quarta-feira, 1 de abril de 2009

O Anel

Perdi meu anel nas mornas águas atlânticas de Porto Mirim, fim de tarde de sábado, maré cheia, ondas indo e vindo, ondeando meu corpo quase à deriva se não fosse a âncora invisível do crepúsculo.
Foi embora num adeus entusiasmado, num arco quase em câmara lenta, que partiu do anular e, no rumo do horizonte, mergulhou mar adentro.
É claro que mergulhei atrás dele, meu anel, que não era cravejado de brilhantes. Mas o mar o engoliu num instante e as águas eram escuras.
Eu não sabia que o perderia, senão não teria entrado com ele ao dedo. Nem como repentinamente alargou-se, ou foram os dedos que encolheram. Pensei logo na história de João, Maria e o rabo da lagartixa, com o suposto afinamento do meu “seu vizinho”, mão esquerda, mesmo lado do coração batendo no peito. Vocês hão de lembrar: abandonados pelos pais, João e Maria encontram a casa de doces da bruxa no seio da floresta escura. Comem a se fartar, os novos netinhos da vovó má, que os prende e cozinha para eles, todos os dias, saborosas refeições – e pede a prova da engorda no dedo que passa através das grades da prisão. Os irmãos se valem de um rabo de lagartixa, para iludir a bruxa com a falsa magreza, até o dia em que perdem o artifício e quase vão pra panela. O fim é clássico: a bruxa cai no caldeirão e implora – “Água meus netinhos” – ao que os pivetes respondem: “Azeite, senhora vó.”
(Como eram terríveis os contos de fada de antanho.)
Pois, meus dedos afinaram-se, sabe-se deus como. E lá o anel escapuliu. Ainda posso vê-lo, desenhando um arco no céu, literalmente um arco da aliança – ainda não sei entre o quê e quê, este pacto formado, que findou em perda e ausência, se entre o Céu e a Terra, ou entre Poseidon e Saturno, ou entre eu e eu mesmo, ou, ainda, entre eu e um outro eu.
Ainda vasculhei a maré baixa, os sargaços, as poças mínimas, como mínima a esperança de reencontrá-lo.
Supersticiosos como somos, haveremos de encontrar um símbolo para essa história que se misturou a um conto da carochinha. Já encontrei ao menos uma, no imaginário e sabedoria coletivos: vão-se os anéis, ficam os dedos.
*
CONDÃO
Contos de fada são a fonte inspiradora da grife de moda infantil Cecipó, que abre as portas de sua loja-ateliê logo mais às cinco da tarde – tem pipoca, algodão doce, balões e as mãos de Nalva Melo dando um trato no visual da garotada que comparecer. Info: 3207.5009.
SS
Estréia hoje, na rede mundial de computadores, o blog da minha vizinha do lado, Simone Silva (www.simonesilva.com), agora vinculado ao portal da 96 Fm – como a dona, um blog “sem estresse, deliciosamente despretensioso, cheio de notícias, curiosidades, charme e bom humor”.
E, dia 4, sabadão, no Olimpo Recepções, a moça festeja mais um aniversário.
CARPE DIEM
Na esteira das várias greves de professores que assolam cidade, estado e país, o Projeto Cine Aplicado, do Colégio Ciências Aplicadas, retoma hoje sua programação com o aclamado “Sociedade dos poetas mortos”, do australiano Peter Weir, com um Robin Williams encarnando um professor que ensina seus alunos a nadarem contra a corrente.
De grátis, 19h30, Rua Senhora de Lourdes, 59, Tirol, próximo a Caern.
VERBO DO BEM
Criado em 2004 para dar suporte aos novos escritores locais através da divulgação gratuita de seus trabalhos na internet, o projeto Verborrágicos! dá uma mão à Casa do Bem de Flávio Rezende, promovendo o I Leilão Literário do Bem.
Acesse o sítio www.verborragicos.myblog.com.br, baixe o livro virtual dos Verborrágicos! (terceira antologia) e depois doe quanto quiser para a Casa do Bem. Mas, não vão se amarrar muito, não, né moçada?
Os Verborrágicos atualmente são Cefas Carvalho, Cosme Ferreira, Kalina Paiva, Pablo Capistrano e Tullio Andrade.
O lançamento é amanhã, 18h, na livraria do Midway.
FALANDO SÉRIO
“Fala sério”, o nome do projeto idealizado pelo Núcleo de Artes Visuais da Funcarte, que tem como finalidade promover diálogos quinzenais entre artistas e o público, parece coisa de adolescente.
A idéia é simpática, com um convidado da área para conversar com o público interessado em suas experiências e vivências nas artes visuais, mas o nome – fala sério, galera!
O projeto estreou ontem, com Arthur Souza.
HQ
Os professores Renato Amado e Milena Azevedo já estão selecionando trabalhos para a II Semana de Histórias em Quadrinhos da UFRN, promoção do Departamento de História, queacontece daqui a sete meses, em novembro.
Mais informações pelo telefone 3082.4505.
MESTRE DOUTOR
Interessado em entrar para os quadros da cinqüentenária UFRN? O Departamento de Artes oferece três vagas para Professor Assistente (com mestrado) e quatro para Adjunto (com doutorado), nas áreas de Artes Visuais, Dança e Teatro.
Confira em http://www.prh.ufrn.br/conteudo/concursos.
Mas não demore muito, não: as inscrições se encerram dia 3, sexta-feira.




PROSA
“Naquela manhã decidi que eu seria o acaso.”
Martín Caparrós
Valfierno
VERSO
“Em te amando bem sabes fui perjuro,
Mas foste-o em dobro por jurar-me amor;”
Shakespeare
“Soneto CLII”

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