sábado, 27 de dezembro de 2008

Dos cartões de Natal

Em mais uma sessão “Saudade-Não-Tem-Idade”, a coluna debruça-se sobre o passado repintado em tintas edulcoradas:
Ah, como eram belos os cartões de Natal!
Lá em casa, por exemplo, eram arrumados de mil e uma maneiras – às vezes embaixo da árvore de bolas coloridas, às vezes entre as próprias bolas como se enfeites fossem, em outras ocasiões dispostos uns sobre os outros na mesa de centro.
A maioria era de amigos de meus pais, poucos, as exceções, de empresas ou políticos.
Tinham formas diversas, tamanhos diferentes, ilustrações ímpares. Os clássicos reproduziam cenas do presépio, focadas na Sagrada Família: José e Maria rezando em torno ao Menino Jesus, este, todo serelepe, de olhos bem abertos, braços abertos recordando o abraço e a cruz do sacrifício futuro.
Não lembro quando surgiram os cartões exóticos, mas estes traziam desenhos de bonecos de neve e outras cenas invernais. Já não era mais o motivo original, o nascimento do Cristo, mas a sua celebração ocidental, em países europeus onde o inverno coincide com o mês natalino.
Antes, fazendo a passagem natural entre o clássico e o exótico, fronteira indefinida, aqueles que traziam o Papai Noel, quase sempre sorridente e bonachão, gordo, a barba branca e vasta, a roupa encarnada.
Depois, surgiram os cartões com motivos vários, indiretamente ligados ao Natal e às suas representações: eram os simplesmente decorativos, entre os quais, aqueles com desenhos infantis ou que simulavam o traço comum das crianças.
Com a internet e o celular, quase ninguém manda mais cartões de Natal, ao menos aqueles de papel e envelope e tal.
Este ano, o sobrescrito ganhou alguns (e, ferreiro que sou, usando espeto de madeira, não enviei nenhum pelos Correios). O do Banco do Nordeste traz fotos de praias do Nordeste – um menino dando cambalhotas em dunas que poderiam ser as de Genipabu, uma tartaruga marinha, a silhueta inconfundível de um daqueles picos de Fernando de Noronha.
A Legião da Boa Vontade enviou as clássicas fotos de meninos e meninas multirraciais, sorridentes e esperançosos, todos limpinhos e fardados.
O FestNatal anuncia como próxima exibição o ano de 2009, iluminado pelos holofotes das celebridades de Hollywood.
Também sorridente e com os dentes que bem poderiam propagandear algum Colgate ou Kolynos, a neo-vereadora eleita Julinha Arruda (só o rosto) deseja um novo ano cheio de felicidades.
Que mais, que mais? Não muitos, ao menos no papel impresso. Daí que destaco um, virtual, do deputado Fernando Mineiro, não exatamente pelo remetente, tampouco pelo partido, me apresso a evitar os dentes das hienas: mas pela bela ilustração de Marcellus Bob e pelo texto de Carlos Drummond de Andrade, sempre drummondiano.
*
QUEIXA
O sobrescrito não conhece pessoalmente Rosa Moura, assessora de imprensa da Afundação Zé Augusto, mas desde já a tem muito em conta: como o nome indica, defende, não com unhas e dentes, mas com perfume e espinhos a instituição sua cliente, o que é muito louvável, claro.
Tudo porque o chato aqui empacou diante do fê-é-fé maiúsculo da Festa.
Não, cara Rosa (a rosa é uma rosa é uma rosa é uma rosa, já ensinava Gertrude Stein): a crítica do sobrescrito não é ortográfica ou mesmo gramatical – apenas não acredito que a atual gestão possa se orgulhar de nada com letras maiúsculas.
No mais, você está coberta de razão, inclusive ao me desejar “Boas festas!”, desejo sinceramente compartilhado.
PET SHOP
E por falar em soltar os cachorros, os caninos estão com tudo nos cinemas: tem Bolt, o supercão, em desenho superanimado, e o bésti-seller Marley (inspirado em “Marley e eu”).
Tem também os caninos do vampiro Edward Cullen no pescocinho de Isabela Swan, no arrasa-quarteirão “Crepúsculo”.
(Embora eu aposte no japonês Kitano em “Glória ao cineasta” – Moviecom, 17h15).
MARAVILHA
Antes tarde do que nunca, já está aberta a exposição “Maravilhas mecânicas de Leonardo da Vinci”, na Biblioteca Pública Câmara Cascudo.
Leonardo foi um dos primeiros a separar a arte da ciência, criando sua própria metodologia de pesquisa científica, formulando e testando suas hipóteses através dos desenhos e projetos, muitos dos quais aparecem nesta exposição, na forma de maquetes criadas pelo engenheiro italiano Roberto Guatelli. Lá estão: o anemômetro, o higrômetro, o casco fusiforme, o projetor, a metralhadora tripla, a válvula mitral, a churrasqueira, o navio de pás giratórias, o relógio, o carro automotor, a prensa automática, o medidor de resistência de materiais, um sistema de rolamentos, o ornitóptero, e um polidor de lentes.
E, bem antes que a Borboleta pousasse por aqui, Arraial de Giacomo, idealizou um “Cidade Ideal”.
A coordenação geral é da Fapern e a mostra deve percorrer ainda Caicó, Mossoró, Nova Cruz, Pau dos Ferros e Santa Cruz.
A MELHOR
É hoje, logo mais às seis da tarde, no lusco-fusco da tarde-noite, hora do ângelus etc, que a cantora Khrystal volta ao local onde tudo começou: o Bardallos, barzinho ali pelo Centro Histórico e Histérico deste Arraial.



PROSA
“A alma ordena o querer; não ordenaria se não o quisesse; no entanto, não executa aquilo que ela mesma ordena.”
Santo Agostinho
Confissões
VERSO
“A gente não sabe nunca ao certo onde colocar o desejo”
Caetano Veloso
“Pecado original”

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