domingo, 21 de dezembro de 2008

Adivinhe quem vem para o café-da-manhã: Cyntia Menezes

Cyntia Maria dos Santos Menezes é uma das boas surpresas que uma coluna diária ainda proporciona – muito além do baixo salário, do esforço constante, da pedra que cada Sísifo deve transportar, montanha abaixo, montanha acima (condições comuns a inúmeras categorias profissionais, incluindo professores, jornalistas e empregadas domésticas, pra citar algumas).
A professora Cyntia Menezes é uma daquelas leitoras que, apenas com a sua percepção, conseguem melhorar o que aqui se publica – e seu email é uma daquelas muitas coisas que mastercard, visa, americanexpress e que tais nenhuns podem se arvorar de comprar. Ainda mais necessário quando “o STF manteve o valor de R$ 950, mas, ao modificar os critérios para se calcular este valor, mudou totalmente o conceito de Piso” – como explica o deputado Mineiro em seu sítio na net (pra entender melhor confiram em www.mineiropt.com.br).
É por isso mesmo que segue abaixo, café-da-manhã vitaminado de esperanças, também estas muito além das árvores enfeitadas desta época do ano.

COMPROMISSO QUE DINHEIRO NENHUM PODE COMPRAR
Olá, meu caro Ivo! Com dez mil coisas para fazer e sem tempo ao menos para piscar, cá estou em frente ao computador para “escrevinhar-lhe” duas dúzias de palavras. Teria feito ontem mesmo se o dia tivesse durado pelo menos trinta horas. Como não foi possível fazê-lo cabe aqui aquele velho dito popular: “antes tarde do que nunca”. Seu artigo de quarta-feira passada, 17 de dezembro, me tocou bastante. Primeiro pelo fato de saber, enquanto educadora, que temos alguém como você como porta-voz (se é que me permite dar-lhe essa designação), que percebe o grande dilema que essa maravilhosa profissão – para mim um modo de vida – enfrenta nesse país.
A segunda razão que me motivou escrever-lhe tem haver com um questionamento que você levantou em seu artigo, que era mais ou menos assim: “será que você, leitor, confiaria a educação de seu filho a alguém que ganha menos de mil reais?” Não foi mais ou menos isso?
Hoje, devido à minha especialização em Educação Especial e Inclusiva, ganho pouco mais de mil reais – com os descontos mensais o valor diminui naturalmente para menos do que isso. Vergonhoso? Com certeza! Se merecia ganhar mais? Absolutamente! Se gostaria de ganhar mais? Definitivamente que sim! Porém meu compromisso com a educação independe de quanto ganho.
Você, e qualquer outra pessoa, pode sim confiar a educação de seu filho à profissional que sou, uma vez que atuo na rede pública tal qual atuava na rede privada, e talvez até com mais afinco ao perceber a extrema carência de estímulos que as crianças da região onde trabalho possuem.
O que quero poder dizer-lhe, e espero que entenda, é um dos pontos que mais tenho discutido com meus colegas de profissão. O descaso de muitos educadores que atuam na rede pública de ensino tem como escusa principal o baixo salário, porém, nada me garante que um aumento, por mais significativo que seja, traga consigo o compromisso que estes devem ter com a sua profissão. Não me garante que estes usarão uma parcela mínima de seu salário para comprar livros a fim de manterem-se continuamente a par de assuntos relacionados com a educação.
Pedindo licença à rede de cartões Mastercard, eu lhe digo que “existem coisas que não têm preço” – pra todas as outras existe... você já sabe o quê. Não me entenda mal. Este e-mail não é um modo de rebater o que você escreveu: é simplesmente para poder dizer-lhe que não tenho certeza se as linhas redigidas em seus artigos devem ser gastas por quem não tem merecido defesa. As maiores vítimas nessa história sórdida têm sido as crianças, que chegam ao quinto ano de escolaridade sem saber ao menos ler palavras formadas por sílabas simples. E tudo isso porque os educadores sentem-se revoltados por ganharem menos do que merecem.
Não! Não posso aceitar esse modo de pensar. Passar a juventude aos pés do senhor José de Alencar me fez ter uma visão um tanto romântica desta vida. Porém é preciso entender “romântica” nesse caso como sinônimo de quem acredita que as situações adversas podem mudar quando nos empenhamos individualmente para que isso aconteça. Tomei para mim as palavras que você redigiu e por estas, quero dizer-lhe muito obrigada! [Cyntia Menezes]



PROSA
“Como é possível que, sendo as criancinhas tão inteligentes, a maioria das pessoas sejam tão tolas? A educação deve ter algo a ver com isso!”
Alexandre Dumas Filho
O espírito de Alexandre...
VERSO
“No Sertão a pedra não sabe lecionar,
e se lecionasse não ensinaria nada”
João Cabral de Melo Neto
“A educação pela pedra”

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