quinta-feira, 6 de agosto de 2009

Um dia a mais


Faltando menos de uma hora para entregar essa coluna pro jornal, eis-me aqui sem nada nos bolsos ou nas mãos, muito menos na tela do computador, atualização da velha página em papel e em branco à procura da tal musa inspiradora.

Escrever o quê e sobre o quê?

Pra enrolar e ganhar tempo, nada melhor que uma citação.

Pois, vamos de Carlos Heitor Cony, quase uma unanimidade se esta não fosse tão burra no entender de Nelson Rodrigues e seu óbvio ululante. Mas eu estou tumultuando o meio-de-campo e nem no meio-de-campo-ou-de-coluna chegamos ainda. Pois, dizia eu, antes de trocar alhos por bugalhos e meter Nelson Rodrigues por Carlos Heitor Cony: este último escreveu dias desses na Folha de Sampa sobre um cronista (provavelmente ele mesmo) que desenrolava suas crônicas em meros cinco minutos – e segue agora a citação prometida:

“Até o dia em que uma amiga o viu preocupado. Passara o dia fechado em si mesmo, não queria nada, pediu que ela ficasse quietinha, o deixasse em paz. Paz que ele prolongou até a tarde seguinte, quando teve de enfrentar o computador e desovar a matéria pedida pelo editor. Não gastou mais de cinco minutos. A amiga elogiou sua facilidade. Em poucos minutos saíra uma crônica que dava para o gasto.

“Olhou com espanto para a amiga. Ela contara apenas o tempo que ele digitara o texto. Mas esquecera de contar os dias, meses e anos que levara para chegar àquele ponto. Para ser exata, ela deveria contar 50 e tantos anos mais os cinco minutos gastos na digitação.”

E daí? – me perguntará o leitor mal-humorado. Daí, nada. Mas, se é verdade o raciocínio lógico do cronista de Cony, há 42 anos estou escrevendo isso aqui e olha que besteira tá saindo. Que vidinha mais sem graça, meu deus – eu poderia reclamar. Mas, não.

Melhor colocar logo um ponto final e esperar que amanhã, 42 anos, tantos meses e um dia a mais, a coisa melhore. Um dia a mais sempre faz a diferença.

Ou não.

*

ONDE

De um leitor atento aos novos tempos que emulam os versos de Dylan, “For the times they are a-changin’”: “Até Volonté virou o Wally do jet-descolado...”

São Francisco

Enquanto isso, até os mineiros – tradicionalmente solidários apenas no câncer – hoje se rendem aos encantos dos passarinhos e das abelhinhas.

BLACK IS BEAUTIFUL

Ariano Suassuna concede entrevista coletiva hoje, antes do meio-dia, no Salão Ouro Negro do Hotel Thermas. À noite, palestra no Circo da Luz.

United colors

Já Fabrício Carpinejar causou, digamos, um certo rebuliço antontem no Natal Shopping (ontem estava em Mossoró City). Com uma camisa colorida que falava mais alto que ele mesmo, espantou não apenas os convivas de Diógenes da Cunha Lima na fila de autógrafos de “O Magnífico” – Tácito Costa, por exemplo, se declarou chocado com o nível da palestra, onde “até o tamanho do pênis entrou em pauta”. Enquanto Sheyla Azevedo concordou: “Inquieto e mais para ‘showman’ que para palestrante, jurei para mim mesma que ali, naquele momento, tinha definitivamente quebrado o mito do escritor.”

O histriônico Carpinejar foi um dos temas discutidos ontem no sítio “de Tácito”, o Substantivo Plural.

Tássia

“Bem, essa esteve na mão de 99% dos adolescentes de então, notadamente quando esses ouviam a mãe reclamar, por entrar no banheiro, ligar o chuveiro e não se molhar.” – de um leitor sobre a atriz Tássia Camargo, uma das estrelas da TV e da Playboy 20 anos antes das mulheres melancias e jacas e quetais.

New journalism

“Sugestão de Gay Talese: jogar fora 9 de cada 10 jornalistas de Brasília” – título de post no Conversa Afiada de Paulo Henrique Amorim, ontem, na rede.

“O que fazer com os jornalistas de Brasília ? Uma idéia seria mandar cobrir o efeito do Luz para Todos no interior do Pará…” – sugestão do próprio Amorim.

Admirável mundo novo

“Agora estou almoçando dentro do meu gabinete e depois sigo para o plenário.” – resposta ao pé da letra da senadora Rosalba Ciarlini à clássica pergunta do onipresente Twitter, “What are you doing?”

Nando

É hoje a abertura do II Festival da Canção e da Cultura Potiguar, organizado pela Assembléia Legislativa deste Ryo Grande.

Na Cohabinal, Rua Castor Vieira Régis, Parnamirim Fields, 20h.

O cantor Nando Cordel é a grande atração em todas as etapas do festival – que segue para Macau (em setembro), Nova Cruz (outubro), Pau dos Ferros (novembro), e Natal (dezembro).

PROSA

“O jornalismo está, hoje em dia, totalmente voltado para a tecnocracia.”

Roland Barthes

Mitologias

VERSO

“Um acaso, um acaso qualquer / fizera com que viéssemos parar aqui. / Estávamos todos no mesmo barco.”

Enzensberger

“O naufrágio do Titanic”

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