terça-feira, 30 de junho de 2009

Embriaguez em Lisboa

Nunca dei muita importância à Lisboa. Me pareceu mais interessante vista do alto, ou quando, pousados os pés na pista do aeroporto, manhã outonal de mil e novecentos e muitas décadas, ainda não tinha meus pés pousados realmente nela.

Depois, aquela profusão de praças, carros, ônibus – atulhando a visão. Diante de Madri, que eu só conheceria depois, Lisboa era uma cidade velha, caquética, mal-ajambrada – quase como uma daquelas favelas, fedendo a bolor e urina, esse tipo de lugar que a gente tem vergonha de assumir que tem nojo, mas evita a passagem com certo cinismo, mas não impunemente, porque a moral, porque a consciência, porque etc.

Mas, três meses sem ver o mar e foi Lisboa quem me reconduziu ao encanto que é ver o mar e saber que existe um momento na vida em que não ver o mar é um desencanto a mais na solidão. Inda mais quando se assiste ao mar engolfando rio e virando oceano e horizonte infinito. Inda mais quando é o Tejo, o rio particular de todos nós, aldeões, a ser engolido por um Atlântico ainda remanso, antes de virar, tormenta, onda, vagalhão. Um rio inteiro, grande por magnífico, magnífico por secular. Secular porque sim.

Do que ainda me lembro, e tão pouco me lembro, Lisboa a partir de um automóvel não é a mesma de quando percorrida – melhor dizendo, tateada – a pé. Passo miúdo, passo apressado, passo junto ou desconjuntado, a pé.

Talvez eu diga isso, agora, quase outra encarnação da memória, por um atalho brusco e sem sentido na direção do ensaio sobre a cegueira do senhor Saramago, o português moderno por excelência e distinção. Não pelo livro em si, que de Lisboa tem pouco, mas pela importância do tato diante da visão, da definição exata das pontas dos dedos frente ao esboço do olhar.

Todos modos, acredito piamente que sabe-se mais de Lisboa no interior do elevador de Santa Justa do que olhando o Tejo e suas pontes, que na verdade são apenas duas e que na verdade é apenas uma e haverá quem diga que se parece com a Ponte de Todos e não o contrário. (Mas que, verdade-verdadeira, são muitas pontes, milhares delas, centenas delas, dezenas dela, uma única, enfim, porque muitos são os pontos de onde guardá-la, mas sempre unitário é o olhar.)

Em Lisboa (e também creio piamente, que hoje acordei quase devoto), ou você passa a mão pela rachadura das paredes, ou você sente o entalhe do tempo no madeirame das casas, ou você fere os dedos no ferro trabalhado do Santa Justa – ou então, você não sente nada e se ilude com uma indigestão de paisagens abertas.

Porque, dizem, a visita primordial é ao Mosteiro dos Jerônimos, e à Torre de Belém, mas aquilo sempre me pareceu uma espécie de Disneylândia Gótica, um épico arquitetônico, enfim, grandiloqüente por demais, sonoro por demais, ruidoso por demais, fake por demais.

Houve um tempo, também, em que o que mais me incomodava em Lisboa era sua língua. O rumor da sua língua. A entonação da sua língua. A língua de suas ruas, carregadas de insinuações verdes, de prosódias amarelas. Com esse arremedo de identidade comum, de berço comum, de lugar comum, de decadência comum – reino e colônia amalgamados numa tristeza, saudade sem fim. Porque quando se é jovem queremos, desejamos, almejamos, exigimos, enfim, a incompreensão.

Quando eu desci em Lisboa, naquela manhã de outubro-outono, um dos passageiros estava bêbado. Da mesma embriaguez do cônsul britânico em Cuernavaca no Dia dos Mortos, como se saído direto das páginas de “À sombra do vulcão” para um tête-à-tête com Almada-Negreiros – em frente a A Brasileira. Era um homem realmente bonito e já dava seus primeiros passos para o dia em que chegaria à velhice onde, talvez, perderia também parte do fascínio dos habituados a pôr à mesa a própria beleza. Por enquanto, estava vestido elegantemente, ainda mais com a gravata elegantemente desconjuntada como se desejosa em combinar com a embriaguez do seu proprietário. Tinha, explicitamente, a elegância dos que se destacam naturalmente do rebanho, dos que optam alçar a cabeça no prumo das nuvens e não enterrar o focinho na providência segura do pasto. Desconfio que misturou pastilhas medicinais com álcool, tão irresistível era sua bebedeira. Desconfio que tenha passado a mão na bunda de uma aeromoça, a mais bonita, a mais madura, a mais magra e alta. Desconfio que ela gostou, mas é das aeromoças a cobrança de respeito pelos passageiros, pois. Por isso o rosto amuado da menina – aliás, toda a equipe estava visivelmente irritada com o sujeito. Que, ainda no ônibus que nos levaria da pista para a alfândega, pegou o chapéu de uma senhora, colocou na própria cabeça, continuou rindo, indiferente à raiva que provocava no mundo, sem se preocupar se seria preso, algemado, interrogado, sem se importar, inclusive, se havia desembarcado em Lisboa ou alhures. Porque, como em qualquer cidade, desembarcar em Lisboa pode ser desembarcar em lugar algum, voltar ao ponto de partida, de onde nunca se parte realmente.




PROSA

“Estrangeiros com falas esquisitas e traquitanas estranhas percorriam o país no faro das cidades maiores.”

Giovanni Sérgio

Perigo Iminente

VERSO

“Amado, somos como os deuses: / Nosso é o mundo inteiro!”

Marina Tsvetáieva

“À felicidade”

segunda-feira, 29 de junho de 2009

Nunca mais

É depois de um tempo que começa a doer de verdade.

Não que antes não fosse dor.

Mas era dor de percurso lógico, de rumo certo, de rota controlada, de estágios mais ou menos definidos.

É depois de um tempo que tudo começa a embaralhar, em caos, em surpresa, em tocaia traiçoeira e covarde.

É depois de um tempo que – uma imagem: a pia por fazer, a louça por lavar, a cama por forrar, a casa por varrer, e, um dia inteiro por viver. Cinco imagens.

É depois de um tempo que começamos a nos perder na casa vazia, no vazio da casa, na solidão do fim-de-tarde. Cai a noite como um manto escuro e pesado. Cai a noite em conta-gotas: uma buzina leve, luzinhas que acendem, pára-raios parados, céu estático, céu sem nuvens, sem guias, sem estrelas, astros, constelações.

Cai a noite e o céu se tinge de um azul-escuro. Um motor ronca e se perde numa esquina qualquer. Gritos. Um cão que late. Sirene. Borracha de pneus mastigando pedras. A sirene continua, não se cansa. O cão ladra mais forte.

A casa se enche de vazio. De promessas não cumpridas. Não é preciso relógio para marcar as horas: envelhecemos a cada instante. E o que incomoda não são os cabelos que se encanecem, nem as rugas que se comprimem sobre o rosto outrora imberbe, nem os músculos que se flabelam ao sabor da gravidade.

Poderia deixar uma maçã no parapeito e assistir sua ruína. Os escombros das cores.

Não.

O que incomoda é a perda das palavras, a maceração das frases, a dislexia do tempo.

A perda da memória.

O que incomoda é a ausência. O reencontro para sempre adiado.

*

CONFITEOR

Vamos entrando no confessionário, faz favor: o texto acima é de março do ano passado – Rodrigo Levino andou me recordando dele e, aqui pra nós, sem que ninguém nos oiça, fazendo elogios a ele.

E dele nem eu me lembrava mais, mas com meu notebook avariado e essa segunda-feira inclemente batendo a porta, segue o que segue, mesmo.

COTA

Das 88 atrações que se apresentaram no grande espetáculo Mossoró-Cidade-Junina – me informa o release – apenas seis não eram da região Nordeste, o que representaria um percentual de 6,8%. Uma merreca, pois. A pergunta que não quer calar é: estariam incluídos nessa cota os cangaceiros do Pânico na TV?

ÁGUA

Nada contra o bairrismo, o provincianismo e as cotas – raciais ou de berço esplêndido –, mas chamou atenção, também, a ênfase dada ao suposto “tratamento privilegiado” concedido aos artistas: “Na Cidadela (cidade cenográfica instalada ao lado da Igreja de São Vicente que lembra a Mossoró de 1927), por exemplo, o palco foi ampliado e um camarim (devidamente abastecido com comida, água e refrigerante) foi montado especialmente para os músicos.”

Depois, do pão, do circo, já é uma evolução: temos agora água e refrigerantes.

CAPANGA

“Capanga moderna” é o título do segundo CD do grupo Diogo Guanabara e Macaxeira Jazz. O lançamento é amanhã, no TCP, em duas sessões: 19h e 21h. Ingressos a R$ 10. Sem área vip, premium, ou ralé.

TECHNOPOP

Termina amanhã o prazo para quem quer participar do edital “Arte tecnologia – apoio à produção e divulgação das artes visuais em novos suportes tecnológicos”. Os projetos devem ser enviados pelo correio. Confira no sítio da fapern: www.fapern.rn.gov.br.

AGOSTO

Termina no próximo 10 de julho o prazo para quem quer participar do Festival Agosto de Teatro – 20 espetáculos serão selecionados e cada um embolsa cachê de três (mil) contos. Confira o edital completo no sítio da Fundação Zé Augusto (www.fja.rn.gov.br) ou dê um alô no 3232.6372.

REBELDE

Rilder Medeiros nos preparativos para a quinta edição da Feira do livro de Mossoró (em agosto), que ataca em todas as áreas do mundo virtual: além do clássico sítio www, tem twitter, blog, flickr e You Tube.

Na falta de nomes para a abertura e o encerramento (terça, 4, domingo, 9, respectivamente) o sobrescrito sugeriu o nome de Arnaldo Dias Baptista – que um livro publicado, “Rebelde entre os rebeldes”.

PROSA & POESIA

Os quadradinhos nos cantos desta coluna, esta semana, são e serão colhidos da revista Perigo Iminente (Natal: Flor do Sal, 2009) e do livro “Indícios flutuantes”, da poeta russa Marina Tsvetáieva (tradução Aurora F. Bernardini, São Paulo: Martins, 2006).

Aliás, falando na Perigo Iminente, a revista terá novo lançamento pela Fapern, em data a ser confirmada.




PROSA

“Não se rouba ou se destrói uma cidade sem também ser roubado e destruído.”

Marize Castro

Perigo Iminente

VERSO

“Por este inferno, / Este delírio, / Pros velhos anos, / Dê-me um jardim.”

Marina Tsvetáieva

“Jardim”

domingo, 28 de junho de 2009

Adivinhe quem vem para o café-da-manhã: Alexandre Alves

[Cultura 270609 sábado]

Tremenda injustiça ir logo apresentando Alexandre Alves como “filho-de-Falves-Silva” – vícios geracionais do sobrescrito em franca ascensão rumo à velhice, que a tal meia-idade passa rápido.
Pois, no caso da dobradinha Falves-Alexandre segue a explicação: é que antes de Alexandre ser o cara (hoje em dia todo mundo é o cara, pois), Falves já era o cara. Ao menos pra mim. Ares de poeta maldito, mestre das colagens e de um erotismo realmente visceral, Falves era o cruzamento de um Ferreira Gullar com um Guido Crepax posto pra gerar na Londres Nordestina.
Só depois fui conhecer (ou desconhecer) o filho do peixe, que peixinho não é. É também, claro, mas de cardumes diferentes: Alexandre Alves empresta em tudo que faz uma aura cult que pode ser confundida com chatice e arrogância – mas, que me desculpem os excessivamente simpáticos, um pouco de blaseísmo é fundamental.
Natal 2051 é parte integrante do livro “Terceiro silêncio”, ainda inédito apesar da menção honrosa concedida pelo Prêmio Câmara Cascudo 2008. Vem bem a calhar para fechar a semana que se iniciou com a publicação da revista Perigo Iminente (que tem por explicação o dístico “A cidade sonhada – desejos delírios profecias projeções de Natal dagora a 50 anos”).
NATAL 2051
Carros do ano pós-digitais. Ainda não voadores, mas já anfíbios. Muitos compradores, vários endividados por isso. Pedágio urbano, por metro utilizado, da Cidade Alta até Ponta Negra somente com máscaras de oxigênio multifuncionais. Pagamento em euro-dólar-iene virtual, nova moeda unificada.
Casas litorâneas flutuantes, especulação imobiliária aérea, terrenos tradicionais já vendidos. Favelas do tamanho de uma zona inteira, sul e norte. Água dessalinizada para os desafortunados, mineral apenas para os abastados. Rios tornados margem, peixes tornados fonte de pesquisa mumificada. Praias com protetor solar 999, aos brancos demais, câncer de pele grátis (aviso dado em 2013). Imposto para caminhadas na praia. Necessário: pouco espaço, muitos pés. Árvores apenas para projetos de arquitetura com paisagismo de encomenda, aliás, profissional importado. Computadores holográficos de centésima geração. Celulares ainda não intergalácticos, mas já lunáticos. Viagens ao redor da Terra para fotos oculares de câmeras implantadas no olho humano. Natalenses na lista de espera. O alvo: o efeito estufa, turistas empolgados para o concurso da derradeira imagem observada do planeta. Amazônia transplantada para a Mata Atlântica potiguar, sob ordens da ONU e OMC. O maior cajueiro do mundo com DNA multiplicado, uma moda no Japão (para cada habitante, uma cópia). Big Brother Brasil 5551, exclusivo somente com potiguares (todos naturalizados, nenhum original, todos autóctones piratas), canais com transmissão conectada ao cérebro via satélite, câmeras adicionais aos doentes terminais (nova droga liberada pelo Ministério da Doença, ex-Saúde) e ângulos divididos por profissão. Ginecologistas mais requisitados. Febre amarela extinta e febre azul por conta da cor do horizonte. Risco maior na região dos trópicos. Música interativa sem canções ou melodias, apenas pedaços esparsos do passado, extintos artistas da terra. Cosmopolitismo, não ao localismo. Slogan da hora. Hospitais destruídos por excesso de leitos. De morte. Em seu lugar, clínicas de implante sensorial. O direito a uma nova farsa sobre sua vida. Endividamento eterno. Parque das Dunas tornado ilha, ingresso caríssimo. Vegetação raríssima, eis o chamariz. Bibliotecas cibernéticas, livros sem peso (altamente ecológico), apenas universidades particulares e seus milhares de graduados. O Ceará vendido pelo governo Horizontal e comprado pelos Verticais (Direita e Esquerda congeladas no tempo). Mossoró e Assu, na região metropolitana, com as Olimpíadas Artificiais de Inverno, novas prioridades das prefeituras locais, comandadas por Robôs C3-PO, por sua vez comandados via fibra ótica por baixo dos oceanos. Os mandantes: os prefeitos e seus onze meses e meio de férias (no Caribe, claro, clima tropical). Camarões transgênicos já torrados pela luz solar. Mulheres como chefes das empresas. Maridos de licença poligâmica. Filhos com psicose múltipla e tripla personalidade confirmada. Internet via telepatia. Cartões de crédito com código de barras tatuado na região genital. Gravidez aos nove anos, crescimento hormonal e multiplicação em testosterona antropofágica. Cemitérios em greve, sem espaço. A estratosfera norte-rio-grandense já repleta de caixões. Políticos em coma induzido, oligarquias de priscas eras incluídas, à espera do elixir da vida eterna. Ou do Santo Graal, para os mais religiosos. Aeroplanos em largas prestações, mais endividamento. Chuva ácida, remédio para as multidões. Carnaval doze vezes por ano. Camisa de Vênus, de Mercúrio, de Saturno, de Júpiter, de Plutão, de Urano. Shopping centers à beira-mar ao alcance da mão. Ou da secretária robótica de baixa octanagem. Fronteira com a Paraíba, esta inundada pelas ex-geleiras da Antártida, uma big cidade: Natal em 2051. [Alexandre Alves]



PROSA
“Tenho evitado as janelas. Renego a cidade vertical. Sou de varandas e quintais.”
Rubens Lemos Filho
O homem óbvio
VERSO
“Retirem de mim estas luas frias / estas praias desérticas, estes jardins / incendiados.”
Dorian Gray Caldas
“Diante do mar”

sexta-feira, 26 de junho de 2009

Um email sobre choro, pão e circo

“Olá, Mário Ivo! Em época de recesso escolar dou-me ao luxo de fazer uma programação ‘maneiríssima’ com minhas sobrinhas. Além do teatro no domingo, combinamos um cineminha hoje. O filme? Hannah Montana, obviamente. Com certeza eu não era a figura mais empolgada em assisti-lo (elas nem repararam nisso, tamanha a alegria). Então, ao ler o jornal pela manhã me surpreendi com a revelação de que deixastes uma lágrima escorrer (ou quase) ao final do filme. Por isso me questionei: haverá, meu Deus, algo que me faça realmente chorar em história para pré-adolescentes e adolescentes tendo adolescentes como protagonistas?
“Mais uma vez lhe digo que não sou insensível. Não mesmo! Choro com facilidade assim como sorrio com facilidade (nada a ver com distúrbio bipolar, viu?). Se quiser mesmo saber, chorei com ‘O campeão’ e acho que ainda hoje choraria se visse mais uma, duas ou três vezes. Assim como chorei com tantos outros filmes, tão ou mais emotivos do que esse, como, por exemplo, ‘Só resta a esperança’, e me emociono quase sempre com ‘Cold case’. Mas, a verdade é que não chorei com ‘Hannah Montana – o filme’. Sei lá, acho que Freud explica tanto a minha ausência de choro quanto o seu derramar (e não debulhar) de lágrimas...
“Deixando Freud quietinho em seu santo lugar de descanso, quer saber o que me faz chorar de verdade? O que nos é ofertado em sentido cultural aqui no RN.
“Ora, se havemos de aceitar essa política de ‘pão e circo’ que seja pelo menos por atrações que valham à pena. Enquanto o governo do meu querido e amado (salve! salve!) Rio de Janeiro cala a boca da população com figuras como Elton John, Dione Warwick, Rolling Stones (tudo bem que eu só iria ao show deles por pura curtição), aqui, o que temos? Excesso de bandas de forró com nomes pra lá de sugestivos e uma qualidade musical (eu disse mesmo qualidade?) altamente questionável. Mas, enfim essa é a arena que o povo quer entrar.
“Não sou miserável ou sovina. Mesmo que tivesse que pagar por exposições ou shows que particularmente me interessam haveria de fazê-lo como quando tive o imenso prazer de ver Monet no RJ ou assisti Luis Miguel. Enquanto isso, o que ou quem vem para cá? Nada! Ninguém! Fazer o quê senão chorar? Porém meu choro é muito menos carregado de significado do que o seu, e isso quem diz não sou eu, e sim meu querido José de Alencar, que escreveu as palavras abaixo as quais lhe oferto dada sua emoção com ‘Hannah Montana – o filme’:
“‘Quando um homem chora, minha prima, a dor adquire um quer que seja de suave, na voluptuosidade inexprimível; sofre-se, mas sente-se quase uma consolação em sofrer. Vós , mulheres, que chorais a todo o momento, e cujas lágrimas são apenas um sinal de vossa fraqueza, não conheceis esse sublime requinte da alma que sente um alívio em deixar-se vencer pela dor; não compreendeis como é triste uma lágrima nos olhos de um homem.’
“Um abraço. Cyntia Menezes.”
*
ADENDO
A professora Cyntia Menezes, leitora crítica (no sentido de opinativa) de primeira hora desta coluna, não enviou o email para publicação – mas como o sobrescrito valoriza o feedback e o diálogo com quem tem algo a dizer, concedeu-me o privilégio, apenas acrescentando: “Só quero que saiba que valorizo os artistas locais e nacionais que se apresentam aqui – como Roberto Carlos, Peninha, Joana, Marisa Monte, Alcione, Toquinho, Roupa Nova, Tunai e tantos outros – e que não os considero como ninguém.”
HEAD BALL
Carlos Magno Araújo, Samarone Lima, Elianne Diz Abreu e Rubens Lemos Filhos representam os 28 cabeceadores de “A cabeça do futebol” e autografam, juntos, o livro no terceiro piso do Midway. Moacy Cirne não vai: embarca de volta pra Guanabara pela manhã. Hoje, comecinho da noite.
GOL SOCIAL
Antonio de Pádua, Bethoven, Diogo Guanabara e Sueldo Soaress são alguns dos músicos locais que participam do “Futebol dos Artistas”, causa nobre e social em benefício da APAE, Casa do Bem, Casa Durval Paiva, GACC, LAE, MEIOS e PROERD. Quem for ao Ginásio da UFRN (2 de julho, 19h) deve levar sua doação (o clássico um quilo de alimento não perecível, mas também roupas, brinquedos, fraldas geriátricas, cestas básicas, remédios etc).
PRÍNCIPE
É hoje, no plenário da Câmara Municipal de Natal, ausente os edis que avoaram para as terras lusitanas, que o violeiro e repentista Pedro Bandeira (“Príncipe dos Poetas Populares do Brasil”) recebe o título de Cidadão Natalense. Onze da manhã.
LÓGICA
Hoje, o professor-doutor Juliano Fellini coordena a palestra “Hans Jonas: uma nova ética para a civilização tecnológica”. Incompreensível? Confira na sala G1, setor II da UFRN, 16h.
SALTO
Já no ar (virtual) da blogosfera o sítio da jornalista Gladis Vivane Campos Xavier, que deixou o microfone da TV Ponta Negra para estudar moda na Itália: www.saltoagulha.com.



PROSA
“Chorei, e daí? Chorei, e foi num clássico. Ninguém viu. Eu juro.”
Rubens Lemos Filho
O homem óbvio
VERSO
“fui menino nos velhos filmes de Carlitos / nos cinemas poeiras aos gritos e palavrões / e as lágrimas primeiras.”
Dorian Gray Caldas
“Poema autobiográfico”

quinta-feira, 25 de junho de 2009

Escritores Futebol Clube

A capital do Ryo Grande, a capital mundial da Copa 2014, a princesinha das dunas, do sol, dos ares puros, das águas com nitrato, o poeminha de concreto armado que é, enfim, todo esse imenso Arraial, tá parecendo circo mambembe:
– Hoje tem lançamento de livro?
– Tem sim senhor!
Maravilha.
Mas, tem lançamento dos bons amanhã. Dos melhores, arriscaria o superlativo. E olha que eu não gosto nem jogo futebol e a última vez que fui ao Machadão ele ainda se chamava Castelão.
O livro – claro, vocês já devem ter lido por aí – é “A cabeça do futebol”, da editora Casa das Musas, candanga, com muito orgulho, sim senhor, mas com um pé neste Erre-Ene.
Simpático, o livrinho é livrinho só no formato, “quase de bolso”: são 166 páginas que valem realmente à pena, o papel impresso e as árvores derrubadas.
Carlos Magno Araújo, Gustavo de Castro e Samarone Lima, os organizadores, conseguiram a proeza de reunir 28 artistas – inclusive eles mesmos – que, se não fazem bonito com os pés e uma bola, o fazem com as mãos e uma caneta ou um teclado.
Ah, escalaram duas mulheres, também, que dão conta do recado e um toque feminino ao escrete – muito embora os marmanjos, como são ligados às letras, já têm, eles mesmos, esse jeitinho elegante e gracioso de driblar as frases. Então, não se avexem: o que em campo seria confundido com frescura, nos textos agrada à torcida ledora.
A grande maioria dos textos volta-se para a infância, para a clássica cena de um pai ou um tio levando a criança pela primeira vez ao estádio – exceção que confirma a regra, Juca Kfouri, que, em “A ditadura não é mais forte que o amor de um pai”, conta quando em 1971, já adulto, o pai faz questão de acompanhá-lo ao campo: Kfouri tinha sido preso e solto há poucos dias, e o pai, “que havia décadas não ia a um estádio”, faz questão de não deixar o filho só – “aquele domingo ficou inesquecível pela demonstração silenciosa e companheira que, enfim, nem era necessário da parte de um pai sempre presente.”
*
BOLOR
Quem avisa amigo é: termina hoje, 17h20, a chamada final para assistir “Loki – Arnaldo Baptista”, de Paulo Henrique Fontenelle. No Moviecom, rumos de Ponta Negra.
Fãs, fanáticos ou mutantes, podem levar pra casa um pouco da loucura do ex-marido de Rita Lee: no sítio do músico estão à venda desenhos, formato A3, papel canson, por R$ 250, cada, incluído o sedex. Confira em: www.arnaldobaptista.com.
NORDESTE
Termina hoje a mostra individual “Nordeste: do sertão ao litoral”, do pintor Newton Avelino, com curadoria de Maria do Socorro Alves. Na Assembléia Legislativa, Centro Histórico da Capital, das 8h às 17h.
CANGAÇO, A MISSÃO
A confusão, o qüiproquó, o entrevero com a turma do Pânico na TV segue e prossegue com seus ares paroquiais, beirando o ridículo, flertando com o patético.
A SimTV vestiu a carapuça e joga pra torcida fanática: hoje, 13h30, exibe um Valeu o boi “especial” – informa o release: “Edvan Martins mostra o lado popular da festa e, num quadro impagável, coloca a turma do Pânico na TV na berlinda, transformando os humoristas da RedeTV! em vítimas de seu próprio humor cáustico.”
Jararaca deve estar se revirando no túmulo – dando risadas.
CASABLANCA
É hoje, logo mais, sete da noite, a estréia do sociólogo Lenilson Antunes no universo do romance histórico: “Parnamirim Field, último pouso” tem como cenário esta capital, Trampolim da Vitória, na época da Segunda Grande Guerra. No terceiro piso do Midway Mall.
SAUDOSA MALOCA
Atrasado, descubro que Caetano deu um tempo do seu blog. Para se dedicar à turnê “Zii e zie” (“tios e tias”), também nome do último disco.
Na última postagem, diz o baiano: “O Canecão é a casa de show real do Brasil. As outras, com todo o respeito, são imitações. Não se pode imitar um boteco que atrai gente há muito tempo e não é pelo conforto nem pelo luxo nem mesmo pela qualidade do serviço. Pode-se imitar um bar bem feito e ‘bom’. Mas o Canecão é um boteco afavelado cheio de magia. Não adianta fazer um ‘melhor’”.
O que danado Caê pensa do Machadinho? Onde faz show dia 25 de julho. E se chover? E os preços? Populares, na velha divisão de classes: Premium (R$ 500), Vip (R$ 400), Ouro (R$ 300). (Valores para mesas de quatro almas, claro.)
CONSPIRAÇÃO
Zio Caetano ainda cita inúmeras cidades brazucas e mundiais, algumas sem ter certeza da passagem da turnê – “Onde será que esse show vai?” – e tome cidade: Rio, Beagá, Sampa, Brasília, Salvador, Recife, Porto Alegre, Floripa, Cuiabá, Belém, Curitiba, Fortaleza, Campinas, Campina Grande, Goiânia, Palmas, Buenos Aires, Montevidéu, Roma, Florença, Amsterdam, Santiago, Minneapolis, New York, Paris, Londres, Tucson, Cidade do México, Bogotá, Madri, Piracicaba... Ufa!
Sei não. Não citou Mossoró City nem esta Capital. Chegou a citar uma tal Ann Arbor, no cafundó do Judas. Estará de conluio com o Pânico na TV?



PROSA
“Hoje a idolatria é para os pernas de pau.”
Rubens Lemos Filho
O homem óbvio
VERSO
“Se escrevo uma palavra / ponho a vida acordada.”
Dorian Gray Caldas
“Divisão”

quarta-feira, 24 de junho de 2009

Retalhos

Sou um sujeito sensível, acreditem. Chorei no último filme de Hannah Montana. Não chorei copiosamente, claro, mas tive que esgueirar minha mão para colher do canto dos olhos uma furtiva e esquiva lágrima. Ainda olhei pra minha filha ao lado para ver se também ela era sensível como o pai, mas a danada tava curtindo e fazendo pilhérias com o açúcar derramado na cena.
Feladamãe. Já não se fazem mais crianças como antigamente. Os da minha geração hão de lembrar-se: “O campeão” (1979) – Jon Voight era um ex-boxeador na lona da vida e no fundo do poço, e seu filho loirinho dava uma força pro pai reerguer-se enquanto arrancava lágrimas dos espectadores. Durante a temporada de exibição – naquela época os filmes demoravam em cartaz – era comum a pergunta: “E aí? Chorou?” A platéia (e a cidade) dividia-se entre aqueles que tinham chorado e os insensíveis, incapazes de lubrificar os canais lacrimais.
Mas, se é piegas chorar no escurinho do cinema nos dias correntes, debulhar lágrimas assistindo “Hannah Montana – o filme” (2009) – vamos combinar – é o cúmulo.
Daí que, se você é um sujeito (ou uma sujeita) que torceu o nariz pro pieguismo da coluna de hoje, nem continuem a leitura, façam o favor: partam logo pra página de política ou de economia ou vão refestelar os olhinhos em algum dos crimes macabros da seção policial.
Porque o assunto hoje é um livro, romance, romance de formação, história de amor etc e tal. E ainda por cima em quadrinhos. Pegando carona na orelha, “‘Retalhos’ trata da tragédia e das dores, físicas e morais de crescer sentindo-se diferente do ambiente que o cerca, e a coragem necessária para questioná-lo e seguir rumos distintos dos que lhe são pregados.”
Víxi. Né melhor ler a Caras, não?
Pode ser, pode ser, mas não se acanhem em, indo tomar um café e um cheese cake na livraria mais próxima (as livrarias andam tão fast food ultimamente), pegar da prateleira o calhamaço de quase 600 páginas e dar uma espiadinha. “Retalhos”, de Craig Thompson (Companhia das Letras, 2009) se lê num fôlego só. E tira o fôlego dos mais sensiveizinhos que nem eu.
Thompson, 34 anos, não criou nem desenhou nenhum personagem nem super-herói de quadrinhos. Thompson, com menos de 30 anos, escreveu e desenhou sobre si mesmo e sobre sua família, tipicamente americana, numa típica província rural americana. Thompson, quando criança, apanhava dos colegas de escola. Thompson, quando adolescente, não se ajustava a quase ninguém da sua idade – “Este mundo não é meu lar. Estou só de passagem”, revela, confessa, sem pudor. Até aprender “a identificar os rejeitados”, como ele. Até conhecer, claro, o primeiro amor. Que ele descreve e desenha com uma sensibilidade capaz, não de arrancar lágrimas, mas de sensibilizar profundamente. Intimamente. E se não somos capazes de nos emocionar com Hanna Montana, com “Dio come ti amo”, com “Marcelino pão e Vinho”, com “Uma janela para o céu”, com “O campeão”, com a primeira, a segunda, a terceira, a quarta namorada, com as lembranças da infância que carregamos eternamente, com os sonhos da adolescência que ainda resistem, se não nos emocionamos com mais nada disso, que diabos estamos fazendo da nossa vida?
*
LOKI
Meninos, dêem seus pulos: resta hoje e amanhã para quem quer assistir “Loki “, documentário sobre a vida e obra de Arnaldo Dias Baptista. No Moviecom, com a única opção do horário fenomenal e muito prático das 17h20. Desde que você seja um aposentado, claro.
MUTANTE
Tem matéria sobre Arnaldo na Rolling Stone deste mês – lá pras tantas ele (que tentou o suicídio, dizem, devido ao fim do relacionamento com Rita Lee) diagnostica: “Louco pode ser o cara que gosta de andar no telhado e às vezes cai – esse é um louco meio esquisito –, mas pode ser o cara que gosta de fazer música pintar, escrever, amar...”
CANGAÇO
A confusão, o qüiproquó, o entrevero com a turma do Pânico na TV é ridícula. Antes de detonarem com a cidade e seus habitantes, a vinda da equipe foi festejada, ovacionada, louvada, quase, quase, soltaram foguetões. Só depois que fizeram o que normalmente fazem é que os idiotas foram demonizados.
Se o cidadão pagou ou não pagou pela vinda da equipe do programa, deveria ser importante, independente do que iria ou não ao ar – se tapinhas nas costas, ou chutes e cuspes.
A SimTV assumiu o ônus da iniciativa de levar o pânico – digo, a equipe do Pânico – a Mossoró-eterna-cidade-junina, e, não é que agora querem demonizar também a emissora local? Houve quem proclamasse uma possível revanche do mercado publicitário.
Nem Lampião nem Jararaca conseguiram tal desmantelo.
CRI
Começou ontem e vai até sexta-feira, 26, a 1ª Exposição de Pintura e Desenhos do Centro de Reabilitação Infantil, coletiva dos pacientes do CRI com síndrome de down, deficiência mental, paralisia cerebral ou autismo.
Das 8h às 12h, na Alexandrino de Alencar, 1900.



PROSA
“E beija-a, não na boca, para jamais banalizar o gesto, mas na testa. Um toque leve, do amor transbordante.”
Rubens Lemos Filho
O homem óbvio
VERSO
“Eu terei de decidir e separar / a poesia do desastre, o milagre do desespero.”
Dorian Gray Caldas
“Divisão”

Beleza, luxo e luxúria na feira regional

[Cultura 230609 terça]

Atentem para o nome, que é uma beleza, li-te-ral-men-te: o “Natal Hair Feira Regional de Saúde e Beleza” rola (pode-se dizer assim, “rola”?) de 11 a 13 de julho, das 10h às 22h, no Norte Shopping.
Os organizadores esperam 50 mil almas, gente que não acaba mais. Afinal, o evento este ano conta, mais uma vez, com a presença (in)discutível de profissionais renomados “a nível nacional” e se propõe a informar o respeitável público sobre os “novos padrões de beleza” – além de que, é de grátis, claro.
Rola, também, um grande concurso de penteados, “Coleção Camelot 2009 Senscience Liquid Luxury”, etapa Ryo Grande e Paraíba. Nossa. Descubro que por trás desses nomes tão sonoros está a Shiseido, a mais antiga, dizem, empresa de cosméticos do mundo – made in Japan, como não poderia ser diferente. A palavra, me explica o sítio brasileiro da empresa, significa “todas as coisas que vêm da Mãe Terra”. Coisa de japonês, mesmo. Pois, para este 2009, a Shiseido lança duas coleções – pelo que, mui esforçadamente, entendi: a Coleção Senscience Liquid Luxury, de produtos; e a Coleção Camelot, de cortes de cabelo.
Se eu entendi errado, me corrijam. Mas não há dúvida que “Liquid Luxury” é “Luxo Líquido” – que numa tradução rasteira e enviesada poderia ser, também, “Luxúria Líquida”, seja lá o que isso possa significar, embora em se tratando de luxo e luxúria, meu deus, tudo é possível. E luxúria, até onde eu sei, é um dos sete pecados capitais condenados pelo Vaticano, já que envolve os apetites sexuais de modo excessivo. Tipo assim, fogo no rabo, mesmo.
Então, galerinha, não usem os produtos em menores de idade, por favor.
“ATREVIDA”
Depois, Camelot: ora, Camelot era o castelo onde o rei Arthur se reunia com os cavaleiros da tavola redonda, segundo as lendas medievais da velha Inglaterra. Mas o Camelot aqui referendado é outro: quando John F. Kennedy foi assassinado, sua mulher Jackie Kennedy (futura Onassis) disparou a comparação: “Existirão outros presidentes, mas jamais outro Camelot.” Foi o que bastou para a Era Kennedy ser conhecida como o lugar mítico e tal e coisa.
Mas a Shiseido, que não é boba nem nada, pega carona em outro mito fashion intrinsecamente ligado ao Camelot do fogoso Kennedy: a explosiva Marilyn Monroe – bastante conhecida pelo biquinho cantando parabéns pra você para o “dear president”. Liquid luxury, pois.
São três os cortes de Camelot zero-nove: “Warhol”, “Interessante” e “Atrevida”. Vamos ficar no corte Warhol, que basta e avança, homenagem ao cara que profetizou que todo mundo teria seus quinze minutos de fama. Diz o sítio da grife sobre o corte:
“Como tributo a este inconformista do mundo da arte, tomamos como base uma forma desconectada permitindo que a liberdade e o movimento fluam sobre um corte mais forte. Usando a profundidade da cor para levar ao máximo a desconexão fragmentada e os louros beges frios da parte superior; esta forma versátil e dramática tem um apelo artístico para as massas!”
Ora vejam só que mundinho pequeno: Jackie e John Kennedy, Andy Warhol, Marilyn Monroe – não é que todos findarão na Zona Norte de Natal? Resta saber se a desconexão fragmentada será suficiente para encantar as massas.
*
BEAUTY
Quem quiser participar do concurso basta entregar fotos de suas produções até o dia 4 de julho (sábado), das 8h às 18h, na Casa Norte Beauty, Avenida Capitão Mor-Gouveia, 516.
REMÉDIO
Elísio Augusto de Medeiros e Silva prescreve o remédio para stress, depressão, mau humor e hemorróidas, entre outros problemas: seu livro “Potiguariso”, que, não, não se encontra nas farmácias, mas na Poty, Siciliano e Livraria Câmara Cascudo. A dosagem recomendada é um capítulo/dia, durante 88 dias.
REMÉDIO II
Também na Poti, Siciliano e na Cooperativa do Campus, a “Cidade sustentável” de Gilka da Mata, lançado no último Dia Mundial do Meio Ambiente. Remédio para os males da urbanidade.
AVE KHRYSTAL
Marido e produtor, o infatigável Zé Dias recebeu como uma verdadeira anunciação a notícia que Khrystal deverá estar na Guanabara lá pelos dias 6 e 7 de julho, mais especificamente no famigerado Projac da Rede Globo: a cantora grava para o programa Som Brasil ao lado de Alceu Valença.
Iconoclasta, adepto de um regime que dispensa papas na língua, Zé Dias foi logo escancarando diante da anunciação do anjo global: “Chorei feito uma rapariga e corri para abraçar Khrystal e os meninos da banda.”
P&V
A Prosa e o Verso desta semana ficam por conta de Rubinho Lemos (“O homem óbvio”, Natal: Flor do Sal, 2009) e Dorian Gray Caldas (“Os dias lentos”, Natal: DEI, 1999 – entre outros livros).



PROSA
“O excesso de simpatia descolore a simplicidade e enche de rouge a tal vaidade.”
Rubens Lemos Filho
O homem óbvio
VERSO
“Desfaço-me de tudo para que a poesia / fale por mim.”
Dorian Gray Caldas
“Das horas e dos dias”

segunda-feira, 22 de junho de 2009

Perigo

Não sei se entra pra história o lançamento da revista Perigo Iminente, hoje, a partir das sete da noite na livraria do Midway. Mas que é um dos lançamentos importantes do ano, não resta dúvida.
A idéia dos editores Flávia Assaf e Adriano de Sousa era celebrar o centenário da conferência de Manoel Dantas (1864-1924), “Natal daqui a cinqüenta anos”, que foi publicada pela Imprensa Oficial deste Ryo Grande no mesmo ano, 1909.
Pronunciada no salão de honra do Palácio do Governo, a palestra de Dantas impressiona ainda hoje pelo discurso loquaz, entre o a ironia e o delírio. Uma ficção científica paroquial mas bem pouco provinciana – arrisco resumir em poucas palavras.
Jornalista, o próprio palestrante conta como lhe surgiu a idéia da conferência: ao chegar na sede de A República, onde era chefe de redação, dá de cara com o colega José Mariano Pinto: “Permitta Deus que sejas jornalista no Rio Grande do Norte! E, si quizerem uma praga rigorosa, dessas damnadas, que levam para o inferno sem forma nem figura de juizo, accrescentem: ‘com Zé Pinto na gerencia, quando tem falta de materia’.”
Pinto recomenda ao redator-chefe, cobrir os espaços vazios do jornal: “Puxe pelo quengo.”
Dantas não se faz de rogado e cria logo o título do artigo – “PERIGO IMMINENTE”, pois, em letras garrafais – onde descreve com tal ardor a suposta ameaça das dunas destruírem completamente a cidade, que logo o governo trata de cobrir de vegetação a careca do morro.
Daí para imaginar que sobre as dunas seriam construídos cassinos e hotéis monumentais, é um pulo e o tema da conferência. O que prova como o jornalismo potyguar há muito é fantasioso, o que prova, também, que os delírios e arroubos da Arena das Dunas e que tais estão em atraso de ao menos um século.
Pois, 99 anos depois os editores da Flor do Sal convidam dezenas de colaboradores para especularem sobre os próximos 50 anos, tal qual fez Dantas, em 1909. O resultado sai, um ano depois, em 100 páginas e formato simpático. A Fapern arcou com os custos de impressão, mas a própria editora bancou o mimo da edição fac similar da plaquete original, uma das preciosidades da biblioteca de Rejane e Vicente Serejo.
Difícil, quase impossível destacar as colaborações – as mais diversas possíveis, da poesia ao conto, do ensaio à análise, da foto à ilustração, passando por uma história em quadrinhos. A sacada de Joca Soares, fazendo sumir o Morro do Careca e criando um canal na paisagem de cartão-postal, no entanto, impressiona.
Também os alunos da Escola Viva botam no bolso a turma da maioridade. Tainá Macedo de Andrade, 59 anos em 2059, escreveu:
“Eu acho que Natal daqui a 50 anos vai ter muitos carros que voam e que tem asas que se mexem, prédios que tem rodinhas e cérebro e cavalos que tem asas mas não voam.”
“Eu acho que a vida em Natal daqui a 50 anos vai estar mais precária porque hoje em dia o ser humano está jogando muito lixo nos mares e nas ruas.”
Simples assim.
*
SURF
“Mário, Enquanto o motorista vai driblando os buracos da BR 405, trecho Apodi-Mossoró, vou passando os olhos nos jornais de ontem, por pura mania. Nada impresso no papel que já não tenha saído nas folhas virtuais daqui e d'alhures. E sendo você um dos três colunistas locais que leio, fico com um olho nas juremas verdinhas que cobrem este chão quase sempre seco e o outro em sua coluna de ontem [quinta, 18], ‘Muito siso, pouco riso’. Talvez efeito do uísque do lançamento do livro do Rubinho ou, quem sabe, cansaço de seus rolés leopoldianosbloomsdaypapajerimunianos, você se enganou. Eu não entrei com o Crispiniano no ‘prédio principal’ da FZA naquela noite e, como lhe disse, tampouco sei da existência de alguma caixa-preta naquela instituição. De tanto tirar onda, você surfou na maionese.” – do deputado Mineiro.
Dado o recado, a única retificação é quanto ao ingresso na FZA. Culpa do uísque, claro. Quanto às caixas – pretas, verdes, encarnadas – reforço o que já disse: também não sei de nada. Aliás, ninguém sabe de nada.
CIÊNCIA
Termina hoje a exposição com os melhores trabalhos da Mostra Científica 2009 realizada pelos alunos do Contemporâneo. No Praia Shopping.
DANOU-SE
Termina hoje a turnê de “Deus danado”, da companhia A Máscara de Teatro. No Caramanchão do Memorial da Resistência, em Mossoró City, a partir das 18h.
AIRES
“No oco do mundo” é o documentário que Kako Gomes e Mel Vasconcelos vão gravar, entre o nordeste do Brasil e a Argentina, sobre três Buenos Aires diferentes: uma no interior de Alagoas, outra no interior de Pernambuco, e a terceira, claro, capital da Argentina.



PROSA
“Se a vida reta fosse uma estrada, olharia apenas para a frente, o passado não significaria nada.”
Rubens Lemos Filho
O homem óbvio
VERSO
“e trouxe comigo / um pouco deste pó do tempo; / este pó inútil do tempo / que se chama o homem.”
Dorian Gray Caldas
“Poema autobiográfico”

domingo, 21 de junho de 2009

Adivinhe quem vem para o café-da-manhã: Luiz Gonzaga Cortez

[200609 sábado]

O jornalista e pesquisador Luiz Gonzaga Cortez poderia ser a pessoa indicada para comentar o fim da exigência de diploma de jornalista – seu pai, Manoel Genésio, era comerciante, e, integralista, mandava notícias do interior para o jornal (católico e, à época, ligado ao integralismo) A Ordem, anos 30. O próprio Cortez, formado pela UFRN em 79, numa turma de apenas quatro diplomados, enveredou para um jornalismo especializado em temas, coisa que não se ensinava nem se aprendia no curso: suas reportagens costumavam provocar polêmicas e, em 1985, publicou uma série de matérias sobre o “O comunismo e as lutas políticas no Rio Grande do Norte”, sendo autor de muitos livros, entre os quais “Cientistas e pesquisadores norte-rio-grandenses”, safra 1983, única obra, até hoje, sobre o tema.
Como agora jornalista e cozinheiro é tudo a mesma coisa, o mestre-cuca Cortez serve a vocês, neste café-da-manhã, uma saborosa Cangica – com gê, mesmo: revista natalense encontrada na velha casa da família, na Rua Felipe Camarão, 453, Cidade Alta.


PARA AS FESTAS JUNINAS
A revista “A Cangica” (com g mesmo), que circulou em Natal nos anos 30, editada por Francisco Tibyro, não tem páginas numeradas nem o nome da tipografia que imprimiu o número 06, junho de 1931, que eu tenho em mãos como preciosa relíquia documental das festas sãojoanescas do passado. Creio que existam outros exemplares na Biblioteca do Instituto Histórico e Geográfico do RN, em sebos e colecionadores. Além de não registrar nenhuma menção ao folclorista Luís da Câmara Cascudo, nesta edição (não conheço as anteriores), a página que seria a dois das 48 páginas, caso estivessem numeradas, traz uma revelação importante para mim. Um simples anúncio de bar é uma prova inconteste de que a expressão “lunch”, que originou o nosso “lanche”, já era usual em 1931, em Natal. Portanto, muitos anos antes da chegada dos americanos em Natal, durante a Segunda Guerra (1942-1946). Então, é conversa fiada que lanche “pegou” em Natal por causa dos americanos. O simplório anúncio do “Aéro-Bar”, de Vicente Romano, tinha o seguinte texto:
“O mais completo e hygienico serviço de bar. Sorvetes, cremes, refrescos, frios, leite, qualhada, lunches, chocolates, café, bolos, bebidas geladas, etc. Activo serviço de garçons. Avenida Tavares de Lyra – Ribeira.”
Para os padrões modernos, “A Cangica” recebia bom respaldo privado, principalmente de farmácias, armazéns, bares, restaurantes, importadores de veículos e máquinas de Natal e Macaíba, e estrangeiros. Sim, há uma publicidade da “Companhia Générale Aeropostale – C.G.A. – Serviço Postal Aéreo – Europa – Africa – Sul America”, que funcionava na Avenida Tavares de Lyra, 34, e que anunciava “correio para todas as partes do mundo”, na sexta-feira para o sul e no sábado para a Europa.
Naqueles tempos as mulheres não usavam bolsas, mas carteiras, conforme anúncio de página inteira da firma A. Mesquita & Cia, na Praça Augusto Severo, que tinha a loja Natal Modelo com “a mais alta novidade em chapéos para homens, senhoras e creanças”. Além de anúncios dos bares como a Cova da Onça, de Leite & Cia. dentre outros, há outros de O Bazar Carioca, de Pedro Affonso, Carlos Elihimas & Companhia, Agencia Internacional, Fábrica de Cigarros Vigilante etc. Seria cansativo registrar todos os anúncios dos comerciantes da Ribeira e Cidade Alta. Publicidade oficial não há, assim como nenhum registro de atividade política. Só São João. Crônicas, sonetos, poemas, contos e pequenas histórias, algumas simplórias.
O poeta Jayme Wanderley é um dos que ocupam mais espaços na revista e autor do editorial “O calor das fogueiras”, do qual transcrevo um trecho sobre os folguedos sãojoanescos daqueles tempos, mantendo a grafia da época:
“As morenas timoratas, aquellas cujos olhos luminosos de esperanças rodeiam as mezas das advinhações caseiras; aquelas que procuram um prato tradicional de cangica, não a cabeça ensangüentada de um amoroso e romântico apaixonado, mas que cubiçam e cuidam encontrar a aliança que foi jogada no tacho fervente do doce gostoso, para saber o bom ou mau prenuncio, que lhes pode advir do casamento, as travessas, as inquietas, as deliciosas raparigas que fazem o sonho promissor depois dos jejuns, de sortilégios e rezas suspeitas, para ver se logram ou não a conquista do amor por que anseiam; as que brincam á margem das fogueiras crepitadoras, que alteiam a chamma entre improvisados jardins nos terreiros das vivendas em festas e se casam e se baptisam e se tomam de afinidades familiares, entre o alarido da creançada, o estalejar da lenha verde ardendo e a toada monótona dos violeiros adestrados, que rebatem e repinicam o hexacordio melodioso, de cujo bojo sonoro se desprende o rytmo suggestivo das CAPELLINHAS DE MELÃO e da scenas bizarras dos PASTORIS, todas essas bonecas anonymas, sereias de exquesitas seduções, imbuídas de superstições e de crendices, se illudem para enganar a alma que precisa de illusões”.
Ufa! [Luiz Gonzaga Cortez]



PROSA
“De novo. Não mais. Escuro amor, escuro ardor. Não mais. Escuridade.”
James Joyce
Giacomo Joyce
VERSO
“Não será necessário deixar a cama. / Só a aurora entrará nesse quarto vago.”
Cesare Pavese
“O paraíso sobre...”

sexta-feira, 19 de junho de 2009

Gay, letras, diploma e resfriado

Gay Talese é o cara. Muito antes de Lula, de Obama, Gay Talese já era o cara. É dele o “Fama e anonimato”, antologia de reportagens dos anos 60 e que ajudou a disseminar pelo mundo, em especial nas escolas de jornalismo, o que se convencionou chamar de, no Brasil, “jornalismo literário”, e, em inglês, de “novo jornalismo”.
Qu’est-ce que c’est? What is this? – me perguntará o leitor incauto. Sem problema: ninguém nasce rodrigolevino na vida nem filho de Carlão de Souza, como o nosso Alex de, que tudo sabem e sabem tudo.
Bom, se há um novo com certeza houve um velho. O tal “new journalism” contraria as regras clássicas do jornalismo padrão (chavão), velho, decrépito, passado, para oferecer ao leitor um produto suposta, pretensa, ou realmente diferenciado. No sítio da Flip, por exemplo – a Festa Literária Internacional de Paraty, onde Talese é convidado de honra e pompa –, o novo jornalismo é descrito como “modalidade que utiliza técnicas da literatura no relato jornalístico”.
Mais que técnica eu diria que o tal “jornalismo literário” é questão de estilo.
Mais, a-li-ás: tem técnica nenhuma, não. É só estilo. E estilo se tem ou não se tem. Dá pra exercitar claro, mas não adianta anabolizantes nem edulcorantes nem injetar na veia a coleção completa de “jornalismo literário” da Companhia das Letras (da qual faz parte o já citado “Fama e anonimato”).
Charles Bukowski, por exemplo, que nada tem a ver com new ou old journalism (a não ser que jornalistas sempre foram chegados numa birita, ontem como hoje), tem uns versinhos pra esse lance de estilo. Se puderem assistam Ben Gazarra interpretando o alterego bukoswkiano em “Crônica de um amor louco”, safra 1981. Ele começava assim, num palco nu, segurando uma garrafa pelo colo:
“Estilo é a resposta para tudo.”
E continuava:
“O estilo faz a diferença, o jeito de fazer, o jeito de ser feito.”
E concluía, pausadamente:
“Seis garças permanecendo imóveis numa poça d'água – ou você saindo nua do banheiro – sem me ver.”
Pois é. As reportagens de Talese são marromeno assim. A diferença é que o esqueleto da matéria é todo real, fatos colhidos in loco, de preferência sem o gravador nem papel nem lápis. A galerinha do “new journalism” gosta de umas manhas como essas, tipo Dogma 95, saca?
Bom, também não vou ficar interrompendo pra explicar tudo. Se não souberem o que é Dogma 95 vão lá na wikipédia que eles informam. Errado, mas tudo bem.
CANUDO
Bueno, mas o que eu queria dizer enquanto encerava o nariz, a coluna, e esticava as pernas e o texto, é que Gay Talese é o cara.
Tudo pra chegar depois e completar assim:
Coitado do Gay Talese. Vem pro Brasil em julho, deu entrevista para as amarelas da Veja e vai ouvir muitas piadinhas infames como a da abertura desta coluna de hoje (“Gay Talese é o cara”, pois) e mais um porrilhão de outras.
Aposto meu “Fama e anonimato” que o Pânico na TV vai entrevistar o cara, que o CQC vai entrevistar o cara, e que todos vão perguntar algo do tipo “Você é Gay... Talese?”. Se brincar, até Luciana Gimenez é capaz de tirar uma onda e tal. E Hebe Camargo, e Jô Soares, e Faustão. (Hum. Também, não vamos exagerar.)
Mas, pode ser pior. Nestes tempos de gripe suína, bovina, caprina, de vírus H1N1, só falta Talese pegar uma gripe em Paraty. Aí a galera vai ao delírio – seu texto mais famoso, um perfil de Sinatra construído a partir de várias tentativas inúteis de entrevistar o cantor, tirava do final do segundo parágrafo seu famoso título – “Frank Sinatra está resfriado” – e começava o terceiro assim: “Sinatra resfriado é Picasso sem tinta, Ferrari sem combustível – só que pior.”
Talese resfriado, sim, pois não. No Brazil. Poucos dias depois de os juízes do STF dispensarem diploma para o fazer e o obrar jornalístico. Brazil. Onde, só de sacanagem e já de sacanagem, Rodrigo Levino se juntou a Edson Aran – seu diretor na Playboy – para organizarem a “I Parada Gay Talese pelo orgulho de ser jornalista literário”. Esperam juntar cinco pessoas na Avenida Paulista, sob o tema “Largue esse blog e vá fazer reportagem”. Sacaninhas, já pensaram até nas participações pra lá de especiais: a banda “Sinatra is Cold”, desfile da grife “Radical Chique”, exibição do filme “A sangue frio” e apresentação do balé “O reino e o poder”.
A cerejinha no bolo fica por conta de um carro alegórico da revista Piauí, servindo fartas doses de uísque.
Como a coluna não usa salto alto e concede aos leitores o perdão da ignorância – e ignora os chatos que vão pular e estrilar “eu já sabia, eu já sabia” – seguem as legendas: “Sinatra is Cold”, ou seja, “Sinatra está resfriado”, dispensa maiores explicações. “Radical chique e o novo jornalismo” é um livro de Thomas Wolf. “A sangue frio” é um livro-reportagem de Truman Capote do qual foi feito o filme homônimo. E, “O reino e o poder”, a história do The New York Times, assinada por Talese. Tudo, e todos, no balaio de gato do jornalismo literário.
Os jornalistas da City, que já têm experiência pra dar e vender na Parada original, vão comparecer, claro. Muito estilosos. Alguns, com o diploma entre as pernas.
*



PROSA
“Minhas palavras em sua mente: pedras frias polidas afundando num pântano.”
James Joyce
Giacomo Joyce
VERSO
“A cidade nos deixa elevar a cabeça / e pensar, mas sabendo que após baixaremos.”
Cesare Pavese
“Disciplina”

quinta-feira, 18 de junho de 2009

Muito siso, pouco riso

A coluna anda muito sisuda, muito seriazinha, muito chata, mesmo. Reconheço. Não vou nem botar a culpa no corno do Leopold Bloom, que monopolizou o espaço nos dois primeiros dias desta semana sem graça. A essa altura não preciso mais explicar quem danado é o senhor Bloom, né? O caba é mais famoso que o senhor Ricardo Teixeira, a quem Serejo maldosamente sugeriu entregar as chaves, os cofres e tudo mais neste Ryo Grande gloriosamente projetado para 2014.
Pois. O personagem inventado pelo irlandês James Joyce conseguiu superar até Saint-Exupéry – se o inventor do pequeno príncipe veio dar com os costados por estas ribeyras uma única vez, Leopoldinho entra ano, sai ano, nos dá o ar de sua graça.
Terça passada, creiam-me, foi visto estirado numa calçada do Beco da Lama, bêbo feito um gambá – ou como um bêbado mesmo, que eu nunca vi gambá bêbado.
Na segunda – e não vou insistir que em mim acreditem – foi visto na fila de autógrafos de “O homem óbvio”. Não vou dizer que foi um dos muitos que furaram, na maior cara-de-pau, a fila. Não. Pelas caridade. Mas que um dos 404 livros foi a ele dedicado, vos asseguro. Rubinho ainda chegou a perguntar – “Dedico a você e à Molly?” – mas o irlandês, bêbado como um irlandês bêbado, só fez coçar a testa e soltou um grunhido, obviamente ininteligível.
Daí que deixando pra lá o senhor Bloom – até o ano que vem – vou contar do que vi e ouvi na calçada da Fundação Zé Augusto. Nem tudo, que não sou doido, e na calçada, sim, porque o negócio lá dentro tava apinhado e eu esperei até a derradeira hora para entrar. Uma língua afiada começou por comentar que nunca Crispiniano Neto viu tanta gente no endereço da Jundiaí. É verdade. Ainda que essa gente toda tenha passado ao largo do prédio principal e ocupado a rampa e as poltronas do TCP. No prédio principal entraram tão somente o presidente (da Fundação) e o deputado Mineiro. O primeiro disse que ia varar a noite escrevendo. O que danado tanto escreve Crispiniano? Mais um cordel, com certeza, que o vate tem mais leitores que Joyce e Rubinho juntos. O segundo, Fernandinho, entrou lá para fazer não sei o quê. Perguntaram se era para encontrar a caixa-preta da Fundação. Na verdade, eu perguntei, mas só pra tirar uma onda, que a FZA não é nenhum airbus da Air France – embora tenha caído há muito tempo sem deixar vestígios culturais por estas dunas e ribeyras. Mas, pra deixar claro, eu não sei de nada, e as únicas cores de caixa que eu conheço são “verdemuco” e “azulargênteo” – na escala de cores joyceanas, claro.
Lá pras tantas desce a rampa o comandante Castilho. Uísque na mão. Desconfio que Castilho bebe derna de sempre. Berilo Wanderley se foi, Newton Navarro se foi, e Castilho, companheiro de boêmias dos dois e de mais uma penca de gente, segue incólume em sua farra sem fim. É a alma mais bonina da cidade, capaz de fazer sumir qualquer siso e imprimir sorrisos no interlocutor mais circunspecto. Especialmente quando imita a dublagem dos filmes gringos. A propósito, já gravaram um Memória Viva com Castilho?
Falando em siso, feliz mesmo estava o editor Adriano de Sousa, que desistiu de investir em autores sem futuro – como o sobrescrito – e só aposta agora nos best-sellers (depois de Rubinho, Cassiano Arruda Câmara – que Volonté abordou na entrada para dizer-lhe que nunca viu nenhum exemplar do seu primeiro livro circulando pelos sebos da província, prova, segundo o peripatético, do apreço dos leitores). Feliz é modo de dizer que o poeta de Alexandria é que nem Jorge Fernandes – às avessas: “Habitualmente vivo assim sorrindo, / O riso para mim exprime tudo! / E no ato mais sério estando rindo / Sou mais sério sorrindo que sisudo!” Fala o sujo do mal-lavado e o roto do esfarrapado e os amigos dos amigos do peito, pois.
Uma colunista social também chamou de lado o dito “mago das lentes potyguares”, prometendo-lhe doses de felicidade ou coisa que o valha, mas todos foram muitos discretos em perguntar se a promessa logrou êxito ou ficou pra mais tarde.
Mas, feliz mesmo, fiquei eu, quando a presença radiante de Julinha Arruda iluminou a noite com seus mil faróis. É verdade que tive que subir na calçada para dar os clássicos dois beijinhos e ficar um pouquinho mais próximo de sua altura e das nuvens onde normalmente paira a vereadora, mas a presença de Julinha traz consigo tantos e tão grandes sorrisos, daqueles de orelha a orelha, que não nos deixamos frustrar com a inatingibilidade dos sonhos.
A noite terminou sem muita graça – mas nem tanto grave assim – na obviedade clássica do Bella Napoli, onde Alex Nascimento se deixava acompanhar por duas não menos belas companhias. Me relembrou, Alex, o nome de uma atriz, que eu já me esqueci, de um filme, que eu também não lembro. Me lembrava só do nome de Tania Morales, mas isso é outra história. Me lembrava, apenas, de que, quase sempre, ao rir da desgraça alheia, estamos rindo é da nossa própria.
*



PROSA
“Sim: uma breve sílaba. Um breve riso. Um breve bater de pálpebras.”
James Joyce
Giacomo Joyce
VERSO
“Passando na rua, / ela ri solitária o seu meio sorriso.”
Cesare Pavese
“Uma recordação”

quarta-feira, 17 de junho de 2009

Muita prosa, pouco verso

PROSA&VERSO
Não sei se os leitores e as leitoras perceberam, mas, desde que retornei, substituindo a interina Sheylinha Azevedo (sempre bom e sempre tempo de agradecê-la novamente), que mudei minhas “regras” para os quadradinhos PROSA e VERSO, nos dois cantos inferiores da coluna.
Agora, invés de variar livros e autores como sempre fazia, dedico a inteira semana a um único livro e autor – para a prosa – e a um único poeta e vários poemas (que podem ser de livros diferentes) – para os versos.
PROSA&VERSO II
Assim, a semana passada foi do italiano Pirandello e do nosso saudoso Luís Carlos Guimarães. E a retrasada de Italo Svevo e Napoleão de Paiva. E esta, de James Joyce (não do “Ulysses”, que nunca li, mas pegando frases do “Giacomo Joyce”, Iluminuras, 1999) – já os versos são todos de Cesare Pavese, colhidos do belo “Trabalhar cansa”, lançado este ano pela Cosac Naify, em refinada e indispensável edição.
PROSA&VERSO III
Antes, nas frases, nos versos, eu procurava refletir algo existente no texto principal ou nas notas. Agora estou despreocupado dessa relação, que pode ou não existir.
O que importa é que os livros e autores podem inspirar no leitor uma lembrança antiga ou a busca na livraria mais próxima.
Afinal, ler é ainda um dos maiores prazeres do mundo.
E como outro grande prazer, dá para praticá-lo em qualquer lugar: na cama, no sofá, no banheiro, na rede.
CAÇADA
“Se a satisfação da leitura produzir conhecimento, ótimo. Mas este não é meu objeto de leitura. Não troco o direito de viver por nenhuma caçada de sabedoria.” – de François Silvestre, no anteprólogo do seu último livro, “Remanso da piracema”, que vai na contramão da moda reinante e não tem lançamento oficial nem oficioso. Mas que já está nas melhores livrarias e bancas de revista da City.
PROMOÇÃO
Milena Azevedo, a sócia, a gerente, a manda-chuva, enfim, da Garagem Hermética Quadrinhos, está hoje no famigerado Mercado de Petrópolis (com ou sem forró pé-de-serra), das 15h às 21h.
Arrume uma grana na real porque desconto de verdade só à vista (sem custar os olhos da cara).
ROSA
Começa hoje e vai até sábado o seminário internacional “A teoria política de Rosa Luxemburg”, promoção do CCHLA da cinquentona UFRN.
Nada a ver com a Rosa de Mossoró, claro – mas nem por isso o evento deixa de ser menos “internacional”: participam ao menos dois nomes gringos (Michael Löwy, da École de Hautes Etudes en Sciences Sociales, e Eleni Varikas, da Université Paris VIII) – chique no último, pois não, se é certo usar o termo quando se trata da Rosa de Luxemburgo, assassinada há 90 anos por motivos políticos.
Além da presença ilustre de Isabel Loureiro (Instituto Rosa Luxemburg) e do professor Gabriel Vitullo, da “nossa” UFRN.
(Sobre a revolucionária Rosa, escreveu Loureiro no sítio do Instituto: “Seu maior desejo sempre foi unir política e felicidade individual — desejo que cala fundo no coração das mulheres.”)
Para quem quiser participar, é de grátis: www.cchla.ufrn.br/rosaluxemburgo.
CHARLOTTE
Charlotte Gainsbourg – o resultado da cruza entre Jane Birkin e Serge Gainsbourg – grava seu quarto álbum. O queridinho dos modernetes de uma época, Beck, participa.
Pra quem não lembra, Charlotte tinha 13 anos quando gravou um dueto com o pai numa faixa pra lá de polêmica – “Lemon incest” – onde os versos diziam “o amor que nunca faremos juntos”.
CULT COLT
Ôps! A notícia não tem nada demais, mas é no mínimo estranha: agora, quem quiser se inscrever no Cadastro Municipal de Entidades Culturais (CMEC) não precisa mais apresentar o atestado de antecedentes criminais.
Mas a certidão negativa de débitos e tributos municipais continua obrigatória.
Ou seja, dever não pode.
Mas, mas, mas – não que o crime compense, nem que “tá tudo dominado” – mas impossível não relembrar a máxima: “Quando eu ouço a palavra cultura, eu saco meu revólver.”
Sem o CMEC, ressalte-se, não se pode propor projeto para a Lei Djalma Maranhão.
COCO
A festa junina da AABB chama atenção pela presença – além do forró, das barracas de pescaria e de canjica e pamonha – do embolador Manoel do Coco. Vai ser na sexta, 19.
FOTO
O IDEMA propõe concurso fotográfico sob o tema “Unidades de Conservação e Monumentos Geológicos do RN”. Inscrições até o 31 de julho.



PROSA
“Aqueles dedos frios calmos tocaram as páginas, sujas e puras, em que meu pudor há de arder para sempre.”
James Joyce
Giacomo Joyce
VERSO
“Nós deixamos pra trás a mulher, e na aurora / cada coisa sabia daquilo que tínhamos: / calma, ruas e o vinho.”
Cesare Pavese
“Mediterrânea”

terça-feira, 16 de junho de 2009

Odisséias

Professor, doutor, sobrenome ecologicamente correto, e por ventura bloomaníaco, João da Mata Costa envia cumprimentos e complementos ao que escreveu, yesterday and today, sobre o convescote de hoje – vale a pena conferir, porque como nem todo dia é dia de índio, nem todo dia é 16 de junho, nem toda capital comemora o Bloomsday como esta, Espacial-do-Brazil e sede-da-copa-2014.
Dei uma editada, claro, que professores-doutores bebem água-de-chocalho em fontes eruditas (mas vocês podem ler na íntegra em www.substantivoplural.com.br) – mesmo assim, garanto, é melhor, muito melhor que a wikipédia:

“O dia 16 de junho é o dia de Bloom. O dia em que transcorrem as ações do romance Ulisses, escrito pelo irlandês James Joyce (1882- 1941). A vida toda são vários dias, um após o outro como na vida do sr. flores (Leopold Bloom) doido para ter menino. O Ulisses de Joyce é um banquete literário dos deuses fundindo gêneros, épocas, o popular e o erudito. Um dia na vida de uma personagem. Um dia comum, uma vida comum como a nossa transformada em arte por um artífice de palavras que podem ser criadas: verdemuco, azulargênteo, sandalizantes, etcetal. Uma linguagem cheia de ‘puns’ e outros sons. Ouve-se mais do que se escuta, no Ulisses de Joyce. ‘Deus é um barulho na rua’.
“A primeira edição do Ulisses foi publicada no dia 2 de fevereiro de 1922, por uma pequena livraria-editora de Paris, a Shakespeare and Company, da poetisa Sylvia Beach. Uma verdadeira saga a edição desse livro que precisaria sair no dia do aniversário de Joyce (na capa a cor do mar grego), um aquariano obcecado pelas datas e números.
“Em 2009, são comemorados os 70 anos do canto de cisne de Joyce, Finnegans wake, e da morte do poeta Yeats.
“Ulisses é uma epopéia moderna, considerado o maior romance moderno. Um romance enciclopédico e fragmentário. Romance enigma e labiríntico. Uma trepada lingüística. A 1ª edição brasileira foi publicada em 1966, com tradução do filólogo Antonio Houaiss. Em 2005, saiu outra edição, com tradução da professora Bernadina da Silveira Pinheiro.
“A estrutura do livro é composta de 18 capítulos, ou melhor, episódios. O Ulisses de Joyce acompanha a Odisséia Clássica, tanto no tema quanto na forma, e o significado dos personagens e incidentes têm correspondência com o romance de Homero, iniciador da literatura ocidental. Leopold Bloom é Ulisses e Stephanus Dedalus é Telêmaco, um poeta-artista jesuíta que sofre de consciência pesada por não ter atendido ao pedido de sua mãe para rezar quando ela se encontrava no leito-de-morte. Penélope é a mulher de Leopold Bloom, que no romance recebe o nome de Molly Bloom. Cada hora do dia 16 é representada por uma ação-lugar-som-cor.
“No final, Ulisses ‘retorna’ para casa (Ítaca) e encontra Penélope (cama). A mulhervaginabismo onde o homem se perde e jamais retorna. Ítaca distante e labiríntica. O romance encerra com um pungente monólogo de Molly Bloom. ‘yes, I said yes I will Yes oui jái dit oui je veux bien. SIM EU QUERO SINS.’
“FIM AGAIN FIM AGAIN FIM”
[João da Mata Costa]
*
SEIS E MEIA
Para quem gosta, o Projeto Seis & Meia de hoje é realmente imperdível: Xangai, Cátia de França e Khrystal sobem ao palco do Teatro Alberto Maranhão e cantam para uma platéia que deve aplaudir até o silêncio, no caso dos fãs de carteirinha.
O Seis & Meia começa, se é preciso de legenda, às 18h30.
TRICOLOR
Trinta e um anos de jornalismo na cacunda e Jóis Alberto estréia na blogosfera – “poetas azuis paixões vermelhas amores amarelos”, referência ao seu livro homônimo, safra 2003.
Segundo Jóis – que também é poeta, claro (por estas ribeyras quem não é uma coisa é outra, e muitas vezes as duas) – seu blog tem artes, cultura, filosofia, literatura, marxismo, pós-marxismo e psicanálise. Confiram: http://jornalistaepoetajoisalberto.blogspot.com/
AMERICA
Músicos que navegam nas águas esquálidas do Rio Putigy, preparai-vos: falta menos de uma semana para o seminário “Experiências do South by Southwest”, ministrado pelo americano Brent Grulke – que é o bambambã do festival texano, e pode, portanto, ser uma ponte para atravessar o marasmo das águas locais.
Vai ser na segunda, pela manhã, no auditório do Sebrae.
Grulke vem a convite da cantora Valéria Oliveira, que se apresentou este ano no festival.
AMERICA II
Antes da palestra, sábado e domingo, Grulke assiste a apresentações de músicos “locais” (Eduardo Taufic, Jubileu Filho, Júnior Primata, Paulo de Oliveira, Rogério Pitomba, Sérgio Groove, Simona Talma, Valéria Oliveira, Ulisses, e das bandas Du Souto, Fewell e Rejects), em três locais diferentes (Budda Pub, Centro Cultural DoSol e Belle de Jour Bistrô), onde recebe material promocional e conversa com outros artistas interessados em conhecer os meandros de um dos maiores festivais de música do mundo.



PROSA
“Este coração lamenta e desanima. Engano amoroso?”
James Joyce
Giacomo Joyce
VERSO
“O perfume eram flores pisadas nos seixos.”
Cesare Pavese
“A puta camponesa”

segunda-feira, 15 de junho de 2009

O dia de Bloom

O professor João da Mata Costa envia email com as suas “Joycircunvuluçõesbabélicas”:

“O diacronismo cambiante da navelouca de Bloom-mente-fluxo-feérie-carnal-verbal. Rio (Nossa Senhora) Corrente. Sinfonia de signos. Da cappo. Fim-agains-Fim. Finneganswake. Novamente. No meio da morte estamos com vida. Corrida sem vencedor. Livro-cidade-mulher. Molly Bloom: eles são loucos me comer. Aiiiiiiiiiiiii. Vai, segue, mete que a vida é só um dia mares. Telemacus vagueia thalasses.
“Introibo ad altere dei. Abre verunque as pernas. Porra de des (esperta-dor). Cuco. Cukooo. Cucckolddddd. Sim, eu sei sou corno. E daí! Ela gostou. Que barulho é esse é Deus ninguém entende. Como uma onda no mar que flui num jorro orgasmico. Amo-te tântalo. Aligozou. Anna Lívia mais que bela Purabelle. Pausa. Depois glissando um chocolate quente. O amor corre consciência. Ela me beijou com seus lábios carnudos divagadamente as moscas copulam. Solidão. Livro-suruba-lingüística. Verdeargenteoceanico. Ulisses volta para Ítaca. Ela dorme e ronca desafinadamente em staccato. Do pesadelo tento lentamente despertar. É a história. Um dia todos os dias. Dimensão multi-fractal. A cabeça junto aos pés: Dorme. SImThomasdeAquino. Santo agostinho e todos os filósofos da igreja pecadora. Imagens, urdiduras, palavras nada além que palavras inventadas. O hades esqueço, lotófagos seduzem, proteus bondemeuvelho Liffey. Não sou quem vavegabundo. Joyceglosas Cila e Caribdes. Os caminhos do criador Shakespearou. Flaneur Dublin. Puns popular e erudito. O todo em um romance enigma. O caminho mais difícil são as curvas das estradas sinuantes do corpo. Sinos tocam. É a hora do ângelus Molly. Epifania. Eu sou o alfa-omega-alfa. O caminho e o fim do romance cíclico dessacralizado. Chance? Nenhuma... ‘a intuição do amor é apanágio das mulheres’. RomanceAmor. Fraulein Molly. Emma Flauber Bovary c´est moi aussi don Quijote. I am a yhwk Deus.”

Acharam confuso?
Mas-que-nada. É que amanhã é o dia em que o senhor James Joyce inventou de botar um sujeito chamado Leopold Bloom zanzando pra lá e pra cá na sua Dublin natal. Tipo assim: um Volonté dos nossos. O ano era 1904. Joyce escreveu o livro (“Ulysses”, claro) durante anos, mas publicou mesmo em 1922. Desde então é o livro mais comentado e menos lido do mundo. E inspira textos como o de João da Mata Costa.
Tanto fez, tanto fez, o senhor Joyce (não confundir com a cantora) que veio dar com os costados e com os pés na lama deste Arraial de poetas e jornalistas e jornalistas-poetas em cada esquina, de pequenos príncipes e misses Brazil, de muitos Giacomos – Casanova, Palumbo, Joyce etc. E, ah, claro, sede mundial da Copa do Mundo de Futebol dois mil e catorze. A mesma cidadezinha onde aportou a santa e a promessa, quase epifania: “Onde esta Santa parar nenhuma desgraça acontecerá.”
*
O-BRA
O Bloomsday 2009 recebeu um upgrade da gota em relação ao ano passado, quando tudo ficou muito concentradinho na Biblioteca Zila Mamede (quem sabe um dia Biblioteca Molly Bloom): amanhã, pra vocês terem uma idéia, até o Bar de Pedrinho Catombo se rende aos encantos ulysseanos – rola ali uma versão cinematográfica da obra. O-bra, com ô maiúsculo.
YOUNGMAN
O Sebo Encarnado varre os cascos quebrados e as piúbas carcomidas do lançamento do livro de Paulo Augusto sobre Zé Areia (sábado passado) e exibe “A portrait of the artist when as a young man” (e seria auspicioso exibi-lo no original).
Mesmo filme, aliás, a ser exibido no Bardallus – que tem tudo pra se chamar,agora, “Dedalus”.
UNPLUGGED
O Mercadinho de Petrópolis também embarca no “Bloom’s convescote” através do sebo Cata-Livros, que também exibe filme. Não sei se depois rola um pé-de-serra acústico, mas fica aqui a sugestão.
E se vocês tão achando que é exibição de filme-que-não-acaba-mais pra celebrar um livro, não se preocupem: são só três percorrendo a cidade peripateticamente.
BOLA
E tudo-tudo termina – nem com uma explosão nem com um gemido, que o lance aqui não é Eliot – mas com uma mesa-redonda. Em discussão América x ABC? Não. Derruba ou não derruba o Machadão? Também não. O tema – adivinhem – é “James Joyce e a literatura no século XX”.
Chico Ivan vai. Antônio Eduardo Oliveira vai. Ana Graça Canan vai. E João da Mata Costa também vai, que foi por isso que eu deixei ele falar ali em cima. Detalhe: são todos professores-doutores.
ÓBVIO
Logo mais à noite tem lançamento de “O homem óbvio”, crônicas de Rubinho Lemos Filho.
No café-da-manhã de sábado, ele mesmo concluía que, homem óbvio que também sou, estarei por lá. Claro. Só não vai quem se acha além da obviedade nossa de cada dia.
No TCP da Fundação Zé Augusto.
PROFISSÃO: DOCENTE
“Profissão docente: refletindo sobre a prática pedagógica” é o tema do III Congresso de Educação da UnP – começa hoje, termina sexta.



PROSA
“Envio: Me ame, ame meu guarda-chuva.”
James Joyce
Giacomo Joyce
VERSO
“Até a água do rio engoliu as ribeiras / e as macera no fundo, ao céu. As estradas / são iguais às mulheres, maturam paradas.”
Cesare Pavese
“Grapa em setembro”

sábado, 13 de junho de 2009

Adivinhe quem vem para o café-da-manhã: Rubens Lemos Filho

Rubinho Lemos Filho dispensa apresentações, mas duas ou três coisas merecem ser ditas, por mais óbvias que possam ser. Uma, que o secretário de Comunicação, identidade que assumiu há anos, termina por esconder, no dia-a-dia, o cronista ágil e íntimo da palavra que verdadeiramente é. Duas, que vez ou outra se refugia em seu blog (www.rubenslemos.com.br) e, ao se deixar levar pela ausência do peso do cargo, brinda seus leitores com textos que se caracterizam por uma fluidez admirável, onde parte, às vezes, de um tema distante para encadeá-lo a outro surpreendentemente próximo. Três, que segunda-feira, 15, lança livro no TCP da Fundação Zé Augusto. Óbvio, vamos.

CAFÉ-DA-MANHÃ EM ENCANTO
Só você, Mário Ivo. Só você, a sua incomparável paz de espírito, para me permitir o reencontro com a mais frugal das refeições e a mais incomum para mim. Há muitos anos, por força do estresse que me domina inteiramente, não tenho tomado café-da-manhã.
Acordo sobressaltado, tomo um banho gelado e corro para a aprazível rotina de todos os dias. No máximo, um copo de vitamina passada pela nutricionista, um beijo na mulher, um cafuné no cachorro e rua. O filho já tem ido ao colégio, bem antes, também sem tomar seu próprio café.
Café-da-manhã agora é convenção, deixou de ser refeição. Minha avó me ensinou que nada deve atrapalhar a refeição, o estômago vai cobrar depois. Não segui a lição porque a gastrite insiste em gemer. Mas vamos lá: café da manhã agora é pretexto para se fechar negócios, cobrar dívidas, costurar conchavo. Ganhou um certo charme, ainda que seja selvagem o apetite dos engravatados.
Tento lembrar de um café-da-manhã tranqüilo, relaxado, sem ninguém ou nada a incomodar. Aí eu teria de ligar para mamãe e perguntar como eram os cafés-da-manhã nas minhas mamadeiras, quando eu tinha um ano de idade.
Também não devem ter sido agradáveis. Afinal, estávamos eu, ela e o meu pai, exilados no Chile, fugindo da Ditadura e ameaçados por outra repressão que findou vencendo quando já havíamos partido: Pinochet passou a servir café-da-manhã em forma de porrete, choque elétrico e fuzilamento macabramente surrealista: Num imenso estádio de futebol.
Antes de você, Mário Ivo, me ligar abrindo o cardápio, estive no show de Roberto Carlos no Ginásio Machadinho cheinho de goteiras. Como torci, Mário, que caísse um temporal enxurrando os cabelos ornamentais de algumas dondocas desvairadas. Elas berram desafinadas, sacodem os braços, exibem suas celulites em minissaias wanderléicas.
São deseducadas as dondocas em pleno show. Sacodem-se batendo na mesa vizinha, discutem com os garçons como se num botequim estivessem, gritam como se para mostrar que a superioridade delas repousasse na conta bancária.
Aí vem o Rei, naquele sorriso protocolar, assanhar as dondocas e pedir, pela milésima quinta vez, um café-da-manhã, para eles dois (ele e não sei quem), mas só amanhã de manhã.
Não pude esperar porque tinha de trabalhar sem tomar café-da-manhã. Saí de casa ainda lembrando a raiva dos flanelinhas que loteiam estacionamentos como latifundiários vestindo camisetas de eleição. Voto em quem garantir um estacionamento tranqüilo para os neuróticos feito eu.
Que deveriam mirar nos sertanejos para se acalmar. Quando vou ao interior, fico em casas antigas, de alpendres largos, salas ornamentadas por fotos antigas de gente que já morreu, de cozinhas fumegantes.
Só lá eu como um pouquinho pela manhã. O horário é quase de almoço, 10h30, 11 horas quando eu acordo, vencedor imaginário de todos os meus problemas, Jerônimo dos açudes sangrados, das capoeiras verdejantes.
A mesa da casa dos meus sogros faz inveja a Ojuara, de Nei Leandro: Tem leite tirado no raiar do dia, sucos variados, tapioca, queijo de coalho, queijo de manteiga, uma república de queijos, beiju, carne assada, costela de cabrito, bolo preto, bolo da moça, bolo da descabaçada, doce de goiaba, milho cozido, milho assado.
O melhor da mesa é a presteza de minha sogra Chiquita, de avental, uma executiva do Alto Oeste. Dá ordens às cozinheiras, prova ela própria cada prato, resmunga com os meninotes que metem a mão nas delícias expostas, me oferece pão assado, pão com manteiga do sertão, alfenim, até carne moída.
Encanto, a 450 quilômetros de Natal (quando estou lá gostaria que ficasse a 900), é a terra do meu descanso. Vou lá no máximo duas vezes ao ano, pelas razões que não me permitem tomar café-da-manhã como um ser humano no dia-a-dia infernal.
Da próxima vez, pretendo pegar o bule de leite fervendo e nele jogar o celular, um eficiente inibidor de apetite. A pior das invenções, é patrulheiro, invasivo, perseguidor.
Um dia eu não vou usar celular.
Ainda que seja no Encanto, lindeza na grafia, aumentativo de sossego.
Bom café-da-manhã, Mário Ivo.
E não precisa convidá-lo para o lançamento do meu livro.
Você vai, é óbvio. [Rubens Lemos Filho]



PROSA
“O tempo que lá, para os homens, era guerra, intriga de tristes paixões, aborrecimento azedo e frenético, aqui era calma atônita, imemorial.”
Pirandello
Novelas para um ano
VERSO
“a vida dói, a vida fere, / mas é bela a vida é bela.”
Luís Carlos Guimarães
“O passarinho da...”


sexta-feira, 12 de junho de 2009

Dressed to kill, baby

Acompanho pelos releases (confesso, um tanto quanto abismado) as sugestões para o que vestir no Dia dos Namorados. As opções são várias: camisolas, shorts doll, corseletes, cuecas samba-canção, e os inevitáveis sutiãs e as indispensáveis calcinhas.
Claro, tudo muito sensual, sexy, apetitoso.
Ainda fiquei em dúvida sobre o que danado é um corselete, mas o Houaiss me salvou: ora, vejam, é apenas o velho corpete – o que prova que nem tão antigo assim sou.
Agora, os tais shorts doll são de difícil definição. “Doll” é boneca, em inglês, sabe-se – o que me lembra velha canção de Robertinho do Recife, mais pra lambada do que samba-canção: “Baby doll de nylon/ Combina com você/ Baby doll de nylon/ Combina com você/ Pode até ir pro baile/ Ou aparecer na tv/ Pode até ir pro baile/ Ou aparecer na tv...” Desconfio que tem o dedo de Caetano Veloso na musiquinha, o que tem tudo a ver mas é outro papo.
Então, nada. Vamos voltar pro short doll e combinar assim: o short doll é o baby doll dois dedinhos mais composto. O que não diz que não possa ser um tantinho mais sensual. Certo?
Certo, mas o bom mesmo neste Dia dos Namorados é saber que as estampas são variadas, podendo ser de oncinha, floral e roxo – as mais quentes para este ano – podendo ainda uma inovação: que o casal use a mesma estampa.
Quanto a essa última possibilidade, sei não: corre o risco de o casal ficar muito com cara de irmãozinho, o que vamos e convenhamos é uma ducha de água fria para as lascivas intenções do dia. E da noite e da madrugada.
É claro, também, que, além dos vestidos, os pombinhos podem fazer uso e abuso dos acessórios – e não vou citar todos que o horário não é apropriado. Mas, digamos, alguns são pra lá de quentes – literalmente: não bastassem os géis de massagens, descubro agora a chamada “vela sensual”.
Ui. Se for moda mesmo o que vai ter de gente entrando no pronto-socorro na próxima madrugada... Então, crianças, aproveitem bem o dia, vistam-se com esmero, com glamour, com simplicidade, vistam até um daqueles troços que Maya usa no Caminho das Índias. Só lembrem-se que, tão importante quanto o que se veste, é o que se despe. E como se despe.
Feliz dia dos namorados!
*
AMOR NE
Com músicas da Grande Nação Nordestina (Alceu Valença, Geraldo Azevedo, Elba Ramalho etc), Andrezza Costa faz show, hoje, Noite dos Namorados, intitulado, claro, “Amor nordestino”. No Praia Shopping.
EX
Estreou ontem “Minhas adoráveis ex-namoradas”. Apenas no Moviecom, Praia Shopping.
O protagonista-sedutor é um fotógrafo. Aliás, os melhores fotógrafos são grandes artistas nessas de sedução, pois não.
PRETTA
A filha do ex-ministro Gilberto Gil, Preta Gil, faz show domingo na boate Feitiço (Roberto Freire, CCAB Sul).
Desconfio que Preta não tem namorado – o que não impede de a moça pensar nas coisas do coração. Vejam o que ela escreveu no seu blog:
“Polêmicas à parte, nós não somos cegos nem burros e sabemos distinguir o que é feio ou bonito???? isso depende com que olhar você observa as coisas. Eu achei todos os flyers feitos pelos meus queridos fãs lindos, pois foram feitas com amor, pode ser brega, aliás é brega, mas as coisas do coração são assim.”
Menina, jura que você não é prima da Claudinha Leitte?
ESCOLA
É hoje à noite a segunda parte da palestra do carnavalesco Jorge Luiz Fernandes (da Mangueira Estação Primeira).
Como montar um barracão, como minimizar custos, como receber subsídios estatais, como promover a inclusão social e como formar profissionais dentro da própria escola de samba, são alguns dos temas abordados.
No auditório da Funcarte, 19h.
Encerrando a programação, Jorge Luiz Fernandes participa, amanhã, de um grande encontro entre baterias de escolas de samba desta Capital Mundial da Copa. Na Ribeyra-velha-de-guerra. De grátis.
PLUVIÔMETRO
Hoje, amanhã e depois tem temporal em Mossoró City. Chuva de bala e tal, claro. Nos próximos finais de semana, também, sempre às 21h.
O texto continua sendo de Tarcisio Gurgel, a música de Danilo Guanais, e a direção voltou ao comando de João Marcelino.
HOTEL DE TRÂNSITO
Cassiano Arruda já agendou a livraria do Midway para o lançamento de suas memórias do cárcere: primeiro de julho.
BESTA
“Seu alvo é sempre o poder prepotente das elites locais. Sua paixão é desvendar os segredos desta bela e besta cidade.” – do poeta e jornalista Carlos de Souza sobre o também jornalista e poeta Paulo Augusto, que lança amanhã, coisa de 9h, “O bufão de Natal”, sobre a vida do folclórico Zé Areia. No Sebo Encarnado, Avenida Rio Branco, 705.



PROSA
“Mas como ela... assim? O colo nu, os ombros nus, os braços nus... toda fulgurante de jóias e de tecidos...”
Pirandello
Novelas para um ano
VERSO
“e eu ávido cavalo te cavalgo montaria do meu amor”
Luís Carlos Guimarães
“Noturno”

quarta-feira, 10 de junho de 2009

Numa quarta, quaisquer notas

RITMO
Hoje tem Audiência Pública na Casa do Povo do Ryo Grande, iniciativa do mandato do deputado Fernando Mineiro – o título lembra um rap de paletó e gravata: “Jovens potiguares ritmando as políticas públicas”. Das 8h às 18h, no Auditório Robinson Faria, Assembléia Legislativa.
MINHA CULTURA
Se o leitor ou a leitora é um dos prefeitos (as) deste imenso Ryo Grande não pode nem deve deixar de comparecer à Fundação Zé Augusto, hoje, a partir das oito da matina.
Na pauta da reunião com o Sr. Jorge Clésio (representante da Funarte no Nordeste), muitos temas: a pensão vitalícia para artistas e grupos da cultura popular; micro-projetos culturais para os municípios do Semi-árido; o Prêmio Cornélio Campina para grupos folclóricos; e o famoso Programa Minha Casa, Minha Vida, com atenção especial para os artistas populares que não possuem casa própria (a maioria, imagino).
Os excelentíssimos secretários de educação e cultura também estão convidados.
INFÂNCIA PERDIDA
Começa hoje, também, o seminário “Para prevenir e erradicar as piores formas de trabalho infantil” – no Auditório do Sesc, centro histórico desta Capital Mundial do Futebol.
BIG TABLE
Eita.
Também hoje, nós-que-ganhamos-tão-pouco podemos tirar a barriga da dieta rígida que o salário impõe: é que a Capitania (das Artes) convida os coleguinhas da imprensa falada, escrita e copiada para a coletiva de divulgação da abertura do Programa Djalma Maranhão.
O bom é que vai ser durante um breakfast. A partir das 9h, na Funcarte, subida da ladeira.
GABRIEL
Também na Funcarte, mas à noite, tem mais uma edição do Projeto Fala Sério! – os diálogos quinzenais com artistas visuais promovidos pela Capitania das Artes.
O artista da vez é Guaraci Gabriel, que conversa com artistas e público em geral sobre sua carreira que inclui a participação em quatro bienais.
(Na última delas, em Havana, Cuba, GG lançou seu Passaporte, expedido pela União das Nações Intergalácticas.)
A partir das 19h no auditório da Funcarte.
LUSO
Quem quiser se sentir (marromeno) em Portugal, pagando pouco e sem precisar pedir um Passaporte Intergaláctico a Guaraci, o Pestana Natal Beach Resort tem duas opções mais em conta que o embarque transatlântico: em comemoração ao Dia de Portugal (hoje) o cidadão pode bebericar um cálice de vinho do Porto, lambuzar os dedos com uns canapés de bacalhau, jantar à moda lusitana, e depois pernoitar de frente pro Atlântico Sul.
LUSO II
O pacote custa R$ 316, o que inclui um brinde surpresa no apartamento. Os lusos mais lisos podem ficar só no jantar: inclui vinho e cada boca paga R$ 66. Info: 3220.8900.
A data não é à toa: em 10 de junho de 1580 morria Camões.
MAR
É hoje a noite de autógrafos do infantil “Cisne branco”, de Marcus Vinícius Lúcio, capitão-de-corveta da Marinha brazileira – mar e Marinha, aliás, são os temas, do livro.
Às 20h, na livraria do Midway.
SHEYLA
Aliás, o setor de Comunicação Social do 3º Distrito Naval, responsável pela divulgação do “Cisne branco”, fez questão de elogiar o desempenho da interina, Sheyla Azevedo, “que conseguiu manter o alto nível do importante espaço cultural da cidade”.
Elogios também – nunca é tarde citar – vindos do fiel leitor Kolberg Freire: “É bem verdade que a interina fez com que esquecêssemos temporariamente o titular.”
SUBSTANTIVO
Tácito Costa convida para a apresentação e lançamento da nova programação visual e tecnológica do blog Substantivo Plural, um dos mais ativistas, participativos e, por isso mesmo, polêmicos, destas ribeyras virtuais e reais – e vai ser ali pela Ribeyra, mesmo: na Pizzaria Calígula, hoje, 19h.
TROPA DE ELITE
Hoje tem ensaio geral e pré-estreia do mais-que-famoso espetáculo “Chuva de bala no país de Mossoró”, em sua oitava edição – a partir das 21h, no adro da Capela de São Vicente.
Bala não deve faltar – mas tampouco será perdida: dos 110 integrantes, 20 são atiradores do Tiro de Guerra 07-010, órgão do glorioso Exército nacional, sediado na Capital do Oeste.
BALÉ
Termina hoje as inscrições para a seleção de bailarinos do Balé da Cidade do Natal. São dez vagas, cinco para homens, cinco para mulheres, e o salário não é de se jogar fora: 1.200 contos. Quem não se inscrever, (não) dança.
Mais informações: 3232.4949.
QUEDA LIVRE
Em tempos de comemoração à Copa do Mundo (daqui a cinco anos), nunca é demais lembrar o imponderável, as variáveis, enfim, que o mundo é um moinho: a IATA anunciou que as companhias aéreas tiveram uma perda geral de nove bilhões de dólares, este ano, contra os US$ 10,8 bilhões perdidos em 2008.
O danado é que estamos apenas na metade do ano.



PROSA
“Quando o tempo bate a porta na cara de toda esperança e diz que não dá, é inútil continuar a bater: melhor virar as costas e ir embora.”
Pirandello
Novelas para um ano
VERSO
“Com a faca do medo / e o garfo pontudo da consciência / você rasgou o embrulho da esperança”
Luís Carlos Guimarães
“O naufrágio do...”