quarta-feira, 24 de junho de 2009

Retalhos

Sou um sujeito sensível, acreditem. Chorei no último filme de Hannah Montana. Não chorei copiosamente, claro, mas tive que esgueirar minha mão para colher do canto dos olhos uma furtiva e esquiva lágrima. Ainda olhei pra minha filha ao lado para ver se também ela era sensível como o pai, mas a danada tava curtindo e fazendo pilhérias com o açúcar derramado na cena.
Feladamãe. Já não se fazem mais crianças como antigamente. Os da minha geração hão de lembrar-se: “O campeão” (1979) – Jon Voight era um ex-boxeador na lona da vida e no fundo do poço, e seu filho loirinho dava uma força pro pai reerguer-se enquanto arrancava lágrimas dos espectadores. Durante a temporada de exibição – naquela época os filmes demoravam em cartaz – era comum a pergunta: “E aí? Chorou?” A platéia (e a cidade) dividia-se entre aqueles que tinham chorado e os insensíveis, incapazes de lubrificar os canais lacrimais.
Mas, se é piegas chorar no escurinho do cinema nos dias correntes, debulhar lágrimas assistindo “Hannah Montana – o filme” (2009) – vamos combinar – é o cúmulo.
Daí que, se você é um sujeito (ou uma sujeita) que torceu o nariz pro pieguismo da coluna de hoje, nem continuem a leitura, façam o favor: partam logo pra página de política ou de economia ou vão refestelar os olhinhos em algum dos crimes macabros da seção policial.
Porque o assunto hoje é um livro, romance, romance de formação, história de amor etc e tal. E ainda por cima em quadrinhos. Pegando carona na orelha, “‘Retalhos’ trata da tragédia e das dores, físicas e morais de crescer sentindo-se diferente do ambiente que o cerca, e a coragem necessária para questioná-lo e seguir rumos distintos dos que lhe são pregados.”
Víxi. Né melhor ler a Caras, não?
Pode ser, pode ser, mas não se acanhem em, indo tomar um café e um cheese cake na livraria mais próxima (as livrarias andam tão fast food ultimamente), pegar da prateleira o calhamaço de quase 600 páginas e dar uma espiadinha. “Retalhos”, de Craig Thompson (Companhia das Letras, 2009) se lê num fôlego só. E tira o fôlego dos mais sensiveizinhos que nem eu.
Thompson, 34 anos, não criou nem desenhou nenhum personagem nem super-herói de quadrinhos. Thompson, com menos de 30 anos, escreveu e desenhou sobre si mesmo e sobre sua família, tipicamente americana, numa típica província rural americana. Thompson, quando criança, apanhava dos colegas de escola. Thompson, quando adolescente, não se ajustava a quase ninguém da sua idade – “Este mundo não é meu lar. Estou só de passagem”, revela, confessa, sem pudor. Até aprender “a identificar os rejeitados”, como ele. Até conhecer, claro, o primeiro amor. Que ele descreve e desenha com uma sensibilidade capaz, não de arrancar lágrimas, mas de sensibilizar profundamente. Intimamente. E se não somos capazes de nos emocionar com Hanna Montana, com “Dio come ti amo”, com “Marcelino pão e Vinho”, com “Uma janela para o céu”, com “O campeão”, com a primeira, a segunda, a terceira, a quarta namorada, com as lembranças da infância que carregamos eternamente, com os sonhos da adolescência que ainda resistem, se não nos emocionamos com mais nada disso, que diabos estamos fazendo da nossa vida?
*
LOKI
Meninos, dêem seus pulos: resta hoje e amanhã para quem quer assistir “Loki “, documentário sobre a vida e obra de Arnaldo Dias Baptista. No Moviecom, com a única opção do horário fenomenal e muito prático das 17h20. Desde que você seja um aposentado, claro.
MUTANTE
Tem matéria sobre Arnaldo na Rolling Stone deste mês – lá pras tantas ele (que tentou o suicídio, dizem, devido ao fim do relacionamento com Rita Lee) diagnostica: “Louco pode ser o cara que gosta de andar no telhado e às vezes cai – esse é um louco meio esquisito –, mas pode ser o cara que gosta de fazer música pintar, escrever, amar...”
CANGAÇO
A confusão, o qüiproquó, o entrevero com a turma do Pânico na TV é ridícula. Antes de detonarem com a cidade e seus habitantes, a vinda da equipe foi festejada, ovacionada, louvada, quase, quase, soltaram foguetões. Só depois que fizeram o que normalmente fazem é que os idiotas foram demonizados.
Se o cidadão pagou ou não pagou pela vinda da equipe do programa, deveria ser importante, independente do que iria ou não ao ar – se tapinhas nas costas, ou chutes e cuspes.
A SimTV assumiu o ônus da iniciativa de levar o pânico – digo, a equipe do Pânico – a Mossoró-eterna-cidade-junina, e, não é que agora querem demonizar também a emissora local? Houve quem proclamasse uma possível revanche do mercado publicitário.
Nem Lampião nem Jararaca conseguiram tal desmantelo.
CRI
Começou ontem e vai até sexta-feira, 26, a 1ª Exposição de Pintura e Desenhos do Centro de Reabilitação Infantil, coletiva dos pacientes do CRI com síndrome de down, deficiência mental, paralisia cerebral ou autismo.
Das 8h às 12h, na Alexandrino de Alencar, 1900.



PROSA
“E beija-a, não na boca, para jamais banalizar o gesto, mas na testa. Um toque leve, do amor transbordante.”
Rubens Lemos Filho
O homem óbvio
VERSO
“Eu terei de decidir e separar / a poesia do desastre, o milagre do desespero.”
Dorian Gray Caldas
“Divisão”

3 comentários:

  1. Fressssssssssssssssssssssssscooooooooooooooo!

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  2. Chorei cântaros com o filme "O Campeão", em "Love Story", com aquela trilha de caixa de música e se brincar, chorei também com Lagoa Azul. E, quer saber, depois de velha tenho chorado até com comercial de TV. risos. digo, snif! um cheiro grande, e adicionei vc lá naquele negócio q eu quase nunca acesso. S.

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  3. oxe, e num vai publicar não é? olha que eu choro!

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