quarta-feira, 14 de outubro de 2009

Mora na filosofia


Pablo Capistrano é um caba danado. Conseguiu, ao escrever de maneira simples e clara artigos sobre Filosofia – sua profissão e razão cotidiana de ser –, fazer ao mesmo tempo belas Crônicas, esse tão famoso gênero literário tipicamente verde & amarelo.

Coisa, aliás, que o sobrescrito, sinceramente, não sabe fazer, salvo uma aqui outra acolá.

Talvez, por isso mesmo, me são ainda mais saborosas as crônicas de Pablo, e, melhor ainda, enquanto reunidas em livro – como este que a editora Rocco mui gentilmente (e marqueteiramente, claro) me enviou: “Simples filosofia: a história da filosofia em 47 crônicas de jornal” é tudo que resume e promete o título e muito mais. Desconfie, aliás, da capa, muito sóbria, muito “científica” e “filosófica”, que esconde o verdadeiro prazer e sabor de ler crônicas que, além de entreter, ensinam.

Abro ao acaso a página 133 e o acaso me aponta: “Luz. Sol. Iluminação. Esclarecer. Extrair a luz. Fazer com que a luz surja das coisas opacas e sem brilho. Fazer com que, do meio das sombras da ignorância, uma fagulha, um brilho, uma chama tênue de uma vela possa brotar e criar um círculo de compreensão que nos permita enxergar melhor aquilo que nos circunda.” – é Capistrano, 35 anos, professor de Filosofia, falando sobre Immanuel Kant. Mas, com a licença dos dois filósofos, o potyguar e o alemão, me aproprio do texto para exemplificar o trabalho do cronista, clarear os cantos mais ou menos escuros da banalidade cotidiana, sob uma nova luz.

Os textos de Pablo C., aliás, são bem mais interessantes em livro do que no jornal. O porquê dessa última afirmação? Em livro, reunidas, editadas, encadernadas, as 47 crônicas adquirem um sentido maior do que a leitura rápida e diária das páginas do periódico e sua breve vida útil.

O meio é a mensagem, já dizia, quem mesmo? McLuhan, acho.

Ainda não li o livro todo, mas preciso, necessito: é com certeza, além de outras qualidades, excelente remédio antimonotonia. E anti outras coisas também, todas chatas e baixo-astrais (“Rancor, cisticicorse / Caxumba, difteria”, para citar os Titãs de anos passados, que Pablo sempre foi muito pop). A piada de Joãozinho – citada no capítulo “O que é uma vaca?” –, que tira 10 pela melhor resposta ao desafio do professor (de Filosofia) em provar a não existência de uma cadeira (presente, realmente, na sala de aula), é a prova maior que é possível filosofar em língua potyguar. E que é possível rimar Filosofia com Ironia.

A propósito, querem saber qual foi a resposta de Joãozinho? Pois, uma outra pergunta: “Que cadeira?” – foi a única coisa que escreveu, ao contrário dos outros alunos, atarefados em laudas e laudas de respostas inúteis.

Prova maior, também, que ignorar certas coisas – e pessoas – é que nem sexo: faz bem pra pele. Desde, claro, que você tenha com quem fazer. Coitados daqueles que não têm. Mas isto é outro papo, crianças. Então, divirtam-se, façam o dever de casa e escovem os dentes antes de dormir.

*

ufanismo

Lançado por uma editora com distribuição nacional, “Simples filosofia” tem tudo pra virar um case de vendas. Enfim, algo realmente que vale a pena os nativos deste Ryo Grande estufarem o peito etc.

Thanx

Tem agradecimento especial de Pablo Capistrano a Marcos Aurélio de Sá na apresentação do livro – “o primeiro a ceder um espaço semanal para a publicação de minhas crônicas.”

toque

Os pequenos desgostos da vida são aliviados pelo toque da ternura humana.” – frase citada por Denise Pereira Gaspar no seu Yahoo Messenger.

Efeméride

Num dia como esse, num mês assim, era inaugurado, em 1927, o campo de aviação de Parnamirim. Com o pouso do avião Nungesser-et-Coli, pilotado pela dupla Costes-Brix, trajeto Senegal-esta Capital, na época ainda não Espacial. Está no “Calendário cultural e histórico do Rio Grande do Norte”, de Veríssimo de Melo.

Mas nenhuma indicação no livro de Paulo Viveiros, “História da aviação no Rio Grande do Norte”.

Vidas

Começa hoje – e termina dia 22 – mais um etapa do FestNatal com exibição da VII Mostra Vidas na Tela. “Sangue de barro” é o documentário de hoje. O júri oficial conta com Alex de Souza, Carlos Tourinho, Iaperi Araújo, Newton Ramalho e Paulo de Tarso. O diretor geral, claro, é Valério Andrade.

No auditório do SEBRAE, 18h, sessão única, de grátis.

Endomarketing

Deixando de lado as frescuras, quem quiser ler esta coluna na net pode acessar embrulhandopeixe.blogspot.com – enquanto no cidadedosreis.blogspot.com tem mais textos pessoais do sobrescrito.

Prosa

“Un gran libro sólo se revela a aquel que lo asume.”

Edmond Jabès

Un extranjero con, bajo el brazo…

Verso

“Dever cumprido. Nunca é vã / A palavra de um poeta... – jamais!”

Vinicius de Moraes

“Feijoada à minha moda”

2 comentários:

  1. Nossa! Que bacana sua crítica sobre o livro MIDC. Eu ainda nõa terminei de ler, mas você traduziu direitinho o sentimento que eu tenho com relação ao SF... O PC escreve muito bem e gostosamente sobre Filosofia. Em nome dele e - meu também, como sua (dele) assessora, agradeço pela atenção. Um beijo, S.

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  2. Oi Mario, obrigado pela leitura do meu livro. Vindo de um cara criterioso como você essa resenha só me anima a escrever mais. Um abração.
    Pablo Capistrano.

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