terça-feira, 3 de novembro de 2009

Minha não viagem ao Marrocos


Afonso Martins está voltando de terras de Espanha, areias de Portugal. Eu deveria ter me despedido dele neste fim-de-semana, em Madri. Numa viagem não programada, senão ao acaso – se acasos existem –, deveríamos ter estado, antes, no Marrocos, mais ou menos seguindo as pegadas de Paul Bowles, William Burroughs, Allen Ginsberg e Brian Jones, dos Stones.

Dos quatro citados, o mais significativo, o mais emblemático, o primeiro.

Paul Bowles, hoje, talvez, seja mais conhecido graças a Bernardo Bertolucci, que levou às telas “O céu que nos protege” (“The sheltering Sky”). O filme é de 1990, o livro de 1949. Bowles concluiu seu primeiro romance em Fez, embora tenha vivido grande parte de sua vida em Tanger (desde 1947 até o ano de sua morte, em novembro de 1999).

Se no livro, Bowles se limita a diferenciar o turista e o viajante, afirmando, através do protagonista, “que o primeiro aceita sua própria civilização sem questionar”, Bertolucci vai além fazendo John Malkovich recitar: “Um turista é aquele que pensa voltar à casa apenas chega ao seu destino.”

Independente da importância do romance, eu ainda prefiro o Bowles contista – Gore Vidal escreveu uma vez que “seus contos estão entre os melhores jamais escritos por um americano”. Outra afirmação de Vidal, emblemática: “escreve como se ‘Moby Dick’ nunca tivesse sido escrito’.

Sobre o quê escreve Bowles? Sobre a paisagem da alma, usando, na maioria das vezes, paisagens exóticas – o deserto do Saara, rios e planícies mexicanas, ilhas jamaicanas. Bowles era um viajante. Nunca um turista.

Os citados Burroughs e Ginsberg (da chamada geração beat) estiveram no Marrocos para conhecer Bowles. Também Jack Kerouac e Gregory Corso. Em “Viajante solitário”, Kerouac narra um diálogo com um certo Bill “num entardecer ensolarado lindo e ameno”:

– Além disso, sou apenas um agente secreto de outro planeta e o pior é que não sei por que me mandaram para cá, me esqueci da porra da mensagem – diz Bill.

– Também sou um mensageiro do céu – respondeu Kerouac.

Os dois beats passavam os dias em Tanger se entupindo de remédios legais, comprados na farmácia, mais ópio, haxixe e kif, a maconha local.

Mas não convém falar de drogas numa coluna plantada numa terra onde se consome de um tudo, mas sempre na surdina – com a conivência dos suspeitos de sempre.

“Suspeitos de sempre”, aliás, é expressão consagrada pelo filme “Casablanca”, safra 1942, com Bogart e Bergman, aquele, de play it again, Sam – que Adriano de Sousa (com “s”) detonou em muitos sentidos nos versos de “Casablanca”, pois: “play, sam / play as time goes by / se ela pode eu também posso, caralho”.

É isso, então.

*

Auto

Começa hoje – também amanhã – o processo de seleção de bailarinos para o elenco do Auto de Natal 2009. E na quinta e sexta-feira será realizado o processo de seleção dos figurantes.

Informações pelo telefone 3232.4948.

Fiore

O Centro de Ciências Humanas, Letras e Artes da nossa mui distinta UFRN promove o I Concurso Flor de Cacto de Poemas e Contos. Inscrições até depois de amanhã, na Coordenação do curso de Letras, CCHLA, e resultados dia 13 de novembro.

Info: 3215.3582.

Em cena

Continuam abertas as inscrições para seleção do mestrado em Artes Cênicas, para duas linhas de pesquisa: Pedagogias da cena – corpo e processos de criação; e Linguagens da cena – memória, cultura e gênero.

Até o 9 de novembro, 11 vagas, inscrições pelo sítio www.sigaa.ufrn.br, informações pelo número 3215.3554.

Cine

Já começou a 8ª edição do projeto Cine Sesi Cultural neste Ryo Grande, começando por Baraúna (fim-de-semana passado) e com São Miguel na seqüência, próximos 6, 7 e 8 de novembro.

Carolina

Cristina de Holanda canta Ana Carolina amanhã, no Belle de Jour Bistrô, 19h30, ingressos a R$ 5.

Viajante

A professora Maria Lúcia de Amorim Garcia já enviando os convites para o lançamento de “Jorge Fernandes, o viajante do tempo modernista”, obra fundamental para se entender o poeta que encantou Mário de Andrade, Manuel Bandeira e Cascudo. Dia 19 de novembro, no Midway.

Foto

A 5a edição do Jornal da Fotografia já está nas bancas. Prestigiem que vale à pena e bem mais que mil palavras.

BURROS

“Você falou nos burros com uma certa ternura: Berilo [Wanderley] dizia que preferia os burros, que são mais risonhos.” – de Maria Emília, sobre coluna da sexta passada.

AGORA

“Ama-me. Ainda é tempo. Interroga-me. / E eu te direi que o nosso tempo é agora.” – os versos de Hilda Hilst que Diógenes ficou de enviar, antes tarde do que nunca mais

Prosa

“Mas o tempo voa e a tua paciência, ó príncipe, não pode ser eterna.”

Dino Buzzati

As montanhas são proibidas

Verso

“Para olheiras: / Brilho. / Para olhos secos: / Lágrimas.”

Civone Medeiros

“Para tanto...”

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