segunda-feira, 27 de abril de 2009

Roberto Carlos em detalhes

Ando lendo um escritor argentino chamado Alan Pauls, que o leitor/a mais atento/a já deve ter notado algumas vezes no box da esquerda, abaixo, “Prosa”. O livro citado foi “História do pranto”, Cosac Naify, 2008. Mas ando mesmo é enredado em outro livro, mesmo autor, mesma editora, um ano antes – “O passado”.
A produção gráfica, como é comum à editora do senhor Charles Cosac, é magnífica. E o livro foi às telas pelas mãos do argentino-brasileño Hector Babenco, com o mesmo título. Não, não vi.
A prosa de Pauls é introspectiva e ao mesmo tempo exuberante. Revela, com detalhes cinematográficos, a paisagem exterior, mas percorre com precisão de topógrafo os aclives e declives da alma. No meio da trama, como sempre, os suspeitos de sempre – um homem, uma mulher, os dias e as noites. O tempo que se arrasta às vezes em descrições quadro-a-quadro e que se estende, se dilata, no capítulo seguinte ou no parágrafo próximo. É uma escrita bem masculina, pode-se dizer. E que danado significa isso, de escrita bem masculina? Com certeza, não necessariamente, porque o protagonista é homem. Mas porque tem as velhas dúvidas e incertezas do macho, cujo crepúsculo tarda em acontecer, adiado por uma sensibilidade bem a calhar. E por sua visão das mulheres, entre a adoração e a repulsa.
Num certo instante, Rímini, o protagonista, reencontra o antigo grande amor, Sofía. Notem os acentos: o macho proparoxítono, a fêmea paroxítona. E um filho, Lucio, sem acento, que é filho apenas de Rímini, com Carmem, sem acento também. É Carmem quem, ao receber uns sapatinhos para o filho de quatro meses, presente da outra mulher, faz questão de calçá-los quando o marido vai ao encontro de Sofía acompanhado apenas do bebê – “com essa deferência desconcertante que as mulheres só desdobram entre mulheres, não importa o grau de rivalidade ou de desconfiança que as separe, teimara em aproveitar o encontro para estreá-los.”
E Sofía, durante o reencontro com o ex-amante, e primeiro encontro com um filho que não é seu, chora, e ri:
“Sou um ser emocional. Vejo você empurrando esse carrinho... Teve um filho com outra, é um traidor. Um filho-da-puta traidor. Mas agora pelo menos sei que quando o imaginava como pai dos meus filhos não estava errada. Você fica bem de pai.”
Mas o que eu queria mesmo dizer – e sei lá por que – é que na página 380 existe uma referência ao Rei Roberto, quando Rímini entra num motel de beira de estrada com Nancy e ouve a música do elevador (“Roberto Carlos em espanhol, com os erres fracos e os esses marcados”, o que curiosamente remete o protagonista à adolescência e aos impulsos do sexo solitário e manual), na dúvida se a canção é “Detalhes” ou “Palavras”.
Eu preferia que fosse a primeira.
*
BLOGOSFERA
O grupo Arquivo Vivo botou um blog na blogosfera, claro, com informações sobre a banda e sua agenda, mais tentativa de dialogar com o público.
Acessem: www.grupoarquivovivo.zip.net.
Mas, se nos primeiros dias o negócio funcionou, o sítio agora está em “teste”.
BLOGOSFERA II
O poeta João Batista de Morais Neto – que em 1986 lançou seu romance-minuto “Temporada de ingênios” assinando João da Rua – se lançou na blogosfera, com seu Blog de Bordo.
Confiram em http://vidadebordo.blogspot.com.
Pra começar, mandou logo ver a letra de “Jack Kerouac”, de Alice Pink Pank e Julio Barroso (Gang 90), uma das preferidas do sobrescrito, que vai aqui, na íntegra, como se deve, e sem interrupções:
“Uma noite eu sonhei que era Jack Kerouac mandando brasa nas estradas do mundo subi no terraço: Rua Houston e vi as torres gêmeas brilhando o pelo louro da menina as tranças negras do crioulo sua guitarra sua angústia calma peguei a lata de spray desci pra rua e pintei dois olhos verdes nas paredes ontem à noite eu sonhei que conversava com Jack Kerouac ele me disse que renascia negro tocador de piston e seu sopro som era tão alto que despertava todo mundo eu acordei mandando brasa nas estradas do mundo”.
BLOGOSFERA III
Já Nalva Melo (que quase-quase a gente pespega um Nalva-Café ou Nalva-Salão tão umbilicada está a criadora com a sua criatura) está toda animada com seu sítio na rede: www.cafesalao.com.
Em destaque a campanha “Nalva faz minha cabeça”, com testemunho da repórter-tevê Glacia Marillac.
E, entre os comentários, o da arquiteta Manu Albuquerque: “Fazendo a cabeça com Nalva nos transformamos em rainhas, poderosas e apoderadas de um poder inestimável chamado auto-estima e isso é fantástico.”
CRUZES
A exposição itinerante “Maravilhas mecânicas de Leonardo da Vinci” vai ficar até julho neste Ryo Grande, primeiro em Santa Cruz (de amanhã até 28 de maio), e na seqüência em Nova Cruz (3 de junho a 3 de julho).



PROSA
“Porque há estados de alma tão incandescentes que abordá-los é simplesmente renovar seu ardor e arder”
Alan Pauls
O passado
VERSO
“Duvido que ele tenha
Tanto amor
E até os erros
Do meu português ruim”
Roberto e Erasmo Carlos
“Detalhes”

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