quarta-feira, 22 de julho de 2009

Abobrinhas, caramujos, twitter


Houve uma época em que esta Capitania de João de Barros era a terra dos jerimuns. Hoje, desconfio que o plantio vigente é de abobrinhas. Tem para todos os gostos, bolsos, paladares, sacolas plásticas e aquelas novas, ecologicamente corretas.

A safra atual é a da abobrinha-twitter. Tomo por exemplo – e ao acaso, puro acaso – uma coluna social-política (ou política-social) de ant’ontem. Segundo a coluna, Fábio Faria “reagiu” no twitter; Robinson Faria foi “comedido” no twitter; Micarla de Sousa “falou” no twitter; e até Jânio Vidal teve uma sua tuitáda básica reproduzida no papel-jornal.

Não foi a única coluna, nem o único jornalista a reproduzir para o leitor o twitter alheio. Até os blogs de plantão aderiram à onda. Eu, leitor, deixaria de ler os jornais impressos, economizaria um real e alguns centavos (ou só alguns centavos como é o caso desse JH primeira edição) e passaria a acompanhar o twitter dos políticos da jerimulândia. Ou desviaria dos milhões, bilhões, trilhões de acessos dos blogs, e iria direto à fonte, beber nas sábias palavras do deputado-twitter, do senador-twitter, do candidato-twitter. Sem atravessadores (e qualquer dona-de-casa que vai à feira sabe disso), a abobrinha, o chuchu, a melancia, o tomate, o abacaxi, custam bem menos.

Outra abobrinha plantada nos últimos dias, puro exemplo aleatório, é a abobrinha-veloso: colunistas, blogueiros, formadores de opinião, diplomados ou não, vêm se esmerando em deixar claro, bem claro, que o show de Caetano (amanhã) não vai ter apenas músicas dos últimos CDs, mas os grandes sucessos do baiano. É que Caetano está mais rock e a turma do ingresso vip quer baladinhas para animar as mãozinhas e cantar em coro. Tão pagando, né? Tão podendo.

Querem mais abobrinhas? Vai uma, clássica, repetida derna o século passado: que o ar desta Capital Espacial do Brazil é o mais puro das Américas. A fonte, dizem, foi um estudo da NASA, sei lá se é verdade, mas quem se importa? Pois, como o sobrescrito é chegado a uma calçada – e não é só pelo tabagismo compulsivo, sorry, Julinha Arruda – me chama a atenção de como os nativos da Abobrinha’s Land não sobrevivem sem um ar condicionado. No máximo, máximo, aceitam uma varanda para o clássico ver-ser visto.

Mas. Que esperar de uma gente que vive à beira-mar, se orgulha de 364,5 dias de sol no ano, mas só vai à praia no verão? E, de preferência a bordo de uma lancha, versão marinha do 4x4, de onde festejam os parrachos, o PIB, o JET, o VIP?

Caramujo

Os mais atentos já se perguntaram “quede os caramujos do título?” – calma, calma, eu chego lá: é que também na última segunda eu vibrei com a notícia: “Grande quantidade de caramujos assusta servidores no Centro Administrativo do RN”.

Onde?

No Centro Administrativo do RN.

Nossa.

A turma se assustou porque percebeu que os bichos eram mais rápidos que eles na administração da causa pública. Já pensou? Perder o emprego para um molusco?

Um servidor chegou a dizer que os bichos sobem nas árvores e nas paredes, “ficando inclusive pregados nos veículos oficiais”. Como assim, meninos? Já tem gente demais aboletada nos veículos oficiais, sai pra lá, caramujo!

Mais: “após a chuva os caramujos ficam mais aparentes, sendo vistos deixando o terreno em direção ao prédio da educação”. Que maravilha! Imagino a cena: a multidão de caramujinhos buscando a alfabetização, os estudos, quem sabe conseguirão atravessar a BR-101 e chegar à universidade? Afinal, até um caramujo merece sonhar.

Tem ainda uma outra explicação para o caso: não seriam esses animais (a reportagem viu alguns “do tamanho de um punho adulto fechado”) representantes disfarçados dos tais investidores da tal Arena das Dunas? Essa gente gringa é esquisita, vocês sabem.

Eu experimentaria, ainda, colar as orelhas na concha de um deles – se ouvir uma vozinha a la Amália Rodrigues cantando um fado é porque são remanescentes da Semana de Lisboa em Natal.

E, por falar nos lusitanos, me lembrei agora: quem deu as caras na blogosfera foi Marcelo Andrade, jornalista com diploma expedido pela cinqüentenária UFRN, e que está pelo Reino há um bom tempo. Faz o fotógrafo. Pois, Andrade mandou notícias diretamente de Porto, Portugal – concorda com esta coluna (da semana passada) que os portugueses, sim, costumam ser babacas, mas que “não são mais tão burros. Eles têm mais a ganhar com Natal do que Natal a ganhar com Lisboa. E o ex-ministro (e actual ‘prefeito’ ) António Costa está sempre acessível em época de eleições.”

Ué, e qual político não está acessível em época de eleições? Por enquanto eles tão brincando de tuítar, certo, mas deixa um caramujo apressar o passo mais do que o andar de lesma do outro, todos em busca do eleitor-abobrinha, que vocês vão ver. Os tais 140 caracteres não bastarão para convencer o eleitor. E o TRE vai virar um Centro de Zoonoses.

PROSA

“Querer o bem com demais força, de incerto jeito, pode já estar sendo se querendo o mal, por principiar.”

Guimarães Rosa

Grande Sertão: Veredas

VERSO

“Os cavalinhos correndo, / E nós, cavalões, comendo....”

Manuel Bandeira

“Rondó dos cavalinhos”

2 comentários:

  1. Tou indo agora pro twitter recomendar seu texto!

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  2. Eu estava a me referir ao contrato "milionário" com uma construtora lusa para contruir estádios de futebol em Natal. E o que Natal ganha em LX? Mais pacotes dos operadores turísticos? Só isso?

    Ela tem mais a ganhar se investir em Angola, que depois da guerra tem "bué" de "guita" e oportunidades. Basta vestir um "kikuto" "giro" e fechar negócios! Akl abrc.

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