quarta-feira, 31 de dezembro de 2008

Retrospectiva 2008 (II)

Seguindo a retrospectiva iniciada ontem, seguem os seis derradeiros meses do ano que está findando, hoje, logo mais à meia-noite. Não custa contrariar a regra e inserir neste rol último mais um fragmento do segundo mês do ano, fevereiro – numa segunda, 18, o discípulo Marcelus Bob falava sobre a morte de Thomé Filgueira:
“Do atelier, recorda a liberdade extrema concedida pelo mestre, que repercutia nos discípulos como segurança e auto-estima, e o seu senso de coletividade: ‘Uma mão lava a outra, ensinava o professor Thomé – ele dizia que se um colega está em evidência, devemos ajudá-lo a se firmar no mercado, para o fortalecimento de todos. O contrário do egoísmo barato que permeia as artes plásticas potiguares’, recorda Marcelus Bob, concluindo:
‘Todos os grandes nomes da chamada Geração 80 do Rio Grande do Norte – devemos a Thomé, o grande baluarte do impressionismo potiguar.’”


JULHO
“Verdade seja dita: é uma interpretação de responsa. Tão boa que, metido no corpo nauseabundo do vilão, Ledger tinha mais é que morrer depois: não apenas parecia – era já um defunto vivo. O corpanzil (1,85 metro, me informa o Google), a cacunda, as roupas sujas e esfarrapadas, os cabelos ensebados – tudo que o ator incorporou pro seu personagem insinua que a qualquer momento um pedaço de dedo, braço, ombro, carne, pode se separar do corpo e ir ao chão. Assim: o retorno dos mortos-vivos num leprosário. Asilo Arkham.” [segunda, 28, sobre o último filme do Batman]
AGOSTO
“Então você vai viajar. Mais uma vez. Parte da nossa vida foi de encontros e despedidas em aeroportos. Um gosto amargo, não de fim, mas de pausa. Pausa até o próximo encontro. Até a próxima despedida. Tão rápido o tempo, entre o primeiro e a segunda, tão lento entre a segunda e o primeiro. Entre os dois – nós, flutuando no ar como numa valsa cósmica e atemporal. Aquela, que não dançamos nos seus 15 anos.” [segunda, 4, sobre mais uma viagem da primogênita]
SETEMBRO
“Mas, bebendo noite desses um vinho italiano desprovido das hipérboles citadas anteriormente, percebi que não há mais espaço em nossas adegas para vinhos discretos, sem glamour aparente, sem o chacoalhar ruidoso das jóias cintilantes – que são os tais taninos, os tais sabores frutados, os tais bouquets de perfumaria chic.
Falta-nos, ainda (e isso é apenas uma opinião não tabulada) a percepção de que o ingrediente máximo em qualquer degustação que se preze – e que independe de garrafa, rolha ou nota fiscal – é o prazer mútuo de uma boa companhia, capaz de transformar qualquer vinho em um... ‘Almaviva’, só pra ficar num exemplo unânime.” [segunda, 29, sobre a arte de beber vinhos em boa companhia]
OUTUBRO
“Derna então, antecipando o próximo 2 de janeiro, vivemos no melhor dos mundos, numa Graceland, numa Wonderland, num comercial da Barbie – falta só a placa de boas-vindas na entrada da cidade, BR-101, próxima ao rabo do cometa-estrela e aos Três Reis Mágicos: ‘Welcome to the Barbie World’.
O lugar onde as meninas têm cabelo escovado e os meninos músculos bombados.
Onde quem ainda fuma usa piteiras.
Onde quem bebe obviamente não bebe cachaça.
Onde os dentes são mais brancos, os sotaques mais pronunciados, os saltos os mais altos, as unhas mais compridas, a moda mais fashion, os vinhos mais encorpados, os champanhes mais borbulhantes. Onde os táxis são Land Rover, os pulsos pulsam Rolex, os dedos alisam a tela de iphones, comprados em Miami ou Manhattan, como exige o kit-maracatu cantado por Eliana Lima.” [segunda, 13, sobre a vitória de Micarla de Sousa]
NOVEMBRO
“Já o artista Diniz Grilo, pouco mais de meio século de existência, nunca precisou se revoltar contra nada tão grave quanto a violência do racismo oficializado ou a máfia organizada. Mas morreu vítima – por que não dizer – da violência que se instaura, extra-oficialmente, nesta Capital Espacial. Que está mais próxima do circuito Londres-Berlim-Madri do que se imagina, trampolim da droga que começamos ser.
Ironicamente, Diniz morreu graças ao choque de gestão e direção de uma viatura policial, que deveria estar procurando os bandidos que vingam por aqui feito mato – ou cruzes – nos canteiros centrais.” [quarta, 12, sobre as mortes de Diniz Grilo, aqui, e Miriam Makeba, alhures – esta última após um concerto contra a máfia italiana]
DEZEMBRO
“Mas, vamos ao que interessa: a essa altura do campeonato tem muito neguinho entoando o melô de ‘Madagascar’, e se remexendo esquizofrenicamente pra saber quais dos muitos convidados serão alguns dos poucos escolhidos.
Então, todos juntos: ‘Eu me remexo muito/ Eu me remexo muito/ Eu me remexo muito/ Remexo...muito!!// Eu me remexo muito/ Ele remexe muito/ Ela remexe muito/ Nós remexemos muito/ Eles remexem muito/ Você remexe muito’.
Madagascar é aqui.” [segunda, 15, sobre a composição do neo-secretariado municipal]



PROSA
“Não presumas do dia de amanhã, porque não sabes o que ele trará.”
Salomão
Provérbios
VERSO
“Peço-te o prazer legítimo
E o movimento preciso”
Caetano Veloso
“Oração ao tempo”

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