segunda-feira, 31 de agosto de 2009

Belchior e os caramujos


O sobrescrito já estava ficando chateadinho, jururu, queixoso, tristinho etc. com a falta do que falar nessa manhã besta de segunda-feira, inda mais derradeiro dia desse mês tão desgostoso, quando passo os olhos num release salvador, senão da pátria, da alma minha que de gentil tem muito pouco.

Pois: “A central de endemias da Secretaria Municipal de Saúde de São Gonçalo do Amarante divulgou um levantamento que mostra o trabalho das equipes no combate ao caramujo africano nas comunidades do município. O relatório aponta as sete comunidades onde a atuação foi mais intensa em virtude do nível de infestação.”

O começo do release é chato, reconheço, mas a sequência é primorosa: se na semana passada comentaram que eu tive a pachorra de calcular a média anual de encontros carnais (vou falar “amorosos”, não) protagonizados pelo escritor Georges Simenon, a Secretaria de Saúde de São Gonçalo, se deu a trabalho de contar um a um os caramujos capturados nos limites do município – então, “de janeiro a junho de 2009 foram capturados 67.137 caramujos, sendo 2.888 no Gancho de Igapó, 2.845 no Centro de São Gonçalo, 1.537 no Santa Terezinha, 741 em Regomoleiro, 623 no Golandim e 292 em Guajiru.”

Ainda: “A comunidade de Santo Antônio do Potengi foi a que apresentou maior quantidade de caramujos, totalizando 58.211 e respondendo por 87% do total.”

Impressionante, a precisão numérica. Sessenta e sete mil e cento e trinta e sete caramujos – nem um a mais, nem um a menos. E não tenho por que duvidar da fidelidade da estatística. Fico só pensando como fizeram pra não perder a conta: jogariam os moluscos em baldes de cem? Em montes de mil? Estariam mortos? E se, durante a árdua contagem, um bichinho tivesse tempo, mesmo no arrastar malemolente que os caracterizam, de sair da pilha de Regomoleiro para aquela do Guajiru, alterando para sempre o resultado?

Meu deus, fico realmente e sinceramente preocupado com os detalhes que envolvem a operação.

Será que todos os moradores sabem que a espécie pode transmitir um bocado de doenças para os humanos? O bicho – me confirma o release – foi introduzido no Brasil como uma versão do escargot (uma espécie, digamos assim, de Big Mac dos escargots). E, se nesse nordeste do Brazil tem ainda gente que chafurda no lixo e há subespécies como o homem-gabiru, por que não imaginar que alguém pode ter a má idéia de cozinhar o caracol? Inda mais sabendo que os festivais gastronômicos são, hoje em dia, tão infestantes quanto o molusco africano, e à plebe já não basta o prosaico feijão, a banal charque.

Quanto a Belchior, sei nada, não. Foi só pra chamar a atenção de vocês, e, a menos que o Fantástico show da vida não tenha dado conta do seu paradeiro ontem à noite, desconfio que ele possa estar em Regomoleiro, se não por nada, mas porque me parece um bom lugar pra fugir do mapa. A menos que você seja um caramujo.

*

BIGODES

Mas, na vera, na vera, na vera, na minha opinião, de verdade, não tem mistério algum: liguem hoje seus televisores ali pelas nove da noite, depois do Jornal da Nação, e confiram se Gopal não é a cara de Belchior. Daonde tirou aquele bigode o ator André Gonçalves? Elementar, meus caros watsons.

FALANDO SÉRIO

César Revoredo, que vem a ser o atual presidente da Fundação Capitania das Artes – e além de tudo é jornalista e artista plástico – vai ser entrevistado logo mais, 13h30, no “Conversa franca”, programa da SimTV onde se conversa, claro, francamente.

ESTAÇÕES

Falando em Funcarte, é deveras emocionante saber que o Minc criou, derna 2007, uma tal “Primavera dos Museus”, e que o meu, o seu, o nosso Museu de Cultura Popular Djalma Maranhão (fica ali na Ribeyra) também faz parte dessa estação florida. Então, se liguem: a partir de amanhã e durante todo o mês de setembro, vão acontecer maravilhas – isto é, exposições, mostras de vídeos, palestras.

A notícia é auspiciosa porque, na vera, o negócio está mais para outono.

LISOS

“De Souza, na Paraíba, no CCBNB, até o [Teatro] Rival [RJ], foi muita emoção de um LISO que acreditou numa LISA, que a vida um dia ousou esnobar. Ficamos ricos de TRABALHO, RESPEITO E CARINHO DE AMIGOS E PÚBLICO.” – do produtor e marido de Khrystal, José Dias, sobre a trajetória da artista, cujo mais recente ápice aconteceu sexta passada, com a participação no Som Brasil, da Globo, em especial sobre a carreira de Alceu Valença.

PROSA

“Eu preciso descobrir logo o outro eu que vou me tornar, pois não gosto desse outro que as pessoas diferentes escolheram pra mim.”

Fábio Moon e Gabriel Bá

10 pãezinhos: crítica

VERSO

“Não havia platéia / Não havia ninguém”

Iracema Macedo

“Circo circundante”

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