sábado, 28 de novembro de 2009

Adivinhe quem vem para o café-da-manhã: Lucílio Barbosa


Enquanto a transição das páginas impressas do defunto JH primeira edição não se realiza no www.marioivo.com.br, não vamos quebrar a tradição das manhãs de sábado, dia de música (José Bezerra Gomes: “Naquele/ sábado/ a música/ daquele/ sábado”) e embalos noturnos – enquanto a noite não chega, fiquem com a biologia literária de Lucílio Barbosa, diretor de criação da Art&C, biólogo por formação, poeta por deformação, velho companheiro dos bancos escolares, e, como ele mesmo diz, amigo.

observações sobre escatologia e funcionamento cerebral

Tem um princípio da física que diz: quem caga e anda pode acabar escorregando na própria bosta.

Não é natural cagar e andar, porque o ato de cagar implica em uma sessão de relaxamento e introspecção, e solidão, e recolhimento, e leitura que não combinam com o andar. Andar e ler, por exemplo, causa enjôo.

Andar é flanar, socializar, olhar, conhecer, descobrir o outro, a cidade, virar poeta.

São incompatíveis dois atos tão extremos. São o id e o ego. Lula e Caetano. A cruz e a espada.

Não o cu e a espada, veja bem. Porque estes quando se unem podem no máximo chegar a um harakuru, nunca a um harakiri e a elegância suicida.

O suicídio verbal, por sua vez, é uma prática antiga, oriunda da inexperiência social ou da arrogância monetária. Indivíduos desprovidos de ambas, deveriam evitar essa prática.

Mais apropriado seria cagar e voar, como muitos pássaros. Embora só pássaros sejam animais com asas que conseguem tal feito. Outros não.

Ao cagar e voar, o pássaro pode fugir, ficar longe do alcance até dos comentários de quem foi cagado na cabeça. A própria leveza do pássaro é atenuante. Ahh, cagou! Deixa, é tão bonitinho! Esse passa, passarinho. Já, já vai embora. Pra bem longe da gente.

No reino animal, no entanto, existe uma exceção para todo esse imbróglio. O burro.

Esse caga e anda o tempo todo. Eu, pelo menos, já vi muitos, puxando cangalha dos outros, servindo de burro expiatório. Mas, ele é burro. No máximo sua culpa é culposa e não dolosa.

Bom.

Eu não gosto de princípios da física.

Eu não gosto de cagar e andar.

Eu não gosto de burros.

Eu gosto de cultura. [Lucílio Barbosa]

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