quinta-feira, 11 de dezembro de 2008

Quem ama o feio bonito lhe parece

Do leitor que assina Ivson Cavalcanti, a coluna recebe o email que segue, sem tirar nem pôr vírgulas, acentos ou reticências, maiúsculas ou minúsculas:
“Caro Mário Ivo,
Lendo a sua crônica do dia 05 de dezembro no JH Primeira Edição, ‘Especial Carnatal II’, senti sua falta de carinho aos frequentadores da praia de Pirangi, nos domingos. Cuidado! Mário, não esqueça que a praia de Pirangi ainda pode ser frequentada por pessoas de aparência feia, humilde, sem modos requintados, porque infelizmente, essas pessoas não podem participar do Carnatal, que é uma festa particular feita com nossos impostos. Sendo assim, eles – os feios – recorrem ao lazer gratuito. É necessário apenas orientação e fiscalização para que não sujem a praia. Já no Nordestão como você falou, tem gente bonita, elegante, fruto de uma elite branca que ainda domina, Coisa do capitalismo consumista. POis, lá no Nordestão, o desfile exibicionista de pessoas ricas(?), nos remete à um mundo deslumbrante que somente os cartões de créditos e cheques especiais sabem aonde vão parar.
grato, Iv son M. Cavalcanti”
Ora, mas que essa, seu Ivson! Depois ainda chamam o sobrescrito de petista... se eu sou petista, o senhor deve ser do PSOL! Basta reler a crônica para constatar que o meu critério foi eminentemente estético – e não vou nem falar de ironia, que presumo ser substantivo ausente do seu vocabulário.
Quanto mais, preconceituoso (acusação ao sobrescrito que se pode ler nas suas entrelinhas) é vossa inselença, que logo após o adjetivo “feia”, tasca um “humilde, sem modos requintados”. Eu nunca teci nenhum comentário à suposta classe social do “magote de gente feia” (texto meu), nem tampouco à sua (deles) educação ou falta de.
Como está bem enunciado no abre-alas da crônica, ela foi escrita há mais ou menos um ano – não existe menção ao Carnatal, senão no título, e à preguiça que me fez reciclar texto antigo.
Ademais, só o senhor mesmo para imaginar que Pirangi é terreiro inferior, nas aparências exibicionistas, ao supermercado Nordestão – mais próximo, segundo vosmicê, a um certo “mundo deslumbrante”.
Pirangi, sim, caro Ivson, é que é terreiro da elite branca – da qual não me excluo e a qual costumo criticar neste espaço.
Quanto à feiúra ou boniteza não existe nenhum vínculo com a conta bancária ou com o limite do cartão de crédito.
Agora, sugerir que as tais pessoas de “aparência feia, humilde, sem modos requintados” necessitam “apenas orientação e fiscalização para que não sujem a praia” (textos seus) aproxima o seu email daquele jargão bem casa-grande: “pobre, mas limpinha”.
*
FLORESTAAo completar 175 anos, a Matriz de Nísia Floresta realiza, dentro da programação da festa da padroeira, o IV Festival de Cultura Popular, de 11 a 14 de dezembro.
Segundo o release, tem passeio ciclístico, cortejo cultural, feiras e oficinas de artesanato (fibra de palha e casca de coco), teatro, dança, fotografia, desenho, comidas típicas e o infalível etc.
Como também a inevitável exposição sobre a vida e a obra de Nísia Floresta, escritora, poeta, tal.
BONEQUINHA DE LUXO
Também hoje estréia “Coppelia”, espetáculo dos alunos da Escola Municipal de Ballet Roosevelt Pimenta, e segue até domingo, sempre às 17h, no TAM: a história de uma boneca que provoca amores num marido e ciúmes na esposa.
O tema vem bem a calhar no Arraial de Palumbo, onde, à boca pequena, se comenta sobre produtos infláveis na bagagem de lulus.
FÁBULAS NA ESCOLA
Abner Barros, Ana Célia Silva, Arlysandro Câmara, Djalma Neto, Eduardo Evangelista, Jéssica Nascimento, Marcos Vinícios Silva, Marina Silva, Rayane Honório e Raysla Silva escreveram, e os Clowns de Shakespeare encenaram as 10 fábulas que serão lançadas, hoje, em livro. Na livraria do Midway, 17h.
CIFRÃO
Continua no Solar Bela Vista a exposição “A história da moeda no Brasil” – em tempos de crise, um bom lugar pra ver dinheiro. De segunda a sexta, 8h às 18h.
SOULMAN
Num dia 11 como este, em Los Angeles, USA, o cantor de soul Sam Cooke estava lá num bem-bom num quartinho de motel. Não se sabe o motivo, mas sua companheira escapole pelo corredor, e o jovem e excitado Sam, atrás. Para azar do soulman, uma certa Bertha Franklin, funcionária do motel, estava no corredor – armada. Ao ver o negro correndo em sua direção vestindo apenas as ditas “roupas de baixo”, não contou conversa: Sam Cooke morreu aos 33 anos debaixo de bala.
SOULMAN II
Sam Cooke ainda teve tempo de dizer: “Lady, you shot me”.
Um gentleman, sem dúvida.



PROSA
“Traziam não sei que fluido misterioso e enérgico, uma força que arrastava para dentro, como a vaga que se retira da praia, nos dias de ressaca.”
Machado de Assis
Dom Casmurro
VERSO
“As muito feias que me perdoem
Mas beleza é fundamental.”
Vinícius de Moraes
“Receita de mulher”

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