segunda-feira, 15 de dezembro de 2008

Adivinhe quem vem para o café-da-manhã: Paulo Laguardia

[Cultura 131208 sábado]

Paulo Laguardia é mais famoso como o vencedor da 3ª edição local do DocTV – depois de Fabião das Queimadas, filmado por Buca Dantas, e do professor Hermógenes, dirigido por Marcelo Buainain, vencedores das edições anteriores, Laguardia encontrou na cineasta potyguar Jussara Queiroz o mote para o seu “O vôo silenciado do jucurutu”.
Agora, debruça-se sobre a vida de Djalma Maranhão, tarefa das não muito fáceis, numa terra fadada ao esquecimento em vida, imagine daqueles que já morreram, e, literalmente, no exílio.
Enquanto isso, o diretor vai ao cinema, de onde escreve suas impressões sobre mais um filme cult (que, felizmente, ainda não saiu de cartaz).
UM MUNDO MELHOR
Exibido no Cinemark, na sessão dita “cult”, ou seja, no horário único das 15h – infelizmente, pois limita o acesso daqueles que estudam ou trabalham nessa hora –, “Mandela, luta pela liberdade” é daqueles filmes que deixam na gente algumas sensações fortes e a vontade de sair do cinema com ele debaixo do braço, levando-o pra casa para revê-lo quantas vezes quisermos.
A história por si só já dá um grande filme – há quem diga que seria difícil alguém fazer um filme ruim com uma história tão boa – mas, reconheçamos, incompetência não tem limites. E Bille August, o diretor, foi longe: além de se manter fiel à história, dando ares de documentário à sua ficção, cercou-se de ótimos atores, a maioria desconhecidos, e conseguiu fazer de um enredo duro da história da humanidade, uma história bonita, emocionante, mostrando, como fundo, a belíssima paisagem da África do Sul, que não fica nem um pouquinho atrás do belo cenário potiguar.
Mas é ao mostrar com tons realíssimos a trajetória desse homem brilhante – que tanto tem de fidelidade à sua causa (a luta pela liberdade do povo negro, oprimido pela minoria branca), como também dotado de inteligência superior e convicção em seus princípios e sonhos – que August nos faz crer um pouco mais na humanidade, e que, sim, é possível termos esperanças de um mundo melhor.
“Mandela, luta pela liberdade” é um filme praticamente de mocinhos e bandidos, mas que traz outro personagem de muita importância (e, pelo menos pra mim, até então desconhecido nessa história toda): o carcereiro de Nelson Mandela, que sofre, durante o processo, uma transformação de dar arrepios.
Pena que não tive conhecimento de qualquer político de nossa taba nas sessões – pudera, eles deviam estar trabalhando, né? – mas, se estivessem, certamente refletiriam sobre o filme e teriam certeza de sua pequenez diante de tanta grandeza de um ser humano. Quem sabe, assim, eles melhorariam pelo menos um tiquinho.
Pois, Mandela, depois de 27 anos de prisão (e após ter recusado a oferta de liberdade oferecida várias vezes pelo presidente da África do Sul, afirmando “só terei liberdade quando meu povo também a tiver”) foi solto, candidatou-se, e, eleito presidente do país, unificou a nação, cumpriu o mandato, mas não quis a reeleição, ao contrário de muitos por aqui.
Acho que poucos conseguem olhar com orgulho para o passado. E não me lembro de qualquer homenagem que Nelson Mandela tenha recebido de nós brasileiros, principalmente os da dita raça negra, por quem ele tanto lutou (e ainda luta).
Quanto a mim, só estou esperando o filme ser lançado em DVD, para que possa lançar mão dele nos momentos de abatimento e tristeza proporcionados por nossa realidade. Ao revê-lo, me realimentarei para suportar esse legado que ainda carregaremos por muito tempo. [Paulo Laguardia]
*
GRÃO
Aprovada ant’ontem emenda do deputado Fernando Mineiro destinando R$ 500 mil para publicação de livros – “um grãozinho de areia”, na definição do deputado petista, mas suficiente, segundo ele, pra botar a Lei do Livro nas estantes deste Ryo Grande.
De lambuja, mais R$ 150 mil para a Lei do Patrimônio Vivo, que destina bolsas mensais de R$ 750, para pessoas, ou R$ 1,5 mil, para grupos.
CUZCUZ
Sai hoje à noite, quase madrugada, o resultado dos concursos “Chef Gastrônomico”, “Chef Amigo” e “Chef Acadêmico” (Festival do Camarão parte II). Entre os concorrentes, pratos de títulos quase literários: “Camarão ao molho de cajá e canela” (do chef Márcio Freire), “Camarão Reis Magos com salada cabocla e geléia de cana-de-açúcar” (Luciano Almeida), com “Torre de camarão ao estilo Reina Pepiada” (Thiago Maia), “Camarão em farofa de coco caramelado, molho goiaba, pétalas de cuscuz marroquino e aspargos” (Guga Bulhões), com “Camarão em crosta Bossa nova, com couscous marroquino ao pesto de coentro, com caviar de quiabo e outras bossas” (Emília Maux), e “Shrimp Missô com chutney de jerimum e crocantes de tapioca” (Gabriel Negreiros).
PALATO
Noite de shows musicais, além dos eno-gastronômicos – Tânia Soares, Diogo Guanabara e Rodolfo Amaral – além de palavras que vão além da mera boca-pra-fora: a chef Adriana Lucena palestra sobre “Preservação da Cultura Gastronômica” e o sommelier Rodrigo Lima explica como harmonizar vinhos.



PROSA
“Diante do herói incômodo só resta um recurso – fuzilá-lo e erguer-lhe um monumento.”
Millôr Fernandes
Millôr definitivo
VERSO
“e sobretudo
não me esqueças
por trás das grades”
Bosco Lopes
“Não me esqueças”

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