contramão, atrapalhando o tráfego.
Aliás, vivo, muito vivo, não pára de crescer.
Aliás, “pára”, verbo, tem agudo? Pois, é isso: se até a reforma ortográfica pôde (mais um!) podar acentos tradicionais, por que cargas d’água não se pode (sem acento) passar a tesoura na cabeleira cajuína?
Ninguém responde, ninguém se responsabiliza.
Noves fora a querela – corta, não corta – o problema do trânsito passa, sim, pelo cajueirão, mas não apenas: em quase todo o trecho da famosa Rota do Sol dentro dos limites urbanos da igualmente famosa praia os problemas são muitos. A começar pelos bares e negócios que tradicionalmente se instalam às margens das estradas e rodovias sem a mínima preocupação de oferecer estacionamento à clientela.
Voltando para Natal, depois de enfrentar os galhos protegidos pelos gelos baianos, os motoristas continuam sendo testados nos limites da paciência em outros pontos: na altura da praça; nas imediações do Beleza – hoje Shok, ou Shock Bar –; próximo ao Pitanga; em frente ao Paçoca de Pilão; e, já perto da saída da praia, em frente ao Comeu, Morreu.
Ora, ora, não é preciso dois dedos de inteligência para saber que, um: Pirangi é a praia mais densamente povoada durante o veraneio, e os próprios veranistas, hoje, preferem sair de carro. Dois: pelo trecho passam todos aqueles que vêm de dezenas de praias, a começar por aqueles que vêm da Pipa pela beira-mar. Três: pela proximidade da Capital, muita gente também vem de lá, ou seja, automóveis do sul e do norte. Quatro: é inevitável que o ponto máximo de concentração sobre quatro rodas aconteça ali.
Pra piorar, a própria prefeitura estimula o uso indevido da Rota do Sol – o carnaval acontece literalmente ali. E, do outro lado, sentido norte-sul, o Circo da Folia arma sua tenda logo na entrada da praia e a administração sempre fez vista grossa aos milhares de ambulantes com suas cadeiras e mesas de plástico e seus carrinhos de lanches e bebidas. É incrível, mas esses bares improvisados são montados em cima do asfalto. Eu escrevi, “em cima do asfalto” – não existe nem acostamento ali.
É óbvio, muito óbvio que uma estrada que passe por fora de Pirangi se faz mais que necessário. E que o poder público cuide para que suas margens se mantenham livres desses nós. Quem quiser abrir seu negócio que bem aproveite a demanda, mas que se responsabilize pelo estacionamento regular da própria clientela.
Se não, corremos o risco de ter não apenas o maior cajueiro do mundo, mas o maior engarrafamento também.
*
FUN’
Saiu ontem, Diário Oficial, a lista de cargos comissionados para a Fundação Cultural Capitania das Artes – anotem:
Josenilton Tavares, para a chefia do departamento de atividades culturais; Jane Heyre, para a Usaf; Castelo Casado, para o departamento de execução de projetos e eventos e atividades especiais; Scilla Gabel da Silva, para a Lei Djalma Maranhão; Dionísio Outeda, Comunicação Social; José Áglio Melo, setor de informatização; Camilla Cascudo Barreto, assessoria jurídica; Cristina Maria Moura de Medeiros, chefe do Centro Cultural Jesiel Figueiredo; Francimário Vito dos Santos, chefe do Departamento de Patrimônio Cultural dos Bens Moveis e Imóveis.
Pausa pra tomar fôlego:
Ilana Felix de Oliveira, assessoria técnica; Marcos da Silva Martins, chefe do Núcleo de Artes Cênicas; Leonardo Dias Oliveira, para a diretoria do Memorial Natal; Lenilton Teixeira, para a Escola de Teatro; Henrique José Sousa, chefe do Núcleo de Qualificação; Odinelha Silva Targino Bezerra, como diretora do Centro de Museu de Cultura Popular Djalma Maranhão; Sânzia Pinheiro Barbosa, chefe do Núcleo de Artes Plásticas; Anisia Maria Marques, Núcleo de Dança; Cláudia Magalhães de Oliveira, Biblioteca Esmeraldo Siqueira.
Parece gente demais, mas, são apenas 18, e, vistos assim, no conjunto, um bom time.
‘C’
Muitos nomes vêm da gestão anterior, não necessariamente nas mesmas funções – entre eles, Josenilton Tavares, Dionísio Outeda, Ilana Felix, Lenilton Teixeira, Sânzia Pinheiro e Anisia Marques.
‘ART’
De um observador cultural (não comissionado), sobre a Biblioteca Esmeraldo Siqueira (antes ocupada por Galvão Filho): “Tudo a ver – saiu um músico pra entrar uma dramaturga na coordenação de uma biblioteca...”
‘E
Mas resta uma perguntinha: Castelo Casado, ao ocupar a nova função, não estaria se impossibilitando (olha o gerúndio aê) para prestar serviços à Funcarte?
Profissional e figura humana dos melhores, Casado não merece entrar em nada questionável.
BULÍCIO
Seguindo a linha dos colunistas da Capital, a pergunta: Quem foi visto entrando na sala de Cesar Revorêdo semana que passou?
Contrariando a regra de não dar uma resposta, pois: Um bocado de gente, claro. Mas entre os muitos, Carlos de Souza.



PROSA
“E é justamente na sensação de vias-de-fato do caju que está a conceitualidade marxista dele.”
Mário de Andrade
O turista aprendiz
VERSO
“Por essa praia, essa saia, pelas mulheres daqui”
Chico Buarque
“Deus lhe pague”

quarta-feira, 14 de janeiro de 2009

Minha vida em quadrinhos

Fui inventar de falar sobre o jornalismo em quadrinhos de Joe Sacco (“Palestina: uma nação ocupada” e “Palestina: na faixa de Gaza”), ant’ontem, e me lembrei que de quadrinhos tenho muito mais a falar.
Cresci num mundo cheio de personagens de Walt Disney – poderia até dizer que minha infância se passou em Patópolis. Deve ser por isso que nunca levei a sério o livro de Ariel Dorfman e Armand Mattelart, “Para ler o Pato Donald”. Aliás, nem terminei de ler.
Foram anos e anos em que, quase literalmente, devorava quadrinhos, em especial os de Disney – as edições especiais, “Os caçadores”, “Os cineastas” etc, por exemplo, eram especialmente apreciadas: traziam uma série de histórias voltadas ao tema que as intitulava e eu chegava ao cúmulo de ler cada mínimo detalhe, incluindo aí a lombada. Era um troço meio esquizofrênico, reconheço.
Depois, salvo engano pela primeira vez pela L&PM de Porto Alegre, conheci Hugo Pratt e Guido Crepax. Lá se vão umas três décadas e os dois italianos continuam fazendo parte da minha tríade preferida no setor (o outro é o também italiano Milo Manara). Pra contrabalançar a centena de personagens femininas de Crepax e Manara (com Valentina e Miele – uau, uau – na cabeça), o viajante Corto Maltese, alguém sem emprego fixo, sem lar definido, viajando pelo mundo.
Ainda hoje me arrependo não ter ido a uma exposição de desenhos de Hugo Pratt numa galeria romana: fiquei com medo de vender o pouco que tinha para comprar um original, ou, pior, de cometer qualquer loucura tipo roubar um quadro da parede. Pratt faleceu pouco depois.
Mas, bem antes (e bem antes do livro de Dorfman), quando do meu primeiro emprego assalariado como estagiário concursado no hospital de Severino Lopes, minha primeira paga teve destino nobre: uma série de serigrafias numeradas e assinadas pelo autor, ninguém menos que Albert Breccia. Era uma releitura visual em quadrinhos para “O coração denunciador”, de Edgar Alan Poe. Não sei como, o mimo apareceu numa livraria ali pela Deodoro, e eu não hesitei em pagar o equivalente a um salário mínimo, ou até mais, pra levar as pranchas pra casa. Ainda estão comigo, esperando o dia em que eu tenha uma sala gigantesca para pendurá-las numa parede enorme.
Dos perdidos, não sei onde foi parar minha edição espanhola, capa dura, lux de luxo, para a versão de Crepax para “Historia de O”. Tampouco sei como minha coleção de “Tex” – e posteriormente “Ken Parker” – foi sumindo, sumindo, paulatinamente sumindo, até não restar nada. Crescer e mudar de residência implica nestas perdas, reais e simbólicas.
Mas ainda tenho quase tudo que comprei na segunda metade da década de 80, um período editorial bastante fértil neste Brasil brasileiro. É da época as primeiras edições de “V de vingança”, de “Elektra assassina”, de “Orquídea Negra”, de “Sandman”, de “Asilo Arkham” (e de muitas versões para Batman, o homem-morcego, o personagem, talvez, mais quadrinizado desde sempre).
No início dos 90, impossível não citar os “Classic Illustrated” da editora Abril – que abriam com “Moby Dick” adaptado por Bill Sienkiewicz.
E as “Grandes Aventuras”, publicadas pela revista Animal? E a série “Graphic Novel” publicada pela Abril? Não eram edições luxuosas, mas tampouco faziam feio graficamente e custavam bem menos que as atuais da Conrad, Devir etc. Mas o leitor brasileiro podia ler pela primeira vez e conhecer personagens alternativos como “Ranxerox” e “Necron”, e autores idem como Miguelanxo Prado e Jaime Martin.
Recentemente (recentemente para mim são os últimos dez anos) tive dinheiro suficiente pra comprar muitas edições de “Sandman” (80 paus em média) – edições bem cuidadas, capa dura etc. Mas as que eu gosto mesmo, como bagagem sentimental, e por que não dizer literária, são essas citadas, retratos de uma época, retratos de várias épocas, com preços esdrúxulos para os dias de hoje (em cruzados novos, em cruzeiros, em muitos ou poucos zeros). Impagáveis, enfim.
*
CLARA CROCODILO
Arrigo Barnabé anda fazendo uns shows em Sampa, releituras do seu clássico “Clara Crocodilo” – que, vinte anos depois, continua sempre atual.
Já Rogério Flausino e a turma indigesta do Jota Quest resolveram profanar – logo quem? – Serge Gainsbourg. Valei-me deus.
MATERIAL ESCOLAR
Não, não é merchandaizín, mas até agora os únicos descontos – dignos – para a compra do fatídico material escolar que o sobrescrito viu são os da Casa Sarmento: 30% à vista e 20% no cartão de crédito. (Isso, num “feirão” realizado fim-de-semana passado – resta saber se continuam e conferir os preços.)
PROVÍNCIA
Dia desses, Mônica Bergamo, na Folha, noticiou a abertura de um novo restaurante do chef Alex Atala. Onde? Nos Jardins, claro. Detalhe? Mais de 300 marcas de cachaça.
Enquanto isso na Capital Espacial do Brazil.
H 2 O
É hoje, Midway, 19h, que João Bosco Sousa lança “Um gole d’água para refrescar a memória”.



PROSA
“Habitamos uma enorme revista Disneylândia, devemos aceitar com otimismo esta fantasia, e não nos envenenaremos com a retórica de que é urgente voltar à realidade.”
Dorfman e Mattelart
Para ler o Pato Donald
VERSO
“Ardemos todos: ninguém escapa.
Viver é queimar-se.”
Vozniessiênski
“Incêndio na...”

terça-feira, 13 de janeiro de 2009

Doido, doido, muito doido

Queria ser doido. Juro. Doido, doido. Não doido de rasgar dinheiro, que doido assim não queria ser. Mas doido de tirar a roupa na rua. E gritar no meio da rua. Ou da janela aberta pro meio da rua, ou na varanda. Doido, doido. Tão doido assim, quero ser, por quê?
Ora, piúlas! Porque essa turma do carro-aberto-com-o-som-ligado deixa qualquer um maluco. O troço não é bem forró. É uma mistura de forró com funk – carioca, claro. O funk. Pois. É um martelo no quengo de qualquer cidadão com um mínimo de senso – bom senso, claro. Essas músicas [sic] repetem sempre uma ladainha à guisa de refrão – tem uma que diz: “requebra, requebra, requebra, requebra, requebra, requebra...” E por aí vai, ad infinitum, ad nauseam. Variação, noutra: “cachaça, cachaça, cachaça, cachaça, cachaça, cachaça, cachaça, cachaça...”
Doido. Muito doido.
Então. Queria ser doido pra, diante duma vizinhança assim – som ligado além de alturas inimagináveis (eu, a meio quilômetro de distância) – sair à rua e me postar em qualquer lugar bem visível a eles (estão sempre em turma) e começar a gritar e a berrar e a dizer sandices. Quem sabe até tirar a roupa. Me exibir nu em pêlo (a reforma tirou o circunflexo de pêlo? Sei não, deixa ele aí). Causar escândalo, incomodá-los, enfim, como eles estão me incomodando.
Mas sabem o que me incomoda mais? É que a música [sic] que eles ouvem – e nos obrigam, a quilômetros, a ouvir – em tese é música para dançar. Mas ninguém dança! Estão lá como dois de paus, aboletados em tamboretes ou cadeiras brancas de plástico, enchendo os cornos de álcool. Um bando de machos, reparem bem: quase sempre não tem moça, donzela, tampouco rapariga no meio da roda. Um bando de machos a exibir músculos, a entornar litros de cerveja, a simular conversa impossível por que, se não se ouve nada a quilômetros de distância, como se haverá de ouvir qualquer coisa no meio do furacão sonoro?
Pois. Doido, muito doido, eu tiraria a roupa, faria gestos imorais, gritaria a plenos pulmões, faria um escarcéu tão grande que eles, ou se recolheriam, ou chamariam a polícia. Daí, doido que já estou, chamem até o papa, o bispo, aquele delegado, como é mesmo o nome? – Maurílio Pinto –, enfim, chamem qualquer um que eu não tô nem aí. Tô doido mesmo. Aliás, como todos com essa música de.
*
KAFFIYEAH
Hoje, 18h, no auditório da Ordem dos Advogados do Brasil deste Ryo Grande, o professor Hanna Safieh profere palestra sobre a questão palestina.
Safieh sabe o que diz: é palestino e, na prática, cidadão desta Cidade dos Reis Magos.
SIN CITY
Aos concluintes de Arquitetura e Urbanismo da UnP que colam grau hoje à noite no Boulevard Recepções: lembrem-se que além de arquitetura o curso é também de urbanismo – façam, pois, a sua parte para uma cidade menos indecente.
Não vou nem recomendar nada aos concluintes de Direito (depois de amanhã, mesmo local).
PESCARIA
A Fundação Zé Augusto dá não apenas o peixe, mas ensina a pescar: promove amanhã uma oficina de elaboração de projetos para concorrer ao prêmio Núbia Lafayete.
Para relembrar, são 46 projetos e uma ruma de dinheiro – divididos assim: dez projetos recebem, cada um, R$ 4 mil; vinte projetos recebem, cada um, R$ 3,5 mil; e 16 projetos recebem, cada um, R$ 2,5 mil.
A oficina vai capacitar e orientar músicos, produtores e quem mais tiver interesse em gravar um CD. Começa às 9h, de amanhã, quarta-feira, no Teatro de Cultura Popular, Rua Jundiaí, 641.
LETRA & MÚSICA
Fernando Fernandes, secretário de Turismo Estadual, garante a Pipa Literária – feira, festa, encontro etc – para o primeiro semestre do ano. E aponta três possíveis shows: Fernanda Takai, Luiz Melodia e Roberta Sá.
Bom, bom.
Garante também a participação – musical e literária – dos nativos deste estado.
Legal.
SIR CHARLES
Dando pitaco, eu insistiria num convite ao editor Charles Cosac, da Cosac Naify. Pra falar sobre a sua editora, um “case” em se tratando de livros de elaborada apresentação visual no mercadinho brazuca.
Convite provavelmente a ser recusado pelo tipo, famoso pelo exotismo. Mas, quem sabe.
CALÇA DESBOTADA
Charlando com Ailton Medeiros semana passada lá vem o assunto reforma ortográfica: o polemista está disposto a contratar um professor particular apenas o assunto se consolide, solidifique, enfim. Eu aproveito pra avisar aos leitores: a coluna vai passar muito tempo ainda escrevendo à moda antiga.
Só não prometo mandar flores, nem o velho terno. Já a calça desbotada...
PRATO FINO
Morreu semana passada Dona Edith do Prato: natural de Santo Amaro, Bahia, participou do clássico – e experimental – “Araçá azul”, de Caetano Veloso.
Soube que a Biscoito Fino relançou há alguns anos seu único disco, “Dona Edith do Prato e Vozes da Purificação”. Vamos à cata.
GLOBAL
A Discomania (galeria entre a Vigário Bartolomeu e o Beco da Lama) tem um LP (assim, meio mal conservado) da cantora Maysa, quando ainda assinava Maysa Matarazzo.



PROSA
“O amor comove e a violência seduz.”
Tony Monti
eXato acidente
VERSO
“Muita Loucura faz Sentido –
A um Olho esclarecido”
Emily Dickinson
“Muita Loucura...”

segunda-feira, 12 de janeiro de 2009

A Palestina em quadrinhos

Até um dia desses a conta chegava aos 650. Seiscentos e cinqüenta o quê? 650 palestinos mortos. Continua apenas um número, verdade? 650. Palestinos. Mortos – não se sabe quantas mulheres, quantas crianças, quantos homens. Aliás, a morte de mulheres e crianças não é mais terrível do que a morte de homens, acho. Para saber mais sobre o assunto procurem nas livrarias duas obras fundamentais do jornalista Joe Sacco – “Palestina: uma nação ocupada” e “Palestina: na faixa de Gaza”. Foram publicados, no Brasil, pela Conrad, em 2000 e 2003, mas qualquer livraria de vergonha deve(ria) tê-los em estoque. Não se admirem que pareçam histórias em quadrinhos. São. Exatamente isso. Histórias reais dos “perdedores da história”, para usar um termo empregado por Edward Said no prefácio do segundo: “banidos às margens ou vagando em desalento, sem muita esperança ou organização – a não ser por pura rebeldia, pela força de seguir em frente, quase sempre ignorada, e pela disposição para se agarrar à sua história, contá-la repetidamente, e resistir a planos de expulsá-los de uma vez.”
Alguém dirá que é apenas um lado da notícia. Que seja. É um lado, pois, que nos interessa, esse, dos “perdedores da história”.
O ponto de vista de Sacco não se detém nos grandes protagonistas, mas nas pequenas histórias cotidianas, de anônimos, nas feridas dos moradores dos campos de refugiados, balas de borracha, balas reais, marcas de uma guerra diária. Os feridos as exibem às vezes com revolta, às vezes com orgulho, quase sempre com ambos os sentimentos ao mesmo tempo. (“Você ouviu o Mohammed dizer que nunca foi preso?”, pergunta um entrevistado ao jornalista – “Ele tem vergonha disso”, conclui.)
Tão acostumados – e anestesiados – estamos com as imagens na TV, de morte, bombardeios, escombros, explosões, separados pelo tubo catódico, pelo plasma ou LCD dos dias de hoje, que ler os quadrinhos jornalísticos de Joe Sacco termina nos aproximando da verdade. Aquelas pessoas, desenhadas em traços beirando o grotesco, distantes da estética dos walt disneys e maurícios de souza da vida, são reais, o terror em que vivem é real.
E Sacco despe-se de vez da suposta objetividade do jornalista: desenha a si mesmo em meio à ação, como parte integrante e inseparável do que quer noticiar, segundo o lado que optou retratar (o lado dos “perdedores da história”, lembram-se?). Mais: despe-se do papel de herói, que muitos correspondentes de guerra preferem assumir, e mostra-se inquieto, com dúvidas, inseguro, com medo, às vezes com o ego inflado pelos futuros elogios que sua reportagem em quadrinhos almeja alcançar – durante um confronto entre soldados e manifestantes em Ramallah, Sacco se desenha fugindo da briga, auto-irônico: “Não quero chegar perto demais... Prometi para mamãe que tomaria cuidado... Além disso, estou tremendo pra caramba... Decido dar a volta no quarteirão, aproximar-me pelo outro lado... É bom para o gibi. É bom para o gibi. É bom para o gibi.”
Os gibis saíram ótimos.
*
NÚMEROS
Relendo os dois gibis de Joe Sacco, pesco alguns números:
No primeiro ano da intifada, 1987-1988, 400 palestinos foram mortos, vinte mil feridos.
Nos primeiros quatro anos da intifada, os israelenses cortaram 120 mil oliveiras de palestinos (Sacco desenha o rosto enrugado de um palestino, alguns dentes faltam na boca aberta – o velho foi obrigado pelos soldados a cortar suas próprias árvores: “Eu estava chorando... senti como se estivesse matando um filho...”).
Nos primeiros quatro anos da intifada, os israelenses demoliram 1.250 casas palestinas.
Nos primeiros quatro anos da intifada, os colonos israelenses mataram 42 palestinos – apenas três julgamentos foram concluídos, a maior sentença foi de três anos. “Por outro lado”, conta Sacco, os palestinos mataram 17 colonos – nove palestinos foram a julgamento, seis deles condenados a prisão perpétua.
FÓRUM
Os alunos da UFRN que desejem participar do Fórum Social Mundial – este ano em Belém do Pará – podem procurar o Comitê Universitário “Chico Mendes” ou Bruna Massud (8873.1656). A turma parte próximo dia 24 e retorna no segundo dia de fevereiro. O custo? Duzentos paus.
INÚTIL
“Pequeno ritual das coisas inúteis”, de Theo G. Alves, é o próximo lançamento da Flor do Sal. Para janeiro, mais tardar fevereiro.
LOCAU
Hoje tem “Sarau Locau! – Recital de Verão” em Pium, litoral sul deste Ryo Grande. A partir das 19h, no ZenBar Café, Rota do Sol (em frente ao ginásio de esportes). Grátis.
CARNAVALHA
Gutenberg Costa email-a-me para contar que o “Antigos Carnavais” entra em seu oitavo ano, próximo 6 de fevereiro, a partir das 17h: o frevo parte da velha Catedral, Centro Histórico, e desce a ladeira, onde rola o Baile da Saudade, na Ribeyra Velha de Guerra.
“A nossa banda com 60 músicos é comandada pelo maestro Rezende e só toca frevo”, alerta o folclorista – que lembra, sem choro nem vela, que continua sem patrocínio algum para um livro que escreveu sobre a história do carnaval natalense, derna 1877 até os dias de hoje. Para ter uma idéia da iconografia, Costa tem mais de 500 fotos antigas do nosso carnaval.
Alguém aí se habilita a patrocinar a obra?



PROSA
“Os habitantes vêem as estrelas do meio-dia às vezes nas fronteiras de suas pátrias.”
Mourid Barghouti
Eu vi Ramallah
VERSO
“Foi aí que me dei conta
da tamanha inimizade comigo mesmo”
Márcio de Lima Dantas
“Comigo me desavim”

sábado, 10 de janeiro de 2009

Adivinhe quem vem para o café-da-manhã: Márcia Pinheiro

Não é a primeira vez que Márcia Pinheiro aparece por aqui, notará o leitor mais atento. Nem tampouco esta segunda vez será a última, acrescenta o sobrescrito. Mínimo porque, como leitor, gosto do que Márcia escreve (ela agora tem um novo blog, além do antigo “Se me perguntarem”: http://parecequefoiassim.blogspot.com).
Aliás, melhor deixar que ela mesma se apresente, como faz em seu blog: “Márcia, natalense por descuido ou destino, com um pé em Japecanga, outro em Pium e a cabeça no mundo. Ex-blogueira no www.semeperguntarem.blogspot.com, atual blogueira aqui. Acreditando em e desacreditando de astros, bruxas e afins, sol em virgem, ascendente áries, lua-escorpião. Sobre lua em escorpião já foi dito: ‘a mais temida Lua faz com que a pessoa lide, desde sempre, com o lado negro da vida. Como também com a magia e com a sexualidade intensa. Lua de feiticeiro, porque o feiticeiro é aquele capaz de transformar merda em ouro. Lua-Escorpião mete medo em quem tem medo da paixão, quem tem medo da intensidade das emoções que correm por baixo do pano da consciência clara e cristalina, repleta do que sim e do que não. Lua-Escorpião traz fortes emoções, que permanecem escondidas, e ensina: 1. a saber guardar segredo; 2. a superar-se; 3. que o inimigo é o próprio escorpião"(João Acuio). Pode ser. Ou não.”


A COBRA, O ANO NOVO, A DOR E A CURA
Então não conseguia mais andar. A planta do pé tocando o solo irradiava dos dedos à base da coluna vertebral o choque, depois dor, depois enrijecimento, depois espasmo, depois dor, depois choque. Nem padiola, maca, raio x, injeção, nem maravilha curativa, remédio que quando não cura mata, quando não cura a doença mata o sujeito, nem o homem da mala anunciando catuaba composta, erva milagrosa, nem cobra nem jacaré. Minto. Cobra sim, que foi ela a responsável pelo que sucedeu, por tudo, aliás, desde o início dos tempos – rezam as Escrituras.
Era uma beleza, o lugar: beira-mar, beira-rio. Chegando apressada, pacotes de supermercado, carregando, sacos de gelo, pesando, e sssss, lá vinha, ligeira, serpenteando, na porta de entrada - em sua função, claro, serpente que era, de nascença.
Nem se pára, hora dessas, pra ver se é peçonhento ou não o bicho – cabeça triangular ou arredondada, escamas brilhantes e tal –, e assim, reativa, sapecou-lhe em cima o saco mais pesado, o de gelo, imobilizando-a, e no movimento brusco, paralisou-se também, nervo ciático pinçado, talvez, disseram. Dor. À mão chegaram um rodo e uma rede, dessas de limpar piscina, e não soube o que fazer nem com um nem com a outra. Acudiram, então, acorreram, matando o infeliz pequeno réptil a golpes de rodo. O pobre. Uma pena.
Passos lentos, subindo escadas até o quarto, até a varanda, de onde ondas batendo, de onde milhares de estrelas no céu e primeiros fogos de artifício anunciando o ano que nasceria dentro de quatro horas.
Velho vestido branco, tentou driblar a dor e concentrar novas esperanças, desejos, sonhos, resoluções. Vieram os drinques, vodka/suco de laranja, vinho, espumante e cada passo era um martírio.
Romaria até a fogueira, gente, festa, abraços, ano novo, ano velho, luzes dos fogos, risos, mais abraços, ondas lambendo os pés. E fim. Era já outro ano.
Vieram os analgésicos, antiinflamatórios, comprimidos, sublinguais, corticóides... E viria outro dia, que foi pior, e mais um, pior ainda, e no terceiro, finalmente, algum alívio, e o quarto dia, enfim, com a hora de pegar a estrada e voltar para casa, procurar um especialista, tentar a cura para a dor, já melhorada, ainda incômoda, ainda limitante.
O amigo sentenciou: isso aí na coluna é do seu medo de seguir em frente.
Com ou sem medo, seguiria - decisão de ano novo - afastando do caminho o que rasteja, sem que necessário seja sua aniquilação. Que no ano da Força, da abundância, da colheita, mesmo sem saber direito onde se vai chegar, é imperativo prosseguir.
Com ou sem dor, de pé. [Márcia Pinheiro]“maré cheia
a doença traz a dor e a cura
e semeia
grãos de resplendor
na loucura”
(“Pérolas aos poucos”, Zé Miguel Wisnik e Paulo Neves)



PROSA
“Alguém dizia que a Providência era o nome de batismo do acaso; algum devoto dirá que o acaso é um apelido da Providência.”
Chamfort
Máximas e pensamentos
VERSO
“O que de bom vem,
o que de ruim vai.”
Lisbeth Lima
“A conta gotas”

sexta-feira, 9 de janeiro de 2009

Notas de veraneio

GAZA
Quem quiser protestar contra o horror que acontece, há décadas, mas especialmente nos últimos dias, na Palestina, pode se juntar àqueles que promovem um Ato Público de Solidariedade ao Povo Palestino. Hoje, 16h, no calçadão da João Pessoa.
PANORAMA
Em se falando de Artes Plásticas (hoje Artes Visuais), começou ant’ontem a mostra “Prêmio Thomé Filgueira – Panorama das Artes Visuais”, que selecionou um mundo de gente: Agueda Ferreira, Alexandre Gurgel, Alexandrina Coelho, Cláudio Damasceno, Clayton Marinho, Conceição Oliveira, Diego Medeiros, Flávio Freitas, Genildo Mateus, Gilson Nascimento, Hanna Lauria, Ilkes Rosemir, Ivo Maia, Jean Sartief, Joca Soares, Jota Medeiros, Kelton Wanderley, Laércio Eugênio, Leandro Garcia, Luiz Elson, Marinho, Mário Sérgio, Max Pereira, Nayara Costa, Newton Avelino, Ricardo Cerqueira, Sofia Porto, Vicente Vitoriano, Vinícios Dantas e Wendel Gabriel.
PANORAMA II
Ou seja, 30 artistas, selecionados pela comissão julgadora (Afonso Martins, Célia Albuquerque e Fernando Gurgel), que vão dividir um total de R$ 50 mil.
Onde? Na Fundação Zé Augusto, Rua Jundiaí, quase esquina com a Afonso Pena.
VARAL
E, no Bardallos, amanhã, a partir das 13h, a Aphoto reúne associados e interessados para comemorar o Dia Nacional da Fotografia.
Que foi ontem, mas, enfim, como amanhã é sábado... rola uma “feijoada fotográfica” – com direito ao tradicional “Varal”: quem quiser leva uma foto 20x30 cm e pendura – a foto, bem entendido. Mais informações pelo número 8896.5436.
FACHADA
Em se falando de fotografia, saiu o resultado do concurso do Shopping Cidade Jardim: Ângelo Maciel levou o primeiro lugar e um prêmio de R$ 2 mil. Na seqüência, Débora Souza (R$ 1 mil), Thiago Palitot (R$ 500), Santiago Hernandez, Ricardo Seabra e Henrique José Concentino (R$ 300 cada).
As fotos já estão expostas na fachada do shopping.
CÃES & GATOS
Atenção, papais e mamães: “Bolt, o supercão”, em exibição nas duas únicas cadeias de pipocas da City, não é de todo intragável. Aliás.
A gatinha vira-latas, coitada, tem uma cena impagável, onde explica num gesto o porquê da existência de mais gatos de rua do que os tradicionais inimigos caninos.
CULT
Enquanto isso estreou ontem, no Moviecom, “Lanchonete Olympia”, que o release informa ser um filme “indie”, ou seja, daqueles independentes made in America. O diretor, Steve Barron dirigiu clipes para gente como David Bowie, Michael Jackson e o Culture Club – pra citar alguns “exóticos” ou pretensamente.
Já o Cinemark ataca de “cult” com o argentino “La Leonera” (com o brazuca Rodrigo Santoro no elenco).
SUMÉ
“Nas paredes da pedra encantada”, apesar de ter o lançamento previsto para meados deste ano, já pode ser visto no YouTube.
Calma, calma: ainda não é o do documentário, de Cristiano Bastos e Leonardo Bomfim, sobre o famosíssimo álbum “Paêbirú”, de Lula Côrtes e José Ramalho – por enquanto é apenas o trailer.
COCADA BOA
Gente esquisita mesmo rola lá pelo Praia Shopping – uma mistura de gringos tradicionais com uns tipos suspeitos. Coisas deste entreposto turístico.
Pois, muito a calhar o show de hoje à noite: Arleno Farias no espetáculo “Coca-Cola com Cocada” – 20h30.
EXPORTAÇÃO
Se o Centro Cultural do Banco do Nordeste do Brasil (CCBNB) não vem a este Ryo Grande, este Ryo Grande – como não – vai ao CCBNB (dos vizinhos Ceará e Paraíba): a Camarones Orquestra Guitarrística se apresenta no III Festival BNB do Rock Cordel; o violonista Alexandre Atmarama e o trombonista Gilberto Cabral se apresentam no IV Festival BNB da Música Instrumental, e o cantor Isaque Galvão, o baterista Di Stéffano, a banda Camba e o quarteto Café do Vento estão na programação regular do CCBNB da capital cearense.
EXPORTAÇÃO II
Além desses, a Companhia Escarcéu de Teatro de Mossoró participa do III Festival BNB de Artes Cênicas (com o espetáculo “Chico tira, Mané veste”), o grupo Carmim leva a consagrada “Pobres de Marré” aos três Centros Culturais, o Magiluth encena seu “Ato”, em Fortaleza, e a Domínio Companhia de Dança embarca para o Cariri para apresentar o “No caminho... sem pressa”.
EXPORTAÇÃO III
Por fim, mas não menos importante, o potyguar Marco Antônio França Albuquerque ministra oficina de formação artística – “Música e Corpo” – nos dois CCBNBs cearenses.
NE, BR
Tem dança, grátis, no TAM, próximo domingo, 11: é o espetáculo “O Nordeste é assim”, daCompanhia de Dança Jane Ruth, de Fortaleza. Às 18h.
TINTIM
A assessoria de imprensa da TIM – ao contrário da própria empresa assessorada – mostrou-se célere, educada, atenciosa, diante das reclamações elencadas, ontem, aqui.
Já o jornalista Luiz Gonzaga Cortez aconselha soltar o verbo à Anatel – “Aí a coisa funciona”, diz Cortez.
ADMIRÁVEL MUNDO NOVO
“A decoração tirou da casa a história das coisas e das pessoas. É como se o bonito pudesse ser substituído por um cardápio de estilos ou um mostruário de marcas.” – de Vicente Serejo, ontem, no vespertino JH, sobre a extinção dos quintais nesse Ryo Grande Sem Sorte.



PROSA
“A honestidade se afogou no lodo da corrupção e, como é clássico, só se salva se puxando pelos próprios cabelos.”
Millôr Fernandes
Millôr definitivo
VERSO
“Presumir o porvir não requer talento:
o torpor engravida a véspera.”
Kaváfis
“Tediário”