segunda-feira, 11 de maio de 2009

Stupakoff




Ninguém vai se chatear com a foto da coluna de hoje. Numa cidade (num país) onde as mulheres se confundem às melancias pela protuberância das nádegas, onde crianças dançam a boquinha da garrafa, onde se ouvem canções que afirmam e reafirmam a opção preferencial pela raparigagem, pelo beber-cair-e-levantar, que mal há em três mulheres lindas, simples, anônimas, tomarem banho de sol peladas à beira de um mar onde as duas ilhotas ao longe comungam com seus montes de vênus?
Mal nenhum.
A não ser, claro, o fato de serem anônimas.
Reparem bem na foto: duas sorriem, a terceira, misteriosa, não revela nem mesmo a direção do olhar. A mais próxima de nós tem os olhos fechados. Disse algo e achou esse algo engraçado. Ou foi a segunda quem falou. Não. Ela, a do meio, parece mais estar prestando atenção às palavras que a outra falou, o sol na cara alegrando os dentes. Sol pálido, de inverno, insinua a paisagem e o preto & branco da imagem.
Reparem, também, na marca de biquíni da que está de costas, mostrando – não exibindo – uma bunda bem normal no país das hipérboles calipígias: a marca, suficientemente branca, revela que seu biquíni não é dos menores. Não que a moça não pudesse usar um fio-dental, pela caridade!, mas a marca mostra que não é uma nudista contumaz, mas alguém que aproveitou o solzinho acolhedor para reexperimentar a sensação de voltar ao mundo. Como veio. Viemos.
De quem é a foto? De Otto Stupakoff. Morto final do mês passado e que o sobrescrito nunca mais tinha ouvido falar derna que em 2005, mais ou menos, a CartaCapital publicou uma bela matéria sobre seu retorno ao Brazil – salvo engano assinada por Maurício Stycer.
Stupakoff viveu uma dessas vidas de cinema: se mandou pros States bem novo ainda, e fotografou um mundão de gente, celebridades, inclusive. Clicou Nixon com a filha, um juveníssimo Jack Nicholson, um obcecado Truman Capote. E milhares, centenas, dezenas de modelos, especialmente sua mulher, uma miss universo made in sweden.
Voltou pro Brazil pobre, disse. Meio amargo, talvez. Não lembro os detalhes da matéria e é difícil localizar a edição entre as pilhas de revistas que se amontoam pelo apartamento. Pouco importa. Era o retrato de um homem envelhecido, cansado, que freqüentou as páginas e os ambientes da Vogue, da Harper’s Bazaar, Elle, Life. Alguém que chegou ao Everest e ainda não tinha se acostumado aos ares da planície.
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FOTOFORMA
Segue até junho a exposição “Geraldo de Barros, Modulação de Mundos”, no Sesc Pinheiros, Sampa, claro.
Geraldo de Barros (1923-1998) era também fotógrafo, mas, ao contrário de Stupakoff, mais afeito a experimentalismos – na época ainda dos negativos, manipulava-os, explorando novas formas através de sua justaposição, o que lhe garante um lugar de relevo entre os pioneiros da fotografia abstrata abaixo da linha do Equador.
LYGIA
A notícia é de ontem, antontem, trasantontem, mas não custa repetir: a Companhia das Letras anunciou a reedição das obras completas de Lygia Fagundes Telles, revisadas e reembaladas em projeto gráfico que deve agradar a quem compra o livro pela capa – com a vantagem, aqui, do conteúdo inigualável. E acessível a gregos, baianos e potyguares.
ENFERMARIA
Começa hoje, no Praiamar Hotel, o VI Encontro de Enfermagem, realização da UnP, sob o tema “A Enfermagem valorizando a vida”. Sem nenhum duplo sentido, as enfermeiras são bem legais.
FEIRA MODERNA
Lívio Oliveira tem blog novo na rede mundial de computadores: www.oteoremadafeira.blogspot.com – espaço onde avisa: “aqui os verdadeiros amigos terão uma acolhida poética”. Quem avisa, pois.
FEIRA NOTURNA
Enquanto isso Sheyla Azevedo anda sumida do seu www.bichoesquisito.blogspot.com – a última postagem tem duas semanas: “Há dias em que anoitecemos antes da hora do almoço. Segunda-feira é um dia bem propício para isso.”
SENSACIONALISTA
“Depois de uma passagem por Cancun, a gripe suína desembarcou ontem no Aeroporco do Galeão e chegou ao Brasil. Ela acabou sendo assaltada em Copacabana por um grupo de pivetes. ‘Quando eu disse que viria para cá me avisaram: não vai porque é lá que a porca torce o rabo’, disse.” – essa é o início de uma das muitas matérias que divertem o internauta em www.sensacionalista.com.br, o sítio de Nelito Fernandes, que se intitula “editor-chefe, dono, repórter e office-boy”.
SENSACIONALISTA II
O acúmulo de funções parece ser a solução para a crise dos jornais impressos – daí que o mote de O Sensacionalista é “um jornal que não serve nem para limpar a bunda – porque é online”.
SENSACIONALISTA III
De lambuja, o resto da matéria suína:
“Mais tarde, já relaxada, a epidemia almoçou na churrascaria Porcão, na Barra da Tijuca. No próximo domingo ela vai ao jogo do Palmeiras e disse que deve ficar por aqui até o Carnaval. A gripe entrou no clima sensual e é namoradeira: em um só dia, já arrumou quatro casos.
A superstar só perdeu o bom humor quando um gaiato pegou uma moedinha e tentou colocar em seu cofrinho.”




PROSA
“Em certa idade, olhamos as jovens que passam sem interesse prático, sem aspirar a pular sobre elas.”
Joseph Brodsky
Marca-d’água
VERSO
“E esta tarde tanta que me cobre
e este sol se pondo onde me dispo”
Iracema Macedo
“A louca do porto”

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