Meninos, meninas, vos apresento o Dr. Nácul. Aliás, Dr. Almir Nácul. Aliás, Almir Moojen Nácul. Atentem ao acento agudo na penúltima sílaba, último sobrenome, por favor. Atentem, também, pelas caridade, que a vogal acentuada é “a”, não “o”. Naaaa-cul – repitam comigo, é essencial reforçar a paroxitonia do nome.
Pois bem, feitas essas ressalvas, vamos ao doutor Nácul.
Almir Nácul é gaúcho, e mora no Rio Grande do Sul, mais exatamente na distinta capital, Porto Alegre. Almir Nácul se diz “um cientista brasileiro” – poderia ser mais um, desses tantos que a gente esbarra a cada esquina, em cada campo de várzea, em qualquer grotão dos muitos grotões destes Tristes Trópicos, mui avançados nas Ciências, se não tivesse inventado uma “revolucionária técnica”: a Bioplastia.
Sim, o Dr. Nácul é cirurgião plástico, essa especialidade da medicina que a maioria das mulheres – dos 14 aos 80 anos – almeja tornar-se paciente. Mesmo diante da dor causada pela lâmina fria do bisturi.
Daí a invenção maravilhosa do senhor, doutor, Nácul. Como as cirurgias plásticas convencionais são o que são – ou seja, antes de plásticas são cirurgias e como tais exigem cortes, mais ou menos profundos, que por sua vez geram cicatrizes e inúmeros cuidados pós-operatórios –, o professor doutor Moojen Nácul desenvolveu nova e revolucionária técnica que utiliza-se de “implante de biomateriais, em níveis profundos, por processo minimamente invasivo”, para as devidas correções nas imperfeições do corpo humano: a Bioplastia, pois – considerada “A Plástica do Terceiro Milênio”. Poderia ser considerada também “A Plástica do Terceiro Mundo”, visto que Nácul se orgulha muito de suas raízes.
Não à toa, uma das principais garotas-propaganda do gaúcho é a também gaúcha Juliana Borges, miss Rio Grande do Sul. A assessoria de imprensa do médico nem esconde: o caso de Juliana Borges “gerou grande polêmica por ter se submetido a 19 plásticas, tendo se elegido Miss Brasil. Assim como ela, mais sete outras candidatas, com a ajuda da Bioplastia, ganharam o título máximo da beleza brasileira.”
E pode? Pode. Quer dizer, imagino que possa. Afinal, já foi-se o tempo de uma Martha Rocha – baiana de olhos azuis – que, reza a lenda, perdeu o concurso de Miss Universo por apenas duas polegadas na altura da cintura.
Através da Bioplastia – ensina ainda o release – pode-se não apenas transformar uma pessoa feia em bonita, bem como “deixar uma bonita, mais bonita ainda”. E tudo muito “naturalmente”: devolve-se volumes perdidos, restaura-se o rejuvenescimento, instaura-se o equilíbrio estético e o embelezamento.
Mais: o cientista inova também, com uma nova técnica, as clássicas plásticas de nariz, através do “suspensório nasal de Nácul” – esqueçam o nome estranho e acreditem: cerca de 95% das correções nasais podem ser feitas sem cirurgia.
Ainda: a Bioplastia pode ser usada para aumentar ou empinar o bumbum, engrossar as pernas e aumentar o pênis, tudo sem o incômodo de semanas e semanas de pós–operatório das cirurgias convencionais. E olha que maravilha esse trecho do release:
“Após o procedimento é possível, no mesmo dia, dirigir e até viajar por terra, ar ou mar.”
Por terra, ar e mar.
Isso é realmente incrível.
Mas não acaba aqui: a anestesia é simples, semelhante àquela usada pelos dentistas, o que faz da Bioplastia uma “plástica interativa”. Como o paciente fica acordado, ele pode acompanhar, “passo a passo, o desenrolar do processo através de um espelho, podendo participar, opinar e interagir com o cirurgião, durante o procedimento”. Ou seja, pode dar pitaco, mesmo – “Mais um pouco pra direita... não, não, foi demais... isso, um pouco mais pra cima... ok... hum... não tá parecendo muito com o nariz da Nicole Kidman, o senhor está louco?”
Bom, o negócio, dependendo da chata da paciente, pode dar errado – mas pouco importa: pra saber mais sobre as maravilhas do Dr. Nácul compareçam hoje à noite, 19h30, no hotel Pirâmide, da Via Costeira. A entrada para a palestra é grátis, mas se quiserem levar uma lata de leite em pó as clássicas instituições de caridade agradecem. E o Dr. Nácul também.
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Prosa
“Os vícios, os desregramentos que perturbam a serenidade íntima do modelo vão estranhamente vincar a face pintada.”
Oswald de Andrade
Ponta de lança
Verso
“Nada existe que me tire / de mim mesma. / Nem mesmo esses cadáveres / de plástico em seus simulacros / de alabastro.”
Marize Castro
“Se me olham”
mario ivo,honey,
ResponderExcluiradorei o texto escrito na sua camiseta no lançamento de lábios-espelhos. aliás, adorei sua presença.
bj.
marize castro
'shelovesyouyeahyeahyeah' não era isso? pena q não demorei mais, vamos marcar uma 2a edição. bj
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