terça-feira, 13 de janeiro de 2009

Doido, doido, muito doido

Queria ser doido. Juro. Doido, doido. Não doido de rasgar dinheiro, que doido assim não queria ser. Mas doido de tirar a roupa na rua. E gritar no meio da rua. Ou da janela aberta pro meio da rua, ou na varanda. Doido, doido. Tão doido assim, quero ser, por quê?
Ora, piúlas! Porque essa turma do carro-aberto-com-o-som-ligado deixa qualquer um maluco. O troço não é bem forró. É uma mistura de forró com funk – carioca, claro. O funk. Pois. É um martelo no quengo de qualquer cidadão com um mínimo de senso – bom senso, claro. Essas músicas [sic] repetem sempre uma ladainha à guisa de refrão – tem uma que diz: “requebra, requebra, requebra, requebra, requebra, requebra...” E por aí vai, ad infinitum, ad nauseam. Variação, noutra: “cachaça, cachaça, cachaça, cachaça, cachaça, cachaça, cachaça, cachaça...”
Doido. Muito doido.
Então. Queria ser doido pra, diante duma vizinhança assim – som ligado além de alturas inimagináveis (eu, a meio quilômetro de distância) – sair à rua e me postar em qualquer lugar bem visível a eles (estão sempre em turma) e começar a gritar e a berrar e a dizer sandices. Quem sabe até tirar a roupa. Me exibir nu em pêlo (a reforma tirou o circunflexo de pêlo? Sei não, deixa ele aí). Causar escândalo, incomodá-los, enfim, como eles estão me incomodando.
Mas sabem o que me incomoda mais? É que a música [sic] que eles ouvem – e nos obrigam, a quilômetros, a ouvir – em tese é música para dançar. Mas ninguém dança! Estão lá como dois de paus, aboletados em tamboretes ou cadeiras brancas de plástico, enchendo os cornos de álcool. Um bando de machos, reparem bem: quase sempre não tem moça, donzela, tampouco rapariga no meio da roda. Um bando de machos a exibir músculos, a entornar litros de cerveja, a simular conversa impossível por que, se não se ouve nada a quilômetros de distância, como se haverá de ouvir qualquer coisa no meio do furacão sonoro?
Pois. Doido, muito doido, eu tiraria a roupa, faria gestos imorais, gritaria a plenos pulmões, faria um escarcéu tão grande que eles, ou se recolheriam, ou chamariam a polícia. Daí, doido que já estou, chamem até o papa, o bispo, aquele delegado, como é mesmo o nome? – Maurílio Pinto –, enfim, chamem qualquer um que eu não tô nem aí. Tô doido mesmo. Aliás, como todos com essa música de.
*
KAFFIYEAH
Hoje, 18h, no auditório da Ordem dos Advogados do Brasil deste Ryo Grande, o professor Hanna Safieh profere palestra sobre a questão palestina.
Safieh sabe o que diz: é palestino e, na prática, cidadão desta Cidade dos Reis Magos.
SIN CITY
Aos concluintes de Arquitetura e Urbanismo da UnP que colam grau hoje à noite no Boulevard Recepções: lembrem-se que além de arquitetura o curso é também de urbanismo – façam, pois, a sua parte para uma cidade menos indecente.
Não vou nem recomendar nada aos concluintes de Direito (depois de amanhã, mesmo local).
PESCARIA
A Fundação Zé Augusto dá não apenas o peixe, mas ensina a pescar: promove amanhã uma oficina de elaboração de projetos para concorrer ao prêmio Núbia Lafayete.
Para relembrar, são 46 projetos e uma ruma de dinheiro – divididos assim: dez projetos recebem, cada um, R$ 4 mil; vinte projetos recebem, cada um, R$ 3,5 mil; e 16 projetos recebem, cada um, R$ 2,5 mil.
A oficina vai capacitar e orientar músicos, produtores e quem mais tiver interesse em gravar um CD. Começa às 9h, de amanhã, quarta-feira, no Teatro de Cultura Popular, Rua Jundiaí, 641.
LETRA & MÚSICA
Fernando Fernandes, secretário de Turismo Estadual, garante a Pipa Literária – feira, festa, encontro etc – para o primeiro semestre do ano. E aponta três possíveis shows: Fernanda Takai, Luiz Melodia e Roberta Sá.
Bom, bom.
Garante também a participação – musical e literária – dos nativos deste estado.
Legal.
SIR CHARLES
Dando pitaco, eu insistiria num convite ao editor Charles Cosac, da Cosac Naify. Pra falar sobre a sua editora, um “case” em se tratando de livros de elaborada apresentação visual no mercadinho brazuca.
Convite provavelmente a ser recusado pelo tipo, famoso pelo exotismo. Mas, quem sabe.
CALÇA DESBOTADA
Charlando com Ailton Medeiros semana passada lá vem o assunto reforma ortográfica: o polemista está disposto a contratar um professor particular apenas o assunto se consolide, solidifique, enfim. Eu aproveito pra avisar aos leitores: a coluna vai passar muito tempo ainda escrevendo à moda antiga.
Só não prometo mandar flores, nem o velho terno. Já a calça desbotada...
PRATO FINO
Morreu semana passada Dona Edith do Prato: natural de Santo Amaro, Bahia, participou do clássico – e experimental – “Araçá azul”, de Caetano Veloso.
Soube que a Biscoito Fino relançou há alguns anos seu único disco, “Dona Edith do Prato e Vozes da Purificação”. Vamos à cata.
GLOBAL
A Discomania (galeria entre a Vigário Bartolomeu e o Beco da Lama) tem um LP (assim, meio mal conservado) da cantora Maysa, quando ainda assinava Maysa Matarazzo.



PROSA
“O amor comove e a violência seduz.”
Tony Monti
eXato acidente
VERSO
“Muita Loucura faz Sentido –
A um Olho esclarecido”
Emily Dickinson
“Muita Loucura...”

2 comentários:

  1. Bom, eu já tive vizinhos assim como esse bando que incomoda você e que lhe dá ímpetos de sair nu, em pêlo (com ^ mesmo). No meu caso, vontade de sair na rua, nua não, mas de saber manusear uma AR 15, a tive sim, amigo. Muita. Na mais perfeita concretização de "um dia de fúria".

    ResponderExcluir
  2. bom, mme s, o pessoal tá avisado: se virem um caba nu e uma moça linda armada até os dentes, saiam da frente!

    ResponderExcluir