quinta-feira, 22 de janeiro de 2009

Uma noite no Catombo (I)

O título aí em riba não tá muito correto, não – o certo seria “Uma noite em Catombo”, talvez. E o que danado é Catombo? O mesmo que “calombo”, “inchaço”. É. Mas também é o apelido de Pedro Faustino da Costa, Pedrinho Catombo, pois. Aliás, era. Pedrinho morreu em meados do último dezembro, antes do Natal.
Um ano atrás, em crônica de 19 de janeiro, eu anotava, lá pelas primeiras linhas: “Vlamir Cruz bateu asas em Ponta Negra e provocou terremotos nas quebradas mais altas da Cidade Alta: no Bar de Pedro Catombo, um dos quartéis-generais de Abimael Silva, só o que se falava era nas histórias de trancoso de ‘Paêbirú’, o disco de Lula Côrtes com José Ramalho.”
Pois. Passou-se um ano e pouco estive no Catombo, umas duas ou três vezes, máximo. Melhor assim: quando a gente volta, volta com gosto. E o gosto da noite de ant’ontem era de cerveja gelada. Acompanhada de choro, chorinho. Uma dissidência, dizem, do Buraco da Catita. Prefiro a versão – mais ingênua, talvez – de multiplicação. Crescei e multiplicai-vos, então, esses encontros espontâneos dos artistas e boêmios, longe do poder público.
Antes, passagem demorada na Confeitaria Atheneu, pra saborear a paçoca de Dona Silvia – não sei se a melhor ou uma das melhores da City, mas que a danada é boa, isso é. E a cerveja sempre gelada. E o orelhão na calçada que toca e Dona Silvia atende, com a mesma paciência e calma com que serve bebidas e tira-gostos.
Mas a turma que conhecer o bar de Pedrinho: um paulista radicado em Portugal, um norueguês e três amigas do peito. E lá vamos nós pra Rua São Tomé, que imagino ser aquele santo que tudo tinha que ver pra poder acreditar.
Mesmo sem ter visto, acreditem: o choro tava bom, a cerveja ainda mais gelada, o público não era o caos do Buraco da Catita, as notas de K-Ximbinho alegravam os corações e a bexiga exigia uma visita ao mictório, pois. E eu que até então nunca tinha entrado no banheiro do bar. Que não existe, quer dizer, existe, mas é no final do corredor de uma casa ao lado. Sem essa de masculino ou feminino, a igualdade dos gêneros é o que há. Enquanto esperava na fila – pequenininha, diga-se – me veio em mente um papo com o norueguês, que tinha visto minha camiseta do El Floridita, o mais-que-famoso bar de Havana, Cuba, freqüentado por Hemingway. Ele me dizia que era preciso ir à Ilha antes que o negócio degringolasse após a morte de Fidel. Daí que eu fiquei pensando que, na falta de pesos, dólares ou euros para ir a Cuba, uma visita ao Centro Histórico desta Capital Espacial já compensa a pobreza de quem não pode renovar o passaporte.
E pensei que logo ali, praticamente por trás daquelas paredes, estava a prefeitura municipal desta Cidade de Reis e Rainhas. E que nem todos pesavam mais de cem arrobas, e que nem todas eram núbeis impossibilitadas do casório – como é exigido aos candidatos a Rei e Rainha do carnaval multicultural.
Continuo amanhã, se deus quiser e o diabo permitir.
*
ESPERA(NÇA)
“Naquela esplanada onde já houve um mercado de escravos, o movimento de quem chegava para a festa da posse de Barack Obama começou quando ainda era noite e a temperatura estava a -7°C, suficiente para congelar a água das garrafinhas. Nada havia para fazer senão esperar várias horas. Mas aquela gente esperou séculos.” – Elio Gaspari, que sabe escrever e sobre o que escreve, resumindo em poucas palavras o significado do dia de ontem, na Folha de Sampa.
FULLBRIGHT
Começa hoje e vai até o 19 de fevereiro a exposição fotográfica “Impressões visuais”, promovida pela Fulbright Brasil, comissão para intercâmbio educacional entre os Estados Unidos e o Brasil, que comemora meio século nesta terra onde se plantando tudo dá.
São 126 fotos, em cor e p&b, 17 delas agraciadas com importantes prêmios, como o Pulitzer, Esso e World Press Photo.
FULLBRIGHT II
A mostra abre logo mais às 17h30, com uma visita guiada pelo seu curador, João Kulcsár.
No Museu Café Filho, Rua da Conceição, 601, Cidade Alta, de terça-feira a domingo, das 8 às 17 horas.
SUNDOWN
Galvão Filho informa que também ele faz parte do projeto “Pôr-do-sol no Potengi”, às terças, quartas e quintas, sempre das 17h às 19h, no Iate Clube desta Capital.
Um bom programa, recomendado por amigos insuspeitos, independente da presença anunciada das ditas “celebridades locais” (mais da metade, claro, políticos).
Pois, hoje é quinta. E o sol há de se pôr. Mesmo entre nuvens.
AU AU
Começou a turnê brasileira de Alanis Morissette. Ontem, em Manaus, a primeira de 11 cidades (as mais próximas deste Ryo Grande, Recife e Fortaleza). A cantora veio ao Brasil com seus dois chihuahuas e exigiu vinhos das uvas syrah, sangiovese, pinot noir e rioja, além de uma garrafa de tequila Don Julio Reposado e água mineral das marcas San Pellegrino e Evian.
Suponho que para ela, não para os cães.
AGULHA
Não vão faltar oportunidades para quem quiser assistir ao documentário “Valentino, o gênio da alta-costura: estréia hoje, 21h, na GNT, com reapresentações dias 23 (3h), 24 (7h e 20h), 26 (11h) e 27 (14h).



PROSA
“Chega um choro. Clarineta, violões, ganzá numa série deliciosa de sambas, maxixes, varsas de origem pura, eu na rede, tempo passando sem dizer nada.”
Mário de Andrade
O turista aprendiz
VERSO
“Num beijo triste eu percebi que a sua intenção era fatal”
Del Loro
“Sonoroso”

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