terça-feira, 22 de setembro de 2009

Fúria

Cultura 210909


Quando eu nasci, um anjo besta, desses bem bonzinhos, auréola douradinha no cocuruto e asinhas de algodão, veio e me disse:

– Vai, vai ser besta na vida.

Como vocês vêem não foi bem um anjo drummondiano, que usa o adjetivo “gauche”, origem francesa e muito mais chic, porque tudo que é francês me faz recordar logo a belezinha da Carla Bruni, mas isso é outro papo e a Carla Bruni entra aqui só pra enfeitar um pouco a coluna – o que, convenhamos, não é de pouca monta.

Mas, dizia eu, drummondiano por certo não era, o tal do anjo que me veio visitar lá na Maternidade Januário Cicco, quarenta e dois anos atrás, quase quarenta e três. Porque, mesdames et messieurs, “gauche” tem o significado dos tortos, dos canhestros, dos atrapalhados, dos inseguros – e isso até que nem tanto assim sou.

Enquanto besta, no senso de bonzinho por demais, bobinho e ingênuo, às raias do abestalhamento, ah, isso sou. E, em verdade, em verdade vos hei de dizer, simulando um cristo no sermão da montanha ou numa daquelas paisagens áridas de filmes bíblicos, o que eu gostaria mesmo de ser era mau, com “u”, um sujeito bem ruinzinho pra não deixar pedra sobre pedra, vendilhão sobre vendilhão no templo.

Tipo assim, lembram de “Um dia de fúria”, de Joel Shumacher, 1993, com Michael Douglas? Pois, o sujeito ficava pê da vida num congestionamento, um calor do cão, problemas no emprego, a mulher o tinha largado, enfim, um inferno na vera, nada de brinca, não, tampouco aquele papo de Shakespeare de que a vida é “uma história de som e fúria, contada por um idiota e que não significa nada”. Nada? Pois, tome porrada a torto, tiros a direito, e catarse do lado de cá da telinha. Finito o filme, pra caminha dormir que o mal dos muitos brabos é sono e tal.

Pois é, tão besta sou, que vocês já perceberam que a essa altura eu mesmo estou me perguntando:

– Pra aonde vai, valente?

Pra canto nenhum. Ouvir um disco bossa nova de Carla Bruni e fazer as pazes com meu anjo. Nos merecemos nós.

*

monumento

Depois de um longo e tenebroso inverno – e primavera e verão e outono e muitas fashion weeks – o “Monumento à amizade”, de Dorian Gray Caldas (cruzamento da Cláudio Machado e Joaquim Fabrício, no tal Plano Palumbo), começou a ser restaurado, manhã de sábado passado.

Não sei se “restaurado” é o termo correto, mas ao menos uma equipe de dois funcionários estava limpando, polindo e pintando a escultura.

Já não era sem tempo. Dorian Gray – e esta Capital – merecem.

clowns

Depois de lançar “O maníaco do circo – o menino que tinha medo de palhaços” sábado passado, na XIV Bienal do Livro do Rio, o médico Leonardo Barros lança o livro nesta Capital em meados de outubro.

O enredo é fantástico: o encontro de um serial killer que odeia palhaços e um violador (“o maníaco”, pois) que se veste de palhaço para perseguir suas vítimas.

Pernas

Mônica Regina Pinheiro Cabral lança, próximo sábado, 26, no Midway, o infantil “Quem quer trocar um par de pernas?”. Com ilustrações de Ara Teles, a venda será revertida para a Adote e Apae.

Mais cultura

Prorrogadas até o 9 de outubro as inscrições para os editais dos “Microprojetos Mais Cultura”: R$ 13,5 milhões para onze estados, R$ 697 mil para este Ryo Grande.

Cerca de 65 projetos devem receber entre um e 30 salários mínimos nas áreas de artes visuais, cênicas, música, literatura, audiovisual e artes integradas.

Procurem a Fundação Zé Augusto.

C&T

“É gratificante investir em ciência e em tecnologia”, discursou Wilma de Faria, de um lado.

“É preciso criar uma lei estadual de Inovação Tecnológica e uma Secretaria de Ciência e Tecnologia”, disse a professora Isaura Rosado, do mesmo lado da governadora, mas sem esquecer as reivindicações de sua fundação.

As falas foram declamadas em evento super-hiper-concorrido promovido pela Fapern, semana passada, numa casa de recepções mui apropriadamente chamada Versalhes: pela Fapern vão passar cerca de R$ 5 milhões para pesquisas neste Ryo Grande.

Prosa

“(tinha contundência o meu silêncio! tinha textura a minha raiva!)”

Raduan Nassar

Lavoura arcaica

Verso

“Não posso medir o tamanho das tristezas de antes / das segundas-feiras, quando ainda não morreu / o Domingo por completo, / e é preciso reunir coragem para os recomeços.”

Fernando Monteiro

“Vi uma foto de...”

Um comentário:

  1. Obrigada MIDC, de antemão. Só queria lhe pedir desculpas por uma informação equivocada que a Assessoria de Imprensa lhe repassou acerca da notinha "Pernas". As entidades que serão ajudadas não AACD de Recife(PE) e Adote de Natal.
    Sheyla Azevedo.

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