quinta-feira, 4 de dezembro de 2008

Especial Carnatal

Escrever sobre o quê, meu deus, em dia de carnatal? Dá pra esperar que alguma alma vivente desta City à beira, margem do Putigy, se interesse em ler alguma coisa que não seja a programação dos blocos? E, se diz assim mesmo, “blocos”?
Aliás, nestes 18 anos de Carnatal tenho certeza de que houve uma evolução: se no início a palavra mais ouvida, mais escrita, mais citada, era “abadá”, hoje – e os estatísticos podem checar – deve ser “camarote”. E dentre eles o Donna Donna.
O que danado um camarote oferece? Todas as drogas lícitas, inclusive musicais. Oferece, ainda, uma opção de exclusividade, de diferença. São cerca de duas mil pessoas que pagaram para não participar da festa em sua essência original, que seria lá embaixo, na coreografia das ruas.
Afinal, esse é o mote do Carnatal: emular uma festa de rua. Com tudo organizadinho, seguro, garantido, uniformizado.
Coisa estranha. Sou de uma geração que, quando adolescente, adorava inventar uma desculpa pra sair da manada homogênea das fardas ginasiais. “A camisa não secou”, “a calça manchou”, e outras desculpas dadas ao carrasco do coordenador, a figura mais terrível, mais odiosa do colégio.
Mas o Carnatal é assim mesmo: paga-se cada vez mais para participar de algo que cada vez menos outros podem pagar. O que é uma ilusão. O Donna Donna, por exemplo, recolhe duas mil pessoas. Dois mil corpos reunidos num mesmo espaço é, para o sobrescrito, a ante-sala do Inferno. Cada um deles (noves fora as cortesias – e as cortesãs) pagando uma diária de 180 paus, em média (R$ 150 o dia mais barato, R$ 250 o mais caro).
Tem alguma coisa errada com essa idéia de exclusividade.
O bloco (é “bloco” mesmo, chequei) Cidadão Nota 10, por exemplo, bota na avenida quatro mil foliões, apenas o dobro do Donna Donna. A diferença é que nenhum deles pagou nada pelo abadá, trocado por notas fiscais para estimular, pois, o cidadão da importância do pagamento do ICMS.
O negócio é de doido – embora de doido não tenha nada aqueles que faturam com a festa, e não estamos falando dos cordeiros nem dos catadores de latinha, a tal inclusão social de que se orgulham os defensores do festejo. De doido porque, primeiro inventaram o carnaval arrumado, segurança das cordas, conforto, padronização etc – depois, acharam pouco, e criaram os camarotes. Divididos em “avulsos” e “temáticos”.
Não contentes com os trios, levaram para os camarotes bandas, DJs, arquitetos-decoradores, o escambau.
Recentemente, jornalistas diplomados andaram reclamando que tinha “jornalista” demais, todos ávidos pelo tal passe livre, que teoricamente permite acesso ilimitado, no chão e acima dele, na altura dos camarotes.
Nem adianta reclamar mais do trânsito caótico, do odor de urina, da embriaguez alcoólica. A festa é de todos – ou seja, dos suspeitos de sempre.
*
INTEGRAÇÃO SOCIAL
Até o Governo de Todos cai na folia – e fatura: o Meios (Movimento de Integração e Orientação Social) organiza estacionamento no Centro Administrativo. Temporada por 35 paus, 10 a diária.
OFF
Dodora Cardoso compete hoje com o Carnatal. No Praia Shopping, 20h30. Música, show.
OFF II
Daniel Menezes e banda competem hoje com o Carnatal. No Veleiros, 21h. Música, show.
OFF III
Franklin Serrão compete hoje com o Carnatal. Na Aliança Francesa, 19h. Artes visuais, exposição (“Ribeira e outras matizes”, o título).
PERNAS
A Aphoto (Associação Potiguar de Fotografia) comemora dois aninhos com uma série de manifestações neste dezembro natalino, a começar do próximo sábado, 6, com uma caminhada fotográfica. O percurso não exige muito fôlego: parte da Praia do Forte, atravessa Ponte Newton Navarro, e desemboca na Redinha. Compete também com a ressaca do Carnatal, claro.
Mesmo assim tá a fim de participar? Ligue pra Hugo Macedo, diretor cultural, no 8875.2979.
PERNAS II
Bater perna também é a proposta da “Primeira Caminhada Histórica do Natal” que, segundo o release, “vai levar os caminhantes para um percurso pelos mais tradicionais e históricos monumentos culturais da cidade, através do corredor histórico entre a Cidade Alta e a Ribeira”.
É bom calçar logo os tênis e se apressar: as construtoras não estão deixando pedra sobre pedra.
Ao final do percurso, 13º dia deste mês, shows de Babal, Carlos Zens, Khrystal e Rosa de Pedra.
ESPÍRITO
Procurando uma alternativa pra fugir dos festejos carnatalescos? A UFRN propõe um tal “Carnatal da Alma”, que reúne dois eventos em um: o “Encontro Holístico da Nova Consciência”, em sua nona edição, e o “Encontro de Jovens pela Paz”, o quinto a acontecer.
A coordenadora do evento, professora Nísia Floresta diz que a idéia é “cultivar valores como pacifismo, tolerância e ecologia”.
Abertura hoje, no auditório da reitoria, 18h30, e informações pelo número 3215.3658.



PROSA
“Na vida, precisamos sempre usar máscaras, pois ninguém nos reconheceria se nos apresentássemos de rosto nu.”
Lêdo Ivo
Confissões de um poeta
VERSO
“Eu quero é botar meu bloco na rua”
Sérgio Sampaio
“Eu quero é botar...”

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