segunda-feira, 1 de dezembro de 2008

Belveder, Malveder

Na seqüência de um momento delicado, fui dar uma volta na praia. Desembestei nos rumos da Ladeira do Sol, em busca de maresia. Vi algumas casas destruídas, o calçadão desmoronando. Este pela força do mar, mais que pelo descaso dos homens. As casas, mais pelo descaso de uns e pela ganância de outros. Corrijo-me, antes que me tachem, mais uma vez, de petista: a questão não é de ganância, mas de ganância a qualquer custo.
E lá fui, flanando e gastando gasolina ao longo do mar, maré cheia àquela hora da tarde. Até a Praia do Forte. Onde o vento faz a curva e eu também. Sem o alarme exagerado de muitos dos meus pares, não sou especialmente aterrorizado com a violência, mas não dá pra estacionar em qualquer lugar. Mesmo às três da tarde, a maresia soprando fininha sobre nossos pensamentos.
Pensava, ao menos, parar na Praia dos Artistas, menos ermo e desolado que a extrema ponta.
Mas, na volta me lembrei do belvedere da Getúlio Vargas (uma vez Avenida Atlântica?). Andei relendo alguns autores nativos e as suas descrições do local, ainda válidas, mesmo que à distância dos anos.
Confiram Polycarpo Feitosa em “Gizinha”: o personagem Julinho Silveira tinha o costume de pegar o bonde e ir aos banhos de mar em Areia Preta, às vezes na companhia do amigo Castro – com quem sobe, lá pelo capítulo 6, “a escarpada encosta da praia do Meio até o extremo sul da avenida Atlântica”. A descrição é saborosa, o autor nos transporta para o meio daquela paisagem, como numa máquina não apenas espacial, mas temporal, também:
“Visto de cima, o oceano dava a impressão de estar no fundo de uma imensa bacia, cuja borda próxima se forrava da renda movediça das espumas, e a oposta parecia curvar-se e subir para tocar o céu.”
Os olhares dos dois amigos se debruçam sobre as “as velas das bateiras e botes de pesca” e sobre um cargueiro vagaroso, à espera do bote do prático – “pousado como uma borboleta sobre as ondas” – para entrar a barra.
Polycarpo segue, observando através dos olhos dos seus personagens, sentados na borda da balaustrada, o Forte dos Reis Magos (“velho guerreiro reformado”), as dunas de Genipabu, (“‘pálidas donzelas’ saídas de uma noite velada nos bailes”), e as banhistas (“salpico alegre” de roupas listradas ou de cores fortes sobre o verde azulado do mar).
Eu, nada disso vi. O “belvedere” (gentileza minha), diante do Tulip Inn e da muralha atlântica da elite papa-jerimum, é um canteiro malcuidado, de mato e sacos plásticos, de lixo e abandono. Bem próximo, um quase acampamento de um sem-teto, dois vira-latas e um pastor alemão e vários gatos, tigelas improvisadas de ração e água. Metáfora dos habitantes desta cidade e dos seus administradores.
Me bateu uma tristeza, juro, que dispensa comentários. Triste cidade, tão rica, tão pobre. Fui pra casa, não saí, até que a noite escureceu o dia e eu continuei triste pensando no olhar do cão.
*
FAUSTO NILO
Poeta elétrico e irmão plugado, Carito chama atenção que os versos de “Chão da praça”, reproduzidos por aqui, quinta passada, não são de Moraes Moreira, mas de Fausto Nilo.
Claro.
O sobrescrito, como sempre, sem reparar no que consome estragado.
SEXO
Manoel Onofre Neto abriu sexta passada, 9h, o I Simpósio de Saúde Sexual e Reprodutiva deste Ryo Grande – com o objetivo de discutir a sexualidade na adolescência e como abordar o tema na escola.
A notícia é da semana passada, mas não custa augurar que os resultados do encontro sejam os melhores.
MERENDA
Também na sexta passada, terminou o 4º Encontro Nacional de Alimentação Escolar, no Praiamar Natal Hotel, Ponta Negra.
Começou no início da semana com um jantar de confraternização – o que foi muito justo, já que eram 700 as bocas participantes, todas preocupadas com os 36 milhões de estudantes da educação infantil e do ensino fundamental de todo o Brasil, atendidos atualmente pelo Programa Nacional de Alimentação Escolar (Pnae). O orçamento anual é alto: R$ 1,6 bilhão.
Mais uma vez, a notícia é velha, mas não custa augurar que os resultados do encontro sejam os melhores.
AUSTIN POWERS
Natal, Mossoró e Caicó são as cidades por onde Valéria Oliveira passará (e continuará, passarinho), selecionada para o Projeto Pixinguinha – que, como acontece no primeiro semestre do ano vindouro, a cantora deverá conciliar com as apresentações já agendadas para Austin, Texas, terra de Bush, em março, para onde, chique, também foi convidada.
HERANÇA
Paulo Heider, Helder Alexandre e Vicente Vitoriano são o trio que ministra o curso “Escola do Patrimônio”, para professores das escolas públicas e privadas deste Ryo Grande, visando, justamente, uma maior valorização e conhecimento pelas novas gerações. De 8 a a 18 de dezembro. Informações: 3232.0328.


PROSA
“Quando se volta da Europa de avião um arrepio sacode os nervos divisando as jangadas na água trêmula do mar sem que se aviste terra do Brasil.”
Câmara Cascudo
Jangada
VERSO
“Mas pra que?
Pra que tanto céu?
Pra que tanto mar?”
Jobim & Oliveira
“Inútil paisagem”

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