terça-feira, 28 de abril de 2009

Susan e a miserabilidade dos sonhos

Até ontem eu insistia em me manter à margem do mega-hit Susan Boyle – logo eu, me misturar à manada?
Mas aí, não resisti à tentação e me juntei aos – dizem – cem milhões de espectadores que Susan já teve no YouTube em apenas uma semana.
Vocês, que são bem menos retardados que eu, já devem ter visto. Quem não viu é mulher do padre.
Um jornal italiano descreveu o efeito no telespectador (ou “iú-tubespectador”) assim: “se no começo dá vontade de zombar, ao final é impossível não ter lágrimas nos olhos”. Tudo porque Susan, feia, velha, mal-vestida, é recebida por júri e público de um desses concursos de tevê com risos e risadinhas de quem não acredita que o monstro sabe cantar. Mas aí, a voz da fera se mostra bela e entoa mui apropriadamente os versos de “I dreamed a dream”, do musical “Os miseráveis”, ou, “Les miserábles”, que desde 1985 vem lotando os teatros do mundo.
Ah, mas será por essa natureza blasé, por essa descrença na manada, por esse preconceito de elite cultural, não sei, não sei, não sei: sei apenas que tomo emprestado a fala de Raulzito Seixas e me confesso, abestalhado, que eu fiquei decepcionado.
A musiquinha cantada pela senhora Susan é o supra-sumo do kitsh-que-pariu. Não fiquei nem um tico emocionado e Susan continuou me parecendo um tribufu de meia-idade. E seu vestido de tafetá ou coisa parecida continuou me cheirando a bolor. E, por mim, ela continua virgem e solteirona com a graça de deus.
Mas a opinião pública resolveu abraçar a causa num mea-culpa coletivo. E os formadores de opinião juntaram-se à onda. A afro-americana Patricia Williams, nas páginas da The Observer, chegou a arriscar uma relação entre o preconceito à feiúra de Susan e o preconceito racial: “como mulher negra americana vivo em um mundo onde a cor da pele é um indicador de posição social pelo menos tão poderoso quanto Susan usar sandálias brancas de salto com meias pretas transparentes e deixar o cabelo grisalho”.
E muita gente quase teve orgasmos ao sacar a metáfora: “Não se pode julgar um livro pela capa”.
Bom, aí eu pergunto: e se ela tivesse cantado mal justificaria todo o desprezo e zombarias com os quais foi recebida?
Dizem que Demi Moore vai interpretar Susan na telona. Nova pergunta: se Susan é tão maravilhosa por que não interpreta a si mesma?
Daí que recordo aos senhores e senhoras membros do júri mundial de computadores em rede: Edith Piaf não era o arquétipo de Vênus. Billie Holiday não era nenhuma Naomi Campbell. Nina Simone era feia de doer.
Susan Boyle, claro, não amarra as sandálias de nenhuma delas. É apenas bucha de canhão para a audiência. Aliás, é o próprio canhão.
*
PALCO
Quer ser a Susan Boyle do Ryo Grande? As inscrições para o IV MPBeco – Festival de Música do Beco da Lama – terminam próxima quinta, 30.
Os prêmios são assim divididos: 1º lugar, R$ 3,2 mil; 2º, R$ 2,6 mil; 3º, R$ 2 mil. Tem ainda os de melhor arranjo e melhor intérprete (R$ 1,5 mil cada), enquanto o voto do povão vale R$ 2,2 mil.
Se liguem: Julio César Pimenta atende no 9906.8740, enquanto Dorian Prudêncio de Lima responde no 9416.8016. Pimenta e Prudêncio são os caras.
TEATRO
Prosseguem até o dia 5 de junho as inscrições para os prêmios Lula Medeiros de Teatro de Rua e Chico Villa de Circulação Teatral (Fundação Zé Augusto).
Para o primeiro são R$ 120 mil, a serem distribuídos entre 15 grupos (R$ 8 mil cada). Para o segundo o total é de R$ 139 mil, para 13 projetos (com valores individuais de R$ 8 mil a R$ 15 mil).
A contrapartida resume-se a duas apresentações e/ou realização de uma oficina.
Mais informações: 3232. 5324 (das 8h às 13h).
TEATRO II
A Fundação Zé Augusto também firmou parceria com a Prefeitura de São José de Mipibu para a concessão de dez bolsas de estudo para o curso de iniciação teatral, com aulas ministradas por Lenilton Lima e Titina. Como as aulas são no TCP, à tarde e à noite, a prefeitura garantiu o transporte dos alunos durante os seis meses de duração do curso.
Outras prefeituras podiam seguir o exemplo.
GARGAREJO
Do alto dos seus 18 anos de idade, Hild Cavalcati prepara a voz para abrir, hoje, o Seis e Meia para Alex Cohen.
Melhor companhia não poderia ser – ou não: Cohen é uma espécie de Emmerson Nogueira – depois de anos e anos tocando em bares, teve a ousadia de alugar o Garden Hall e o Canecão por sua conta e risco, e hoje é um sucesso, fazendo uma média de 30 shows por mês, em todo o Brazil Brazileiro.
VITREAUX
Começa hoje o curso de vitral (clássico, medieval) que a grega Pola Kouli, formada em História da Arte pela Universidade La Sapienza, Roma, ministra no atelier de William Galvão, Mercado de Petrópolis, aulas segundas e terças, pela manhã, informações pelo telefone 9919.9366.
O atelier oferece outros dois cursos – Desenho e Óleo Sobre Tela – info: 8816.8698.



PROSA
“A fama é um monstro inconstante, que se alimenta de psíquicos tolos.”
Millôr Fernandes
Millôr definitivo
VERSO
“Mas pensa o outro lado:
Só quem tem fama
É difamado.”
Millôr Fernandes
“Mas pensa o...”

3 comentários:

  1. Agora eu quero falar! Eu nem li ainda esse post todo e vou lhe confessar que estou com você e não abro no quesito rauzito... hehehehe. Fala sério, a impressão que dá é que essa Suzan é tão feia e tão desajeitada que, se ela soltasse um pum ali naquele palco, também seria ovacionada pela beleza e talento do seu pum, só para as pessoas poderem dar uma compensada no seu preconceito e superficialidade na leitura da alma humana, quando o assunto é da porta pra fora, leia-se: aparências nada mais. A música apresentada é, definitivamente, proibida para diabéticos e a performance é tão xinfrim que fico pensando se não teria sido melhor que ela tivesse soltado um pum. Sorry a escatologia, mas eu queria desabafar.

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  2. e eu já vi que sou a mulher do padre...
    abraços!
    carito

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