sexta-feira, 13 de novembro de 2009

Identidade e paisagem


Preocupante, mui preocupante as observações da senhora Ana Adalgiza Dias, diretora executiva do Sindicato da Indústria da Construção Civil (Sinduscon-RN), sobre o Plano Diretor desta Capital e mais especificamente sobre a Praia do Meio.

Adalgiza Dias declarou, dia desses ao Diário de Natal, que “o plano diretor também atrapalha o desenvolvimento do local” e que a limitação de até três pavimentos para as construções “acaba engessando o potencial econômico”.

Mas, mais preocupado ainda fiquei quando li essa pérola:

“Por questões paisagísticas, não é permitido a existência de nada que possa tirar a visão do Forte dos Reis Magos, por exemplo. Isso acaba inviabilizando a chegada de bons restaurantes ou hotéis.”

Súbito me veio em mente uma questão relativamente recente envolvendo os católicos e os muçulmanos de Roma, na Itália, claro.

Recente é modo de dizer. Desde os tempos de Mussolini que existia a idéia de se construir uma mesquita na capital italiana – que se confunde, obviamente, com o estado do Vaticano, capital burocrática e imaginária do cristianismo. Como um proto-Berlusconi, Il Duce Benito bradou: “Se queremos uma mesquita aqui, é justo que se construa uma igreja católica em Meca.”

Pio XII não foi muito além nem atrás, lembrando essa condição histórica de capital dos cristãos e, portanto, a necessidade de se evitar, a qualquer custo, “contaminações” com cultos religiosos diversos.

O fato é que foram necessárias quase seis décadas até que em 1995 a mesquita de Roma fosse inaugurada, já sob a condição de maior da Europa, com projeto do arquiteto Paolo Portoghesi e custos bancados pelo Rei Faisal, da Arábia Saudita. Entre os muitos opositores à sua construção esteve o Vaticano, cuja maior preocupação era se a cúpula rivalizaria com aquela de São Pedro e se o minarete não seria demasiado alto. Mexeu-se de cá, mexeu-se de lá, e a Santa Madre Igreja venceu: o Islã – ao menos arquitetonicamente – não está à altura dos Católicos Apostólicos Romanos.

Noves fora a questão pessoal e religiosa de cada um, e o uso maniqueísta, preconceituoso e até racista, o sobrescrito louva a defesa do Vaticano do seu território. Não é uma questão de ser justo ou não, mas defender certos princípios é fundamental para a sobrevivência de qualquer cultura ou fé ou credo. É uma questão de identidade.

Daí que essa não permissão “a nada que possa tirar a visão do Forte dos Reis Magos”, objeto da crítica mui pouco desinteressada dos construtores, é mais que justa. Já fizeram atentado semelhante ao Farol de Mãe Luíza, hoje totalmente encoberto pra quem vai no sentido Areia Preta-Via Costeira. O Farol, inclusive, já foi símbolo de uma mais ou menos recente administração municipal. Resta saber quando os nativos destas ribeyras vão entender que Farol, Forte e outros elementos histórico-urbanos são símbolo maior de nossa identidade e devem se perpetuar muito além e acima das quermesses políticas quadrienais e da especulação imobiliária travestida de desenvolvimento.

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emer-gente

A prefeitura inova, mais uma vez, com um tal “Plano Emergencial do Turismo”. Vou me socorrer do velho Antônio – diz o Houaiss: “emergencial adj. 2g. referente a ou o que tem condição de emergência.” E, no verbete anterior, “emergência s. f. situação grave, perigosa, momento crítico ou fortuito.”

Eu pensava que o adjetivo se coadunava mais a setores como Saúde, Educação, ou a catástrofes da natureza ou provocadas pelo homem (tsunamis, saques etc.).

“O turismo de Natal será tratado como política de Estado”, foram as palavras ouvidas – sem tradução simultânea – em Lisboa, Portugal, alguns meses atrás.


Sendo assim, me parece que toda a administração, não só municipal mas estadual, está sob este signo.

palumbo & tico

Osair Vasconcelos e boa companhia lançam hoje a Palumbo, na Fiern, 18h – boa ocasião pra rever amigos & inimigos.

Mesmo horário, aliás, em que a Academia de Letras homenageia o músico Tico da Costa, com venda de CDs em prol da família. É ir pra um, e depois pro outro. Obrigatório.

ora, raios

Acompanhar minuto a minuto, pelo twitter, o “drama” do vereador Ney Lopes Jr. tentando embarcar para os EUA, foi de uma importância enorme para os destinos desta Capital. Um raio caiu na aeronave do rapaz.

Pena não poder ter sido retuitado. O raio, digo.

salve, jorge

Jorge Mautner na City, domingo – mais exatamente na Ribeyra. Diz o release que no Largo Dom Bosco. Eu já tô ficando confuso: não lembro mais se Woden Madruga reclamou ou não da extensão do nome do Largo – antes restrito às proximidades do Salesiano – ou se a área ainda tem o nome de Augusto Severo, se é uma praça, um largo, um campo de pouso ou simplesmente terra devastada sem memória.

Noves fora, Mautner, de grátis, lá pelo final da tarde dominical, é imperdível.

Prosa

“Ora, tudo tem seu tempo. A humanidade processa dialeticamente sua ascensão.”

Oswald de Andrade

Ponta de lança

Verso

“Preciso do antigo: / do que se transformou em céu / e se fez floresta.”

Marize Castro

“Argentêa”

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