sexta-feira, 17 de abril de 2009

Inimigo meu

A briga do poeta Plínio “ensandecido” Sanderson com o editor Abimael Silva veio parar por aqui porque já percorria o território livre da internet. É uma explicação e resposta à minha própria pergunta: é justo expor a intimidade alheia? A que serve escancarar o ringue? Afinal, as baixarias não foram poucas, e muitos amigos em comum dos dois duelantes preferiram ficar em riba do muro, não para assistir, indiferentes, a contenda, mas por, justamente, gostarem dos dois.
O sobrescrito não encontrou nenhum muro para nele se encarapitar e acha que nenhum dos dois tem razão e ambos razão têm.
É certo que é feio brigar assim, com ataques abaixo da linha do Equador, mas uma coisa faça-se justiça: ao menos a dupla de dois Abimael-Plínio tem coragem e hombridade de brigar às claras, em vez de simplesmente tecerem as clássicas intrigas de bastidores, no silêncio covarde que persiste nos corredores palacianos e nos becos da lama em igual medida e sem preconceito algum quanto às castas sociais.
Um canalha é não apenas um canalha, mas também uma opinião de canalha, não necessariamente um fato comprovado. Mas, sempre melhor dizer na cara e/ou assinar embaixo do que ficar destilando o veneno nas madrugadas insones, na rodinha de hienas em conspiração maléfica, nos dardos lançados secretamente.
As contendas são eternas ou quase eternas. Nas ribeyras do Putigy já houve quem chamasse pra briga em coluna de jornal, já houve quem desse e quem levasse surras homéricas – num lapso de tempo insuficiente para ler sequer uma página da “Ilíada” ou da “Odisséia”; e sem sequer a existência de uma Penélope a tecer e desfazer tramas enquanto espera.
Às vezes, os ódios se aproximam da tese defendida, sei lá por quem, mas que enuncia algo assim: “trate bem seus amigos e melhor ainda seus inimigos”. É quando o literato, mesmo no ramerrame da província, eterniza nas páginas seu obscuro objeto de ódio. Assim, de memória, cito dois exemplos locais: o primeiro, Franklin Jorge e seu “Rato encardido”, presente em “Ficções fricções africções”, 1999 (e que todos sabem e por isso não precisa esconder ser um retrato ferino e maligno de Abimael); e o Esmeraldo Siqueira de “Fauna contemporânea”, 1968 (dezenas de perfis, camuflados em versos, de “tipos moralmente enfermos”, nas palavras e segundo o autor – com destaque para uma das famílias políticas da cidade, onde resumia: “Zègó tem ares de peru bravio,/ Guinelo é tal e qual um dromedário./ Peditinho – calunga extraordinário –/ Lembra a careta de um sagüi com frio.// Este, o Gari, é um tipo quaternário,/ De crânio atrofiado e fugidio./ Por fim, Lulu – da tropa orgulho e brio –/ Supera o genial burro Canário.”)
No fim das contas há que se rir das pelejas, das intrigas, das quizilas – como Tácito Costa me ensinou o termo e o uso aqui a troco de nada, como nada é o troco de qualquer briguinha.

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RAP
Carlos Fialho promete para 7 de maio o lançamento de mais um livro – “Mano Celo, o Rapper natalense”.
AS PONTES DE MADISON
A Universidade de Wisconsin, em Madison, EUA, realiza próximos dias 24 e 25 o simpósio “Nabuco and Madison: A Centennial Celebration”.
Nabuco, claro, o pernambucano Joaquim Nabuco, primeiro embaixador brazuca em terras norte-americanas, coisa de um século atrás, daí as comemorações – ou “celebration” – que inclui o lançamento da “Brazil Initiative”, série de eventos e colaborações entre a universidade, fundações, e este Brazil brazileiro.
MAGIA
Depois de “O mágico de Oz” (cuja adaptação mais famosa para a telona data de 1939, com Judy Garland como Dorothy), depois de “Os Trapalhões e o mágico de Oróz” (com Didi Mocó Sonrisal Colesterol Mufumbo), chega por esta City, ribeyras do Putigy “O Mágico de Inox”, peça escrita pelo paulista Stevan Lekitsch, e encenada pelo Grupo Teart.
Mais uma peça “educativa e juvenil, que fala sobre reciclagem de lixo e meio ambiente”. Desse jeito, esse planeta de azul termina virando verde, mesmo.
Domingo, 19, cinco da tarde, no Teatro Alberto Maranhão, com ingressos antecipados na livraria Siciliano, a R$ 8 (meia) e R$ 16 (inteira, claro).
BAIÃO DE DOIS
Amanhã, sábado, 18, Khrystal defende com a garra e o gogó (mais Zé Dias comandando a torcida) a canção “Esse meu baião” no Festival de Música de Garanhuns, estado do Pernambuco.
BLÉQUI
Hoje tem soul music e samba funk no Aprecie Pub (Rua da Lagosta, 202, Alagamar): Iggor Dantas interpreta sucessos de Cassiano, Tim Maia e Cláudio Zoli, entre outros. A partir das 22h, senhas no local.
FOLE
Não sei se já falei mas não custa repetir: o sanfoneiro Fernando Farias se oferece para animar o São João de quem gosta de um autêntico pé-de-serra: 8812.0604 e 8866.5477.



PROSA
“Mesmo do lugar dos réus, é sempre interessante ouvir falar de nós próprios.”
Albert Camus
O estrangeiro
VERSO
“Na luz tu és sombra e eu sou luz, sou a luz de tua sombra”
Julio Cortázar
“Naufrágios”

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