“As ruas estavam iluminadas, todas as casas pareciam sorrir.” – a descrição, simpática, saiu no jornal O Libertador, de Fortaleza. A reportagem, segundo Cascudo (em “Notas e documentos para a história de Mossoró”, Coleção Mossoroense, provavelmente 1953), foi escrita por Almino Afonso, nativo deste Ryo Grande mas com incursões pelo Ceará vizinho, e um dos nossos mais eméritos abolicionistas.
É um dos retratos 3x4 do dia em que Mossoró – sempre Mossoró – entra para a história como o 15o município brasileiro e o primeiro norte-rio-grandense a libertar seus escravos. (E depois inda tiram onda com a Cidade, Capital do Velho Oeste potyguar.)
Pois, pois.
Antes que eu esqueça, o dia, claro, vocês sabem, 30 de setembro – mas, o ano? 1883. Façam as contas: apenas 126 anos atrás. Quase nada.
Naquele ano eram apenas 86 escravos – em janeiro, 46 em junho e nenhum em setembro. E na sessão da Câmara Municipal, aberta no pingo do meio-dia o presidente da Sociedade Libertadora Mossoroense pergunta e ouve a resposta: na cidade e no município não há um só negro cativo.
O historiador Francisco Fausto de Souza cita alguns dos telegramas que a Câmara de Mossoró envia à Corte, no mesmo dia:
“Tudo aqui é homem, ninguém é mais cousa.”
“Aqui não há mais escravos.”
“Aqui não há mais senhores.”
E por aí vai.
Esse negócio de passar telegrama me fez lembrar o tal do twitter, que se acha grande coisa – mas olha lá os tempos verbais usados nas mensagens, século e um quarto atrás:
“A Câmara Municipal de Mossoró tem a honra de participar ao Club Abolicionista Paraíbano que nesta hora se está proclamando livres os escravos deste município.”
“Esta cidade e município foram neste momento declarados livres.”
“Mossoró livre o Almino está na tribuna.”
Cinco mil pessoas marcharam pelas ruas da cidade na manhã do dia 30, até o prédio da Cadeia Pública, onde, no primeiro andar, funcionava a Câmara. As ruas amanheceram “todas engalanadas de folhas de carnaubeiras, e bandeiras o que lhe dava o aspecto festivo”. Os discursos, como a festa em si, continuaram sem cessar, noite adentro. Na verdade, já tinham começado os mossoroenses a festejar desde o dia 28. Continuaram até o 7 de outubro.
Mais que um Carnatal. E por um motivo bem mais digno.
*
Estupro
A CNBB recolheu 1,3 milhão de assinaturas para o projeto que obriga os candidatos nas eleições apresentarem “ficha limpa” – quem foi condenado em primeira instância ou denunciado por crimes como improbidade administrativa, uso de mão-de-obra escrava e estupro, tá fora.
É um grande passo: antes, estavam todos dentro.
A proposta – e as assinaturas – foi entregue pelo Movimento de Combate a Corrupção Eleitoral ao presidente da Câmara dos Deputados ontem à tarde.
sustentável
O Praia Mar Hotel, em Ponta Negra, deve ser muito bom – muitos eventos acontecem por ali. Um dos próximos é a 2ª CIENPO, Feira Potiguar de Ciências, sob o tema “Desafios para o desenvolvimento sustentável”. Dias 19 e 20 de novembro.
Inscrições – para alunos e professores da rede estadual – até 10 de outubro, na Secretaria da Educação. E da Cultura.
Social
Keila Sena, mal – aliás, bem – acaba o Goiamum Audiovisual, embarca hoje pra Sampa, convidada do II Congresso de Cultura Ibero-Americana – Cultura e Transformação Social. De hoje a sábado.
Red bull
Paulo Laguardia vai filmar “Sebo Vermelho, o cantão de Abimael” – um dos quatro curtas selecionados pelo Prémio William Cobett de Cinema, da Fundação Zé Augusto.
Mil palavras
Embora a maioria esteja mais para morto de fome, ainda dá pra encontrar um escritor potyguar vivo – fotografe um e concorra a hum mil reais no concurso promovido pela Funcarte em vistas ao próximo Ene.
As inscrições acabam no Dia das Crianças.
Programa
Hoje saia de casa e dê um pulo no Mercado de Petrópolis (tarde/noite). Passe também pelo Belle de Jour e assista Luiz Gadelha interpretando Caetano Veloso (19h30).
Prosa
“Senhor, de aquesto fazer sem ti não temos poder, porém seja teu querer a nós fracos ajudar”
Ana Miranda
Desmundo
Verso
“‘Por que tão pálida?’ ele indaga. / – Porque eu o fiz beber tanta amargura / Que o deixei bêbado de mágoa.”
Anna Akhmátova
“Torci os dedos...”
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