terça-feira, 24 de março de 2009

Meu tio

Único irmão de minha mãe, meu tio está no hospital. Há mais tempo do que todos nós gostaríamos que estivesse.
Dizer que não merecia é muito pouco e de pouco serve. Nem para ele, nem para quem fica do lado de cá da unidade ou centro de terapia intensiva.
Neste momento, dezenas, centenas, milhares de pessoas passam pela difícil experiência de ter um parente internado.
Experiência, infelizmente necessária, para se entender o valor inestimável da vida. Da companhia. Das amizades. Da família.
E do trabalho dos médicos, que vivem essa situação, todos os dias, sem parar.
É quando damos conta, também, de tudo aquilo que o dinheiro não compra.
Não somos os únicos, sei, e por isso escrevo.
Pode-se dizer, também, que Darce Freire Dantas de Araújo é parte fundamental da história desta Cidade, primeiro, por fazer parte da historia da odontologia potyguar; depois (ou antes), porque, como qualquer habitante, ao construir sua vida, família, trabalho, naturalmente contribuiu para a construção da cidade.
Como enxergava Cascudo ao citar Pierre Lavendan na epígrafe de “História da cidade do Natal”, a cidade, qualquer cidade, é “um ser vivo”, e, “como todos os seres, ela nasce, ela cresce, ela morre”. Mas, se é viva é porque é feita muito mais do que de cimento e pedra. São os moradores o tecido vido desse organismo múltiplo. O que fazem, o que fizeram, o que farão.
Ao pensar na trajetória de vida de Darce, assisto a história desta Capital nas últimas quatro décadas, aquelas que presenciei. Pescador, sempre teve automóveis que pudessem vencer as veredas difíceis e as dunas móveis. Primeiro um Jeep, depois um Selvagem. Numa época onde não se ouvia ainda palavras e expressões hoje corriqueiras como “4x4” ou “SUV”.
Sua casa no Bonfim, sua casa em Cotovelo, sua casa na Miguel Barra, permanecem quase como sempre foram. Admiro em meu tio esse senso de preservação, especialmente quando hoje assistimos a febre pulsante em derrubar para se construir em cima o que se pensa como novo.
Durante muito tempo cultivou orquídeas e canários. Leitor contumaz, lia para aprender o que não sabia. Sempre ativo, amante das caminhadas, era também impossível vê-lo parado, muitas vezes com um martelo e pregos nas mãos. Fotógrafo amador, sempre se interessou pelas novas tecnologias – respeitando o passado, sempre olhou para frente. Em Darce, o amor pelo mundo natural se confunde com o fascínio pela ciência.
Gostava de ouvi-lo contar histórias de outros tempos. De Natal na época da guerra. De Macaíba da sua infância. Do Colégio Marista. O senso de companheirismo, de camaradagem, de amizade, sempre presente em seus relatos.
E se uso tempos verbais pretéritos é porque não posso ouvi-lo de onde está agora. Apenas relembrar um pouco de sua vida, admirável como qualquer outra, única como a de todos nós.
*
ANIVERSÁRIO
Num dia desses, 24 de março de 1904, era inaugurado o Teatro Carlos Gomes, hoje TAM, Teatro Alberto Maranhão.
Incrível. Depois de mais de um século, continua o teatro mais importante deste Arraial. Único.
MARATONA
A ONG ZooN programa para hoje, a partir das 19h, no Circo Tropa Trupe (Campus da UFRN), uma mostra de vídeos. Aliás, três, divididas assim: 20 filmes com o tema “ser nordestino”; 40 “melhores filmes de 2008”; 60 filmes holandeses.
Façam as contas: cento e vinte filmes numa noite só? Não é exagero: é que todos eles e cada um deles têm apenas um minuto, no máximo, e participaram, pois, de algum Festival do Minuto pelo mundo.
Assim, em duas horas, mais ou menos, a coisa finda. No intervalo, rola um tal “Cachorro Loko!” (cachorro-quente vegetariano) e sorteio de brindes.
CÁLCULO
O que é que a Ponte de Igapó, o Machadão, o Machadinho e a Catedral de Natal têm em comum?
Resposta: tiveram suas estruturas calculadas pelo engenheiro civil e professor da UFRN José Pereira da Silva.
Que lança, hoje, 19h, no Auditório da Reitoria da UFRN, o livro “A trajetória de um calculista de estruturas”.
Um marco nas comemorações dos 50 anos do curso de Engenharia Civil e dos 40 anos do CREA-RN.
Que pensará o professor José Pereira da Silva sobre a derrubada do Machadão, caso esta City ganhe seu lugar ao sol na Copa?
TELA QUENTE
Quem não quiser sair hoje de casa, tem boa opção na TV aberta: Rolando Boldrin recebe Khrystal. Khrystal canta acompanhada de Guinga. É a reprise do Sr. Brasil, na TV Cultura, 22h10.



PROSA
“Vivemos conjugando o tempo passado (saudade, para os românticos) e o tempo futuro (esperança, para os idealistas).”
Mario Quintana
A vaca e o hipogrifo
VERSO
“As mãos que dizem adeus são pássaros
Que vão morrendo lentamente”
Mario Quintana
“Anotações para um poema”

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