segunda-feira, 31 de agosto de 2009

Belchior e os caramujos


O sobrescrito já estava ficando chateadinho, jururu, queixoso, tristinho etc. com a falta do que falar nessa manhã besta de segunda-feira, inda mais derradeiro dia desse mês tão desgostoso, quando passo os olhos num release salvador, senão da pátria, da alma minha que de gentil tem muito pouco.

Pois: “A central de endemias da Secretaria Municipal de Saúde de São Gonçalo do Amarante divulgou um levantamento que mostra o trabalho das equipes no combate ao caramujo africano nas comunidades do município. O relatório aponta as sete comunidades onde a atuação foi mais intensa em virtude do nível de infestação.”

O começo do release é chato, reconheço, mas a sequência é primorosa: se na semana passada comentaram que eu tive a pachorra de calcular a média anual de encontros carnais (vou falar “amorosos”, não) protagonizados pelo escritor Georges Simenon, a Secretaria de Saúde de São Gonçalo, se deu a trabalho de contar um a um os caramujos capturados nos limites do município – então, “de janeiro a junho de 2009 foram capturados 67.137 caramujos, sendo 2.888 no Gancho de Igapó, 2.845 no Centro de São Gonçalo, 1.537 no Santa Terezinha, 741 em Regomoleiro, 623 no Golandim e 292 em Guajiru.”

Ainda: “A comunidade de Santo Antônio do Potengi foi a que apresentou maior quantidade de caramujos, totalizando 58.211 e respondendo por 87% do total.”

Impressionante, a precisão numérica. Sessenta e sete mil e cento e trinta e sete caramujos – nem um a mais, nem um a menos. E não tenho por que duvidar da fidelidade da estatística. Fico só pensando como fizeram pra não perder a conta: jogariam os moluscos em baldes de cem? Em montes de mil? Estariam mortos? E se, durante a árdua contagem, um bichinho tivesse tempo, mesmo no arrastar malemolente que os caracterizam, de sair da pilha de Regomoleiro para aquela do Guajiru, alterando para sempre o resultado?

Meu deus, fico realmente e sinceramente preocupado com os detalhes que envolvem a operação.

Será que todos os moradores sabem que a espécie pode transmitir um bocado de doenças para os humanos? O bicho – me confirma o release – foi introduzido no Brasil como uma versão do escargot (uma espécie, digamos assim, de Big Mac dos escargots). E, se nesse nordeste do Brazil tem ainda gente que chafurda no lixo e há subespécies como o homem-gabiru, por que não imaginar que alguém pode ter a má idéia de cozinhar o caracol? Inda mais sabendo que os festivais gastronômicos são, hoje em dia, tão infestantes quanto o molusco africano, e à plebe já não basta o prosaico feijão, a banal charque.

Quanto a Belchior, sei nada, não. Foi só pra chamar a atenção de vocês, e, a menos que o Fantástico show da vida não tenha dado conta do seu paradeiro ontem à noite, desconfio que ele possa estar em Regomoleiro, se não por nada, mas porque me parece um bom lugar pra fugir do mapa. A menos que você seja um caramujo.

*

BIGODES

Mas, na vera, na vera, na vera, na minha opinião, de verdade, não tem mistério algum: liguem hoje seus televisores ali pelas nove da noite, depois do Jornal da Nação, e confiram se Gopal não é a cara de Belchior. Daonde tirou aquele bigode o ator André Gonçalves? Elementar, meus caros watsons.

FALANDO SÉRIO

César Revoredo, que vem a ser o atual presidente da Fundação Capitania das Artes – e além de tudo é jornalista e artista plástico – vai ser entrevistado logo mais, 13h30, no “Conversa franca”, programa da SimTV onde se conversa, claro, francamente.

ESTAÇÕES

Falando em Funcarte, é deveras emocionante saber que o Minc criou, derna 2007, uma tal “Primavera dos Museus”, e que o meu, o seu, o nosso Museu de Cultura Popular Djalma Maranhão (fica ali na Ribeyra) também faz parte dessa estação florida. Então, se liguem: a partir de amanhã e durante todo o mês de setembro, vão acontecer maravilhas – isto é, exposições, mostras de vídeos, palestras.

A notícia é auspiciosa porque, na vera, o negócio está mais para outono.

LISOS

“De Souza, na Paraíba, no CCBNB, até o [Teatro] Rival [RJ], foi muita emoção de um LISO que acreditou numa LISA, que a vida um dia ousou esnobar. Ficamos ricos de TRABALHO, RESPEITO E CARINHO DE AMIGOS E PÚBLICO.” – do produtor e marido de Khrystal, José Dias, sobre a trajetória da artista, cujo mais recente ápice aconteceu sexta passada, com a participação no Som Brasil, da Globo, em especial sobre a carreira de Alceu Valença.

PROSA

“Eu preciso descobrir logo o outro eu que vou me tornar, pois não gosto desse outro que as pessoas diferentes escolheram pra mim.”

Fábio Moon e Gabriel Bá

10 pãezinhos: crítica

VERSO

“Não havia platéia / Não havia ninguém”

Iracema Macedo

“Circo circundante”

sábado, 29 de agosto de 2009

Adivinhe quem vem para o café-da-manhã: Volonté

O poeta Volonté bate à porta. O poeta Volonté se anuncia. Desconfio que o poeta Volonté sempre desconfia de porteiros, e os porteiros sempre desconfiam do poeta Volonté, embora ninguém quase nunca desconfie que ele é poeta. Vocês já devem ter percebido (ou desconfiado) que o café-da-manhã hoje não é brincadeira. Noves fora, ninguém sai imune de um café-da-manhã com o poeta Volonté. Então, dizia eu, o poeta Volonté à porta. Me entrega o papel, dobrado. Minto: me entrega envelope de carta, sem selo, dentro o papel dobrado. De um lado meu nome, do outro seu outro ego: o poeta Volonté às vezes assina Manoel Fernandes de Sousa Jr. No espaço destinado ao endereço, anotou: Rua da Real Grandeza. Desconfio que seja verdade. Desconfio que o poeta Volonté viva realmente nessa rua com nome que evoca Realidade e Monarquia, Sonho e... Príncipe e mendigo, o poeta Volonté pergunta: “Quando sai?” E sugere ele mesmo a ilustração: “Aquela mulher de Goya, deitada.” Eu lembro que eu ainda perguntei se era La maja desnuda ou se La maja vestida mas não lembro mais sua resposta.

Atrás da porta – por Volonté

Hoje acordei pensando nela. No seu jeito de ser, sua ironia, loucura de um tempo, verão vagamundo, a paisagem de uma geração american grafith. Não sou cronista, réu confesso. Like a Rolling Stones. Não sei nem por onde ela anda. Perdi a coragem de vê-la. Acontece. Amor de índio. Sou mais um perdido no espaço sideral, quasar romântico. Penso nisso tudo enquanto vagueio meu pensamento entre o coração e a razão. Mar e oceano. [volonté]

*

por causa da mulher

Quem diria: como o poeta Volonté ocupou pouco espaço – acima –, seguimos com nota importante – abaixo –, e deixamos o poeta em mui boa companhia: a partir da próxima quinta (dias 2, 3 e 4 de setembro), começa o 13º Seminário Nacional Mulher & Literatura e o 4º Seminário Internacional Mulher e Literatura, promoção da UNP em parceria com a UFRN, UERN, IFRN e IFESP.

Vem gente do Brasil inteiro mais uns gringos dos Estados Unidos e de Portugal.

Longe de mim dizer que mulher fala demais, mas que na programação tem um bocado de conferências, mesas-redondas, minicursos etc., lá isso tem.

Entre as homenageadas, nossa (no sentido de potyguar, claro) Diva Cunha e a portuguesa Maria Tereza Orta. Diva, inclusive, deve lançar “Resina”, que só pelo título vale à pena.

Mas tem um bocado de coisa interessante, seja no seminário, seja nas informações do release, que é já um compêndio em si, organizado pelas mãos (femininas) de Anna Karlla Fontes e Sheyla Azevedo, da assessoria de comunicação do seminário.

Por exemplo: vocês sabiam que é a segunda vez que o seminário vem a Natal? Eu não, mas a primeira foi há 16 anos, ocasião em que Rachel de Queiroz lançou seu “Memorial de Maria Moura”.

Entre as conferencistas, nomes como o da americana Carole Boyce Davies, que pesquisa a escrita de mulheres negras e diáspora africana e caribenha, e que organizou a “The Encyclopedia of the African Diaspora”. Ou como o da também americana Susan Stanford Friedman, autora de “Mappings: Feminism and the Cultural Geographies of Encounter”, e titular, olha só, da cátedra “Virginia Woolf”. E, por fim, mas não menos importante, a mineira – e professora-doutora – Constância Lima Duarte.

Para mais informações: www.unp.br/mulhereliteratura

PROSA

“O bom chão; dormir no chão. Morrer, descansar no bom úmido chão, não mais imprudentes, não mais aflitos, não mais aflitos!”

Rubem Braga

200 crônicas escolhidas

VERSO

“No chão me deito à maneira dos desesperados.”

Drummond

“Mário de Andrade...”

Uma a mais

Cultura 280809

Me cai em mãos um livro, edição italiana, de Laura Laurenzi – “Infedeli, grandi amori e grandi tradimenti del novecento” (ou seja, “Infiéis, grandes amores e grandes traições do século 20”).

Parece fofoca, e não deixa de ser. Mas, do pouco que li, a autora é séria – no que ajuda as informações da rede mundial de computadores e etc.: jornalista com quase trinta anos de profissão, Laurenzi já escreveu outros títulos de interesse, digamos, social: “Vida de rico”, “Pecados de luxo”, “Amores e furores, as grandes paixões do século 20”, e “Grandes paixões homossexuais do século 20”.

Ou seja, uma Caras com mais profundidade e análise.

O livrinho em questão (nem tão livrinho assim: são mais de 400 páginas) é dividido em 13 almas, todas inclinadas a seguir a máxima de Santo Agostinho, “Ama et fac quod vis”, isto é, “Ama e faz o que quiseres” – quase um antepassado de Raulzito Seixas em sua “Sociedade alternativa”: “Faz o que quiseres pois é tudo da lei”. E viva a sociedade alternativa, embora de alternativa, no sentido marginal, apocalípticos e integrados sempre se igualaram no velho esporte de pular a cerca em busca de uma grama, quem sabe, mais verdinha.

As almas em questão, conturbadas ou não, são várias e distantes, além do motivo em comum de estarem na mesma antologia: Laurenzi parte do perfil de um gênio como Albert Einstein e chega ao retrato – por que não dizer? – genial de Carla Bruni: Albert e Carla, que não se conheceram, abrem e encerram o, digamos, “estudo”. Entre as pontas – e mato logo a curiosidade de vocês – outras cinco mulheres: a pintora Frida Kahlo, a atriz Marlene Dietrich, a cantora Maria Callas, a mecenas (e feia de doer) Peggy Guggenheim e Diana Spencer (sim, a Lady Di, que as princesas normalmente ousam pecar).

Dava pra escrever e comentar milhares de coisas, fatos, detalhes, disse-me-disse que o livro traz. Mas, enfim, vou me resumir ao que me chamou mais atenção, à primeira leitura: o escritor belga Georges Simenon, criador do famoso comissário Maigret, protagonista de dezenas de novelas policiais, afirmou ter amado 10 mil mulheres.

Isso mesmo: 10 mil mulheres.

Vou repetir de novo para vocês não pensarem que foi erro de digitação: 10 mil mulheres.

Como o sujeito nasceu em 1903 e morreu em 1989 – e afirmou ter começado sua “carreira” aos 13 anos – pode-se concluir, vejamos, que, em média, a cada ano, o vigor de Simenon conhecia, biblicamente, 136 mulheres.

É mole, ou quer mais?

Claro que não é mole: tudo isso aconteceu antes de inventarem a pílula azul da felicidade, masculina e feminina.

E claro que vocês querem mais, que todo mundo adora uma história picante, seus safadinhos. Então, se aboletem na cadeira que eu conto mais do que Laura Laurenzi contou sobre Simenon: quando Fellini lança seu “Casanova”, uma revista italiana coloca os dois em contato – Georges está entusiasmadíssimo com o filme: “Sabe, Fellini”, diz, “creio ter sido, em minha vida, mais Casanova que você.” Para depois explicar como chegou ao número com quatro zeros: “Desde os 13 anos e meio tive 10 mil mulheres. Não era, absolutamente, um vício. Não tinha nenhuma perversão sexual: o que eu tinha era apenas a necessidade de comunicar.”

Rapaz... se levarmos em conta que ele ainda arrumou tempo pra escrever mais de 200 livros... haja necessidade de comunicar e haja três pontinhos, até pra mim, que não gosto de usar reticências no que escrevo... ... ...

Mas o melhor é quando Simenon é questionado do absurdo da cifra – parece parar um pouco e pensar: “Dez mil. Sim, uma a mais, uma menos, talvez uma a mais.”

Não se pode negar sua humildade.

*

Federico

Tão impressionado ficou Fellini com o papo, que homenageou Simenon com o personagem Katzone (um jogo de palavras com, tapem os ouvidos, “pau-grande”) em “A cidade das mulheres” (1980).

SERGE

Essa semana um amigo – que conhece meus gostos – me manda uma boa e uma má notícia ao mesmo tempo. A boa: próximos 3 e 4 de setembro, no Sesc Pinheiros (Sampa, claro), Caetano Veloso se junta a Jane Birkin, um tal Vannier, que não conheço, e à Orquestra Imperial, para o show “Gainsbourg Imperial”, homenagem a Serge Gainsbourg (que, se não conheceu 10 mil mulheres, conheceu duas que valem por 20 mil – a própria Birkin e Brigitte Bardot).

A má notícia: os 2020 ingressos acabaram. Em apenas duas horas.

C’est la vie, mas que é uma merde, é.

O show faz parte da programação oficial do Ano da França no Brasil.

PROSA

“Ela então me contou seus pecados; primeiro, o primeiro, quando ainda era mocinha; depois o mais feio, que foi uma coisa que ela não queria.”

Rubem Braga

200 crônicas escolhidas

VERSO

“Este o nosso destino: amor sem conta, / distribuído pelas coisas pérfidas ou nulas”

Drummond

“Amar”

She loves you, yeah, yeah, yeah

Cultura 270809

O americano Nick Tosches, uma espécie de Gay Talese lado B, conta em seu “Criaturas flamejantes”(Conrad, 2006, sobre os primórdios do rock and roll), um episódio sintomático: corria o ano de 1976 quando duas adolescentes entram numa loja de discos em Los Angeles, “uma pegou um disco dos Beatles e chamou a amiga: ‘Ei, olha isso! Paul McCartney tinha uma banda antes dos Wings.’”

Hoje, provavelmente, quase nenhum adolescente da e na Aldeia Global sabe que Paul McCartney teve uma banda após a dissolução dos Beatles, e que essa banda chamava-se Wings.

Em vez, neste século 21 que caminha a passos largos, a impressão que se tem é que qualquer recém-nascido já é capaz de balbuciar, assim que possa, claro, três ou quatro melodias dos Quatro Cavaleiros de Sua, Nossa Majestade, o rock. Ou pop. Ou o grande negócio que ainda é a música, independente do acessos livres ou piratas na internet (não tão grande, claro, quanto era há 20, 30 anos).

Pois, se ainda não fosse um negócio razoavelmente lucrativo, não estariam sendo lançados, no próximo dia 9 de setembro, os 13 discos da discografia oficial dos Beatles. E, mais uma vez, remasterizados em chave digital.

A diferença – embora nos mais desconfiados tenha um quê de déjà vu a anunciação – é que a reforma na qualidade sonora das canções atingiu níveis magníficos, esplendorosos, extremos. Os adjetivos, para o que já ouviram o relançamento, não são exagerados. O crítico italiano Gino Castaldo, por exemplo, comparou o relançamento e o trabalho dos técnicos de som ao restauro realizado no teto da Capela Sistina, alguns anos atrás.

O que, por tabela, é também sintomático – ao aproveitar a deixa para comparar John Lennon, George Harrison, Paul McCartney e Ringo Starr ao gênio de Michelangelo Buonarroti. O que, mais uma vez e também, é ilustrativo – ao se entronizar, lado a lado, figuras de séculos tão distantes: o toscano, vivente entre os séculos 15 e 16, e os ingleses, no século 20 (dos quatro, apenas Lennon não alcançaria o século 21).

Noves fora os et cetera, vou contar uma historinha pessoal, também ilustrativa: sempre que eu saio com minha camiseta com as letras garrafais pretas sobre algodão branco, “SHE LOVES YOU YEAH YEAH YEAH!”, não são poucas as pessoas que identificam logo a autoria do refrão, mais pegajoso do que os versos de Claudinha Leitte. Em uma das últimas vezes, o embalador solícito do Nordestão sorriu, cúmplice, talvez surpreso em ver alguém tão velho quanto eu usando uma camiseta de uma banda que parece tão atual hoje quanto quatro décadas atrás.

*

OU TI SIDER

Aurora é o nome do novo blog do poeta Carlos Gurgel – confiram em auroracgurgel.blogspot.com.

Ainda folk

Começa hoje e segue até sábado o XVII Festival de Folclore e Cultura Popular do CEI, com a participação, entre outros, do repentista José de Acaci (da Casa do Cordel) e Erick Lima, ministrando oficina de xilogravura.

COMBO

Bem longe do apito e do suco de maracujá do Senado Federal, hoje tem rodízio de pizza no Budda Pub. Começa às 19h e o cidadão pode comer até às 22h, quando a Orquestra Boca Seca põe todo mundo pra dançar. Cuidado com a indigestão. Cada programa custa R$ 8, e os dois, claro, R$ 16.

Bela Vista

Hoje o Solar Bela Vista promove o seu 3º Sarau Cultural, com atrações várias como o grupo Som Brasil, a banda Cordas Ciganas, a dança flamenga de Bibiana Estevez, o repente de José Acaci e mais um bocado de coisas. De grátis. 18h.

FELIZ

Amanhã tem inauguração do Palhoção, novo bar da AABB, que propõe uma happy hour realmente happy: às sextas, das 19h às 23h. O “conjunto” Linha de Passe ataca de samba de raiz e versões clássicas de Cartola, Dolores Duran e Lupicínio Rodrigues. Ou seja, nem tão happy assim.

Voos

“Ao escrever sobre a sua vida de sabedoria e bom humor, ela reúne reminiscências, depoimentos, registros, emoções, lembranças, que são preciosas lições de vida.” – Olindina Maria da Cunha Lima Freire sobre “Os voos da memória”, da educadora Ieda Pessoa Cortez, que será lançado hoje, 18h30, terceiro piso do Midway.

E que já atualiza a nova grafia no título, sem o circunflexo que a memória insiste preservar.

Hell

“Bem, se estão procurando um santo, não vão achar.” – se tiradas como essa fossem postadas no twitter de Garibaldi Alves Filho (e que ele sacode a três por quatro nas entrevistas televisivas), eu juro que eu aderia à rede de microblogs.

PROSA

“Que outros sons me chegam da infância?”

Rubem Braga

200 crônicas escolhidas

VERSO

e dessa música surgiam meninas – a alvura mesma – / cantando.”

Drummond

“Evocação mariana”

quarta-feira, 26 de agosto de 2009

Meu nome não é Dilma


Hoje eu acordei me sentindo a própria Dilma Rousseff – sem peruca, sem câncer, sem plástica no rosto, nem bolsa paraguaya na mão – mas, tudo bem, fora isso, a própria Dilma R. Pois, repito, pra não restar dúvida: hoje eu acordei me sentindo a própria Dilma Rousseff – de tanto levar porrada. Crianças, tenho levado umas porradas que nem lhes conto. É verdade que também já acordei, dias outros, me sentindo, assim, digamos, que nem uma Marina Silva. Mas, vamos e convenhamos, é muito mais divertido acordar como Dilma – essa história de ficar à beira de um igarapé com os olhos sonhadores de Marina Morena, os cabelos evangélicos puxados pra trás e uma bibliazinha de pastor abraçada ao coração singelo não combina muito comigo, não. O bom mocismo de Marina – particularmente nesta manhã – me provoca engulhos. E, juro, bebi nada ontem, não. Só o básico, e tudo legalizado. Então, só pra enfatizar pra vocês, estou muito satisfeito, sim, nesta manhã, de chuva ou sol (que, claro, estou escrevendo ontem e ainda não despertei na pele daquela moça do tempo, como é mesmo o nome? – a Patrícia Poeta –, e não posso saber se a manhã de hoje é nublada ou ensolarada), muito contente, pois, em acordar, simbolicamente, metaforicamente, como uma Dilma Rousseff. De tanto levar porrada, já falei.

Aí entra aqui e agora a citação básica, recorrência infame dos cronistas aleijados, que precisam das muletas alheias pra explicar qualquer coisa de mais significativo – desta vez vou de Fernando Pessoa, “Nunca conheci quem tivesse levado porrada. / Todos os meus conhecidos têm sido campeões em tudo.”  E por aí segue, em linha reta, o “Poema em linha reta”: “E eu, tantas vezes reles, tantas vezes porco, tantas vezes vil, / Eu tantas vezes irrespondivelmente parasita, / Indesculpavelmente sujo...” Etc.

E nem é uma questão de banho ou de roer as unhas diante dos príncipes da vida. É só uma questão de porrada, mesmo, nem sei bem porquê, que nem presidenciável sou. E olha que por enquanto não posso nem reclamar dos golpes baixos, na altura da virilha – embora, como uma Dilma Rousseff recém-desperta, não sei se faria diferença.

Então, crianças, se também vocês, ou algum de vocês, estiveram feito eu, o corpo dolorido de tanto apanhar, não se preocupem: somos muitos. E nosso nome não é necessariamente Dilma Rousseff – pode, inclusive, ser até Lina, ou Marina, ou Wilma, ou Micarla, ou qualquer outro. Mas, estejamos preparados – vem mais porrada por aí. Sempre vem.

*

FOLK

Hoje, a partir das 9h, tem homenagem ao tal do folclore no Colégio Ciências Aplicadas, com palestra, exibição de “Fabião das Queimadas, poeta da liberdade”, de Buca Dantas, seguido de conversa com o diretor.

FOLK II

Hoje tem também a Quarta Cultural do Mercado de Petrópolis.

Gray

Mais um sarau poético, hoje, na Aliança Francesa, 19h. A 5a edição homenageia o poeta Adriano Gray Caldas, e tem a participação do grupo Lumiar, interpretando músicas daqui e dacolá, ou seja, das ribeyras do Putigy e das margens, esquerda e direita, do Sena.

Ah! E rola também uma exposição do artista plástico Eduardo Alexandre.

FEIRA

Tem café da manhã, de grátis hoje, oito da matina, no restaurante Mangai: é a apresentação da Feira do Artesanato Potiguar, que vai reunir, como não poderia deixar de ser, artesãos de todo este Ryo Grande, e que este ano acontece no famigerado Presépio de Natal, Candelária, a partir de amanhã e até sábado, das 16h às 22h.

Política

E mais pra de tarde, antes do pôr-do-sol no Putigy, acontece “ato político” no mais que centenário Teatro Alberto Maranhão: é a apresentação do projeto final do Plano Nacional de Cultura, o Pê-eNe-Cê (não confundir com o Pê-A-Cê). A deputada Fátima Bezerra apresenta, o ministro Juca Ferreira e a governadora Wilma de Faria se fazem presente.

A conferir quem estará na platéia. Aguardem as colunas sociais e as atualizações, em tempo real, dos twitters.

Política II

O artigo de Serejo de antontem, neste vespertino, é um belo exemplo de como fazer análise política séria, objetiva e veramente isenta. E ainda com estilo.

FOLK-Política III

 “A feirinha de folclore travestida de literária, em Pipa, eh o avesso da idéia inicial minha e de Rodrigo Levino. Virou breguice oficial.” – de Alex Medeiros, em 136 toques.

PROSA

“Imprudente ofício é este, de viver em voz alta.”

Rubem Braga

200 crônicas escolhidas

VERSO

Não lhe, não me peçam opinião / que é impublicável qualquer que seja o fato do dia / e contraditória e louca antes de ser formulada.”

Drummond

“Apelo a meus...”

Babás quase perfeitas

Cultura 250809


Poucas babás teve o menino. Coincidentemente, décadas depois, quando o menino não é nem mais um retrato na parede, as lembranças vão ao encontro de apenas duas, uma que substituiu a outra, ambas irmãs, ambas muito jovens. Uma branca, outra morena. Da branca, babá oficial, lembra-se pouco. Lembra muito mais do que os outros falam sobre ela e sobre aquela época específica do que através de uma recordação própria. Que gostava de arrumá-lo nos fins de tarde para o passeio na calcada. Que gostava que as meias combinassem com os sapatos. Porque, naquele tempo, os meninos se vestiam com um certo rigor para a simplicidade do passeio na calçada. Quase não existiam parques, as praças eram poucas, o shopping ainda não tinha sido inventado, e o centro comercial da cidade (ou simplesmente “a cidade”) não era passeio vulgar, mas quase restrito a ocasiões especiais – o fim de semana, ou os dias festivos, como as vésperas natalinas em dezembros que anunciavam aos quatro cantos e ventos um janeiro à beira-mar.

Da outra, a irmã morena, tem recordações mais concretas – de um dia em que a acompanhou ao Alecrim, para resolver qualquer assunto burocrático do matrimônio que se aproximava: a babá ia casar. E quase vem de dizer: naquele tempo as babás casavam. E os preparativos para a cerimônia e para a festa envolviam também a família onde trabalhavam, porque – podia-se, pode-se dizer – as babás eram também “da família”. E quando partiam deixavam, além do novo endereço, saudades. Os mais radicais podem até enxergar, nos dias correntes, século 21, traços ou ranços da velha e ambígua relação Casa Grande-Senzala, nesse “da família” entre aspas – mas há muito de verdade inquestionável nisso.

As babás e empregadas faziam parte da família, mesmo – tanto que a ninguém vinha a idéia de mascarar qualquer culpa com o novo termo dos dias correntes, “secretária”.

Mas eu falava do menino, e da lembrança do menino sobre babás que o vestiam com cuidado e atenção, de como lhe davam a mão e o conduziam pelos supostos perigos da cidade, época em que a vida, a cidade e nada era tão perigoso assim. Ao contrário dos dias de hoje.  

*

booklet 3g

É o nome do primeiro laptop da Nokia, 1,25 kg, 2 cm, tela de 10”, todo construído em alumínio. Alguns dos diferenciais são a duração da bateria (prometidas 12 horas) e um GPS integrado, além, claro, da conectividade 3G. O lançamento será próximo 2 de setembro.

MAFALDA

Os nativos deste Ryo Grande, grandes conhecedores dos aires de Buenos Aires, poderão ter um atrativo a mais na capital argentina a partir de setembro: será inaugurada próximo dia 30, no bairro de San Telmo, uma estátua de Mafalda, criação do cartunista Quino. Não será bem um monumento, mas uma presença pros fãs interagirem – com cerca de um metro de altura, a personagem das histórias em quadrinhos será eternizada sentada num banco.

Em setembro a menina Mafalda faz 45 anos.

Descartável

A Seleções Reader’s Digest deve interromper sua publicação, que remonta a 1922, em seu país de origem (USA, claro) e à década de 40 nestes Tristes Trópicos.

O Washington Post, que anunciou semana passada a bancarrota, definiu a revista como “uma espécie de antecessora dos blogs de hoje, pioneira na informação descartável”.

2010

2010 não é só ano eleitoreiro: quem quiser fazer parte das programações para o ano vindouro dos Centros Culturais do Banco do Nordeste, em Sousa (PB) e Fortaleza e Juazeiro do Norte (CE), tem até o próximo 18 de setembro para participar do processo de seleção.

TOMBOS

Quem quiser conhecer melhor o Plano de Ação para as Cidades Históricas, sob a batuta do Instituto de Patrimônio Histórico e Artístico Nacional – IPHAN – pode comparecer hoje, dez da manhã, no auditório do Museu de Cultura Popular Djalma Maranhão, Praça Augusto Severo, ribeyras do Putigy.

interfaces

“Comunicação e Meio Ambiente: interfaces midiáticas e institucionais” é o título da palestra que a professora-doutora Luciana Miranda Costa, da Faculdade de Comunicação do Pará profere hoje, 8h30, no auditório C do CCHLA, UFRN.

Sapoti

Ângela Maria se apresenta no Seis & Meia de logo mais às, claro, 6h30 – p.m.

Paulo Lúcio é a atração local.

PROSA

“E havia um sossego, uma tristeza, um perdão, uma paciência e uma tímida esperança.”

Rubem Braga

200 crônicas escolhidas

VERSO

O que ontem disparava, / desbordado alazão, / hoje se paralisa / em esfinge de mármore”

Drummond

“Carta”