quinta-feira, 30 de abril de 2009

Obrigado, por não fumar

Julinha Arruda há de me perdoar. Mas ontem mesmo, ao sair para comprar meu costumeiro lote de cigarros, dela me lembrei, não sem uma sombra de culpa. Parêntesis: ainda não chegamos a esse ponto de controle da informação, nem a coluna é um maço de 20 veneninhos enrolados, mas como eu citei a palavra maldita, me antecipo ao Ministério da Saúde e, juntos, advertimos: “Este produto [cigarro] contém mais de 4.700 substâncias tóxicas, e nicotina que causa dependência física ou psíquica. Não existem níveis seguros para consumo destas substâncias.”
Ok. E Júlia Arruda, onde entra? É que a vereadora, em pronunciamento na proba Câmara Municipal deste Arraial, semana passada, acenou com um projeto de lei que cria uma campanha permanente contra o tabagismo, com o público-alvo preferencial entre os mais jovens.
A idéia é distribuir uma cartilha educativa enumerando e explicando os males do tabaco.
O resultado – pretendido, almejado – é que os jovens se tornarão mais conscientes e não vão querer botar um cigarro no bico, jamais.
Ponto.
Mas, dizia eu ainda na primeira linha, que fui comprar os tais cigarros – onde? Na cigarreira da esquina (ou seja, para os mais jovens, na banca de jornais da esquina). É onde normalmente os viciados se abastecem e escolhem entre a foto da perna necrosada, do rato e da barata mortos, dos dentes amarelados e carcomidos. Que mais aparece no verso dos maços? Ah! tem a do carinha nu meio desfocado e, em primeiro plano, um polegar virado pra baixo, como na Roma dos gladiadores, a esconder o órgão viril (não mais viril depois de umas baforadas, insinua, ou diz, ou afirma, a literatura médica).
É piada corrente entre os fumantes machos (do sexo masculino, não necessariamente machões) que todas as carteiras podem ser compradas, menos a que se refere à impotência sexual. “Me dá a da perna perebenta”, diz um, “me dá a do amputado”, diz outro. É verdade, parece e é grotesco, mas é verdade.
CIGARREIRA
Quando eu tinha uns 20 anos e ninguém – nem vereador, nem ministro de estado – se preocupava com a minha saúde, lembro que não adiantava pedir um maço nas cigarreiras cariocas. “Tá pensando o quê? Isso aqui é uma cigarreira”, me diziam. E cigarreira, na Guanabara, em Ipanema, era o local onde se vendia jornais. E revistas. E tais.
Na Suécia, e em outros países escandinavos, onde o alcoolismo é um problema sério, bebida alcoólica não se vende em qualquer lugar.
Daí que penso que a discussão, além da prevenção, podia passar pelos pontos de venda. E pela facilidade com que se compra tabaco industrializado.
Mas aí eu me lembro que a marijuana, a popular maconha, não se compra em qualquer esquina. E no entanto se vende, se consome, se fuma.
E que os DVDs piratas também são proibidos. Mas na frente de qualquer restaurante self service, dos melhores aos piores, os rapazes estão lá, tirando um troco.
E, por último, mas não menos importante, as bancas de jornais já vendem outros produtos nocivos – revistas e jornais, inclusive. Os “bons” jornais, por exemplo, são um atentado àqueles que tramam na obscuridade, ao revelar o jogo sujo dos mal lavados. Os “maus” jornais, um serviço àqueles, e um desserviço à informação e à cidadania. “Não existem níveis seguros para consumo destas informações” – não deveriam, pois, os jornais exibir na primeira página o alerta?
O negócio é todo meio confuso, reconheço, e o sobrescrito tornou-o ainda mais. Mas é bom que se discuta e se proponha. É aos trancos e barrancos que caminha a civilização.
*
BOLSA
Começa em maio o programa Jovem Talento – que oferecerá bolsas de pesquisa (R$ 100 por mês) a 110 estudantes do ensino médio de 15 municípios deste Erre-Ene.
CORDEL SUSTENTÁVEL
Prosseguem até o dia 3 de julho as inscrições para o Prêmio Cosern de Literatura de Cordel, que este ano “inova”, ao abrir as participações não apenas aos estudantes, mas a qualquer um interessado, inclusive os próprios cordelistas.
O tema é “Sustentabilidade” e mais informações estão no sítio www.premiocordel.com.br.
MULHERES
Uma rica “sem noção”, uma empregada doméstica que não trabalha, uma professora do ensino fundamental que surta em sala de aula, uma enfermeira hipocondríaca, uma paquita em crise, uma publicitária moderna e também em crise, uma secretária que quer emagrecer, e a clássica moça de cabelo escovado com medo da chuva são as personagens de “Ultraje”, peça que se encena no TAM, dias 2 e 3 de maio.
A direção é de Marci Lohss, que também atua ao lado de Adriana Borba, Harlane Louise, Ramona Lina e Rebeca Carozza.
PUB
Amanhã tem Mobydick e VNV no show “Décadas do rock”, e sábado a Kentucky, uma “country rock band” se apresenta – no Budda Pub, Ponta Negra.



PROSA
“Meus dias acabaram por ser um rosário de cigarros e de propósitos de não voltar a fumar”
Italo Svevo
A consciência de Zeno
VERSO
“tínhamos torrado os nossos pulmões fumando mata-rato
mas, ao ver o porto, enchemos de novo o peito, como tonéis”
Ievtushênko
“Balada sobre a bebida”

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