quinta-feira, 18 de dezembro de 2008

Um demiurgo na Funcart

Que eu saiba, ninguém apostou um vintém no artista e marchand César Revôredo. Para a Funcart, Capitania das Artes. Pois, fonte das mais confiáveis me diz que é o nome, que já fechou inclusive com Dona Micarla de Sousa.
Quem é César Revorêdo?
A pergunta não é de todo desprovida de senso: Revorêdo já foi, digamos, mais arroz-de-festa no cenário artístico nativo. Quadros seus, inclusive, teriam aparecido nas novelas da Globo, das sete ou das oito, não sei se vem ao caso. Mas, enfim, o rapaz – que também é jornalista, daqueles formados – era um nome bem mais presente no burburinho que eram as artes potyguares dos anos oitenta e da ressaca que seguiu-se a aqueles anos.
Era também dos mais onipresentes quando o boom decorativo da Capital Espacial do Brazil começou a sua efervescência, misturando num mesmo caldinho arte, arquitetura e paisagismo, tudo muito incline ao “nouveau richism” do Arraial de Palumbo. César tinha programa de TV, encarte em jornal etc.
Depois – me parece – se aquietou. Mais concentrado e dedicado à sua galeria de arte e aos artistas que representa. São 13, incluindo ele mesmo. O que prova que supersticioso o moço não é. Ou é, mas às avessas. Aliás, sua galeria de arte não se chama, pois, “galeria de arte”, mas – atentem – “Gabinete de Arte”. E isso faz toda a diferença.
César é, pra dizer o mínimo, diferente.
Há pouco tempo ainda se encontrava quadros de César pelos sebos do centro histórico de Natal num estilo anos-luz distante dos atuais: um estilo arrastando asa pro naïf, um toque de ingenuidade. Se o cidadão visitar seu Gabinete e depois ler o verbete a ele dedicado no dicionário que é o livro de Dorian Gray Caldas, “Artes plásticas do Rio Grande do Norte, 1920-1989” (Ufrn, Funpec, Sesc, 1989), vai tomar um susto: lá diz que “sua temática se encaminha para os registros humanos, o casario, os sobradões coloniais, as visões dos engenhos e dos pátios das casas-grandes da infância”.
Já o crítico de arte Marcus de Lontra Costa – no sítio do próprio Gabinete – começa por explicar que, “em César Revorêdo a forma é resultado do método. Fiel ao ideário modernista, o artista investe numa espécie de valorização do processo construtivo. Diante da matéria bruta, inerte, o artista atua como Demiurgo, operando uma série de ações com o intuito de construir um objeto real, um corpo artístico formado pela clareza e pela valorização da inteligência”. Lá pra diante explica o conceito do artista: “criar a verdade através da harmonia e da justa integração da arte com o espaço que a circunda. Essa é a poética, a sua inquietante arquitetura, a sua alquimia”.
Bom, como crítica-elogio-artístico tá uma beleza. Se também se adaptar à administração da Funcart, também não tá mal.
Noves fora o blá-blá, me parece nome bem próximo à estética make-up da Borboleta e à sua visão empresarial de administrar o município.
*
NOMES
César não foi o primeiro a ser convidado: a também jornalista Sylvia Serejo era o nome preferencial da neo-prefeita-eleita, mas, declinou, por motivos pessoais e profissionais – está grávida e o trabalho na Verbo precisa do olho da dona.
MARATONA
Hoje, na Funarte (Rio – RJ), Lia de Itamaracá se apresenta – junto a três potiguares: Pedro Paulo, no violão, Rafael Almeida, no cavaquinho, e Carlinhos Zens, flauta – Zens, aliás, foi também o diretor musical de “Ciranda de ritmos”, último CD da moça de Itamaracá.
DESPOCKADO
Do leitor que assina simplesmente “Tito”, recebo email declarando “lamentável” evento recentemente promovido pelo Banco do Brasil nesta Capital:
“A divulgação em periódicos do show da Spock Orquestra de Frevo acendeu expectativa naqueles que apreciam a cena cultural local. Infelizmente nem tudo foi como deveria ser. A começar pelo local escolhido: Hotel Sehrs, que dispunha de uma sala de espetáculo improvisada, sem ar condicionado. O calor foi infernal. Difícil acompanhar o show sem certo desconforto. Diga-se de passagem que os caras da orquestra eram excepcionais. A qualidade técnica e musical dos componentes desta ‘frevo big band’ superam em muito alguns dos instrumentistas de jazz americano. Em compensação, o descaso dos organizadores (Banco do Brasil) em proporcionar um ambiente agradável e saudável foi do lamentável ao nível mais tosco visto. O show, anunciado em alguns jornais, era evento fechado. O público, desavisado da obrigatoriedade de convites, teve que esperar a boa vontade dos organizadores para liberar entrada, o que só aconteceu após todos os ‘convidados’ terem adentrado o recinto. O fato merece maior esclarecimento sob pena de ensejar denúncia aos órgãos competentes. Dinheiro público para financiar show em evento fechado e com anúncio pago em jornal , dando a impressão de que era aberto ao público denota má-fé. O povo merecia ter acesso e direito de assistir esta orquestra em local público.”



PROSA
“Por exemplo, sou o tipo de homem que acha que um marido tem de fazer sexo com suas esposas toda noite.”
Martin Amis
Granta 3
VERSO
“O pseudopoeta acena para o poeta medíocre,
o poeta medíocre para o verdadeiro poeta.”
Enzensberger
“O naufrágio do Titanic”

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