segunda-feira, 15 de junho de 2009

O dia de Bloom

O professor João da Mata Costa envia email com as suas “Joycircunvuluçõesbabélicas”:

“O diacronismo cambiante da navelouca de Bloom-mente-fluxo-feérie-carnal-verbal. Rio (Nossa Senhora) Corrente. Sinfonia de signos. Da cappo. Fim-agains-Fim. Finneganswake. Novamente. No meio da morte estamos com vida. Corrida sem vencedor. Livro-cidade-mulher. Molly Bloom: eles são loucos me comer. Aiiiiiiiiiiiii. Vai, segue, mete que a vida é só um dia mares. Telemacus vagueia thalasses.
“Introibo ad altere dei. Abre verunque as pernas. Porra de des (esperta-dor). Cuco. Cukooo. Cucckolddddd. Sim, eu sei sou corno. E daí! Ela gostou. Que barulho é esse é Deus ninguém entende. Como uma onda no mar que flui num jorro orgasmico. Amo-te tântalo. Aligozou. Anna Lívia mais que bela Purabelle. Pausa. Depois glissando um chocolate quente. O amor corre consciência. Ela me beijou com seus lábios carnudos divagadamente as moscas copulam. Solidão. Livro-suruba-lingüística. Verdeargenteoceanico. Ulisses volta para Ítaca. Ela dorme e ronca desafinadamente em staccato. Do pesadelo tento lentamente despertar. É a história. Um dia todos os dias. Dimensão multi-fractal. A cabeça junto aos pés: Dorme. SImThomasdeAquino. Santo agostinho e todos os filósofos da igreja pecadora. Imagens, urdiduras, palavras nada além que palavras inventadas. O hades esqueço, lotófagos seduzem, proteus bondemeuvelho Liffey. Não sou quem vavegabundo. Joyceglosas Cila e Caribdes. Os caminhos do criador Shakespearou. Flaneur Dublin. Puns popular e erudito. O todo em um romance enigma. O caminho mais difícil são as curvas das estradas sinuantes do corpo. Sinos tocam. É a hora do ângelus Molly. Epifania. Eu sou o alfa-omega-alfa. O caminho e o fim do romance cíclico dessacralizado. Chance? Nenhuma... ‘a intuição do amor é apanágio das mulheres’. RomanceAmor. Fraulein Molly. Emma Flauber Bovary c´est moi aussi don Quijote. I am a yhwk Deus.”

Acharam confuso?
Mas-que-nada. É que amanhã é o dia em que o senhor James Joyce inventou de botar um sujeito chamado Leopold Bloom zanzando pra lá e pra cá na sua Dublin natal. Tipo assim: um Volonté dos nossos. O ano era 1904. Joyce escreveu o livro (“Ulysses”, claro) durante anos, mas publicou mesmo em 1922. Desde então é o livro mais comentado e menos lido do mundo. E inspira textos como o de João da Mata Costa.
Tanto fez, tanto fez, o senhor Joyce (não confundir com a cantora) que veio dar com os costados e com os pés na lama deste Arraial de poetas e jornalistas e jornalistas-poetas em cada esquina, de pequenos príncipes e misses Brazil, de muitos Giacomos – Casanova, Palumbo, Joyce etc. E, ah, claro, sede mundial da Copa do Mundo de Futebol dois mil e catorze. A mesma cidadezinha onde aportou a santa e a promessa, quase epifania: “Onde esta Santa parar nenhuma desgraça acontecerá.”
*
O-BRA
O Bloomsday 2009 recebeu um upgrade da gota em relação ao ano passado, quando tudo ficou muito concentradinho na Biblioteca Zila Mamede (quem sabe um dia Biblioteca Molly Bloom): amanhã, pra vocês terem uma idéia, até o Bar de Pedrinho Catombo se rende aos encantos ulysseanos – rola ali uma versão cinematográfica da obra. O-bra, com ô maiúsculo.
YOUNGMAN
O Sebo Encarnado varre os cascos quebrados e as piúbas carcomidas do lançamento do livro de Paulo Augusto sobre Zé Areia (sábado passado) e exibe “A portrait of the artist when as a young man” (e seria auspicioso exibi-lo no original).
Mesmo filme, aliás, a ser exibido no Bardallus – que tem tudo pra se chamar,agora, “Dedalus”.
UNPLUGGED
O Mercadinho de Petrópolis também embarca no “Bloom’s convescote” através do sebo Cata-Livros, que também exibe filme. Não sei se depois rola um pé-de-serra acústico, mas fica aqui a sugestão.
E se vocês tão achando que é exibição de filme-que-não-acaba-mais pra celebrar um livro, não se preocupem: são só três percorrendo a cidade peripateticamente.
BOLA
E tudo-tudo termina – nem com uma explosão nem com um gemido, que o lance aqui não é Eliot – mas com uma mesa-redonda. Em discussão América x ABC? Não. Derruba ou não derruba o Machadão? Também não. O tema – adivinhem – é “James Joyce e a literatura no século XX”.
Chico Ivan vai. Antônio Eduardo Oliveira vai. Ana Graça Canan vai. E João da Mata Costa também vai, que foi por isso que eu deixei ele falar ali em cima. Detalhe: são todos professores-doutores.
ÓBVIO
Logo mais à noite tem lançamento de “O homem óbvio”, crônicas de Rubinho Lemos Filho.
No café-da-manhã de sábado, ele mesmo concluía que, homem óbvio que também sou, estarei por lá. Claro. Só não vai quem se acha além da obviedade nossa de cada dia.
No TCP da Fundação Zé Augusto.
PROFISSÃO: DOCENTE
“Profissão docente: refletindo sobre a prática pedagógica” é o tema do III Congresso de Educação da UnP – começa hoje, termina sexta.



PROSA
“Envio: Me ame, ame meu guarda-chuva.”
James Joyce
Giacomo Joyce
VERSO
“Até a água do rio engoliu as ribeiras / e as macera no fundo, ao céu. As estradas / são iguais às mulheres, maturam paradas.”
Cesare Pavese
“Grapa em setembro”

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