quinta-feira, 26 de março de 2009

Águas divididas

A demissão quase em massa de 40 jornalistas do Diário de Natal pode ter várias leituras e reflexões. A primeira, sentimental e solidária à classe, de que é muito triste ver tanta gente ficar sem emprego de uma só vez.
A segunda, ainda no seio da corporação, de como é difícil sobreviver das próprias palavras e do trabalho de buscar informações diariamente, como meio de vida e ganha-pão – já era difícil numa vila, digo, numa cidade, desdigo, numa metrópole como Natal, com um jornal a mais, imagine agora com um jornal a menos.
E não se trata de nenhum nanico de última hora, mas de um jornal há muito entranhado na História – com agá maiúsculo – deste Ryo Grande.
Há ainda uma terceira leitura, embalada pelas marolinhas ou marolonas da tal crise mundial, que gostaria de vincular o fato ao momento específico. Leitura esta, suponho, equivocada: a tragédia do Diário de Natal era já anunciada. O que surpreende é a velocidade em que foi processada. Se houve um tsunami, foi provocado e nasceu nas internas da redação e da administração, não em Wall Street ou alhures.
Outra leitura, não totalmente alheia à realidade do mundo globalizado, é que, se a crise do jornalismo impresso já botou pra escanteio nomes bem mais consolidados, especialmente nos EUA, pátria mãe do jornalismo moderno, investigativo, do new journalism e que tais, imagine por estas ribeyras. Na CartaCapital desta semana, Felipe Marra Mendonça comenta o fechamento do mais que centenário Seattle Post-Intelligencer e sua migração total para a internet. Mendonça deve estar assistindo a novela das oito global, porque, em um certo ponto diz: “É auspicioso que a imprensa tradicional perceba, cada vez mais, que o meio não faz diferença, desde que o jornalismo mantenha a qualidade.” Noves fora a piada infame do sobrescrito, o jornalista está correto ao lembrar que “os leitores pedem jornalismo, não jornais”. E se ele está na net ou na banca de revistas não faz a menor diferença.
É claro que na verdade, faz. E muita. Cada dia mais pessoas vivem diante do computador, bombardeados por um infinito número de informações, sem pagar praticamente (ou ao menos diretamente) nada por isso – se a maioria das notícias é inútil são outros papos. Mas dificilmente alguém com menos de 30 anos entra numa banca para pagar menos de dois reais por um jornal que seja.
Para não deixar de escapar a oportunidade de usar aqui o termo mais ouvido no horário nobre da TV brazuca, na boca de nativos fantasiados de indianos, é “auspicioso” pensar que existem ainda outras leituras (ou esperanças): a de que, num momento de crise como esse, alguém aproveite a oportunidade para fazer a diferença e ocupar o vácuo deixado pelo DN, atendendo a nichos específicos de um mercado inegavelmente e numericamente grandioso.
Por fim, e não menos importante, é saber como essas notícias estão chegando às salas de aula dos cursos universitários de jornalismo. Essa moçada sabe onde vai trabalhar e sob quais condições? E, mais importante, o que quer o leitor potyguar? (Supondo que ainda exista.)
As águas começaram a ser divididas.
*
ESTADO DE SÍTIO
Arlindo Freire, Italo Valerio, Luiz Gonzaga Cortez e Rosáfico Saldanha entabulam projeto de um sítio de pesquisadores potiguares – a ser acessado por qualquer internauta interessado em folclore, pré-história deste Ryo Grande, história, política, poesia popular etc.
VW
O Departamento de Filatelia dos Correios estuda a idéia de vender selos personalizados – idéia já concretizada, ao menos num caso único, desde o dia 9 deste mês, com a venda de um selo comemorativo dos 50 anos do Fusca.
Enquanto isso os amantes da filatelia deste Ryo Grande andam às voltas com a renovação do seu Clube.
Também, nestes tempos de emails, orkuts, messengers, torpedos e que tais, como resistem os selos?
FANTASIA
Querendo fugir da realidade? Nalva Melo comemora os 15 anos do seu salão na velha e indefectível Ribeyra Velha de Guerra.
Em vez de um baile de debutantes, uma Festa a Fantasia. Vai ser sábado, no térreo do Edifício Bila, noite e madrugada adentro.
IGNORÂNCIA
“O fim da Educação: elementos epistêmicos da ignorância” é o título do lançamento de hoje na livraria do Natal Shopping, hora da Ave Maria.
Segundo o release o livro “trata da precariedade da sustentação teórica nos variados conceitos da educação”.
Se for pelo currículo e títulos, o autor, Tassos Lycurgo, promete: bacharel em Física e em Direito, licenciado e mestre em Filosofia, especialização em Direito e Processo do Trabalho, doutor em Estudos Educacionais, pós-doutorado em Sociologia. Atualmente coordena o Curso de Artes Visuais da UFRN.



PROSA
“O jornal exerce hoje todas as funções do defunto Satanás, de quem herdou a ubiqüidade; e é não só o pai da mentira, mas o pai da discórdia.”
Eça de Queirós
A correspondência de...
VERSO
“Restou do mundo
Um poderoso ruído.”
Newton Navarro
“Cego”

Nenhum comentário:

Postar um comentário