segunda-feira, 8 de junho de 2009

O boi, o gay, o selo

Sexta-feira passada os deputados que legislam na nossa Assembléia discutiram a criação de um selo para a carne produzida por estas ribeyras.
O selo tem um nome bem bonito: “Boi da terra”.
O que me lembra aquela campanha da Fiern, “Compre que é daqui”.
E, nem tão recente, mas um tiquinho mais antigo, os chamados produtos “do Reino”. Que Reino? O de Portugal, na época em que o Brasil era Colônia. O queijo do Reino, se eu não me engano, era o produto mais famoso.
Acho – suponho, desconfio, já que não sou historiador – que vem daí, por oposição, a famosa manteiga-da-terra. (Que eu chamava, menino, “manteiga-de-garrafa”.)
“É do Reino?” “Não é da terra, mermo” – podia-se imaginar o diálogo entre comerciante e cliente, séculos atrás.
E batia no peito, ufano.
O selo, claro, não vai ser grudado no lombo do ruminante, mas nas embalagens, depois de o bicho ser devidamente abatido, esquartejado, limpo e acondicionado naquelas bandejinhas de plástico.
Mas eu gostei mesmo foi da frase, de cara antológica, do futuro senador desta República, José Bezerra Júnior, ou Ximbica, pronunciada por ocasião das discussões bovinas na Assembléia:
“Não podemos admitir que um maconheiro, vestido de gay e travestido de ministro chame quem trabalha e quem produz neste país de vigarista.”
Essa foi a versão publicada por Anna Ruth Dantas e Oliveira Wanderley. A de Laurita Arruda é mais enfeitada, e, por isso mesmo, mais interessante:
“Minha família tem 250 anos de tradição na pecuária desse país e hoje chega um maconheiro travestido de ministro, vestido como um gay para chamar os criadores de vigaristas e marginais? Que país é esse?”
Pois é.
É o Brasil, antiga Colônia do Reino de Portugal.
*
ROÇA CULT
Hoje tem exibição dos filmes “O meu pé de laranja lima”, “Vidas secas” e “Nordeste sangrento”, dentro da mostra “Cinema na Roça”, derivação do evento megaláctico Mossoró Cidade Junina.
No mezanino do Memorial da Resistência. De grátis.
RURAL
Mossoró continua – como dizem por aí – se amostrando: Frederico da Silva Veras é o único representante deste Ryo Grande no Prêmio BNB de Jornalismo em Desenvolvimento Regional, edição relativa a trabalhos publicados ou veiculados em 2008.
A categoria, no caso, é “Foto” – e a de Frederico Veras saiu na revista Negócio Rural.
Amanhã, em Recife, Pernambuco, o rapaz sabe se leva pra os R$ 7,5 mil do prêmio ou não.
João Pessoa e Recife lideram entre as cidades com mais finalistas nas cinco categorias, cada uma com quatro concorrentes.
CAIPIRA
“O enredo do espetáculo acompanha a história de um caipira pobre que engana a Morte para salvar a vida de um homem muito sábio chamado Câmara Cascudo.” – legenda para 36 belas fotos de Lenise Pinheiro no sítio do UOL.
O espetáculo (de Teatro Infantil) em questão é “O colecionador de crepúsculos”, em cartaz no próximo fim-de-semana no Centro Cultural Fiesp Teatro Sesi, Bela Vista, Sampa, claro.
Diógenes da Cunha Lima e Anna Maria Cascudo Barreto estão na peleja para convencer governo e (ou) prefeitura trazerem a peça para cá.
MUNDOS
Começou ontem a Bienal de Veneza, em sua 53ª edição, sob o tema-título “Fare mondi – making worlds”, ou seja “Fazer mundos”. Tem um nordestino na parada, mas não deste Ryo Grande: o pintor Delson Uchoa vem das Alagoas.
Vai até novembro.
MUNDOS II
Aliás, tem dois nordestinos: o compositor, produtor, vocalista e guitarrista Arto Lindsay nasceu nos EUA mas viveu muito tempo em Pernambuco, experiência que marcou definitivamente sua obra, com parcerias produtivas com nomes como Caetano, Vinícius Cantuária, Marisa Monte e Carlinhos Brown.
Lindsay comandou uma performance, à guisa de parada musical, pelas ruas estreitas de Veneza semana passada.
MUNDO CÃO
Do informativo do TJRN vem a descrição de um crime, datado 2006, Favela do Mosquito: “Leandro Farias Ferreira, fazendo uso de armas impróprias, quais sejam, uma pedra e uma ripa (pau), deliberadamente, de modo cruel, efetuou seguidos golpes contra a cabeça da Sra. Maria Vitória Dias”.
O motivo? Pelo que entendi, Vitória deu dois tapas na cara de Leandro porque este lhe recusou um confeito.
De hortelã.
Melhor cantarolar Jobim: “É pau, é pedra, é o fim do caminho”.



PROSA
“– E não sabes, paspalho, que onde vejo caça, atiro?”
Pirandello
Novelas para um ano
VERSO
“Não o boi que pasta no campo, / mas o boi que vão levando ao matadouro.”
Luís Carlos Guimarães
“Canção urbana”

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