sexta-feira, 26 de junho de 2009

Um email sobre choro, pão e circo

“Olá, Mário Ivo! Em época de recesso escolar dou-me ao luxo de fazer uma programação ‘maneiríssima’ com minhas sobrinhas. Além do teatro no domingo, combinamos um cineminha hoje. O filme? Hannah Montana, obviamente. Com certeza eu não era a figura mais empolgada em assisti-lo (elas nem repararam nisso, tamanha a alegria). Então, ao ler o jornal pela manhã me surpreendi com a revelação de que deixastes uma lágrima escorrer (ou quase) ao final do filme. Por isso me questionei: haverá, meu Deus, algo que me faça realmente chorar em história para pré-adolescentes e adolescentes tendo adolescentes como protagonistas?
“Mais uma vez lhe digo que não sou insensível. Não mesmo! Choro com facilidade assim como sorrio com facilidade (nada a ver com distúrbio bipolar, viu?). Se quiser mesmo saber, chorei com ‘O campeão’ e acho que ainda hoje choraria se visse mais uma, duas ou três vezes. Assim como chorei com tantos outros filmes, tão ou mais emotivos do que esse, como, por exemplo, ‘Só resta a esperança’, e me emociono quase sempre com ‘Cold case’. Mas, a verdade é que não chorei com ‘Hannah Montana – o filme’. Sei lá, acho que Freud explica tanto a minha ausência de choro quanto o seu derramar (e não debulhar) de lágrimas...
“Deixando Freud quietinho em seu santo lugar de descanso, quer saber o que me faz chorar de verdade? O que nos é ofertado em sentido cultural aqui no RN.
“Ora, se havemos de aceitar essa política de ‘pão e circo’ que seja pelo menos por atrações que valham à pena. Enquanto o governo do meu querido e amado (salve! salve!) Rio de Janeiro cala a boca da população com figuras como Elton John, Dione Warwick, Rolling Stones (tudo bem que eu só iria ao show deles por pura curtição), aqui, o que temos? Excesso de bandas de forró com nomes pra lá de sugestivos e uma qualidade musical (eu disse mesmo qualidade?) altamente questionável. Mas, enfim essa é a arena que o povo quer entrar.
“Não sou miserável ou sovina. Mesmo que tivesse que pagar por exposições ou shows que particularmente me interessam haveria de fazê-lo como quando tive o imenso prazer de ver Monet no RJ ou assisti Luis Miguel. Enquanto isso, o que ou quem vem para cá? Nada! Ninguém! Fazer o quê senão chorar? Porém meu choro é muito menos carregado de significado do que o seu, e isso quem diz não sou eu, e sim meu querido José de Alencar, que escreveu as palavras abaixo as quais lhe oferto dada sua emoção com ‘Hannah Montana – o filme’:
“‘Quando um homem chora, minha prima, a dor adquire um quer que seja de suave, na voluptuosidade inexprimível; sofre-se, mas sente-se quase uma consolação em sofrer. Vós , mulheres, que chorais a todo o momento, e cujas lágrimas são apenas um sinal de vossa fraqueza, não conheceis esse sublime requinte da alma que sente um alívio em deixar-se vencer pela dor; não compreendeis como é triste uma lágrima nos olhos de um homem.’
“Um abraço. Cyntia Menezes.”
*
ADENDO
A professora Cyntia Menezes, leitora crítica (no sentido de opinativa) de primeira hora desta coluna, não enviou o email para publicação – mas como o sobrescrito valoriza o feedback e o diálogo com quem tem algo a dizer, concedeu-me o privilégio, apenas acrescentando: “Só quero que saiba que valorizo os artistas locais e nacionais que se apresentam aqui – como Roberto Carlos, Peninha, Joana, Marisa Monte, Alcione, Toquinho, Roupa Nova, Tunai e tantos outros – e que não os considero como ninguém.”
HEAD BALL
Carlos Magno Araújo, Samarone Lima, Elianne Diz Abreu e Rubens Lemos Filhos representam os 28 cabeceadores de “A cabeça do futebol” e autografam, juntos, o livro no terceiro piso do Midway. Moacy Cirne não vai: embarca de volta pra Guanabara pela manhã. Hoje, comecinho da noite.
GOL SOCIAL
Antonio de Pádua, Bethoven, Diogo Guanabara e Sueldo Soaress são alguns dos músicos locais que participam do “Futebol dos Artistas”, causa nobre e social em benefício da APAE, Casa do Bem, Casa Durval Paiva, GACC, LAE, MEIOS e PROERD. Quem for ao Ginásio da UFRN (2 de julho, 19h) deve levar sua doação (o clássico um quilo de alimento não perecível, mas também roupas, brinquedos, fraldas geriátricas, cestas básicas, remédios etc).
PRÍNCIPE
É hoje, no plenário da Câmara Municipal de Natal, ausente os edis que avoaram para as terras lusitanas, que o violeiro e repentista Pedro Bandeira (“Príncipe dos Poetas Populares do Brasil”) recebe o título de Cidadão Natalense. Onze da manhã.
LÓGICA
Hoje, o professor-doutor Juliano Fellini coordena a palestra “Hans Jonas: uma nova ética para a civilização tecnológica”. Incompreensível? Confira na sala G1, setor II da UFRN, 16h.
SALTO
Já no ar (virtual) da blogosfera o sítio da jornalista Gladis Vivane Campos Xavier, que deixou o microfone da TV Ponta Negra para estudar moda na Itália: www.saltoagulha.com.



PROSA
“Chorei, e daí? Chorei, e foi num clássico. Ninguém viu. Eu juro.”
Rubens Lemos Filho
O homem óbvio
VERSO
“fui menino nos velhos filmes de Carlitos / nos cinemas poeiras aos gritos e palavrões / e as lágrimas primeiras.”
Dorian Gray Caldas
“Poema autobiográfico”

Nenhum comentário:

Postar um comentário