terça-feira, 21 de julho de 2009

As aparências enganam


Lá vai o sobrescrito, os olhos ainda semicerrados, o sono ainda pesando, o corpo ainda marcado pelo lençol que desviou o frio da noite anterior, lá vai, pois, o sobrescrito passear pelas terras virtuais do google. Desde cedo a TV só quer saber do homem na lua. Um pequeno passo para um homem, um grande passo para a humanidade e tal. Mas, desde que li as memórias de Cascudo em “Na ronda do tempo”, safra 69, não esqueci uma anotação do Bruxo da Junqueyra Ayres – mais uma, entre tantas, escrita nas entrelinhas com uma originalidade que transcende (ou comunga) com seus estudos folclóricos, etnográficos, antropológicos, culturais:

“O quarto crescente namora-me inutilmente. Está profanado pela pegada humana.”

Menos de um mês depois de maravilhar-se com o feito, a emoção do momento compartilhada com Dona Dahlia anunciando o pouso do Apolo XI é substituída pelo ceticismo poético dos que se acostumaram a ver na lua mais mistério e paixão do que exatamente um laboratório para o desenvolvimento da ciência. Se em 20 de julho ele saudou o vôo lunar, a espaçonave, o foguete, a marca humana, com um brinde ao contemporâneo e astrônomo francês Camille Flammarion, em 17 de agosto relembra marchinha carnavalesca, safra 1935:

“Deixa a lua sossegada / E olhe para mim!”

As aparências tinham enganado Cascudo. A conquista da lua perde o encanto inicial da novidade, e o tal progresso da ciência se curva diante de milênios de mitos e tradições populares. A lua – e me recorro do “Dicionário de símbolos” de Chevalier e Gheerbrant – e seu simbolismo vêm sendo eternamente e quase sempre pautados por suas fases, correlação com os ritmos biológicos, passagem do tempo, o que inclui, também, a morte. “Durante três noites, em cada mês lunar, ela está como morta, ela desapareceu… Depois reaparece e cresce em brilho.”

Lunário

A lua também tem efeito direto na agricultura, ao comandar as águas e produzir chuva (o que tem efeitos devastadores até na coluna de Woden Madruga). Transforma gente em bicho – os lobisomens – e endoidece ainda mais os fracos de juízo, os lunáticos, os aluados.

Daí para todos estarem errados e a sentença de que, sim, “a lua é dos namorados”, é coisa do imaginário poético popular.

Daí a insatisfação ciumenta de Cascudo, com o satélite, desvirginado pelo pé do astronauta.

Mas, mas, mas, a minha googleada citada no primeiro parágrafo nada tem a ver com a lua e seus apolos. Se referia à letra de “As aparências enganam”, composição de Sérgio Natureza e Tunai – “As aparências enganam, aos que odeiam e aos que amam
/ Porque o amor e o ódio se irmanam na fogueira das paixões”.

Pois. Tunai se apresenta hoje, no Seis & Meia. Vem na companhia de outros dois lunáticos de antão, do tempo em que o homem podia até ter pisado na lua, mas ainda não tinha desembarcado no twitter: Dalto e Hyldon. Dalto quase nos deixa doidos, ali pelo início dos 80, quando emplacou seu hit “Muito estranho” (doidos no mal sentido, claro, que o troço tocava em todo lugar a toda hora). Mais sorte tivemos nos anos 70, com Hyldon – “Jogue suas mãos para o céu
/ Agradeça se acaso tiver
/ Alguém que você gostaria que
/ Estivesse sempre com você
/ Na rua, na chuva, na fazenda
/ Ou numa casinha de sapê...”

Era o tempo do rock rural, Sá, Rodrix, Guarabyra, emparelhado com o soul brasileiro, Cassiano, Tim Maia, Hyldon. Tempo em que pouco importava a fase real da lua no céu. O que mais importava era a lua pessoal de cada um.

*

Isaque

Amanhã Isaque Galvão e “parte da” bateria da Malandros do Samba abre alas no Praia Shopping Musical.

Isaías

Isaías Ribeiro com novo blog/sítio na rede (http://isaiasribeiro.wordpress.com/), onde se pode conferir o portfólio do artista, um dos habilitados do mercado potyguar a executar aquelas obras que a lei municipal obriga aos novos prédios construídos ostentarem em suas fachadas e jardins.

Marcus

“Lisos mas com boas intenções” (segundo os próprios), os fotógrafos João Maria Alves e Marcus Ottoni se uniram ao cartunista Brum para lançar, na contramão da blogosfera, mais um jornal impresso: o Jornal da Fotografia tem formato tablóide, 16 páginas e dois mil exemplares distribuídos por estas ribeyras e mais Recife, Salvador, Guanabara, Sampa, Porto Alegre.

Lázaro

Enquanto isso, o roedor da Fundação Zé Augusto continua hibernando, e o burburinho da Capitania das Artes parece romper, ainda timidamente, o silêncio: Sérgio Villar – talvez – seja o nome escolhido por César Revoredo para ressuscitar a Brouhaha – que deve mudar de nome.

Lázaro, bem podia ser.

Manuel

“As interfaces do patrimônio cultural no Brasil” é a palestra que o professor-doutor Manuel Ferreira Lima Filho ( da Universidade Federal de Goiás) ministra hoje, 9h. No auditório A do NAPP, CCHLA, UFRN, pois.

PROSA

“Todo amor não é uma espécie de comparação?”

Guimarães Rosa

Grande Sertão: Veredas

VERSO

“O que eu mais quero, / O de que preciso / É de lua nova.”

Manuel Bandeira

“Lua nova”

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