segunda-feira, 29 de dezembro de 2008

O senhor Kitano e Il signore Volonté

Sexta passada fui assistir “Glória ao cineasta”.
Sexta passada fui ao lançamento de “Lira de viagem”.
“Glória ao cineasta” foi dirigido por Takeshi Kitano. Em 2007.
“Lira de viagem” é um apanhado de textos pelas mãos de Volonté. Poeta. Maldito. Não necessariamente nesta ordem. É dest’ano, 2008.
Este filme de Kitano não é como um filme de Kitano – aliás, essa é a sua premissa. Kitano dirige a si mesmo e se mostra como provavelmente se encontrava, então, à época: um cineasta em crise. Sem querer repetir o gênero que o havia consagrado (inclusive com um Leão de Ouro ao Festival de Veneza, com “Hana-bi”), ou seja, filmes violentos sobre a Yakuza, a máfia japonesa, o diretor tenta outros gêneros – filmes de época, dramalhões, filmes de terror. Os resultados são ridículos e risíveis. Termina por enveredar na ficção científica, e é aqui que o “filme dentro do filme” ganha mais força e tempo.
Este livro de Volonté não é um clássico livro de Volonté. Até porque não existe isso de clássico livro de Volonté. Volonté é seu próprio livro. Ambulante. Deambulador. Deambulatório. Alguém já definiu o poeta como “peripatético”. Ou seja, alguém que, à moda de Aristóteles, ensina ao caminhar. Talvez porque o poeta é visto ao mesmo tempo em vários pontos da City. Pode estar arrastando a sandália entre as estantes da Poty Livros da Felipe Camarão e, minutos depois, exibir sua camisa pólo entre as gôndolas da livraria do Midway. Termina, pois, o livro de Volonté, com dois poemas de Volonté. O último, parece, já antológico para a intelligentzia da City: “No começo/ era o verbo/ depois chegaram os canalhas”. O sobrescrito prefere “Red”, dois versos: “A traição/ era fogo”.
Kitano faz uma bela homenagem aos cineastas japoneses – logo no início leva um boneco que representa a si mesmo para uma bateria de exames: tomografia computadorizada, endoscopia, o escambau. A cada exame surge um novo nome na ficha do paciente: Yasujiro Ozu, Akira Kurosawa, Shohei Imamura, todos grandes cineastas japoneses.
Volonté homenageia ao seu modo os participantes da antologia: tem Napoleão de Paiva, tem Octavio Paz, tem Woden Madruga descrevendo o Sertão de Alex Nascimento.
Sexta passada fui assistir “Glória ao cineasta”. Kitano estava lá, na tela, com seu olhar de peixe-morto, como seu humor japonês, com seu surrealismo ácido e particular – não é preciso terminar o filme para pensarmos, nós com nós mesmos, no escurinho do cinema: “Muito doido”.
Sexta passada fui ao lançamento de “Lira de viagem”. Cheguei nem tão atrasado assim: mas o poeta não estava lá. Nem sua barba por fazer, nem sua mão abraçando a cabeça de fios pretos e fios brancos, nem seu ranço real contra inimigos imaginários. A mesa de autógrafos o canto mais limpo. Só mesmo Volonté, para contrariar sua própria onipresença.
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THE SPIRIT
Estou quase aprendendo a escrever o nome da atriz sem precisar consultar o google: Scarlett Johansson reaparece em mais um filme, e, desta vez, mais um filme inspirado numa história em quadrinhos – “The Spirit”, criação de Will Eisner. A atriz é Silken Floss, assistente do malvado Octopus (Samuel L. Jackson).
Não é a única femme fatale: Eva Mendes interpreta Sand Saref, uma ladra de jóias e namoradinha de adolescência do herói, e Paz Vega é Plaster of Paris, uma dançarina.
O filme é dirigido pelo também desenhista e autor de quadrinhos Frank Miller.
THE MYTH
Começa amanhã e vai até domingo, 4, o Umbria Jazz Winter (não confundir com o tradicional Umbria Jazz, que acontece no verão italiano, em Perugia). Este, como o nome indica, é invernal, e se realiza em Orvieto.
A 16ª edição será dedicada à Bossa Nova. João Gilberto (tratado nominalmente e literalmente como “O Mito”, assim, em português) faz três concertos seguidos – 2, 3 e 4 de janeiro, no Teatro Mancinelli, com preços, digamos, pra lá de salgados: enquanto para outros artistas o ingresso custa entre 20 e 30 euros, para assistir “O Mito” deve-se desembolsar entre 50 e 110 euros.
ANOVO
Dou uma geral nos réveillons do Arraial (ao menos aqueles que me chegam via assessorias de imprensa): tem um, mais “família” no Novotel Ladeira do Sol, com vista para a queima de fogos da Praia dos Artistas.
Outro, na mais-que-famosa “Arena do Imirá” (um tormento para quem circula pela Via Costeira, com bêbados cruzando a estrada etc.) – este tem Ara Ketu (axé music), Arreio de Ouro (forró), João Teimoso Rock Band (pop rock).
ANOVO II
Talvez, talvez, seja melhor guardar o dinheirinho e embarcar nos pacotes de viagem organizados pela Pedrassoli Turismo: em janeiro tem Elton John (dia 17) e Alanis Morissette dia 30. Em março, o metal pesado do Iron Maiden (dia 18), desta vez mais pertinho deste Ryo Grande: em Recife.



PROSA
“mas, se tantos homens em quem supomos juízo, são reclusos por dementes, quem nos afirma que o alienado não é o alienista?”
Machado de Assis
O alienista
VERSO
“Quando um grande da corte fica louco,
Para o vigiar todo cuidado é pouco.”
Shakespeare
Hamlet

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