Sexta passada fui ao lançamento de “Lira de viagem”.
“Glória ao cineasta” foi dirigido por Takeshi Kitano. Em 2007.
“Lira de viagem” é um apanhado de textos pelas mãos de Volonté. Poeta. Maldito. Não necessariamente nesta ordem. É dest’ano, 2008.
Este filme de Kitano não é como um filme de Kitano – aliás, essa é a sua premissa. Kitano dirige a si mesmo e se mostra como provavelmente se encontrava, então, à época: um cineasta em crise. Sem querer repetir o gênero que o havia consagrado (inclusive com um Leão de Ouro ao Festival de Veneza, com “Hana-bi”), ou seja, filmes violentos sobre a Yakuza, a máfia japonesa, o diretor tenta outros gêneros – filmes de época, dramalhões, filmes de terror. Os resultados são ridículos e risíveis. Termina por enveredar na ficção científica, e é aqui que o “filme dentro do filme” ganha mais força e tempo.
Este livro de Volonté não é um clássico livro de Volonté. Até porque não existe isso de clássico livro de Volonté. Volonté é seu próprio livro. Ambulante. Deambulador. Deambulatório. Alguém já definiu o poeta como “peripatético”. Ou seja, alguém que, à moda de Aristóteles, ensina ao caminhar. Talvez porque o poeta é visto ao mesmo tempo em vários pontos da City. Pode estar arrastando a sandália entre as estantes da Poty Livros da Felipe Camarão e, minutos depois, exibir sua camisa pólo entre as gôndolas da livraria do Midway. Termina, pois, o livro de Volonté, com dois poemas de Volonté. O último, parece, já antológico para a intelligentzia da City: “No começo/ era o verbo/ depois chegaram os canalhas”. O sobrescrito prefere “Red”, dois versos: “A traição/ era fogo”.
Kitano faz uma bela homenagem aos cineastas japoneses – logo no início leva um boneco que representa a si mesmo para uma bateria de exames: tomografia computadorizada, endoscopia, o escambau. A cada exame surge um novo nome na ficha do paciente: Yasujiro Ozu, Akira Kurosawa, Shohei Imamura, todos grandes cineastas japoneses.
Volonté homenageia ao seu modo os participantes da antologia: tem Napoleão de Paiva, tem Octavio Paz, tem Woden Madruga descrevendo o Sertão de Alex Nascimento.
Sexta passada fui assistir “Glória ao cineasta”. Kitano estava lá, na tela, com seu olhar de peixe-morto, como seu humor japonês, com seu surrealismo ácido e particular – não é preciso terminar o filme para pensarmos, nós com nós mesmos, no escurinho do cinema: “Muito doido”.
Sexta passada fui ao lançamento de “Lira de viagem”. Cheguei nem tão atrasado assim: mas o poeta não estava lá. Nem sua barba por fazer, nem sua mão abraçando a cabeça de fios pretos e fios brancos, nem seu ranço real contra inimigos imaginários. A mesa de autógrafos o canto mais limpo. Só mesmo Volonté, para contrariar sua própria onipresença.
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THE SPIRIT
Estou quase aprendendo a escrever o nome da atriz sem precisar consultar o google: Scarlett Johansson reaparece em mais um filme, e, desta vez, mais um filme inspirado numa história em quadrinhos – “The Spirit”, criação de Will Eisner. A atriz é Silken Floss, assistente do malvado Octopus (Samuel L. Jackson).
Não é a única femme fatale: Eva Mendes interpreta Sand Saref, uma ladra de jóias e namoradinha de adolescência do herói, e Paz Vega é Plaster of Paris, uma dançarina.
O filme é dirigido pelo também desenhista e autor de quadrinhos Frank Miller.
THE MYTH
Começa amanhã e vai até domingo, 4, o Umbria Jazz Winter (não confundir com o tradicional Umbria Jazz, que acontece no verão italiano, em Perugia). Este, como o nome indica, é invernal, e se realiza em Orvieto.
A 16ª edição será dedicada à Bossa Nova. João Gilberto (tratado nominalmente e literalmente como “O Mito”, assim, em português) faz três concertos seguidos – 2, 3 e 4 de janeiro, no Teatro Mancinelli, com preços, digamos, pra lá de salgados: enquanto para outros artistas o ingresso custa entre 20 e 30 euros, para assistir “O Mito” deve-se desembolsar entre 50 e 110 euros.
ANOVO
Dou uma geral nos réveillons do Arraial (ao menos aqueles que me chegam via assessorias de imprensa): tem um, mais “família” no Novotel Ladeira do Sol, com vista para a queima de fogos da Praia dos Artistas.
Outro, na mais-que-famosa “Arena do Imirá” (um tormento para quem circula pela Via Costeira, com bêbados cruzando a estrada etc.) – este tem Ara Ketu (axé music), Arreio de Ouro (forró), João Teimoso Rock Band (pop rock).
ANOVO II
Talvez, talvez, seja melhor guardar o dinheirinho e embarcar nos pacotes de viagem organizados pela Pedrassoli Turismo: em janeiro tem Elton John (dia 17) e Alanis Morissette dia 30. Em março, o metal pesado do Iron Maiden (dia 18), desta vez mais pertinho deste Ryo Grande: em Recife.
PROSA
“mas, se tantos homens em quem supomos juízo, são reclusos por dementes, quem nos afirma que o alienado não é o alienista?”
Machado de Assis
O alienista
VERSO
“Quando um grande da corte fica louco,
Para o vigiar todo cuidado é pouco.”
Shakespeare
Hamlet
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